Aníbal Mattos e as Exposições Gerais de Belas Artes em Belo Horizonte

Rodrigo Vivas [1]

VIVAS, Rodrigo. Aníbal Mattos e as Exposições Gerais de Belas Artes em Belo Horizonte. 19&20, Rio de Janeiro, v. VI, n. 3, jul./set. 2011. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/artistas/rv_am.htm>.

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Aníbal Mattos nasceu no Arraial do Comércio, em Vassouras, no Estado do Rio de Janeiro aos 26 de outubro de 1886, vindo a falecer em Belo Horizonte em junho de 1969. Além de pintor, foi conhecido como escritor, Historiador da Arte e professor.

Fez seus estudos primários em Icaraí, Niterói, tendo frequentado o curso secundário no Mosteiro de São Bento e no Colégio D. Pedro II. Sua família era ligada às artes plásticas. Dois de seus cinco irmãos tornaram-se artistas: Antonio, escultor, e Adalberto, pintor e gravurista.

Casou-se com D. Maria Ester, com quem teve oito filhos dentre os quais o pintor modernista Haroldo Mattos e a pintora decorativa Maria Ester Mattos. Seus dois filhos participaram, conjuntamente com o pai e a mãe, de várias exposições realizadas em Belo Horizonte. Aníbal Mattos foi, ainda, fundador de várias sociedades culturais no Rio de Janeiro como o Centro Artístico Juventas, depois transformado em Sociedade Brasileira de Belas Artes, da qual foi benemérito.

Aníbal Mattos fez seus primeiros estudos de desenho no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro e, posteriormente, estudou na Escola Nacional de Belas Artes na mesma cidade, tendo sido aluno de João Batista de Costa, Daniel Bérard e João Zeferino da Costa.

Foi reconhecido pela Escola Nacional de Belas Artes com três menções honrosas, uma medalha de ouro em 1912 e uma de prata em 1916. Representante da mesma instituição, Aníbal participou em 1914 do Congresso Acadêmico no Peru, tendo sido orador oficial de todas as delegações dos estudantes da América.

Na trajetória de Mattos, o período que mais interessou no desenvolvimento desse artigo teve seu início no ano de 1917, momento em que se transfere para Belo Horizonte a convite de Bias Fortes para ocupar o cargo de professor da Escola Modelo. A cidade já conhecia o trabalho de Aníbal desde 1913, data das primeiras exposições realizadas nessa cidade, como verificado nas matérias de jornais como o Diário de Minas.

Além de professor da Escola Modelo, atuou na Escola Prática de Belas Artes. Em 1918, funda a Sociedade Mineira de Belas Artes. Essa teve um papel fundamental na organização de exposições de arte na capital mineira. Um dado biográfico sobre Aníbal Mattos que será posteriormente analisado é que, além das exposições acadêmicas, ele teria patrocinado a Primeira Exposição de Arte Moderna: a exposição de Zina Aita. No que se refere à arte acadêmica, Aníbal realizou seguidamente, durante 15 anos, 15 Exposições Gerais de Belas Artes sem o auxílio governamental.[2]

Como teatrólogo, Mattos encontrou um espaço privilegiado em Belo Horizonte com um “núcleo de amadores” que rapidamente revelou artistas importantes como o Odilardo Costa[3]. Realizou ainda o filme Canção da Primavera, que foi uma adaptação de sua peça de teatro.

Aníbal Mattos parece ter atuado como agitador cultural, pois, além do teatro e do cinema, também buscava na literatura sua forma de expressão:

Abílio Barreto, lírico incorrigível, está de cabelos em pé e olhos esbugalhados, ouvindo Aníbal Mattos recitar os versos desarticulados como perdigotos, sem ritmo certo e sem rima alguma, do bizarro blagueur que, num gesto atrevido de arte combinada, sacudiu a pasmaceira do meio literário brasileiro. Abílio pensa que é ele que está alucinado, enquanto Aníbal, com dedo em riste, lê esta poesia do livro. (Y. Diário de Minas, Belo Horizonte, 20 jan. 1923).[4]

Em 1930, participou da fundação da Escola de Arquitetura e Belas Artes da Universidade de Minas Gerais, na qual continuou trabalhando durante 27 anos, quatro dos quais como diretor. Atuou, também, como fundador da Biblioteca Mineira de Cultura, das Edições Apollo e do Centro de Proteção do Patrimônio Histórico e Artístico Mineiro, tendo lutado pela fundação de museus históricos locais em Ouro Preto, Diamantina, São João Del Rei e Belo Horizonte. Foi, ainda, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e, em 1936, presidente da Academia Mineira de Letras. Publicou ainda vários livros.

A cidade de Belo Horizonte passou a conhecer Aníbal Mattos pela imprensa, que anunciava suas exposições já no ano de 1913. Muitas vezes a cobertura ao evento de Mattos era utilizada como pretexto para conferir visibilidade à classe política da capital mineira.

Ainda ontem, dia santificado, foi animadíssima a concorrência à exposição. S. exc. o sr. Dr. Delfim Moreira voltou a visitá-la durante o dia, acompanhado de seu ajudante de ordens tenente-coronel Vieira Christo. Excusamos de fazer o reclame da bela exposição instalada no Palacete Werneck e é de esperar que os srs. Amadores das Belas artes saibam aproveitar a oportunidade de enriquecer as suas coleções. (Minas Gerais, Belo Horizonte, 18 maio 1917).

Aníbal Mattos, em 1916, pinta Paisagem com carro de bois [Figura 1], que retratava um tema que o tornou conhecido para os mineiros: as paisagens de Minas Gerais. Essas paisagens, assim como outras características estereotipadas fizeram parte do acervo de imagens que caracterizarão o universo da “mineiridade”.

Os pintores clássicos[5] não se interessaram pela produção de imagens da cidade moderna que estava sendo construída. Ficaram detidos justamente ao que estava por desaparecer na capital mineira: o trabalhador do campo, as casas de fazenda antiga, o isolamento proporcionado pelas montanhas e a relação com a cidade de Ouro Preto. Esses pintores olhavam para a nova capital mineira, mas conseguiam apenas ver o que poderia restar do Curral Del Rei. Gesto que se aproximava de Charles Baudelaire (1998) quando andava pela cidade de Paris e, como foi demonstrado no Pintor da Vida Moderna, o interesse pela efemeridade dos eventos que estão prestes a diluir-se com a velocidade da modernidade.

Tais imagens foram reconhecidas pelos colunistas como as mais apropriadas para retratar a paisagem mineira, mas que corresponderam muito mais a um conjunto de arquétipos ligados ao imaginário rural existente no Brasil do que a uma característica específica dessas paisagens. Todavia, é importante perceber como a crítica e os pintores da época buscavam construir uma relação identitária e de pertencimento ao enxergarem nessas imagens à “essência” mineira.

Um carro de bois, conduzido por um trabalhador descalço, em uma estrada de terra cercada por montanhas. Minas, como diria Guimarães Rosa, é em primeiro lugar uma montanha. As montanhas de Minas Gerais, responsáveis por diferenciar a “personalidade” dos mineiros, recebiam destaque em inúmeras cenas pintadas no período.

O imaginário sintetizado nesse período foi produzido ao longo de séculos, começando por viajantes como Saint-Hilaire, ou por historiadores como Gilberto Freyre, o primeiro a utilizar o termo “mineiridade”. Segundo Pinheiro Chagas, o mineiro estaria entre o trabalhador rural, caracterizado pelo bom senso, pela estabilidade, pelo conservadorismo, e o minerador, aventureiro e amante da liberdade. Como é possível notar, essas tipologias que seriam características dos mineiros foram também mencionadas por Sergio Buarque de Holanda (1978) em Raízes do Brasil para caracterizar a cultura brasileira. A afirmação ganha sentido na medida em que conseguiu demonstrar não o caráter arbitrário das imagens construídas, mas que o mesmo conjunto de imagens podem ser utilizado para caracterizar processos que tendem a produzir caminhos identitários diferentes.

É necessário perceber que o isolamento provocado pelas montanhas teria produzido uma “personalidade” discreta, desconfiada e a imagem responde a esse imaginário sob o ícone da cruz no final da estrada, que passa a ser incorporada ao espaço monumental.

O mesmo tipo de representação de trabalhadores em uma região isolada também aparece em outro quadro de Aníbal Mattos em 1915. O Jardineiro [Figura 2], representa um trabalhador segurando uma enxada com a mão direita e com o seu braço esquerdo apoia-se na perna, sentado em um banco. Entre as árvores existe um caminho que leva a uma pequena casa ao fundo que demarca a distância entre o primeiro plano, o trabalhador, e o segundo plano, a casa.

A construção do tempo tem um papel fundamental nessas duas imagens. Um tipo específico de tempo, das “estruturas”, conceituado pelo historiador francês Braudel. Os valores estáveis desse homem do campo confundem-se com a temporalidade das montanhas mineiras. O tempo da estabilidade, do conservadorismo, dos temas que reafirmam os estereótipos da “mineiridade”. As imagens fugazes da modernidade apresentam-se como “vaga-lumes na noite brasileira: eles brilham, mas não iluminam o caminho”, parafraseando Braudel, em declaração quando seu carro se quebrou em uma estrada da Bahia.

Na obra O jardineiro, Mattos busca nas variações cromáticas o efeito de profundidade. Nessa primeira fase, embora as obras de Mattos não apresentem o mesmo rigor técnico de Almeida Júnior, parecem corresponder às retratações deste pintor. A obra O caipira picando fumo [Figura 3] parece dialogar com as pinturas de Mattos.

Apesar de as críticas publicadas nos jornais belo-horizontinos do período apontarem uma especificidade das representações de Aníbal Mattos para as paisagens mineiras, esta ideia parece não ser sustentável se compará-lo com outros pintores acadêmicos como Almeida Júnior, Antônio Parreiras, Georg Grimm.

Após as análises dessas pinturas de Mattos, é necessário repensar o papel das Exposições Gerais de Belas Artes e entender como esse modelo foi apropriado pelo pintor na cidade de Belo Horizonte.

Exposições Públicas e Exposição Geral de Belas Artes

Em sua atuação em terras mineiras, Mattos tentou transferir o modelo artístico da Escola Nacional de Belas Artes para Belo Horizonte.

Aníbal Mattos conseguiu, na primeira exposição, congregar um conjunto de artistas, que eram referências obrigatórias nas artes do Brasil, dos quais se pode citar[6]:

Amaedo [Rodolfo Amoedo], Agrette [Francisco Agrette], A. Duarte, A. Mattoso, A. Faro, A. Selva, A. Cunha, A. Novacq, A. Ford, Arthur Thimotheo [Artur da Costa Timótheo], B. Parlagreco, Brocos, [Modesto Brocos Y Gómez], B. Facheti, Celso Wernecq, Childe, Caron, Carlos Oswaldo, Castagnette, Domenicq, Eduardo de Martino, E. Fabrege, E. Engelhardt, Estevam Silva, E. Simonetti, Esther de Mattos, Steckel, Fernandino Júnior, Francisco Rocha, Pons Arnau, F. Forimelli, Grimm, Goldchimidt, Z. Cantagalli, J. Quintino, I. Gonzoles, José M. Pacheco, L. Ferry, A. Belém, Oscar Pereira, Petrina Coutinho, H. Cavalheiro, Honório Esteves, Nadir Meirelles, P. Fantine, Souza Pinto, Scweigofern, Helena Agretti, José Jacinto das Neves e Antonio Carneiro [retratista português]. (Diário de Minas, 27 de setembro de 1917).

Ainda no ano de 1917, Belo Horizonte recebeu de Aníbal Mattos a Escola Prática de Belas Artes. “Inaugurar-se-á, a 7 do corrente, no palacete Celso Werneck essa escola, (Escola Prática de Belas Artes), sob a direção do laureado artista professor Aníbal Mattos (Minas Gerais, Belo Horizonte, 06 ago. 1917). Segundo a matéria, seria desnecessário enaltecer “a brilhante iniciativa que vem implantar em Minas Gerais o ensino de Belas Artes, sob os processos das escolas superiores dessas matérias” (Minas Gerais, Belo Horizonte, 06 ago. 1917). Como programa inicial da Escola, destacaram-se dois princípios essenciais para o ensino da arte acadêmica: desenho e pintura.

Após a Exposição Geral de Belas Artes, Aníbal continuou sua produção recebendo constante atenção da crítica de arte da capital[7]. No ano de 1923, Aníbal expôs em Belo Horizonte 150 quadros e passou, neste momento, a ser reconhecido por algumas obras.

O artista consagrado da “Cruz dos Caminhos” e consciencioso interprete de nossa paisagem não tem dormido sob os louros conquistados com as suas obras, muitas das quais provaram a admiração de uma realeza - o soberano da Bélgica, que teve palavras de elogio para o pintor quando aqui esteve há três anos. Aníbal, de então para cá, tem trabalhado com coragem e não é raro encontrá-lo pelos arredores da cidade com cavalete e demais apetrechos de ofício, a transportar para a tela, com aquele vigor de técnica e justeza [...]” (Diário de Minas, Belo Horizonte, 06 nov. 1923).

Ler algumas críticas é ser convidado a visitar as exposições de Aníbal Mattos. Andar por todos os espaços, entender a distribuição das telas na exposição, “cheias de sol e alegria”, apresentando-se em grandes dimensões e fornecendo ao espectador um recorte “empolgante da Serra do Curral”. A obra Alterosa Plages seria suficiente, segundo o colunista, para recomendar a exposição de Aníbal Mattos, pois as obras “falam da mesma forma à alma, provocando essas emoções que só a verdadeira arte tem o dom de nos transmitir”. (Diário de Minas, Belo Horizonte, 06 nov. 1923).

Todavia, o quadro mais aclamado pela crítica foi Flores da Primavera, que convidava o espectador ao “deslumbramento que empolga o visitante ao penetrar no chofre”. A exposição de Mattos foi realizada no Conselho Deliberativo na qual era possível conviver com dezenas de quadros que ocupavam a maior parte das paredes com

paisagens luminosas, onde o sol arde e esplende, vibra e ofusca, e que melhor se podem compreender o temperamento e os processos originais, a técnica, tão vigorosa e segura, do paisagista inconfundível da Cruz dos Caminhos. (Diário de Minas, Belo Horizonte, 20 set. 1923).[8]

Mattos foi capaz de materializar a luminosidade do sol em suas pinturas. Um pintor que por transformar a luz em obsessão produziu

um hino glorificador da luz, uma ode ao sol fecundo e criador. Em volta de nós, a cada canto em toda parte o sol arde. A heliofilia desse “virtuose” do sol é uma característica fundamental de sua obra. “Primavera florida” como rigor da fatura de pinceladas largas, e de efeito seguríssimo é de uma perfeição absoluta. Observa-se nessas telas perfeita perspectiva aérea, circulação de ar e uma raríssima vibração de luz, que destaca todo o quadro, que parece iluminado pelo próprio sol, sem violência de claro escuro. O céu é profundamente brasileiro, de um azul transparente, com mássicos de nuvens, tão comuns nos nossos dias tropicais de intensa luz. É um quadro alegre, otimista, vibrante, com os seus tons radiantes de primavera em flor. Impecável na gravação de planos, ainda há de notar nessa obra prima a transparência das águas, em que se reflete a paisagem original. (Diário de Minas. Belo Horizonte, 20 set. 1923).

As exposições transformaram-se em um espaço de socialização e os quadros eram adquiridos como um fator de distinção social. Geralmente, ao final dos comentários das exposições, eram apresentados os “ilustres compradores de obras”. Na semana ora em questão, informa a crítica, adquiriram quadros: “Sr. e Sra. Alcina Barbosa de Souza, Deputado Joaquim Salles, Drs. Oswaldo de Araújo, Clemente Faria, Arduido Bolívar, Manoel de Oliveira, Horácio Guimarães.” (Diário de Minas, Belo Horizonte, 29 set. 1923).

Este fato pode ser confirmado por outra citação que atesta que estaria “definitivamente lançada e de maneira vitoriosa a idéia de ser adquirido pelas classes sociais de Belo Horizonte o 'lindo quadro' Flores da primavera que deverá ser oferecido ao ilustre presidente Dr. Raul Soares”. (Diário de Minas, Belo Horizonte, 29 set. 1923).

No ano de 1924, Aníbal Mattos pinta Chafariz [Figura 4], que pertence ao Colégio Estadual Pedro II, em que se percebe a cor verde em contraste com tons amarronzados anteriormente aplicados no quadro Paisagem com carro de bois [Figura 1]. A observação atenta da obra original permite visualizar, ao lado da fonte, uma grande concentração de tinta que acabou por escorrer na tela destoando do restante do quadro. Para um quadro que, pelas leituras habituais que dele são feitas, representa academicamente um tema, uma grande concentração de tinta e a falta de tratamento da superfície do suporte parecem inconcebíveis.

Percebe-se aqui que Mattos parece dominar muito mais o desenho que o uso das cores. Neste sentido, ganha em qualidade quando o desenho é elaborado previamente.

No tocante, especificamente, à pintura Chafariz, nota-se que o mesmo está situado ao lado de uma enorme ladeira que levaria a um conjunto de casas ao final do caminho. A densa vegetação localizada ao lado do chafariz tem o objetivo de completar a composição do quadro, sendo perceptíveis as diferenças da representação entre o desenho e a pintura.

Aníbal Mattos encontra em Belo Horizonte o espaço favorável para a consolidação de sua carreira artística decidindo, no ano de 1924, fazer uma grande exposição na cidade de São Paulo com quadros que obtiveram sucesso de crítica na capital mineira.

dentro de breves dias seguirá para São Paulo onde vai realizar uma grande exposição, o consagrado pintor Aníbal Mattos, quer antes de para ali partir dar aos inúmeros admiradores que conquistou o seu pincel vitorioso nesta capital, uma amostra dos trabalhos que vão figurar naquele certame. (Diário de Minas, Belo Horizonte, 03 maio 1924).

A exposição recebeu o título de Terra Mineira que apresentava um artista de

excepcional merecimento, com uma palheta opulenta, rica de tonalidades imprevistas, interpretando com requintes de estesia e assombrosa segurança e felicidade aspectos inéditos e curiosos da nossa estonteadora e empolgante natureza. Falar sobre uma exposição de Aníbal Mattos é tarefa fácil. Basta anunciá-la. As exposições do mestre admirável da “Cruz dos caminhos” e de “Terra Mineira”, constituem sempre um acontecimento notável de que se fala por muito tempo. (Diário de Minas, Belo Horizonte, 18 maio 1924).

Uma analogia pertinente refere-se ao aspecto visual suscitado pela obra de Mattos o que implica conhecer os verdadeiros objetos do mundo pela pintura e não apenas reconhecer os objetos imitados pelo pintor.

Dir-se-á que a natureza lucra mais em ser vista através das suas paisagens do que no original: é que a vemos assim através de um temperamento vibrante dionisíaco, insaciado de luz [...] Aqui é a “Mata iluminada, que esplende banhada de uma luz intensa e maravilhosa: além, “Terra Mineira” de efeitos surpreendentes, mais adiante um crepúsculo suave “Horas Tristes”, de uma melancolia sugestiva, paisagem que o grande Corat [sic] não se designaria a assinar. Acompanhado de todos seus auxiliares de governo, esteve ontem no conselho deliberativo, visitando a exposição Aníbal Mattos, o Dr. Raul Soares, Presidente do Estado. (Diário de Minas, Belo Horizonte, 18 maio 1924).

O comentário anterior parece aproximar de algumas teorizações que assinalam que os elementos formais das obras de arte possibilitam uma modificação dos aspectos visuais do observador. Infelizmente, os paulistas não tiveram a chance de conhecer a Exposição Terra Mineira e o que restou são apenas os comentários transcritos acima, pois, como é sabido, “toda a sua obra - quase uma centena de telas magníficas - que levara para São Paulo, ficou completamente inutilizada. Sendo toda ela destruída, saqueada pelos revoltosos.” (Diário de Minas, Belo Horizonte, 04 dez. 1924).

Os quadros de Aníbal Mattos não chegaram a serem expostos. Foram queimados na Estação da Luz como consequência de uma sucessão de medidas autoritárias para o fim das oposições ao presidente Arthur Bernardes. O conjunto de fatos ficou conhecido no período como o reinício do movimento tenentista. As articulações entre civis e militares, iniciadas em 1923, direcionaram-se para a capital paulista sob o comando do general Isidoro Dias Lopes. A Estação da Luz não escapou ilesa, sendo queimada conjuntamente com toda a obra de Mattos ali armazenada. Apenas duas telas foram salvas: Mata iluminada e Terra Mineira, “únicas das suas telas que escaparam, milagrosamente, ao saque e às depredações dos mashorqueiros de São Paulo”. (Diário de Minas, Belo Horizonte, 06 dez. 1924).

Após a destruição de suas obras, o pintor realizou uma exposição em Belo Horizonte, mas passou a receber críticas negativas sobre seu trabalho. Não é possível saber se esse fato se deveu à pressa em “recuperar” sua produção, ou uma mudança do perfil da crítica belo-horizontina. Aníbal Mattos foi comparado a Parreiras, que seria um paisagista de “delicada sensibilidade, de audácia de colorido”, entretanto, já se disse de Aníbal que lhe faltavam “firmeza de técnica e não sabemos que mais”. (MATTOS, Aníbal. Diário de Minas, Belo Horizonte, 8 dez. 1924). Essa característica, segundo o autor da coluna, seria infundada e elaborada por “quem está obrigado a fazer jornalismo apressado”.

Para Jardim, o artista que mais se aproximaria de Mattos seria Araújo Porto Alegre por congregar o oficio de pintor e literato e talvez “esta dispersão do gênio contribua para torná-lo mais conhecido no campo literário com prejuízo das artes plásticas”. (JARDIM, Pintores Brasileiros, Diário de Minas, Belo Horizonte, 8 dez. 1924).

Dois anos após a destruição de sua obra, Aníbal Mattos realizou uma nova exposição com 162 telas das quais apenas quinze não eram novas. Tal exposição inaugurou a 30ª exposição realizada pelo pintor que passou a ser considerado “Mais seguro de si mesmo. Mais ousado, mais rico de técnica, ou melhor com uma técnica quase inteiramente nova”. (Diário de Minas, Belo Horizonte 17 nov. 1926). A utilização do termo “quase inteiramente nova” serviu para designar que o artista ainda persistia em pintar dentro da tradição acadêmica, mas teria começado a ceder à voz imperativa “que se faz ouvir em todas as províncias da arte e do pensamento brasileiro”. (Diário de Minas, Belo Horizonte, 17 nov. 1926).

Trata-se exatamente de uma referência às revoluções ocorridas na arte moderna em São Paulo, mas infelizmente ele “não cedeu de todo, na essência, cedeu até muito pouco, mas em todo caso cedeu”. (Diário de Minas, Belo Horizonte, 17 nov. 1926). Sua obra ainda estaria longe de se apresentar como uma “arte saudável”, característica em pintores como Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral.

Aníbal Mattos já começava a perceber a necessidade de fugir “do lugar comum”, ou seja, “modernizar-se”, contudo sua técnica ainda pecava pela tranquilidade “onde o óleo parecia correr de manso sobre águas rigorosamente na interpretação da natureza”. (Diário de Minas, Belo Horizonte, 17 nov. 1926). O ideal, para o colunista, seria que Aníbal Mattos conseguisse se aproximar das teorias impressionistas sobre a luz, que “para nós são modernas, em relação ao lento progresso da pintura mineira”. (Diário de Minas, 17 de novembro de 1926). Mattos passa a ter sua obra questionada, onde

As serras são tratadas com vigor e emoção, já não apreciamos tanto as duas Pedras Assentadas e Pontas de Pedra, não pela execução que é ótima, mas pela própria matéria dos quadros que é de um pitoresco duvidosamente artístico. (Diário de Minas, Belo Horizonte, 17 nov. 1926)

Estas obras assim analisadas seriam apenas anedotas que não deveriam atrair um artista severo como Aníbal Mattos. O quadro, A pedra Assentadas no Itatiaia, “assemelha-se [a] uma enorme melancia disposta sobre a montanha condescendente”. O grande problema é que “nem tudo é pintável” afirmou o colunista ironicamente “e o Sr. Aníbal sabe disso melhor que nós”. Tal comentário tornou-se extremamente irônico porque, se Aníbal soubesse desse fato, não teria escolhido o tema para sua pintura. O colunista ainda continua com suas observações:

Água parada é uma coisa, triste e negra por demais. Tufão mostra algumas árvores que mais parecem fantasmas inconscientes; não tem casca nem cerne de medula, não são árvores de deveras. E finalmente as duas ou três figuras que Sr. Aníbal expões demonstram ainda uma vez que a figura não é o seu forte. (Diário de Minas, Belo Horizonte, 17 nov. 1926).

A obra de Aníbal Mattos não pareceu sofrer grandes modificações, mesmo com as críticas à sua forma tradicional de pintar e as comparações feitas à obra de Tarsila do Amaral e de Di Cavalcanti. Na obra Casas Antigas, de 1926 [Figura 5], Aníbal pintou os mesmos temas históricos e não modificou a representação, sendo possível notar que o desenho ocupava uma parte muito reduzida do quadro. Mattos buscou, na mistura destas, produzir a sensação de movimento.

Neste período, ele ainda organizava as Exposições de Belas Artes cuja primeira havia sido organizada em 1917. Infelizmente, existem apenas informações sobre a IV Exposição Geral de Belas Artes, realizada em 1928, na qual foram expostos 249 trabalhos com a participação dos seguintes artistas:

Sr. Aníbal Mattos, organizador do certame, Amílcar Agretti, Aristides Agreth, Antenor Mendes de Caxambu, Antonio Matos, grande Medalha de ouro do Salão Oficial, Agbail Vivacqua, Belmiro Freire, Djanira de Seixas Coutinho, Guiomar Neves, Honório Esteves (laureado pela Academia Imperial de Belas Artes), José dos Reis, Júlio Jony Sodron, J. Arthur dos Santos, Jose Cadagalho, Laerte Soldone, Manuel Pena, Noronha Horta, Noemia Esther de Almeida, Noemia de Vasconcelos, Edith Horta, Odete Castelo Branco, Osório Belém. (Diário de Minas, Belo Horizonte, 09 jun. 1928).

A diferença entre a Quarta e a Primeira Exposição Geral de Belas Artes foi a substituição de pintores consagrados no Brasil pelos residentes em Belo Horizonte. A Sétima Exposição teve a presença do presidente Antonio Carlos e foi inaugurada no salão nobre do Teatro Municipal. Patrocinada pela Sociedade Mineira de Belas Artes, foram expostos 192 trabalhos com cerca de 26 artistas mineiros. (Diário de Minas, Belo Horizonte, 03 abr. 1930).

A Sétima Exposição Geral de Belas Artes não foi, entretanto, recebida com o mesmo entusiasmo pela crítica e apesar de Aníbal Mattos estar “sempre animado de uma tenacidade e de um esforço dignos de outro meio”. (Diário de Minas, Belo Horizonte, 03 abr. 1930). Em grande parte “infelizmente, nada apresenta capaz de provocar admiração”. Para o autor não seria necessário um “conhecimento minucioso” para perceber a falta de qualidade dos trabalhos. Bastariam, então, “apenas as indicações de mediano bom gosto” e quem se desse um exame dos trabalhos ali expostos veria que não se exagerava na afirmativa.

A culpa não seria, portanto, dos artistas mineiros, pois seria um absurdo pretender que em Belo Horizonte, ou melhor, o Estado de Minas “onde a pintura é coisa inteiramente desamparada, pudesse apresentar uma obra, sem discrepância, merecedora de apresentações lisongeiras”. (Diário de Minas, Belo Horizonte, 03 abr. 1930). O colunista destacaria apenas os seguintes nomes: Belmiro Frieiro, Amílcar Agretti e Maria Eugenia Goulart que, salvo engano, figuravam na exposição pela primeira vez e apresentaram quadros de grande valor. (Diário de Minas, Belo Horizonte, 03 abr. 1930). Para amenizar as críticas feitas à exposição organizada por Mattos, o colunista mencionou ser compreensível em um ambiente artístico ineficiente como o de Belo Horizonte um resultado inferior às produções do Rio de Janeiro e São Paulo.

Por vezes, é difícil entender a reivindicação da crítica mineira que muitas vezes comparava o padrão estético da obra dos artistas mineiros ao de modernos como Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral como também com os clássicos como Velásquez ou Rembrandt.

Para a crítica de arte de Belo Horizonte, a iniciativa de Mattos seria heroica na persistência desses artistas que se mantinham firmes e resolutos do seu ideal, em um meio de fraca envergadura estética, que pedia aos governos um esforço cultural incessante a fim de elevar o seu nível. Para o colunista, entretanto, o único esforço do poder público era o de ceder o “velho foyer do Municipal”. Dessa feita, a Sexta Exposição Geral de Belas Artes teria apresentado um conjunto equilibrado, com trabalhos apreciáveis e “dignos de figurar nos salões da capital, geralmente tão pobres em matéria de pintura e escultura”. (Folha de Minas, Belo Horizonte, 09 dez. 1934).

Tornou-se recorrente o reconhecimento do esforço de Aníbal Mattos, mas não sendo satisfatório o resultado estético das obras. “A grande arte de Phydias, dos Rembrandt e dos Velásquez tem entre anos anualmente, os seus dias maiores, na Exposição de Pintores de Minas, que um grupo devotado promove religiosamente.” (Folha de Minas, Belo Horizonte, 09 dez. 1934).

As críticas às produções dos salões modificaram-se, pois muitas vezes os colunistas passaram a escolher o ideal moderno e vanguardista para definir o critério estético ideal. O termo vanguardista utilizado a seguir referiu-se muito mais às modificações da arte moderna propostas pelos artistas da Semana de 1922. “Não temos nenhum vanguardista do pincel. Os Picasso e Di Cavalcanti, aqui não figuram com os seus excessos efêmeros.” (Folha de Minas, Belo Horizonte, 09 dez. 1934.) Especificamente sobre as obras de Aníbal Mattos, passou a ser recorrente o seu apelo ao Impressionismo, além das poucas renovações feitas em seus trabalhos. “A sua paisagem é o domínio das massas e dos contrastes fortemente impressionistas”. (Folha de Minas, Belo Horizonte, 09 dez. 1934). Nessa ocasião, outros pintores receberam comentários às suas obras como Ângelo Biggi, “o trabalhador infatigável que multiplica a sua vida entre decoração e a pintura, traz-nos uma boa messe, com retratos, natureza mortas e paisagens”. (Folha de Minas, Belo Horizonte, 09 dez. 1934). A obra de Biggi foi reconhecida pelo seu “desenho nítido e fiel, é um colorista precioso que apanha os mínimos matizes e os tons menos sensíveis nessas pequenas obras-primas que são as suas naturezas mortas”. (Folha de Minas, Belo Horizonte, 09 dez. 1934).

Belmiro Frieiro

é outro artista consciencioso e seguro do seu traço e da cor. É um mestre para reter nas suas telas o nosso verde e colher flagrantes deliciosos de uma leveza que lembra bem as tradições florentinas na justeza e na elegância da concepção. Aquele trecho do Parque (n. 48) ligeiramente empanado pela neblina é esplendido de realidade e de graça. (Folha de Minas, Belo Horizonte, 09 dez. 1934).

Renato Augusto de Lima foi considerado pela crítica mineira como o “fino esteta” pela produção do quadro A olaria ensolara que possui “encanto pelo movimento e pela vida que estampa” com “perfeito jogo dos planos, resultado de uma boa perspectiva”. (Folha de Minas, Belo Horizonte, 09 dez. 1934).

Delio Delpino, para G.A.Pereira, seria um artista de raça, tendo exposto trabalhos importantes como o Abrigo Ceará depois da Chuva.

A idéia foi magnífica e a realização lembra quase uma fantasmagoria, copiada, aliás do natural. O fundo, entretanto, poderia ter sido receado para um plano mais distante, o que aumentaria o efeito geral. (PEREIRA, Folha de Minas, Belo Horizonte, 09 dez. 1934).

A partir de 1937, a produção de Aníbal Mattos como pintor se reduz dando espaço para o articulador do cenário artístico mineiro. A obra do pintor Aníbal Mattos ainda está para ser estudada, sendo necessário a criação de um instrumento de pesquisa que consiga localizar as obras, datá-las e permitir que os pesquisadores e o público em geral tenham acesso as mesmas.

Referências bibliográficas

ALMEIDA, Marcelina das Graças de. Belo Horizonte, arraial e metrópole: memória das artes plásticas na capital mineira. In: RIBEIRO, Marília Andrés. Um século de história das artes plásticas em Belo Horizonte. Belo Horizonte. C/Arte e Fundação João Pinheiro, 1997.

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BAUDELAIRE, Charles. O pintor da vida moderna. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 12.ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1978.

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Fontes de jornal

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[1] Doutor em História da Arte - UNICAMP. Professor de História da Arte da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais. Nos últimos anos tem pesquisado produções artísticas fora do eixo hegemônico assim como os Salões de Arte da Prefeitura de Belo Horizonte.

[2] Ainda não foram produzidos estudos sobre as Exposições Gerais de Belas Artes que tinham a coordenação do pintor Aníbal Mattos, no início do século XX, em Belo Horizonte.

[3] Foi ator do filme “Canção da Primavera” dirigido por Aníbal Mattos em 1923. Diário de Minas, 21 de maio de 1922.

[4] Aníbal Matos assinava as colunas do Diário de Minas com o pseudônimo “Y”.

[5] Na cidade de Belo Horizonte os pintores associados aos ensinamentos da Escola Nacional de Belas Artes eram considerados clássicos. Não era usual utilizar termos como “acadêmicos” e “modernos” para como ocorreu na Europa e posteriormente na Semana de 1922 em São Paulo.

[6] Foi difícil reconhecer alguns nomes devido à escrita e às abreviações. Entre parênteses constam algumas hipóteses de nomes que não foram reconhecíveis de imediato.

[7] Os termos “colunista” e “crítica da arte da capital” referem-se ao conjunto de artigos publicados nos jornais da capital mineira, mas que não eram assinados.

[8] O quadro “Cruz dos caminhos” transformou-se na referência da crítica de arte mineira para caracterizar Aníbal Mattos como um pintor respeitado.