Más Notícias: Rodolpho Amoedo e a pintura intimista no final do século XIX *

Natália dos Santos Nicolich

NICOLICH, Natália dos Santos. Más Notícias: Rodolpho Amoedo e a pintura intimista no final do século XIX. 19&20Rio de Janeiro, v. XIV, n. 1, jan.-jun. 2019. https://www.doi.org/10.52913/19e20.XIV1.06   

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A obra e o seu tempo: sobre o cenário artístico na Europa e na América no século XIX

              1.        Os anos de 1800 foram marcados por uma mudança na civilização ocidental, tanto no campo econômico, político, social, quanto nas artes. Guardadas as particularidades de cada época, podemos dizer que o século XIX se compara com o Renascimento: em ambos os períodos observamos um declínio no poder da Igreja e a crença naquilo que é racional e humano, com as descobertas científicas, e as cidades se transformam em grandes centros econômicos e culturais. No entanto, o Renascimento surgiu na Itália, para depois espalhar-se pela Europa; nos oitocentos, várias regiões foram afetadas simultaneamente pelo progresso, crescendo e se transformando com mais rapidez.

              2.        No Renascimento e no século XIX, a tecnologia transformou a relação das pessoas umas com as outras e com o mundo. Por exemplo, a produção industrial, que trouxe os empresários ricos e as massas de trabalhadores e suas famílias para a cidade. A mobilidade urbana torna-se questão fundamental: surgem estradas de ferro, o petróleo, os primeiros automóveis. A luz elétrica, o telefone e o rádio trouxeram conforto e agilidade na comunicação. Por sua vez, a arte também esteve em intensa revolução, como descreve a autora americana Carol Strickland (2004, p. 66):

              3.                                 O mundo artístico dos anos 1800 fervilhava de facções, cada uma delas reagindo às outras. Em vez de um estilo predominar por séculos, como acontecia nas épocas do Renascimento e do Barroco, movimentos e contramovimentos brotavam feito cogumelos. O que tinham sido as eras transformou-se em “ismos”, cada um representando uma tendência artística.

              4.        Num só século, realizam-se pelo menos quatro grandes movimentos artísticos: Neoclássico, Romantismo, Realismo e Impressionismo. A insatisfação com o estilo vigente passa a ser mais frequente, levando escolas diferentes a alternarem-se de tempos em tempos, até o momento em que serão simultâneas. A urgência dos tempos modernos já mostrava sinais durante o século XIX.

              5.        Dentre as invenções oitocentistas, aquela que chegou a partir de 1826 talvez tenha sido a mais impactante nas artes: a fotografia foi finalmente descoberta, realizando o antigo desejo humano de registrar o mundo real. E chegou adicionando novos combustíveis ao trabalho pictórico, já que os artistas eram até então os únicos capazes de criar uma imagem concreta da realidade. Uma vez que recebeu status de popular, por volta de 1880, a fotografia passou a ser um fator implicante na arte naturalista (STRICKLAND, 2004). As consequências dessa tecnologia na produção artística continuam ecoando até os dias atuais.

              6.        A partir do que foi exposto, é possível entender as ideias e sentimentos que regiam a sociedade oitocentista europeia, com reflexo na América, uma vez que os países do Novo Mundo mantinham referências do outro lado do oceano. No Brasil, em especial, essas influências seriam mais evidentes depois que o Príncipe Regente e a Corte Portuguesa vieram para o Rio de Janeiro. De colônia à condição de capital do Império, foi preciso tomar uma série de medidas para transformar a cidade e instalar os fundamentos artísticos e culturais. A contratação de uma “Missão Artística,” responsável em grande medida por criar a Academia Imperial de Belas Artes (AIBA) - o que só ocorreu em 1826 - integrou as ações de D. João VI para construção da nova sede do governo português.

              7.        Funcionando segundo os moldes das instituições francesas, a Academia cumpriu seu objetivo, inaugurando o ensino artístico no Brasil e instruindo várias gerações de artistas brasileiros. Pintores, escultores e arquitetos, os alunos formados nesta instituição eram convidados a realizar obras por todo canto: prédios e espaços públicos, estátuas, decorações, quadros que exaltavam a riqueza da terra e o poder da família real. Por vezes, os antigos alunos tornavam-se mestres, substituindo aos poucos os integrantes da “Missão.”

              8.        Com o governo de D. Pedro II, os objetivos da Academia passaram da formação de artistas conforme o estilo classicista e da urbanização da capital, para a inserção do Brasil no circuito cultural internacional. As reformas impostas pelo imperador obedeciam a “um projeto político de criação de símbolos nacionais e de formulação de um verdadeiro imaginário para a nação” (PEREIRA, 2008, p. 28). A produção artística devia voltar-se para os “assuntos nacionais,” resgatando as histórias heroicas, as belezas naturais do Brasil, destacando as raízes da cultura e a prosperidade da pátria.

              9.        Após a instauração da República, já no final do século XIX, há certa continuidade com relação ao interesse pelo que é verdadeiramente brasileiro; porém, agora também importava o “ser moderno.” Segundo a Sonia Gomes Pereira (2008), a Academia passou nesse período por uma fase de dificuldades financeiras e intensas críticas ao seu formato de ensino. Os conflitos entre a direção da Academia e os intelectuais da época culminaram na sua reformulação, transformando-a em Escola Nacional de Belas Artes, em 1890.

            10.        De acordo com o que então muitos acreditavam, a arte brasileira estava amarrada a velhas tradições, que impediam a modernização. Críticos argumentavam que a Europa já vivia o Realismo e o Impressionismo, enquanto os artistas brasileiros estariam presos às normas acadêmicas. Entretanto, estudos atuais apontam que a prática artística ligada à Escola Nacional não estava estagnada, e absorvia novas tendências conforme a necessidade do artista:

            11.                                 Acusada de ser um feudo de conservadorismo pelos futuros adeptos do modernismo, a Escola na verdade vivenciou nesse período vários conflitos internos e inúmeras propostas de mudanças, indicando seu engajamento nas discussões da época em torno da persistência da tradição e do desejo de modernização. (PEREIRA, 2008, p. 56) 

            12.        É nesse contexto do final do século XIX, com a exigência de discutir os rumos do país em termos sociais e artísticos, é que Rodolpho Amoedo se torna mestre e vice-diretor da Escola Nacional. Artista formado na Academia Imperial, tendo recebido reconhecimento pela qualidade técnica e consciência teórica do fazer pictórico, Amoedo participa desta discussão sobre a arte brasileira. Ora aclamado por sua arte variada e numerosa, ora colocado no posto de ícone conservador, o papel desse artista é discutido neste artigo, de modo que se apresente a sua importância para o período e se abra espaço para futuros trabalhos.

Rodolpho Amoedo (1857-1941): a formação do artista

            13.        Se de fato o artista reflete a sociedade e o pensamento do seu tempo, Rodolpho Amoedo exemplifica com mérito o contexto conflituoso da arte brasileira de seu período, em sua personalidade reflexiva e em sua obra diversificada e extensa. Ao estudarmos as variadas fontes teóricas sobre sua vida e sua obra, logo chegamos à conclusão de que se trata de um artista envolvido em polêmicas e cuja biografia possui algumas discordâncias.

            14.        A sua origem é o primeiro dado duvidoso sobre o qual nos deparamos. É citado em muitos textos como natural da Bahia, da cidade de Salvador. No entanto, em um documento escrito a próprio punho e encaminhado ao Ministério da Educação, Amoedo diz que “nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 11 de dezembro de 1857.”[1]

            15.        Em 1874, iniciou seus estudos na Academia Imperial de Belas Artes e teve como professores artistas como Vitor Meireles, Agostinho da Mota e Zeferino da Costa, entre outros. Nessa época, o Romantismo marcou a primeira fase da carreira de Rodolpho Amoedo, quando fica conhecido por seus quadros indianistas. Boa parte deles foi realizada na Europa, após ter vencido o concurso que lhe concedeu o Prêmio de Viagem, em 1878. Tal episódio gerou acaloradas discussões, entre os defensores que julgavam Henrique Bernardelli como favorito e a direção da Academia, que nomeou Amoedo para o primeiro lugar. Essa polêmica resultou em divergência pessoal e acompanhou toda a carreira do vencedor, que “passou a sofrer comparações negativas, pelas mãos da crítica, com diversos contemporâneos” (CARDOSO, 2008, p. 110).

            16.        Apesar disso, Amoedo partiu para a Europa em 1879, integrando ateliês de artistas franceses que o prepararam para ingressar na École des Beaux Arts de Paris. A École exigia que todos os candidatos fizessem exames escritos em francês e provas práticas de desenho, o que eliminava muitos candidatos estrangeiros (JORGE, 2010). Amoedo ingressou na École apenas em 1880, onde foi discípulo de Alexandre Cabanel, Puvis de Chavannes e Paul Baudry.

            17.        Entende-se que o contato com diferentes artistas e tendências, tanto no Brasil quanto na Europa, direcionou as escolhas estéticas e técnicas que se observa na obra de Amoedo. Num ou noutro quadro realizado por ele, podemos encontrar referências visuais de outros artistas, trabalhadas de acordo com as necessidades do pintor na composição do tema. Por isso, passamos a indicar possíveis relações entre Rodolpho Amoedo e a produção artística do período em que atuou.

A arte dos artistas: Rodolpho Amoedo e seus contemporâneos 

            18.        No ano de 1879, realizou-se uma exposição na Academia Imperial que provocou grandes discussões acerca da arte brasileira. Lado a lado, a Batalha do Avahy (1872-1877) de Pedro Américo [Figura 1] e a Batalha dos Guararapes (1879) de Vitor Meirelles [Figura 2] apresentaram abordagens distintas para um mesmo gênero: a pintura de história, em especial as cenas de guerra. Pedro Américo alcançou certo realismo no cenário de conflito, com dramaticidade e uma atmosfera de tensão, ao passo que Meirelles exprimiu uma visão heroica, onde soldados de diferentes raças lutam pelo mesmo objetivo, ou seja, proteger a pátria. Amoedo presenciou o debate provocado pela comparação entre as duas pinturas antes de partir para a França, o que pode ter contribuído para a sua posição reflexiva frente ao que se esperava da arte moderna.

            19.        A exposição de 1879 trouxe à tona a diversidade na concepção artística brasileira, embora Américo e Meirelles tenham ambos se formado na Academia. O ensino acadêmico, ainda que fosse pautado em regras definidas, baseadas em preceitos classicistas, não impediu que os dois artistas expressassem suas inclinações individuais. Para Luciano Migliaccio, Amoedo combina esses diferentes aspectos, pois admite que não precisa existir contradição entre a visão realista e o conteúdo sentimental. Segundo Migliaccio (2007):

            20.                                 Assim como conhece as ideias de Ruskin sobre a pintura contemporânea: a análise mais aprimorada do dado visual objetivo aliada à máxima intensidade do sentimento individual. Ambos os caminhos, o da ciência e o da estética moderna, conduzem-no ao papel central da cor na construção da imagem da pintura: o toque do artista exprime ao mesmo tempo a precisão de sua visão e a intensidade do seu temperamento, assim como constitui a própria estrutura das relações cromáticas e espaciais no quadro. Todas essas características formais básicas para a compreensão da arte moderna aparecem na pintura brasileira por obra de Amoedo, desde sua mocidade. 

            21.        De Vitor Meirelles, seu mestre na Academia Imperial, Amoedo herdou a devoção pelo fazer pictórico evidenciado na lista de interesses aos quais se dedicou durante a carreira. Rafael Cardoso lembra que Amoedo “era um pintor notoriamente preocupado com a fatura pictórica, engajado em rebuscadas pesquisas sobre pigmentos, técnicas e até restauração” (2008, p.110). Também diversificou em materiais e técnicas, como pinturas em tela, papel e madeira; óleo, têmpera, aquarelas, pastel, cera; projetos gráficos e painéis decorativos em prédios públicos. Pedro Américo, por sua vez, poderia ter sido responsável pela gama de temas, uma vez que é autor de quadros em diferentes gêneros. Dentre a produção de Amoedo, também encontramos assuntos distintos, como retratos, cenas mitológicas, religiosas, indianistas, paisagens, natureza-morta e pinturas de gênero.

            22.        Desse modo, entende-se que o artista já estava consciente das discussões sobre a estética moderna desde os seus estudos na Academia, e sua viagem ao exterior intensificou essa relação. Na França, Amoedo teve contato com outras referências artísticas que seriam importantes para a configuração da sua arte: Alexandre Cabanel e Puvis de Chavannes, por exemplo. O primeiro é lembrado por se comprometer com o que Rafael Cardoso chamou “a estética da superfície ‘lambida’” (2008, p.110). Com um acabamento liso na superfície da pintura, a clareza no desenho, os contornos definidos e a obediência à tradição, pode-se dizer que Cabanel herdou a lição de Jean-Auguste Dominique Ingres. É por valorizar a forma como modo de compreensão da realidade que Ingres será indicado por Argan (1992) como o primeiro artista a colocar a visão no centro da questão artística - um dos fatores marcantes da arte moderna.

            23.        De outro lado, Puvis de Chavannes foi um artista reconhecido por suas pinturas decorativas, ligado à estética simbolista. A aparência naturalista das suas formas se mistura a “uma realidade que está aquém ou além da consciência” (ARGAN, 1992, p.83). Na obra de Amoedo, a clareza de Cabanel se liga à subjetividade de Chavannes. Duas tendências que à primeira vista seriam opostas parecem combinadas harmonicamente nas figuras elaboradas pelo brasileiro, como podemos observar em A narração de Filetas [Figura 3].

            24.        Ao lado de Ingres, Delacroix protagoniza uma rivalidade que revela o contraste de visões sobre a arte no contexto da França da primeira metade do século XIX. Se Ingres teve interesse na forma e na visão, Delacroix se volta para a cor e a emoção. Além disso, este trabalhou temas realistas, com importância política e social no seu tempo de uma maneira atualizada. Em sua obra mais famosa, A liberdade guiando o povo (1830) [Figura 4], por exemplo, Delacroix põe a figura alegórica, que personifica a Liberdade na liderança do povo com bandeira e arma em mãos (ARGAN, 1992). Essa mulher idealizada bem que poderia ser uma Vênus, mas coloca-se no mundo real, entre o povo que lutava na revolução. 

            25.        Para o crítico de arte Gonzaga Duque, atuante entre o final do século XIX e início do século XX, Rodolpho Amoedo possui traços em comum com Delacroix. Em um artigo publicado na revista carioca Kósmos, ele lembra as palavras de Baudelaire, ao descrever o pintor moderno a partir da figura de Delacroix

            26.                                 Sim, o mestre, porque o professor Amoedo é dos poucos pintores que conhecem o segredo das tintas e lhe prestam cuidados. Sobre isso, ele tem, como Eugène Delacroix, o conhecimento exato da sua arte e de tudo quanto lhe está relacionado, a filosofia, a literatura, as escolas, os modos, os caprichos de cada época, e como Delacroix - rectificando os verbos da frase de Baudelaire - il aime tout, sait tout peindre. (DUQUE, 1905, p.7, grafia original)

            27.        “Ele ama a tudo, pode pintar tudo,”[2] Gonzaga Duque corrige Baudelaire. Assim como o pintor francês, Amoedo tem interesse dedicado ao seu ofício e pesquisa a prática e a teoria pictórica, a filosofia, a ciência e tudo mais que se refere à sua arte. Mas a atenção para o discurso expresso da pintura é outra característica presente na obra de ambos os artistas. A necessidade de narrar um acontecimento ou o trecho de uma obra literária - embora não seja uma regra - é comum nas suas obras. Delacroix elabora um “quadro realista, que culmina em uma exortação retórica [...]” (ARGAN, 1992, p. 56); já Amoedo, por sua vez, interpreta obras literárias do período, tanto brasileiras quanto estrangeiras, que “encontrariam mais de uma linda ilustração entre seus quadros” (MIGLIACCIO, 2007). Um exemplo é o quadro Desdêmona [Figura 5], que utiliza a peça Othelo, de William Shakespeare (1564-1616), como fonte de inspiração. 

            28.        Contudo, não podemos afirmar com base nas informações levantadas para esta pesquisa, se Rodolpho Amoedo teve ou não contato com Delacroix. Mas é provável que conhecesse ao menos seus quadros, já que se tratava de um artista de destaque no cenário artístico francês, além de ser mestre do Romantismo. Outras formas também influenciaram a pintura de Amoedo nos anos em que passou na Europa, mas principalmente nos quadros que realizou de volta ao Brasil, retratando a sociedade da época. Por isso, veremos a seguir os estilos mais marcantes na obra desse artista brasileiro. 

Estilos na obra de Rodolpho Amoedo 

            29.        Inicialmente, o ensino da Academia Imperial das Belas Artes baseou-se no estilo neoclássico e tal fato se confirma quando olhamos para a produção dos artistas que integraram a referida “Missão” e que, posteriormente, atuaram na criação desta instituição. No entanto, aplicar esta classificação a toda história da arte acadêmica resultaria em um erro grave. Mesmo que as normas estabelecidas fossem rígidas e com base na arte clássica, como o apreço pelo acabamento liso da superfície pictórica e a importância do desenho na composição, isto não significou um total distanciamento de outras tendências. No caso brasileiro, esta absorção seria gradativa e em momentos diversos da França, por exemplo, até pela distância geográfica entre os dois países.

            30.        Pereira é uma das autoras que defende a reavaliação da produção artística ligada à Academia e à Escola de Belas Artes, a partir de outros modelos de análise historiográfica. A fim de desfazer mitos e interpretações equivocadas, a autora discorre sobre termos frequentemente utilizados, como academicismo e classicismo. Segundo ela, as obras de 1880 em diante são muito diversificadas, tanto em termos temáticos quanto estéticos, pois os artistas pautavam sua escolha formal de acordo com o tema a ser trabalhado. Assim: 

            31.                                 [...] as escolhas dos artistas eram muito mais tipológicas do que estilísticas. Isto explicaria porque os artistas dessa geração apresentam esse comportamento eclético: o estilo seria escolhido em função da sua adequação ao tema e à função, apoiando-se num repertório de tipologias compositivas sugeridas pela tradição pictórica europeia. (PERERIRA, 2008, p. 70) 

            32.        Esta diversificação de estilos evidencia a versatilidade dos artistas e também dos moldes acadêmicos. Se considerarmos o fato de que a arte brasileira caminhou em consonância com o que vinha surgindo na Europa, conclui-se que os artistas incorporaram influências do Romantismo, do Realismo, do Impressionismo e do Simbolismo, entre outras tendências. O tratamento dado pelos brasileiros a estes estilos é que variava bastante do original: cada artista adaptava-se de acordo com o assunto a ser abordado na pintura, atentos às recomendações e às formas de cada tipo.

            33.        Com relação ao Romantismo, ao qual Amoedo é normalmente associado, os temas de raízes históricas e culturais nacionais prevaleceram. Em suas famosas telas indianistas, como O Último Tamoyo [Figura 6], Amoedo mantém a função narrativa da pintura, em uma visão do nativo integrado à natureza, sugerida nos tons usados (PEREIRA, 2008). Aqui o estilo cabe aos propósitos da pintura, no que se refere ao resgate da memória nacional. As figuras do índio herói e do sacerdote europeu, em direções semelhantes, representam o convívio harmônico no espaço pictórico e no imaginário brasileiro. 

            34.        Colocando Último Tamoyo lado a lado com Ateliê do artista em Paris [Figura 7], parece que temos pinturas de épocas distintas: mas, na verdade elas foram executadas no mesmo ano de 1883. Na pintura histórica, Amoedo utiliza o óleo sobre tela, mais apropriado ao tema e proporção do trabalho. No Ateliê, a técnica da aquarela sobre cartão serve ao objetivo artístico, numa descrição minuciosa dos objetos que se aproxima do realismo. “Nada aqui ecoa da idealização e da retórica tradicional do grupo anterior. O realismo abriu caminho para a vida comum e derrama sobre ela um olhar aproximado” (PEREIRA, 2008, p.76). O tratamento dado a cada pintura se filia ao tema e não a um estilo propriamente dito. 

            35.        Mais adiante, a partir de 1890, Amoedo se dedica mais às cenas de gênero e retratos, num aparente compromisso com as novas demandas do público. Junto ao Realismo, surgem outras influências estéticas. Para Cardoso (2008, p.112), o artista experimenta, por exemplo, as descobertas impressionistas “por meio da decomposição da pincelada em manchas de luz e cor.”

            36.        As pinturas Busto da Senhora Amoedo [Figura 8] e Retrato de Senhora [Figura 9], ambas realizadas em 1892, são apontadas como exemplos desse interesse próprio dos impressionistas pela visualidade na arte. Na obra da Figura 8, a luminosidade destacada nas vestimentas de Adelaide Amoedo, esposa do artista, assim como o plano quase chapado atrás da mulher são notáveis. O pintor retratou sua esposa ainda muito jovem, por volta dos vinte anos, com o corpo levemente de lado e o rosto de frente numa expressão tranquila. Já na obra da Figura 9, Amoedo provavelmente retratou novamente sua esposa, desta vez em uma pose relaxada. As flores e os papéis sobre a mesa em primeiro plano também exibem a pincelada mais leve. Em contrapartida a essa descontração, as cores contrastantes da roupa amarela com laço roxo apresentam uma atmosfera de mistério na pintura de Amoedo.

            37.        Devido a essa conotação de mistério e poesia presente em suas pinturas é que Amoedo é apontado como pintor ligado ao simbolismo, assim como seu mestre francês Puvis de Chavannes. A cena bucólica da referida A narração de Filetas [Figura 3], entre outros quadros, apresenta esse aspecto descritivo e ao mesmo tempo de devaneio. Outro exemplo se encontra nas pinturas de temas religiosos realizadas por Amoedo, principalmente no seu período de estudos na Europa e que sugerem um conteúdo que vai além da cena bíblica. Em A partida de Jacob [Figura 10], o artista seleciona o momento de despedida do personagem: o ambiente pastoril e a emoção contida evidenciam a mensagem da obra, que não se restringe à devoção religiosa.  

            38.        É possível observar tal versatilidade de estilo ao atentar para outro quadro de Amoedo, chamado Más Notícias [Figura 11]. Executada e exposta ao público em 1895, esta tela foi alvo de especulações por vezes contraditórias entre os comentaristas desde finais do século XIX. Segundo os mais críticos, esta pintura parece retornar à “fatura precisa e acabada” e a “densidade tátil” (CARDOSO, 2008, p.112) dos estilos clássicos. Por outro lado, há aqueles que defendem o simbolismo da obra, creditado no aspecto bem pensado da sua composição e da expressão facial ambígua da personagem principal. De todo modo, a obra em questão merece uma análise mais detalhada e uma reflexão mais criteriosa do seu conteúdo e sua visualidade.

Más Notícias: tema, representação e retórica 

            39.        A princípio, Más Notícias pode parecer uma pintura de fácil leitura e interpretação. A figura da mulher que segura raivosamente uma folha de papel - provavelmente uma carta - e olha para o espectador com uma expressão perturbada, confirma o que o título da obra proclama. Trata-se do retrato de uma mulher flagrada logo após receber uma carta com informações que a desagradaram. É uma mulher de classe abastada, com sua mobília e decoração à moda da época, acomodada em todo conforto do ambiente doméstico. O visual realista da pintura nos faz crer naquilo que o artista narra, e a interpretação da obra poderia terminar por aqui.  

            40.        No entanto, um quadro com as dimensões consideráveis de 100 x 74 cm, com tal cuidado na representação detalhista de cada superfície e exposto no Salão de 1895 (CARDOSO, 2008), contribui para compreendermos que há mais para ser visto em Más Notícias. Não cabe aos objetivos desta pesquisa responder de modo definitivo às questões levantadas pela pintura, como determinar o seu gênero e sua mensagem central. Mas vale voltar a nossa atenção para os aspectos que fazem desta obra um destaque na produção de Amoedo e deste um artista importante no contexto da arte brasileira entre o final do século XIX e início do século XX. 

            41.        Realizada em 1895 na cidade do Rio de Janeiro, a obra é geralmente compreendida como uma pintura de gênero, algumas vezes como retrato. Mas se compararmos suas medidas com outras pinturas de Rodolpho Amoedo, como o Retrato de João Timóteo da Costa [Figura 12], de apenas 49,5 x 29,7 cm, ela parece grande demais. Talvez a proporção estranha seja indício de que a ambiguidade de gênero da obra tenha sido intencional: afastar-se das classificações hierárquicas da produção acadêmica é uma postura que condiz com o contexto artístico. Os críticos da época demonstram pouca preocupação com a colocação de gênero e ao menos duas alusões em periódicos sobre Más Notícias são favoráveis ao sucesso da pintura. Entre questionamentos acerca do artista e suas outras obras exibidas na II Exposição de Belas Artes, sobraram elogios à execução de Más Notícias. O Jornal do Commercio, por exemplo, na edição de 9 de setembro de 1895, por ocasião da exposição, descreve: 

            42.                                 [...] o quadro Más Notícias (n. 21) é o melhor trabalho, que o illustre artista expõe este anno; tem bom conjunto; a figura apresenta-se bem, parecendo mais um retrato do que um quadro de genero. A almofada e o vestido são bem pintados. É pena que a cabeça seja um tanto dura. (Notas sobre arte, 1895, p. 1, grafia original mantida) 

            43.        Outra publicação na época da exposição, a Gazeta de Notícias, na edição de 1º de setembro de 1895, analisa o estado da arte brasileira que ainda não contava com “pintores de grande pulso.” Por outro lado, reconhece o esforço dos artistas, entre eles Rodolpho Amoedo, que alcançaram alguma relevância no cenário nacional, cobrando-os por isso mais excelência. Sobre a obra: “Em compensação, deleitou-nos o quadro Más Notícias, que está desenhado e pintado por mão de mestre. Alli os menores detalhes revelam um artista senhor de sua arte” (EXPOSIÇÃO de Bellas Artes, 1895, p. 2, grifos do autor, grafia original mantida).

            44.        Já em outro texto crítico, desta vez publicado posteriormente na revista carioca Kósmos, o aspecto narrativo da obra e o talento técnico de Amoedo são lembrados mais uma vez por Gonzaga Duque. O artigo Rodolpho Amoedo. O mestre, deveríamos acrescentar é uma história concisa e uma análise geral da obra do artista, desde sua época de formação até sua produção recente. O crítico deixa a sua observação sobre Más Notícias na última parte do texto, afirmando que este seria um quadro relevante tanto para o artista quanto para a época em si: 

            45.                                 E se esse precioso tempo, consumido com o rebuscar de materiaes, fôr se accumulando de modo a sorprehendel-o nos ultimos cansaços da velhice, restar-nos-á esse, dos seus ultimos trabalhos, que tem por titulo Más notícias, attestado das excepcionaes qualidades do mestre, do seu vigor de pintar, da firmeza magistral do seu desenho, da limpeza de suas tintas e do poder expressivista da sua arte, porque essa bella mulher, senhora de lindas vestes e mais lindos olhos, humedecidos de lagrimas, diabolicamente negros, é um flagrante d’alma feminina, um instantaneo maravilhoso do tormento de um coração que a carta, amarotada nas suas lindas garras de airosa dama senão de deusa contrariada, acaba de sangrar. Ao menos, temos mais essa sincera, poderosa e dominadora obra que não o distanciará da nossa época e ficará affirmando o soberano valor de um artista que, entre os seus pares, é um grande Mestre. (DUQUE, 1905, p. 14, grafia original mantida)

            46.        A partir desses trechos críticos vemos que a obra foi bem recebida pela crítica da época, que ressaltou a qualidade técnica da execução, embora faça reserva quanto à ausência de expressividade. O exame da composição e da temática deste quadro nos permite traçar algumas sugestões, relacionando-o com outras pinturas do período.  É a este tipo de observação que se dedica o tópico a seguir. 

Más Notícias: sugestões visuais e temáticas 

            47.        Assim como há artistas que apresentam personalidade ou habilidade semelhantes a Rodolpho Amoedo, como vimos no capítulo anterior, sua obra Más Notícias também aproxima-se em alguns aspectos de outros quadros da época. Esta característica, perceptível em outros artistas e períodos, não indica um ponto negativo na obra: pelo contrário, revela interesses comuns em cada momento na história da arte, entre artistas contemporâneos atuando em diversos lugares. Porém, não podemos afirmar que Amoedo teve algum tipo de contato com alguma dessas obras e seus respectivos autores, o que indicaria relação de influência entre eles. Devido a isso, consideramos a prncípio que são apenas indícios sugeridos pela afinidade artística ou visual desses pintores e seus trabalhos. 

            48.        A narrativa que o título aponta é reforçada em vários pontos do quadro, de maneira que não há espaço para dúvidas. A carta apertada entre os dedos da fina dama [Figura 11, detalhe 1], a reação expressa na força das mãos retraídas contra a face e no olhar inquisidor deixam transparecer sua emoção contrariada. Se não bastasse, a região escura do lado direito da tela destaca ainda mais os traços na expressão do rosto e o clima de suspense. Esse tema abordado por Amoedo, de cartas e reações emotivas em mulheres, foi inspiração para outros artistas, produzindo resultados diferentes na composição, na carga expressiva e na impressão geral que causam no espectador. Como não cabe aqui explorar todas elas, selecionamos três.

            49.        Uma mulher reclinada sobre uma poltrona, em vestimentas leves de cor verde claríssimo poderia estar apenas descansando, mas o envelope e as folhas de papel atirados no chão, somados à expressão do rosto denotam mais do que isso [Figura 13]. A face de uma mulher aborrecida desenhada pelo pintor belga Jan Van Beers (1852-1927) traz o olhar fixo para frente, assim como a dama de Más Notícias. Ambas parecem querer mostrar ao espectador intruso toda sua insatisfação, alheias a todo conforto e beleza que as cerca. 

            50.        No Brasil, os pintores Belmiro de Almeida (1858-1935) e Almeida Júnior (1850-1899) atuaram na mesma época que Amoedo, tendo referências e formações artísticas semelhantes. Com Amoedo, também dividem interesse pelo tema feminino e cotidiano, expressos em obras aclamadas até hoje nos estudos de arte brasileira oitocentista. Belmiro de Almeida é amplamente reconhecido por sua tela Arrufos, mas apresenta em Má Notícia [Figura 14] uma mulher em prantos após a leitura de uma carta. Por sua vez, Almeida Júnior volta-se para o interior do país, como em Saudade [Figura 15]. Nesta pintura a mulher é retratada ainda durante a leitura, como um instante capturado no tempo.              

            51.        Essas duas telas, realizadas após Más Notícias, deixam claro a atualidade do assunto, em que a figura da mulher vai abandonando seu papel usual de musa da mitologia para ser protagonista no meio familiar e social. De acordo com Rafael Cardoso (2008, p. 115), o papel feminino na sociedade foi uma discussão com pouco espaço no Brasil do final do século XIX, embora fosse abordado com frequência na literatura de José de Alencar e de Machado de Assis, dedicadas às “explorações da alma feminina.”

            52.        Se a presença da carta for ignorada por um instante, restam ainda as mulheres representadas em estados emocionais distintos, de modo naturalista, quase sempre inseridas num ambiente doméstico. Sabe-se que os anos 1800 foram marcados pela ascensão de uma classe social desprovida do status de nobreza, mas com poder econômico considerável. Essa classe burguesa passou a participar ativamente das atividades sociais e culturais, o que implicou na absorção dos seus gostos na produção artística. Salvo a diferença temporal, tanto nos países da Europa quanto no Brasil esta nova configuração social dividiu opiniões e na arte se caracterizou por uma diversidade de posturas dos artistas e de tendências estéticas. Segundo E. H. Gombrich (2000), o século XIX foi marcado por dois tipos de artistas: os que se adaptavam aos novos gostos e aqueles que os desafiaram. Parece aceitável que os artistas brasileiros, conscientes dessas demandas, procurassem uma aliança entre elas, inserindo aos poucos novos conceitos estéticos e novos assuntos.

            53.        Márcia Valéria Teixeira Rosa (2004) afirma que Amoedo teria utilizado como modelo para Más Notícias a sua cunhada Maria de Morais. Se compararmos esta tela com o retrato de Maria pintado por Amoedo [Figura 16], podemos de fato notar a semelhança física entre elas. Entretanto, é provável que a intenção do artista não tenha sido retratá-la em sua individualidade; do contrário, o artista poderia determinar essa finalidade no próprio título, extinguindo qualquer dúvida do tipo. Resta-nos então tomar Más Notícias como uma obra que procura uma relação de identificação com o público, em que a narrativa e a qualidade plástica se sobrepõem à classificação de gênero. 

            54.        Paul Baudry foi um pintor francês e teria sido professor de Rodolpho Amoedo em Paris. Sua obra Senhorita Madeleine Brohan da Comédie Française [Figura 17] sugere uma afinidade formal com a pintura de Amoedo, na posição da mulher e no seu olhar dirigido ao espectador. No lugar de uma carta, Senhorita Madeleine segura um livro fechado; ao invés de uma expressão perturbada, ela esboça um sorriso irônico. Para além disso, as duas telas guardam diversas semelhanças, como o recorte da imagem, a mão que apoia o rosto, a poltrona com almofadas. Baudry, todavia, criou uma cena mais suave, um olhar mais amigável, enquanto Amoedo retrata uma criatura que nos repreende e nos desafia; a força evocada pelas mãos quase chega a nos atingir através do olhar.           

            55.        Outra senhora que demonstra este clima, misto de reflexão íntima e desafio é mostrada no Retrato de Mlle. e Mme. Caroline Rivière [Figura 18] de Ingres. Como Más Notícias, o quadro de Ingres utiliza o detalhamento na vestimenta e na decoração para enriquecer o aspecto visual da obra. As joias delicadas que as duas mulheres exibem e a diversidade de estampas e texturas definem o gosto pelo luxo e pelo que é estrangeiro - os padrões gráficos da decoração indicam origem oriental (CARDOSO, 2008). Por outro lado, Ingres criou uma imagem mais romântica da mulher, envolvida em tecidos leves, claros, como o véu branco e o veludo azul, enquanto a personagem de Amoedo apresenta-se recatada, num vestido de mangas absurdamente volumosas, a gola fechada até o pescoço e somente uma faixa revela a sua cintura, caracterizando uma visão mais alegórica da mulher do seu tempo. 

            56.        Para Rafael Cardoso (2008), a tela de Amoedo poderia ainda sugerir analogia com obras de dois artistas do século XIX: James Tissot (1836-1902) e John Singer Sargent (1856-1925). De Tissot, indicamos sua série de pinturas chamada A mulher em Paris, na qual estuda a figura feminina na cidade luz. Bem vestidas e inseridas em cenários urbanos, essas mulheres parecem flagradas num instante do seu cotidiano, geralmente entretidas ou em momentos de reflexão e descanso.

            57.        No caso de John Singer Sargent, a figura humana é priorizada, tendo ele realizado uma série de retratos femininos.  Essas obras, em vez de representações do cotidiano urbano, se aproximam mais de um estudo psicológico da retratada e da sua forma física. Em Lady Agnew de Lochnaw [Figura 19], Sargent retrata uma mulher sentada em sua confortável poltrona de motivos florais. Seu vestido, claro e brilhante, se destaca contra o fundo azul de estampas orientais.  O olhar fixo em quem a observa e os seus cabelos negros lembram muito a figura de Más Notícias.   

            58.        E esta não é a única obra de Sargent que carrega semelhança com Más Notícias. Em Elizabeth Winthrop Chanler [Figura 20], a manga bufante, a inclusão dos objetos decorativos, a posição da mulher, o cenário intimista que restringe a figura ao seu ambiente doméstico, entre tantas características, nos lembra do quadro de Amoedo. Com tantas afinidades, a proximidade estilística entre os dois artistas se mostra uma importante revelação, digna de pesquisas mais específicas. Na obra de Amoedo e Sargent, há bastante variedade de pinturas que apresentam esse tema feminino, subjetivo e concreto ao mesmo tempo.

            59.        Observando tais semelhanças temáticas, compositivas e formais com Más Notícias, concluímos que a pintura praticada por Rodolpho Amoedo estava em consonância com outros artistas do século XIX, no Brasil e no exterior, reconhecidos por seu trabalho pictórico. Como essas afinidades são apenas sugestões visuais e estéticas, de certo modo, acabam contribuindo para reconhecer a coerência entre o artista e o seu tempo, visto que as obras citadas foram realizadas durante os anos de 1800. Há ainda aspectos a serem considerados e o tópico a seguir se dedica a eles. Mais uma vez, se faz clara a importância do estudo da obra de acordo com tendências e anseios da época em que foi concebida. 

O apelo visual e a clareza na composição 

            60.        Analisando os contornos que delimitam a cena de Más Notícias, fica evidente a importância do desenho para a sua composição. O apreço pelos detalhes nos leva a imaginar que cada traço foi planejado pelo artista e, se observarmos as formas com atenção essa impressão se intensifica. Os braços postos na vertical dividem o quadro em três partes; a linha da almofada e dos ombros divide-o em três faixas horizontais [Figura 11, esquema]. Os pontos de encontro entre essas linhas insinuadas indicam o ombro, a mão que apoia o rosto, o braço direito com a carta e a almofada. O canto inferior direito, quase todo escuro, revela a assinatura de Amoedo acrescida de “Rio, 1895.” Todo lado esquerdo, porém, está iluminado fazendo nossos olhos percorrerem os detalhes de cada superfície e chegar até o canto inferior, onde as listras do vestido ficam menos nítidas e as pinceladas mais visíveis. As mesmas marcas de pincelada se mostram na renda bege que cobre a manga do vestido. Se o olhar se concentra na renda, é possível enxergar os pequeninos toques do pincel que à distância pareciam furinhos. Com uma observação atenta do lado esquerdo, onde parte da cauda do galo pintado, a cabeça de uma galinha e um pássaro surge, pode-se acompanhar a direção do pincel do artista. O mesmo não ocorre com a pele e a mobília, que são bem acabados, com aspecto bastante liso. 

            61.        Embora a parte superior do quadro esteja escurecida, é possível ver que o fundo não é preto, mas sim azul esverdeado, com estampa dourada ou bronzeada, formando um papel de parede que emoldura a cabeça da mulher. Mesmo assim, seus cabelos negros se confundem com o plano de fundo, destacando o rosto iluminado. Logo abaixo do queixo, do lado direito, o fecho metálico do vestido revela uma iluminação difusa [Figura 11, detalhe 2]. Esta luminosidade de contrastes coloca a seriedade da moça em oposição ao requinte exposto nas suas vestes e objetos de decoração.  

            62.        As folhas amassadas da carta mostram apenas o avesso da página escrita, com manchas de tinta aparentes, se assemelhando a uma partitura musical. Aqui, Amoedo deixa para o público a tarefa de imaginar que tipo de “má notícia” perturbaria a paz da distinta mulher que, como observa Cardoso (2008), não ostenta uma aliança.

            63.        Todos esses detalhes esmiuçados mostram uma preocupação estética em proporcionar ao espectador o máximo deleite visual.  Demonstraria também, conforme indica Tadeu Chiarelli, a ampliação do uso da fotografia na estrutura do trabalho pictórico. Segundo Chiarelli (2005, s. p.), “desde praticamente sua entrada no Brasil, a fotografia foi sendo utilizada pelos artistas, sobretudo como elemento estrutural da forma, fosse pictórica ou mesmo gráfica.” Rodolpho Amoedo seria um dos artistas que fez uso da fotografia na concepção de suas obras. Ainda que não seja possível comprovar esse artifício na criação de Más Notícias, ao menos fica a sugestão no recorte escolhido pelo artista para construir sua obra, ao eliminar do campo de visão do espectador boa parte das figuras que compõe a pintura, como por exemplo, o quadro com motivo campestre, a poltrona e as pernas da mulher. Temos uma visão aproximada do motivo retratado, enquadrada em um espaço reduzido e que, por isso, reforça o aspecto intimista da obra. Além disso, o detalhamento de cada textura, forma e estampa de modo naturalista, reduz a diferença que separa a pintura da fotografia. Do mesmo modo, “a hipótese de que a fotografia reproduz a realidade como ela é e a pintura a reproduz como se a vê é insustentável” (ARGAN, 1992, p. 79, grifos do autor).

            64.        Esta riqueza visual e o aspecto naturalista junto a um tema burguês do “cotidiano” esconde certa dose de idealização, numa cena construída pelo artista para exprimir aquilo que ele imaginou. Nos parece plausível que o artista se propôs a problematizar a questão entre a fotografia e a pintura, entre naturalismo e idealização, colocando uma divisão proporcional entre ambos como solução estética. Assim, Más Notícias seria um exemplar dos esforços dos artistas brasileiros do final do século XIX por alcançar uma medida ideal de modernidade e tradição, conforme o crescimento do interesse artístico no país. A obra em questão evidencia a personalidade artística ambígua do seu criador, dividida entre o real e o abstrato. 

A arte entre séculos: reavaliação crítica da obra de Rodolpho Amoedo 

            65.        Frequentemente os pesquisadores que se propõe ao estudo de Rodolpho Amoedo e suas obras terminam por concluir sobre sua destreza técnica e o tratamento conservador da pintura em tela. Certamente, Amoedo possuía habilidade com o desenho, com as tintas e suportes, dominando as regras acadêmicas da representação pictórica. Também é claro o seu conhecimento teórico e metodológico acerca da arte da pintura, adquiridos em anos de estudo no Brasil e na Europa, praticado em sua carreira como artista e docente na Academia/Escola de Belas Artes. Entretanto, restringir toda a sua obra a esses aspectos torna-se seria erro. Ainda que se reconhecesse que Amoedo foi um representante da tradição artística no Brasi - o que não é algo negativo - isso não impediria a sua valorização enquanto artista. Para Rosa (2004, p.2),

            66.                                 Rodolpho Amoêdo procurou seguir os ensinamentos aprendidos e aproveitá-los o quanto possível. As consequências podem ser verificadas na sua postura sempre criteriosa. No entanto, não devemos simplesmente padronizar esta postura profissional, qualificando também sua obra sob um único ponto de vista [...]. 

            67.        É preciso levar em conta que a avaliação de uma obra, de um artista ou de um período da história da arte implica na compreensão a partir do seu significado em contexto. Assim como é inadequado lançar mão de questões atuais da arte para analisar obras dos séculos passados, também é incoerente comparar com os mesmos critérios a arte no Brasil com aquela produzida em qualquer país europeu. Se as premissas defendidas pelo meio artístico acadêmico seguiam os padrões franceses, essa relação não deve ser o único parâmetro para se estudar a arte oitocentista brasileira.

            68.        Cabe lembrar também que o termo moderno - tão aplicado em discursos sobre arte brasileira - possui múltiplas interpretações. Se, por exemplo, utilizarmos o seu sentido original como algo “novo” ou “atual,” deixaremos espaço para referências que mudam conforme o tempo e o lugar. Já o seu emprego comum na história da arte se volta para o período entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX. Esta orientação pode se alterar conforme a fonte consultada. O Realismo é apontado por Santos (2008) como faísca primária para a arte moderna, em especial para a fotografia. Argan (1992), por sua vez, inicia seu livro Arte Moderna com o Neoclassicismo e o Romantismo, caracterizando uma visão mais ampla do que se entende por moderno na história da arte.

            69.        Portanto, é necessário ter o devido cuidado ao classificar uma obra ou um artista conforme padrões estilísticos. A arte brasileira sempre esteve atrelada aos estilos e formas estrangeiras, mas isso não significa que tenha simplesmente copiado o que se via nas galerias e museus europeus. Aliás, “cópia” e “influência” são palavras comumente utilizadas de modo pejorativo, quando estudos recentes mostram que elas escondem aspectos que não foram avaliados com clareza (DAZZI, 2013). O século XIX foi um período complexo, tanto no Brasil quanto na Europa, por isso é mais adequado considerar cada caso ao invés de sempre partir do âmbito geral. Como afirma Jorge Coli (apud DAZZI, 2013, p. 124): 

            70.                                 Ora, entender de verdade as artes é saber vê-las na sua complexidade concreta. Isto para o século XIX surge como definitivamente essencial. [...] Para desenvolvermos os estudos que busquem dar a esse universo artístico sua plena significação, não há dúvida, é preciso partir da obra.

            71.        Nesse contexto, Rodolpho Amoedo é um dos artistas que merece uma reavaliação crítica, pois, além de artista atuante entre o final dos 1800 e início do século XX, também foi crítico, professor e vice-diretor da Escola no momento em que as discussões sobre a arte brasileira se intensificaram. Participou da formação de vários artistas do modernismo e atuou do processo de transformação da Academia, além de ser o precursor da restauração de pintura no país, desempenhando papéis relevantes no cenário artístico nacional. A redescoberta de Amoedo pode partir de alguns pontos importantes em sua obra identificados em Más Notícias, mas perceptíveis em outras pinturas do artista. Tais aspectos, como já foi dito, também podem ser observados nas obras de outros artistas do período, como Almeida Junior e Belmiro de Almeida. Isso evidencia a postura atualizada e condizente de Amoedo conforme os anseios da época.

            72.        Em primeiro lugar, temos a temática a qual o artista se dedicou, a princípio bastante variada, mas que nos últimos anos do século XIX se voltou especialmente para retratos burgueses e figuras femininas em ambientes domésticos. A pintura de gênero ou de cunho intimista passa a ter importância no cenário brasileiro à medida que a classe burguesa ganha espaço como público consumidor de arte. Quadros históricos e mitológicos são grandes demais para compor a decoração de uma casa; já as paisagens, naturezas-mortas e as cenas da vida familiar se encaixam neste ambiente. Logo, ao retratar uma cena intimista, o artista segue as tendências do gosto burguês pela mobília, tapeçaria etc. Como a pintura de gênero, a decoração de interiores ganha destaque no século XIX (MALTA, 2006). Além disso, o tamanho da tela se relaciona diretamente com o seu preço. Embora a burguesia carioca detivesse boa condição econômica, esta ainda não se igualava àquela da classe mais rica. Segundo Chiarelli (1999), Amoedo notou que a necessidade romântica de afirmação da nacionalidade e os temas religiosos cairiam com o Império. Assim, se lança à fatura desses temas da intimidade burguesa, em quadros pequenos, aquarelas e desenhos diversos. Parte dessa produção integra, até os dias atuais, algumas coleções particulares e, vez ou outra, aparece em leilões de arte.

            73.        O aspecto técnico da obra de Amoedo, já referido anteriormente, é outro ponto a considerarmos, como a experimentação de diferentes modos e materiais, que se adaptam a cada tipo de gênero e destinação da pintura. Além do óleo sobre madeira ou tela, Amoedo trabalhou com pastel, têmpera e aquarela, com um desenho sempre refinado.  Realizou pinturas de cavalete, decorações em prédios públicos, projetos gráficos de diplomas, revistas e até mesmo cardápios. Sua versatilidade se tornou método de trabalho enquanto professor na Escola. Em um manuscrito de 1933, Amoedo esclarece: 

            74.                                 Claro está que não se pretende fazer de cada alumno um especialista em cada um dos processos em uso, mas colocal-os em situação de conscientemente escolher aquelle que melhor se coadune com o seu sentimento, offerecendo-lhe assim facilidades maiores para o seu desenvolvimento. (AMOEDO, 1933, p. 3) 

            75.        Esta atitude é compatível com o artista reflexivo que Baudelaire observou em Delacroix - um mestre em seu ofício (MIGLIACCIO, 2007). Se os críticos aludem à falta de expressão na pintura de Amoedo, ressaltando a dureza dos seus personagens, não se pode fazer o mesmo em relação ao pensamento estético e propriedade técnica da sua arte.

            76.        Os temas de pintura referidos anteriormente, até por acaso de sua finalidade, exigem do artista uma dedicação ao representar detalhes e, portanto, certa dose de realismo. Nesse apelo à visualidade, detalhamento, aplicação naturalista da luz, cor e textura, a fotografia pode ter sido um fator influente, desempenhando um papel fundamental na pintura de Amoedo. Chiarelli (2005, s. p.) indica que o uso deste novo recurso tornou “[...] visível como, sob a capa de uma composição obediente aos rigores da arte mais conservadora, persiste o apelo à descrição minuciosa dos ambientes, à definição clara de contornos dos corpos, denunciando o fotográfico estruturando o pictórico.”

            77.        Por fim, consideramos nestas obras de Amoedo um conteúdo subjetivo, subentendido à observação literal da pintura, mas presente em sua forma de representação. Pela dificuldade de comprovação, esse aspecto foi por vezes ignorado e está sujeito a questionamentos incisivos. Porém, é preciso expor suas bases antes de derrubar qualquer possibilidade de crédito. Migliaccio (2007), por exemplo, coloca sua avaliação das obras intimistas e retratos a partir de soluções gráficas, como a composição que valoriza a diagonal e o contraste de cores, como sinais de conteúdo psicológico. E este autor vai além, apontando a “extraordinária capacidade que a arte de Amoedo possui para estabelecer relações com a melhor literatura da época e não apenas brasileira [...]” (MIGLIACCIO, 2007).

            78.        Já Tadeu Chiarelli nos alerta para um aspecto notável da obra de Amoedo: juntar numa só imagem o real e o idealizado, representações artísticas aparentemente opostas. Ao tomarmos como exemplo o quadro Más Notícias, tal junção fica clara na aparência realista da mulher em comparação com o cenário, o vestuário e a situação sugerida que se distanciam dessa realidade. De acordo com Chiarelli (1999, s. p.),  

            79.                                 É com retratos que o pintor vai notabilizar-se. Nessas suas pinturas saberá aliar à captação objetiva do real uma dose equilibrada de idealização, perceptível na ênfase à linearidade de suas composições, ao ajuste da cor, à supremacia do contorno, procedimentos que evidenciam o caráter plástico de suas obras.        

            80.        Além disso, destacamos a hipótese de Rafael Cardoso (2008) sobre uma mensagem feminista na pintura de Rodolpho Amoedo. Para Cardoso, a personagem de Más Notícias está aprisionada na composição, entre luxos e recatos, constrangida pela situação em que foi flagrada. O contorno definido é uma espécie de metáfora às convenções sociais impostas à mulher “num contexto que a impede de mostrar quem ela é realmente, por dentro, e obriga-a apenas a perpetuar as aparências” (CARDOSO, 2008, p.114). Sob esse ponto de vista, Amoedo demonstra que a arte brasileira dos oitocentos não se limitou a retratar aspectos externos, como a paisagem, as pessoas e as riquezas nacionais, mas também se ocupou de assuntos não concretos, a que chama “pintura psicológica” (CARDOSO, 2008, p.115).

            81.        A partir destes pontos descritos, é possível concluir que a arte de Rodolpho Amoedo pode apresentar muito mais questões do que se poderia presumir numa observação literal. Esses pontos, se não provam a importância do artista no seu tempo - o que o tornaria, portanto, merecedor do devido reconhecimento -, ao menos provocam dúvidas quanto ao que se convencionou a dizer sobre sua arte. Tal como Amoedo, quantos outros artistas foram relegados a estereótipos estilísticos porque só se atentou para a formalidade de suas obras? O estudo do período da arte brasileira aqui em questão pressupõe um olhar mais específico, caso a caso, considerando o seu significado no tempo, o contexto histórico/social e, finalmente, colocando o artista enquanto pensador e não apenas como receptor de estéticas pré-determinadas, e sua arte como reflexo de um sentimento comum na época e sociedade em que se insere.

Considerações finais

            82.        A partir de tudo que foi analisado neste artigo, é possível concluir que a pintura com tema intimista de Rodolpho Amoedo vai além de caprichos decorativos da classe burguesa e registro de cenas cotidianas. Considerando a obra em seus aspectos formais, técnicos e significantes, vemos que por trás das vestes luxuosas e ambiente ornamentado da protagonista de Más notícias há um pensamento estético, plástico e temático condizente com o século XIX. As semelhanças visuais sugeridas entre a obra de Amoedo e outras pinturas da época reforça essa coerência do trabalho de artistas em diferentes países.

            83.        Na Europa e no Brasil, mais ou menos na mesma época, a indústria, a urbanização e a fotografia cresciam em importância no contexto da sociedade e das artes, fornecendo novos assuntos e novos gostos, aos quais os artistas estavam conscientes. A arte então se ocupava de temas diversos, por vezes aparentemente contraditórios, como o interesse pelas descobertas tecnológicas e a aproximação com os aspectos abstratos da vida humana. No Brasil, essas ideias chegaram aos poucos e os movimentos estéticos assumiram outras formas, de acordo com a interpretação do artista. Essa característica, apontada pelos críticos como uma “persistência da tradição,” pode ser compreendida como uma apropriação estética. A sociedade brasileira, que ainda se estabelecia e se afirmava culturalmente, estaria pronta para uma “revolução” artística aos moldes europeus? Podemos entender que não. Desse modo, a solução de muitos artistas, colocados contra a exigência moderna e a realidade do país, foi buscar um equilíbrio entre a demanda do público e as próprias aspirações estéticas.

            84.        Rodolpho Amoedo, em sua longa e produtiva carreira, ao que podemos observar, trilhou este caminho ambíguo. Seu apreço pela materialidade da obra, mascarada num acabamento impecável, ao mesmo tempo em que procurou inovação temática e expressiva, revelam um artista consciente da sua arte e reflexivo diante do seu tempo.

            85.        Suas pinturas intimistas, como Más notícias, guardam questões pouco esclarecidas e sua classificação quanto ao gênero pictórico é apenas a primeira delas. Amoedo utiliza a aparência de uma modelo, mas não a retrata; insinua uma narrativa, mas abre espaço para um conteúdo subjetivo. A concretude dos objetos é contraposta à abstração da expressão da moça. O aspecto visual tão evidente esconde nas entrelinhas questões da vida humana. Amoedo parece ter intencionado essa polemização da sua obra, confrontando o espectador com seus desejos e suas mazelas.

            86.        O fato de uma obra de arte provocar discussões de raízes tão variadas a coloca numa posição de destaque no seu tempo, levando consigo o seu autor. É por isso que acreditamos na necessidade de se estudar mais profundamente a obra de Rodolpho Amoedo, em especial estas pinturas de mulheres em ambientes internos, entre as quais Más notícias se mostra como ícone de uma nova estética, refletindo-se em outras obras de arte que viriam mais adiante. 

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* Trabalho de conclusão de curso apresentado à Universidade Estácio de Sá como um dos requisitos para certificação do curso de Pós-graduação lato sensu MBA em História da Arte em junho de 2017.

[1] AMOEDO, R.. Curriculum Vitae. “Centenário de Rodolpho Amoedo” In: ARQUIVOS DA ESCOLA DE BELAS ARTES. Rio de Janeiro: Oficina Grafica da Universidade do Brasil, 1957, p.21-23 (transcrito por Alfredo Galvão). Transcrição disponível em: http://www.dezenovevinte.net/bios/bio_ra.htm Acesso em: 16 mar. 2017. 

[2] Tradução nossa.