Rodolpho Amoêdo, por Gonzaga Duque

organização de Andréia Costa Kusaba

KUSABA, Andréia Costa (org.). Rodolpho Amoêdo, por Gonzaga Duque. 19&20, Rio de Janeiro, v. III, n. 2, abr. 2008. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/artigos_imprensa/gd_ra.htm>.

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Transcrição do artigo “Rodolpho Amoêdo. O mestre, deveríamos acrescentar”, originalmente publicado na Revista Kósmos, n. 1, segundo ano, Janeiro de 1905, e reeditado em DUQUE ESTRADA, Luis Gonzaga. Contemporâneos - Pintores e esculptores. Rio de Janeiro: Typ. Benedicto de Souza, 1929. p. 9-18. É essa última versão que se encontra aqui transcrita, com a sua ortografia original mantida.

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RODOLPHO Amoêdo

O mestre, deveríamos accrescentar.

Sim, o mestre, porque o professor Amoêdo é dos poucos pintores que conhecem o segredo das tintas e lhe prestam cuidados. Sobre isso, elle tem, como Eugène Delacroix, o conhecimento exacto da sua arte e de tudo quanto lhe está relacionado, a philosophia, a literatura, as escolas, os modos, os caprichos de cada época, e como Delacroix - rectificando os verbos da phrase de Baudelaire - il aime tout, sait tout peindre.

A palhêta, especialmente, despertou-lhe attenção, e apezar de ter sido guiado pela rotina de um ensino archaico, nos longos primeiros annos da sua aprendizagem, modificou os processos, combinando para seu uso um digramma de côres, cuja simplificação era fundada na theoria de Bruck Laugel e Helmholtz. E isso, na realidade, offerece-lhe meios de alcançar, todos os effeitos desejaveis, desde os mais violentos e brilhantes, até os mais delicados em esbatimento e transparencia, de sorte que a sua pintura foi ganhando, pouco a pouco, uma pureza e vigor de tons que se tornaram notaveis.

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Esta qualidade, que o recommenda, resulta da direcção logica dos seus estudos.

Em 1879, quando o então alumno Rodolpho Amoêdo partia para a França, por conquista porfiada do premio viagem á Europa, da Imperial Academia de Bellas Artes [cf. Imagem], ainda o atelier Cabanel mantinha o prestigio da sua celebridade, apezar da nova corrente esthética que, proclamada por Eugenio Veron, levava d'escantilhão ao dogmaticos processos do academismo, que o Sr. David Sutter condensára num formidavel volume premiado pelo Instituto da França.

O velho Alexandre Cabanel, por esse tempo, erro dos mais conspicuos depositarios das tradições da arte sob Napoleão III, o que equivale por dizer que guardava os moldes artisticos de Ingres, os preconceitos pseudo-classicos da Villa Medicis e, por sobre carga, os arrebiques da casquilharia jovial do segundo imperio.

Em verdade, ninguem melhor que os Srs. Cabanel e Bouguereau representavam o alambicado exterior e a essencia feminil d'essa arte, que parece um producto dynamisado das estouvices do can-can, do romantismo galante duma literatura modelada pelo capicho duma condessa hespanhola transformada em imperatriz franceza, melhor dizendo – parisiense, e fanfarronadas de casernas com coplas d´opera buffa.

Mas se o cabanelismo trazia o travesti desse alegre tempo, em que os generaes deixavam ao erário publico as contas de seus bom-bons, também retivera a linha elegante do XVIII seculo, mas ampla de contorno e mais bastida de sensualidade. Ao garbo do desenho, a que não faltava alguma cousa da sobriedade clássica, quando mais não fosse - um vago de pureza linear, essa escola reunia excellentes qualidades picturaes pelo que respeita ao asseio dos tons e á segurança dos valores. Póde-se dizer que [Página 11] Mr. Cabanel foi, na Republica, o resto do arrebicado romantismo do Império capitulado em Sedan.

E nesse atelier foi que Rodolpho Amoêdo cultivou o seu desenho, que ainda hoje possue o quer que seja da flexibilidade donairosa, da distincção gracil, da volúpia discreta d´essa época mórbida, mas deliciosa.

Dali seguiu o professor Amoêdo para o atelier do Puvis de Chavannes, o grande mestre da pintura mural, que no dizer de Etienne Bricon, mettia de l´air un peu divin dans l´air qui nous ettouffe, e ahi, na pratica da simplificação dos motivos, no attendimento á exegesis dos symbolos, sob a serena influencia da espiritualidade em que se ennobrece a obra pensada e social de Chavannes, o pensionista brasileiro completou a sua educação artistica.

D´esses dous mestres, oppostos por suas esthéticas, mas egualmente notáveis pelo saber, resultaram para o Sr. Amoêdo as componentes do seu estylo, recommendavel por um equilibrio de sobriedade e brilho, que só elle possue em tão justas proporções e que perfeito lhe sáe das longas mãos claras – mãos molles de imaginoso e sonhador, e de lisos dedos espatulados, disfarçados a nodosidade d´entorno as unhas, que são indicativas do pensamento como a fórma espatulada incluca a ordem, o methodo e a perseverança, não obstante o idealismo do typo chirognomonico.

E assim é a sua arte, sob o valor expressivista, que é o estylo, e sob o valor da composição que é parte creadora.

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Ao tempo que o professor Amoêdo concluía os seus estudos em Paris, a tendência naturista da espiritualidade latina, começada por uma lenta campanha que teve [Página 12] o seu precursor em Stendhal, firmára-se no dominio das artes plasticas.

Rodolpho Amoêdo não podia escapar a essa corrente vigorosa e transformadora, que a seducção das novidades fazia mais intensa por seu fundamento scientifico. S´il est indispensable d´exercer son oeil et sa main, il l´est non moins de cultivar son esprit - escrevia Pierre Petroz um dos menos conhecidos porem dos mais profundos historiographos da arte contemporanea.

O Ultimo Tamoyo veio nessa época, pertence-lhe como producto, e posto que o naturismo do artista claudicasse no typo de Anchieta (que contempla o cadaver do tamoyo Aymbire, debruçando-se sobre elle e o acolhe nos braços), representando-o como um franciscano, a figura principal, admiravelmente desenhada quase d'escorço, é um acabado estudo de afogado, de acordo com os rigores da reproducção naturalista, ainda que se lhe não possa confirmar precismante os caracteristicos ethnicos e muito menos os da tribu.

A verdade, porém, do cadaver sorprehende em seus detalhes, e como assignatura do já elevado merito do artista patricio vão-se-nos os olhos, e com elles a alma, para o canto da praia onde jaz o herculeo e valente Aymbire, paizagem que, se não era um retido croquis de recordação da patria, dizia bem alto a lembrança, por elle conservada e estremecida, de sua terra, tão perfeitamente reconstruido é esse canto da nossa natureza de ribamar, que forma o scenario da tragedia indigena.

Nesse detalhe fidelissimo, onde está o recolhimento selvagem das escarpas dos nosso rochedos ribeirinhos, que a vegetação adorna luxurienta, e a emanação salobrado oceano murmurejante tonofica e refresca, reside a beleza emplogante do quadro. E´ a areia, d´um crême esmaecido, de que se orla, no rastejo piedoso de Anchieta, [Página 13] a barra do seu burel; é a côr sombria do recanto em contraste com um recórte claro do céo; é o abrupto da rochas e o pairo ondulante das gaivotas...

E logo após, imbuido no indianismo inda vasquejante da literatura patria, que foi uma reacção contra a influencia espiritual da ex-metropole, poz na téla a Marabá, que Gonçalves Dias, linda e romaticamente, eternisou no fulgor rythimico de seus versos. Mas, o indianismo, foi vencido pela força assimiladora dum meio superior. O seu tributo nativista tinha sido largamente pago e o moço artista voltou-se para a nú da cultura européa, como documento incontesto de estudos. Datam dessa época, com insignificante differença de tempo, o magnifico tronco de mulher que se conserva na Pinacothéca da actual Escola de Bellas Artes [1], creio que na mesma sala onde refulge esse maravilhoso nú do Modelo em repouso, que confunde, num só e inestimavel valor, a pertubadora verdade de um desnudamento romano e a importancia duma academia perfeitissima.

Deitada d'em vés, premindo o thorax sobre o divan de escuro estofo polychromado, no estylo arabe, deixa ao espectador o desnudo de seu bello corpo, de costas, num rutilante rosicler de carne moça, que é como uma musica pagã ouvida em devaneios, tendo-se nos labios os bordos finos duma taça transbordante de louro Samos. O exúbero contorno dessas formas, o lacteo macio da epiderme, que o sangue faz tremer e lhe dá o calor de um desejo em repouso, são como a nudez da Callypigia, entoam hosannas á Venus Astartéa pela incorruptibilidade do dorso feminino, a que não attinge a flacidez da mocidade fanada nem no deformizam as tumecencias sagradas da maternidade. E' a belleza duradoura, que resiste longamente aos annos, e [Página 14] onde a curvilinea silhuêta da fórma tem a insidia vagarosa de um som que ondula lentamente por uma amphora de crystal.

Veem-se-lhe, de relance, o debuxo do perfil, o friso da concha minuscula da orelhinha quente, e vê-se-lhe a nuca inteira mergulhando, como o desfallecer de um goso, a alvinitencia estonteante da sua pelle na perfumada noite sigillosa de seus cabellos, em apanho elegante de mulher de moda.

Mas, essa, não é nem podia ser a sua obra capital. Faz parte da sua orientação artistica e, assim, marca um pontro alcançado, um ‘'estado do espirito'' n'ascendencia da melhoria. Póde-se-lhe chamar um nú contra-academico porque, possuindo no mais feliz esforço da reproducção - o desenho, a anatomia e a facilidade pinturesca das provas profissionaes - contem, a maior, essa extraordinaria palpitação da verdade que a fa viver, e essa ostensiva e provocante nudez d'hetaïra, o que pôz vincos de censura nos sobr'olhos da circumspecção academica daquelle tempo.

A evolução do seu espirito, porém, conduziu-o a uma arte finamente expressora e menos materialista, em que exsudava a dominante de suas predilecções consubstanciadas num requinte mundano de existencia ou seja, para mais dizer – um certo epicurismo elegante, apprehendido na convivencia selecta de um meio culto, da supper-ten, fortemente abalado por crises sentimentaes, de fundo atavico.

Elle já nol-a tinha demonstrado com a Pensativa, uma meia figura de menina pobre, impressionantemente dolorida no seu abandono; e veio accentual-a numa obra bellissima que, por si só, vale todo o trabalho de um artista. E' a Partida de Jacob, duma tocante simplicidade que nos penetra a alma e nos relembra aquella dulcissima passagem biblica de eleito do Senhor.

Os seus recursos de arte constróem a scena por uma maneira inedita. Mostra-nos Jacob na sua humilde condi- [Página 15] ção de pastor, á porta da choupana, recebendo o osculo da mãe cuidadosa. E' ao descer da noite. O orvalho cae, e num lindo céo de opalas diluidas o crescente brilha. O braço materno destende-se para a frente a abençoar o filho. Foram abertos os aprisos e o rebanho se recolhe ao grito costumeiro do zagal. Ha como uma bemdicção em tudo – o exprimir intraduzivel das cousas que auguram a gloria desse dia eterno.

Essa pagina biblica foi para Amoêdo a suggestionadora da Narração de Philéctas, onde está toda a força creadora do artista e todo o seu saber de pintor.

Alli tem elle o trabalho recontructor da edade, a interpretativa da alma de Longus, a fixação de seus typos. E em cada parte dessa obra o seu talento inflammou bellezas, que se não esquecem.

A paisagem desse quadro attinge a uma harmonia perfeita, evocada do pantheismo de Longus e disperta do fino gosto do artista. Olha-se-a e nos parece que a gamma dos verdes brandos, que a compõe, vae numa sequencia musical de sons, desde o verdegaio das primeiras gammas, até o grandissimo tom das distancias, onde ella tem o smorzo de um sorriso de esperança vaga. E essa harmonia funde-se nos imprevistos de outros sons, que irrompem claros e sonóros ou sejam os tons fórtes dos troncos escuros dos pinheiros, a lepra musgosa dos pedregulhos, a alegria, em amarello vivo do tojo florescente, aqui resaltante, além surgido, em agúdos de notas. E' bem o outomno, sob o céo da Grecia prisca e pastoral, essa paizagem fresca e extensa, aonde pascem ovelhas, e uma herma mythologica marca as braçadas dos caminhos. E agora, toda a singeleza alacre do sitio se transforma numa nova existencia, mais palpitante, mais amada por se tornar mais sentida, para esses dous pastorinhos candidos, que escutam da bocca babujenta do velho Philéctas a narração do amor.

Daphnis e Chloé ouvem-n'o, ella delgada como um junquilho, toda aromatisada de innocencia, de pelle feita das [Página 16] rosas e de cabellos mais loiros que a luz d'oiro desse claro dia - 'inda não entendendo bem a linguagem do rude e bom velho, que os annos curvaram e as canceiras lanharam de rugas como as rugas dos lenhos adustos.

Amoêdo compôz o grupo dos adolecentes com uma belleza emocionante. A posição escolhida para os dous amantes inconscientes dá-lhes a graça ingenua que Longus suggere, e constitue pela combinação de suas linhas um molde classico, perfeitamente adaptavel ao assumpto. Chloé, está assentada á beira dum pedregulho, e é leve flexivel como uma illusão; o seu braço esquerdo, desnudado, e lindamente inbelle, apoia-se no hombro nú de Daphnis, que lhe está aconchegado, estendido de bruços sobre a dura pedra do caminho, que lichens avelludam e amaciam. Elle é trigueiro, d'olhos luminosos e negros e do negros cabellos bastos. Tem a esvelteza muscular de um adolescente Nemrod e a naturalidade estouvada d'uma creança livre. E diante delles, sobre o descanço doutra pedra, na mesma linha pyramical da composição, cujo apice é formado pela cabeça de Chloé, postou-se o velho Philéctas, mal cobrindo o velho corpo aspero com o pellego dum cabrito montez.

Na reprodução desse typo o professo Amoêdo copiou passivamente o modelo, o qual trazia um defeito – os mammelões pesados e flacidos como gastos seios de mulher annosa. Não obstante, deve se attender á vulgaridade de tal defeito nas gentes do campo, particulamente quando foram gordas na mocidade. Mas, isso não prejudica a belleza da téla, que é uma obra intensa, inconfundivel, solida na sua factura, delicada nas suas minucias, e que nos dá num empolgo fascinador, a emoção de sua enorme pureza onde fica, em uma aureola divina, a poesia perenne dos primeiros amores.

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Accidentalmente, isto é, para satisfazer uma praxe academica, imposta aos que terminam o seu pensionato na Europa, elle produziu mais uma grande téla - Christo em Capharnaum, assumpto approvado pela congregação docente da Academia de Bellas-Artes.

O assumpto, como se comprehende, estava deslocado do tempo e em contradição com a natureza do artista. Apezar dessa anomalia, o professor Amoêdo, se não pintou um quadro de fé, como lhe não era dado fazel-o, procurou compôl-o de accordo com as suas vagas sympathias pelo comtismo[2], considerando o Christo um mytho cultivado pela crendice. E, em summa, é isso o que o quadro procura representar. A figura de Jesus Chrito domina a grande téla como uma fórma invocada, uma apparição corporificada pela crença dos leprosos e paralyticos, cerebros sufficientemente dosados para os phenomenos fantasiosos da visão.

A brilhante e commovedora obra inicial do professor Amoêdo soffreu, depois da Narração de Philéctas, um desviamento que impressionaria muitissimo se já não houvessemos indagado de seus estudos e predilecções da sua natureza. Esse desvio, collaborado por causas complexas, tem-no conduzido a uma arte menos emocional, como inspiração, mas, sem duvida, forte, séria e perfeita como téchnica.

Pesquizador por indole e por probidade profissonal preoccupado com a factura, de que depende a durabilidade das obras, os seus ultimos tempos têm sido um devotamento ao material da pintura, já ensaiando processos desempoeirados d'antiguidade, já seguido innovações que a sciencia moderna vulgarisa.

A Desdemona adormecida e Orpheu, que são deste tempo, (em grande parte aproveitado na producção de magnificos retratos) mostram essa preoccupação. Não poderei dizer, no emtanto, se elle encontrou definitivamente esse [Página 18] processo, posto que a insistencia com que trabalha na pintura a ovo pareça indicar o material preferido.

Mas, em quanto não lhe chega a certeza pratica do que laboriosa e, accrescentarei, cruditamente procura, vae enchendo suas horas de folgas, dos deveres academicos, com quadrinhos de cavallête, aquarellas e desenhos, aos quaes o seu nome presta maior destaque ao merito do trabalho.

E se esse precioso tempo, consumido com o rebuscar de materiaes, fôr se accumulando de modo a sorprehendel-o nos ultimos cansaços da velhice, restar-nos-á esse, dos seus ultimos trabalhos, que tem por titulo Más noticias, attestado das excepcionaes qualidades do mestre, do seu vigor de pintar, da firmeza magistral do seu desenho, da limpeza de suas tintas e do poder expressivista da sua arte, porque essa bella mulher, senhora de lindas vestes e mais lindos olhos, humedecidos de lagrimas, diabolicamente negros, é um flagrante d'alma feminina, um instantaneo maravilhoso do tormento de um coração que a carta, amarotada nas suas lindas garras de airosa dama senão de deusa contrariada, acaba de sangrar. Ao menos, temos mais essa sincera, poderosa e dominadora obra que o não distanciará da nossa época e ficará affirmando o soberano valor de um artista que, entre os seus pares, é um grande Mestre. [3]


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[1] Este trabalho foi publicado em 1905, portanto a referencia é feita á collocação dos quadros na pinacothéca da antiga Escola, onde está hoje a secretaria do Ministério da Fazenda.

[2] Doutrina do filósofo francês Auguste Comte (1798-1857), núcleo e fundamento do positivismo (que adquiriu outras versões com seus continuadores), caracterizada pela afirmação de que o conhecimento deve abandonar a procura do absoluto ou da essência das coisas, restringindo-se à constatação científica das leis que ordenam o mundo natural. Fonte: Dicionário eletrônico Houaiss.

[3] Grande parte deste trabalho foi transcripto no nº 196 da ILLUSTRAÇÃO PORTUGUEZA, de 22 de novembro de 1909, sem declaração de procedência e sem assignatura, quando a revista brasileira Kosmos, no seu n.1, segundo anno, de Janeiro de 1905, foi a única via de publicidade que elle teve. Esta declaração só tem um intento - ‘'salvar o seu auctor de qualquer commentario desagradavel, por exemplo: o de lhe attribuir o crime de se poderar do trabalho alheio''.