A 'Reforma da Academia’ no Relatório do Diretor da Escola Nacional de Belas Artes, Rodolpho Bernardelli, ao Ministro da Instrução Pública (1891)

Camila Dazzi *

DAZZI, Camila. A 'Reforma da Academia’ no Relatório do Diretor da Escola Nacional de Belas Artes, Rodolpho Bernardelli, ao Ministro da Instrução Pública (1891). 19&20, Rio de Janeiro, v. V, n. 3, jul. 2010. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/ensino_artistico/rb_relatorio_1891.htm>.

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                     1.            O texto que se segue tece um breve comentário sobre o modo como a ‘Reforma da Academia’ é apresentada por Rodolpho Bernardelli em seu Relatório ao Ministro da Instrução Pública, Correios e Telegraphos, João Barbalho Uchôa Cavalcanti, em maio de 1891 [cf. link]. O documento segue disponibilizado na integra, com o intuito de facilitar o seu acesso aos pesquisadores.[1] Para compreendermos o posicionamento de Rodolpho Bernardelli, seja na realização do Projeto de Reforma Bernardelli-Amoêdo (1890) [cf. link], de sua autoria em parceria com Rodolpho Amoêdo, seja no seu Relatório ao Ministro da Instrução Pública (1891) sobre a referida reforma, faz-se necessário, dentre outras coisas, procurar compreender qual era o posicionamento dos jovens artistas sobre a Academia, a arte e o seu ensino, ainda que hoje tais posicionamentos possam nos parecer exagerados e mesmo bastante contestáveis.

                     2.            A revisão sob a qual vem passando nas últimas duas décadas a atuação da Academia (seus professores, alunos, seu sistema de ensino, etc.), nos tem ensinado que muito da visão negativa que se tem/tinha sobre ela é, em grande medida, injustificada. Aprendemos que durante décadas vigorou na história da arte um notório antiacademismo, popularizado pelos nossos modernistas, ao enfatizarem uma imagem da Academia/Escola como instituição repressora, contra a qual se opunham heroicamente.[2]

                     3.            No entanto, ao entrarmos em contato com os escritos sobre arte publicados no Rio de Janeiro  nas décadas finais do século XIX, é possível notar que esse antiacademismo, do qual os modernistas são culpados por difundir, já estava presente nos debates sobre o sistema de ensino acadêmico. Esse antiacademismo é, por exemplo, um dos poucos traços constantes do pensamento crítico de Gonzaga Duque e pode ser igualmente detectado no círculo de intelectuais ligados à célebre Revista Illustrada, como Angelo Agostini.[3] O mesmo posicionamento verificamos nos escritos de alguns artistas, dentre eles um dos autores do Projeto de Reforma da Academia, Rodolpho Bernardelli.

                     4.            Os mais de 100 anos que nos separam dos acalorados debates travados, nas décadas finais do século XIX, entorno do propósito e da existência das academias (seja no Brasil, seja na Europa), nos permitem ver os acontecimentos de uma forma, poderíamos dizer, 'desapaixonada'. Sabemos que o ensino ministrado no interior da Academia Imperial de Belas Artes não era tão retrógrado assim, sabemos que inovações eram propostas no seio da instituição. Temos uma visão de conjunto, possibilitada pela análise de documentos, de críticas de arte e pela  comparação da nossa Academia com as suas congêneres europeias. Porém, compreender o posicionamento antiacadêmico dos artistas em finais dos Oitocentos, significa, em parte, colocarmos um pouco de lado esse cabedal de conhecimentos, significa lembrar que os personagens dessa história defendiam, acreditavam  e lutavam por algumas causas. Pensar que os artistas que se voltaram contra o sistema de ensino ministrado na Academia em 1890 estavam simplesmente colocando em prática uma estratégia, cujo propósito era conseguir afastar do cenário artístico os antigos professores e gestores da Academia e, com isso, conseguir cargos e garantir posição de destaque no meio artístico, é não ter em conta que, muito possivelmente, esses jovens acreditavam no que estavam defendendo, que acreditavam na causa pela qual estavam lutando. Se não todos, pelo menos alguns.

                     5.            Não estamos aqui defendendo que devemos acreditar em tudo que lemos nos documentos e periódicos, inocentemente, mas também não devemos crer que todo e qualquer comentário negativo sobre a Academia é destituído de veracidade, um discurso sem fundamentos, assumido para justificar intenções subjacentes.

                     6.            É com esse duplo posicionamento que acreditamos ser necessário analisar, por exemplo, o Relatório assinado por Rodolpho Bernardelli, em 15 de maio de 1891, sobre a Reforma da Academia, elaborado a pedido do Ministro da Instrução Pública, João Barbalho Uchoa Cavalcanti, e a ele enviado. Para além de claramente reforçar a importância da Reforma e o seu próprio papel dentro dela, as palavras do escultor revelam, e de uma forma ainda bastante vivida, a forma como ele concebia o ensino artístico ministrado na Academia .

                     7.            No Relatório de 1891 encontramos igualmente algumas explicações para as mudanças que foram propostas por Rodolpho Bernardelli e Amoêdo no Projeto de Reforma, de 1890, e que tiveram continuidade nos Estatutos da Escola Nacional de Belas Artes, de novembro daquele mesmo ano [cf. link]. Vejamos com que termos Bernardelli se refere à antiga Academia e à sua reforma:

                     8.                                                  Transformação radical o completa, mais do que simples reforma, foi o decreto de 8 de novembro. Substituindo a Academia creou-se a Escola Nacional da Bellas Artes, que pôde definir todo o seu programa na repulsa com que foi condennado o título pretencioso e nefastamente sugestivo de sua antecessora. A Academia era a contemplação ritual do passado; era a veneração do canon inviolável das convenções plásticas dos antigos, distrahindo o espírito dos artistas do espetáculo ensinador da natureza, era a lição tyrannica do como viam, contrapondo-se ao ensino intuitivo e natural do como vêdes; era o academismo, em suma, com todas as suas modestas ambições de corrigir a scena das cousas. [...]

                     9.                                                  O próprio Director, que ultimamente presidia os destinos da academia, apezar de meio vencido pelo embate dos princípios modernos, que iam innovando no ensino alguns professores de nomeação recente, deixava-se reconhecer, num disfarce mal arranjado dos seus preconceitos, quando escrevia no relatório de 1888. “....a Academia das Bellas Artes, cuja missão actual não deve ser outra mais que a de exclusivamente votar-se ao verdadeiro culto da forma esthetica da arte clássica e da sua propagação evolucionista fomentadora do aperfeiçoamento da arte moderna”... a Academia era, assim, a convenção irremediavelmente revoltada contra a impressão.[4]

                  10.            Poderíamos analisar vários pontos desse trecho, como por exemplo, o uso de conceitos como Convenção e Impressão, tão presentes nos escritos sobre arte das últimas décadas dos Oitocentos. Mas, nos deteremos, por hora, na ideia de um ensino tirânico, no qual o professor bloqueia a individualidade do aluno, se contrapondo a um ensino intuitivo.

                  11.            Rodolpho Bernardelli demonstrou estar em sintonia com o descontentamento, de uma significativa parcela de artistas e intelectuais europeus e norte e sul americanos, em relação à maneira como o ensino artístico era conduzido no interior das Academias. Em um período marcado por uma busca cada vez maior de individualidade, originalidade e autenticidade na produção da arte, o ensino nas academias era compreendido, por significativo percentual das figuras envolvidas com o meio artístico, como possuidor de uma série de princípios definidos e regras fixas que inibiam os jovens artistas de desenvolverem uma produção pessoal[5].

                  12.            Nessa perspectiva, compreendia-se que o “velho sistema de ensino oficial”, precisava passar, e com urgência, por reformas.  Ao lermos textos, livros e artigos, publicados durante e após a reforma de algumas academias na Europa, percebemos que o discurso que as sustenta gira, em parte, entorno desse fator. Como colocou  Louis Vitet, por exemplo, em um artigo publicado na Revue dex deux mundes, em 1864, o fundamento do decreto de 1863, que havia reformado a École des Baux Arts era desenvolver nos alunos a originalidade pessoal:

                  13.                                                  Organiser de telle sorte l'enseignement des arts qu'avant tout il excite et développe chez les élèves l'originalité personnelle, telle est l'idée fondamentale, la raison d'être du décret. Lisez-le, consultez le rapport qui lui sert de préface, étudiez les réponses et les apologies de l'administration; partout vous trouverez cette même pensée, que l'originalité personnelle est chez nous en péril et qu'il faut lui porter secours. Le décret vient en aide à ces pauvres élèves quiont vécu si longtemps sous le joug; il les arrache à la domination d'un pouvoir immobile, inflexible, ennemi de toute indépendance, sans égards pour les dispositions, les instincts, le sentiment individuel de chacun de ces jeunes gens, et abusant contre eux de l'appât des récompenses jusqu'à les faire passer dans une sorte de filière qui les façonnait tous sur un même patron. Enfin les voilà libres! l'ère de l'originalité commence! Tel est le signalé service que le décret, de bonne foi, croit rendre à l'art, à la jeunesse et au génie français.[6]

                  14.            Segundo ele, o decreto colocava o antigo sistema de ensino no papel de um poder imóvel, inflexível, e inimigo de toda independência, destituído de espaço para os sentimentos individuais de cada um desses jovens que na Academia ingressavam.

                  15.            A busca por um ensino intuitivo, “do como vêdes”, é facilmente identificável no Projeto de Reforma assinado por Bernardelli e Amoêdo em fevereiro de 1890. A 5o sessão, intitulada Ateliers evidencia a importância que seus autores atribuíam à possibilidade dos alunos terem um espaço de formação da  individualidade artística, operada com independência, mas sob as vistas de um mestre. Não negamos que a busca originalidade esteve sempre presente no sistema de ensino acadêmico, mas as noções de individualidade e a de originalidade só aparecem introduzidas como um critério escolar após a reforma de 1890.

                  16.            Ainda nesse sentido, existe outra passagem no Relatório de Rodolpho Bernardelli ao Ministro que merece ser destacado:

                  17.                                                  Também foi condenado  o  ensino especial da esthetica [presente na Academia]. O critério do bello formar-se-ha na consciência do alunno, si for um espirito capaz de synthese [...] formar-se-ha espontaneamente com a summa das doutrinas que professores habilitados lhe forem ministrando em cada matéria; nascerá como uma opinião individual da simples convivencia e pratica com o alto objecto de sua estudiosa applicação.[7]

                  18.            A passagem justifica a ausência do ensino da estética, apontando que o critério do ‘que é ou não belo’ como algo individual. Não deveria haver, portanto, nenhum pressuposto. Na nova Escola, não existia espaço para um pensamento como aquele registrado por Ernesto Gomes Moreira Maia, em 1888, ano que fora nomeado Diretor da Academia,[8] para quem a missão da Academia era a de “votar-se ao verdadeiro culto da forma esthetica da arte clássica e da sua propagação”.

                  19.            Outro ponto significativo do relatório do Diretor da ENBA é a forma como ele opõe ao ensino ministrado anteriormente na Academia àquele formulado no Projeto de Reforma de Bernardelli-Amoêdo, e que foi mantido nos Estatutos de 1890, que propunha uma estrutura seriada de ensino, pensada de forma progressiva. Nas palavras do próprio Bernardelli:

                  20.                                                  Na organização didática dos novos estatutos reina, sobretudo, o primeiro dos elementos de que deriva a efficácia de qualquer estudo - a sistemática.

                  21.                                                  Como conjunto teórico, ahi está preparada a seriação dos conhecimentos, de maneira que o aluno progrida dos mais accessiveis aos mais difíceis, na razão do desenvolvimento das faculdades e o tempo dos exercícios.[9]

                  22.            O Projeto de Reforma, conhecido pelo nome Bernardelli-Amoêdo, dividia a estrutura de ensino da seguinte forma, como que em seções ou departamentos: I. Curso preparatório  para pintores, escultores e gravadores; II. Curso preparatório para arquitetos; III. Cursos orais; IV. Escola técnica, para pintores, escultores e gravadores, com aulas específicas para esses segmentos, além de modelo vivo e outro curso para arquitetos. E, por fim, uma seção intitulada V. Ateliers. Os Estatutos mantiveram a proposta dos dois artistas, apresentando, no entanto, uma estrutura mais simplificada, constando de: I. Curso Geral, com duração de três anos, e composto por disciplinas práticas e teóricas; II. Cursos Especiais, com duração de três anos, sendo o primeiro ano dedicado ao estudo do Modelo Vivo e os dois últimos à pintura ou escultura, conforme a Tabela Comparativa abaixo.[10]

                  23.            Tal forma de se conceber o ensino da arte se opunha àquela que vigorava com base nos estatutos precedentes, aqueles da Reforma Pedreira, ocorrida em 1855[11].

                  24.            Cabe aqui mencionar que alguns itens dos Estatutos de 1855 [cf. link] sofreram alterações entre o ano que entram em vigor e 1890, afinal, estamos falando aqui de um intervalo de 35 anos. E ainda que o sistema de ensino da AIBA tenha sido taxado de 'estacionário', as mudanças certamente ocorreram. Existe, porém, certa dificuldade em rastrear essas mudanças. Como o próprio Bernardelli coloca em seu relatório:

                  25.                                                  A única legislação da casa eram os anachronicos estatutos de da Lei. n. 1603 de 14 de maio de 1855, assignados pelo Ministro Pedreira, era escassa em recursos; não tinham a elasticidade indispensável ás molas administrativas. Não lhe valiam pendiculos diversos que espaçadamente se lho foram acrescentando.

                  26.                                                  Bem digna imagem de semelhante ruína era aquele pobre canhanho, mal asseiado e roto, metade impresso, metade rabiscado a penna e a lápis, infestado de retalhos de jornal, que foi por longuíssimos anos o raro e único exemplar completo dos estatutos acadêmicos, tristíssimo documento que o derradeiro chefe  administrativo da Academia das Belas Artes teve o bom gosto de consumir.[12]

                  27.            Ao comparamos os Estatutos de 1855 com os de 1890, o que mais desperta a atenção nas duas estruturas é a existência, nesses últimos, do Curso Preparatório, ou seja, a exigência do aluno levava um considerável tempo, ao todo 3 anos de ensinos práticos e teóricos, para chegar ao Curso Especial, onde finalmente teria acesso aos ateliês de pintura, escultura e gravura.

                  28.            Já a progressão dos alunos, antes e após a Reforma Pedreira, estava longe de ser tão sistematizada. Para frequentar a classe de Pintura Histórica bastava o aluno ter  sido aprovado em Matemáticas Aplicadas, e frequentado com proveito Desenho Geométrico e Figurado. Para seguir para a classe de Pintura de Paisagens o processo era ainda mais simples, bastava à aprovação na classe de Matemáticas Aplicadas e Desenho Geométrico. O aluno não se via obrigado a cursar Desenho Figurado para somente depois frequentar a classe de Pintura de Paisagens, embora pudesse cursar as duas ao mesmo tempo, caso o desejasse.[13]

                  29.            Na realidade, ao lermos o relatório escrito em 1891 por Rodolpho Bernardelli, a concomitância entre disciplinas parece ter sido ainda maior nos anos de 1880, quando o artista atua como professor de estatuária na Academia. Diz ele:

                  30.                                                  A Academia era o academicismo, foi dito.

                  31.                                                  Nem isso era... [...] No terreno dos princípios a velha instituição era o academismo - em derrota. [...] Praticamente, concretizando-se em ensino, a desordem era mais flagrante e a mais funesta.[...] A incoerência rudimentar dos estatutos acadêmicos consummava o ideal de organização, que eram os estudos.

                  32.                                                  Não havendo classificado os trabalhos n'uma série evolutiva que fossem ao mesmo tempo a ordem e a facilidade, só o improviso dos diretores determinava aos alunos o seguimento do curso.

                  33.                                                  Sucedia que era proferido dentro da lei para primeira applicação de actividade dos alunnos o estudo do desenho figurado, como poderia dentro da mesma lei ser preferido o da pintura histórica.[14]

                  34.            As disciplinas que no Projeto e nos Estatutos de 1890 antecediam o ensino no atelier de pintura poderiam ser cursadas simultaneamente às classes de Pintura Histórica e de Pintura de Paisagem, na antiga Academia, uma vez que não eram pré-requisitos.

                  35.            No que diz respeito a essa sistematização progressiva do ensino, podemos pegar, como caso especifico, a disciplina de Modelo Vivo, que passou por mudanças significativas com os estatutos de 1890, a fim de possibilitar o aperfeiçoamento artístico dos alunos.

                  36.            Segundo os Estatutos de 1855 - a exemplo da Escola de Belas Artes francesa antes da famosa reforma de 1863[15] -,  a aula de Modelo Vivo deveria ser regida a cada semana por um professor. Só eram admitidos na turma, os alunos que por suas habilitações eram designados pelo corpo acadêmico no principio do ano. Essa disciplina deveria ser cursada simultaneamente áquela de Pintura Histórica, como podemos averiguar  na Secção X, que trata da Pintura Histórica, na seguinte frase: “Os alunos deveriam pintar grupos de bustos, estátuas antigas e se exercitarem na aula de modelo vivo e no estudo da anatomia e physiologia”. Ou seja, era um conhecimento que podia ser adquirido simultaneamente ao da pintura, não anterior a ela.

                  37.            Já nos Estatutos de 1890, a classe de  Modelo Vivo deveria obrigatoriamente ser cursada antes de o aluno chegar aos dois anos finais do Curso Especial, dedicados exclusivamente à pintura. Além disso, um único professor era responsável pela disciplina. Nesse ponto, as mudanças colocadas nos Estatutos de 1890 referentes ao estudo do Modelo Vivo se aproximam aos princípios que nortearam as mudanças desse mesmo ensino na reforma da École de Beaux Arts, de 1863, como coloca Viollet le Duc, um dos principais articuladores da reforma de 1863, nas páginas da Gazete des Beaux Arts:

                  38.                                                  L´enseignement de la figure à l´École des Beaux-Arts, dessin corrigé par sept maîtres à tour, trouble plus les jeunes  gens qu´il ne leur profite; chaque maître voit la nature à sa manière et l´interprèt  suivant certaines méthodes qui lui sont particulières. Cet écletisme ne peut rien produire de bon chez de jeunes esprits qui demandent une direction, non des directions [...].[16]

                  39.            Verifica-se, então, que ensino do Modelo Vivo adquiriu após a Reforma de 1890 uma maior importância. A disciplina era obrigatória a todos os alunos de pintura, não somente aos “escolhidos”; era uma aprendizagem prévia ao estudo da pintura; deveria ser regida por somente um professor - e não por um professor diferente a cada semana - , o que certamente facilitava uma orientação única para os alunos.

                  40.            São muitos os pontos a serem abordados quando se tem como pretensão analisar as propostas contidas no Projeto Bernardelli-Amoêdo e as suas continuidades nos estatutos da Escola Nacional de Belas Artes. Tais propostas, sobretudo aquelas que serão postas em prática no cotidiano da Escola ao longo dos anos finais do século XIX, nos ajudam a compreender as mudanças pelas quais passou o sistema de ensino artístico nesse período e a produção artística que nele foi gerada. Não oferecemos com a nossa fala mais do que uma breve pincelada sobre alguns tópicos, mas esperamos, contudo, que ela tenha minimamente revelado que a reforma da Academia não foi, como disse uma vez Gonzaga Duque, uma mera mudança no nome da instituição.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Documentos e artigos do século XIX

Estatutos da Escola Nacional de Bellas Artes e do Conselho Superior de Belas Artes, 1890. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/documentos/docs_primeira_republica_arquivos/1890_estatutos.pdf>.

Estatutos da Academia Imperial das Bellas Artes, 1855. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/documentos/estatutos_1855.pdf>.

Relatório de Rodolpho Bernardelli ao Ministro da Instrução Pública, Correios e Telégrafos, 1891. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/documentos/rm 1891.htm>.

Relatório de Ernesto Gomes Moreira Maia ao Ministério do Império, 1888. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/documentos/relatorios_ministeriais/rltr_mntr_1888anexo.htm>.

Projeto de Reforma da Academia. Gazeta de Notícias , Rio de Janeiro - Sexta-feira, 6 jun. 1890, p. l. Autoria de Rodolpho Bernardelli e Rodolpho Amoêdo. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/artigos_imprensa/pardalmallet_projetoba.htm>.

VITET, M.. De l´enseigenment des arts du dessin. Revue des deux mundes, nov. 1864, p. 74-107. Disponível em: <http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k35544s.image.hl.r=vitet.f1046.langPT>.

VIOLLET-LE-DUC, E. L´enseignement des arts: il y a qualque chose à feire. Gazette des Beaux-arts, 1862. Disponível em: <http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k203076w.r=Viollet-le-duc.langPT>.

Livros e Artigos

BONNET, Alain. La réforme de l'Ecole des beaux-arts de 1863: Peinture et sculpture. Romantisme, Année 1996, Volume 26, Numéro 93 p. 27-38;

BOUILLON, Jean-Paul et al. La Promenade du Critique influent - Anthologie de la Critique d`Art en France 1850-1900. Paris : Hazan, 1990.

DAZZI, Camila. O Projeto de Reforma Bernardelli-Amoêdo e os Estatutos da ENBA: mudanças e continuidades. DAZZI, Camila; VALLE, Arthur (Org.). Oitocentos - Arte Brasileira do Império à República. Tomo II. Rio de Janeiro: UFRRJ/DezenoveVinte, 2010 (no prelo).

DAZZI, Camila; VALLE, Arthur. Modernidade na Obra e na Auto-Imagem de Henrique Bernardelli. Anais do XIX Encontro da ANPAP - ‘Entre Territórios’. Salvador: EBA/UFBA, 2010.

ENFERT, Renaud d`. Bonnet (Alain) - L’enseignement des arts au XIXe siècle. La réforme de l’École des beaux-arts de 1863 et la fin du modèle académique. Histoire de l’éducation [En ligne], 114 | 2007, mis en ligne le 23 mars 2009.

FERNANDES, Cybele Vidal Neto. Os caminhos da arte: ensino artístico  na Academia Imperial de Belas Artes. Rio de Janeiro: programa de pós-graduação em História Social, IFCS/UFRJ, 2001. (Tese de doutorado).

SEGRÉ, Monique. L'Art comme institution, l'École des Beaux-Arts, 19ème-20ème siècle. Paris: Editions de l'ENS-Cachan, 1993.

VAISSE, Pierre. Considérations sur la Seconde République et les beaux-arts, Revue d'histoire du XIXe siècle, 1 | 1985, [En ligne], mis en ligne le 20 juin 2005.

VALLE, Arthur. A pintura da Escola Nacional de Belas Artes na Primeira República (1890-1930): da formação do artista aos seus modos estilísticos. Rio de Janeiro: PPGAV/EBA/UFRJ, 2007.

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* Camila Dazzi é Doutoranda em História da Arte pelo PPGAV da EBA/UFRJ e Mestre em História da Arte pelo IFCH/UNICAMP. Juntamente com Arthur Valle, é Editora Respensável da Revista 19&20 e Coordenadora do Site DezenoveVinte. Leciona História da Arte e Patrimônio Cultural nos cursos de Graduação e Pós-Graduação do CEFET/RJ-UnED Nova Friburgo. CV Lattes.

[1] Cópias digitalizadas de documentos originais pertencentes à Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, disponibilizadas pelo Brazilian Government Document Digitization, ligado ao Latin American Microfilm Project do Center for Research Libraries, que podem ser acessadas diretamente no seguinte link.

[2] Poderíamos aqui citar vários  textos que já se tornaram referência para os estudiosos da arte do século XIX no Brasil, mas aqui mencionarei somente um exemplo, trata-se do livro Arte, privilégio e distinção: artes plásticas, arquitetura e classe dirigente no Brasil, 1855/1985, de José Carlos Durand, publicado em 1989.

[3] Para se ter uma noção aprofundada do posicionamento desses críticos, ler: SILVA, Rosangela de Jesus. A crítica de arte de Angelo Agostini e a cultura figurativa do final do Segundo Reinado. Campinas: programa de Pós-graduação em História da Arte/IFCH/UNICAMP, 2005.  (Dissertação de mestrado) e GRANJEIA, Fabiana de Araujo Guerra. A critica de Arte em Oscar Guanabarino: Artes plásticas no século XIX. Campinas: Programa de Pós-graduação em História IFCH/UNICAMP, 2005. (dissertação mestrado).

[4] Relatório do Rodolpho Bernardelli, Diretor da Escola Nacional de Belas Artes, ao Ministro da Instrução Pública, Correios e Telegraphos, João Barbalho Uchôa Cavalcanti, referente aos anos de 1889 e 1890, redigido em maio de 1891. p. 13-14. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/documentos/rm 1891.htm>.

[5] Uma antologia que fornece uma boa ideia da concepção dos críticos de arte da época sobre o que deveria ser um artista moderno, é: BOUILLON, Jean-Paul et al. La Promenade du Critique influent - Anthologie de la Critique d`Art en France 1850-1900. Paris : Hazan, 1990. Em relação ao meio artístico carioca, ver DAZZI, Camila; VALLE, A. Modernidade na Obra e na Auto-Imagem de Henrique Bernardelli. Anais do XIX Encontro da ANPAP - ‘Entre Territórios’.  Salvador: EBA/UFBA, 2010.

[6] M. Vitet: De l´enseigenment des arts du dessin. Revue des deux mundes, nov. 1864, p. 74-108.

[7] Op. cit. p. 18.

[8] Por Decreto de 9 de março foi nomeado Diretor da Academia das Belas Artes, na vaga deixada pelo Conselheiro Antonio Nicolau Tolentino, a quem se concedera, a 30 de maio do ano findo, a exoneração que tinha pedido, o Vice-Diretor Conselheiro Ernesto Gomes Moreira Maia, jubilado em 30 de agosto no lugar de professor de desenho geométrico. Relatórios Ministeriais sobre a Academia Imperial das Belas Artes. Transcrição de Arthur Valle e Camila Dazzi. Texto com grafia atualizada, disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/documentos/relatorios_ministeriais/rltr_mntr_1888anexo.htm>, p. 63.

[9] Op. Cit., p. 18.

[10] Uma comparação mais demorada sobre a Estrutura do Projeto de Reforma assinado por Rodolpho Bernardelli e Amoêdo e os Estatutos da Escola Nacional de Belas Artes - 1890, é feita no texto: DAZZI, Camila. O Projeto de Reforma Bernardelli-Amoêdo e os Estatutos da ENBA: mudanças e continuidades. DAZZI, Camila; VALLE, Arthur (Org.). Oitocentos - Arte Brasileira do Império à República. Tomo II. Rio de Janeiro: UFRRJ/DezenoveVinte, 2010.

[11]  Os Estatutos da Academia Imperial de Belas Artes (1855) estão disponibilizados no site DezenoveVinte, a partir de uma fotocópia do documento pertencente ao D. João VI/EBA/UFRJ. Endereço do site: <http://www.dezenovevinte.net/documentos/estatutos_1855.pdf>.

[12] Op. cit. p. 16.

[13] Var os Estatutos de 1855, conforme mencionado logo acima.

[14] Op. cit. p. 14-15.

[15] Para compreender a reforma de 1863, pela qual passa a École des Beaux Arts, sugerimos a leitura do livro Monique Segré. L'Art comme institution, l'École des Beaux-Arts, 19ème-20ème siècle. Paris: Editions de l'ENS-Cachan, 1993. Também interessantes são os artigos: ENFERT, Renaud d’. Alain Bonnet - L’enseignement des arts au XIXe siècle. La réforme de l’École des beaux-arts de 1863 et la fin du modèle académique .  BONNET, Alain. La réforme de l'Ecole des beaux-arts de 1863: Peinture et sculpture. VAISSE, Pierre. Considérations sur la Seconde République et les beaux-arts.

[16] Viollet-le-Duc, E: L´enseignement des arts: il y a qualque chose à feire. Gazette des Beaux-arts, mai 1862. (1o artigo).