Ver e ser visto nas Exposições Gerais de Belas Artes [1]

Arthur Valle

VALLE, Arthur. Ver e ser visto nas Exposições Gerais de Belas Artes. 19&20, Rio de Janeiro, v. VIII, n. 1, jan./jun. 2013. http://dx.doi.org/10.52913/19e20.VIII1.09

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[...] os próprios visitantes organizarão, involuntariamente, outras exposições de igual encanto.

V. V., periodicista d’O Paiz, escrevendo sobre a Exposição Geral de Belas Artes de 1903

1.      Durante o século XIX e início do XX, assim como ocorrera em outros centros urbanos mundiais, as reconfigurações de práticas sociais e da paisagem urbana do Rio de Janeiro favoreceram uma maior aproximação entre as esferas do público e do privado, o que alterou a distinção entre esses dois domínios, supostamente separados, e afetou os parâmetros do ver e ser visto, para os cidadãos cariocas de ambos os sexos. O resultado foi “uma ‘lógica do olhar’, desenvolvida em torno de circunstâncias nas quais o corpo podia tornar-se objeto de foco, mas também de interesse sexual e de controle”[2].

2.      Entre os sítios disponíveis para os diversos tipos de visibilidade pública que proliferaram no Rio de Janeiro, nas décadas finais do Oitocentos, as exposições de obras de arte ocupavam uma posição significativa. Nesse contexto, após a proclamação da República no Brasil, em 1889, o principal desses certames - a Exposição Geral de Belas Artes, organizada sob os auspícios da Escola Nacional de Belas Artes - assumiu uma importância renovada. A partir de 1894, o “Salão” (como também era usualmente chamada a Exposição Geral) afirmou a sua periodicidade anual e estabeleceu-se como um espaço privilegiado, onde um público diferenciado, em termos de gênero e de classe social, podia não só apreciar o espetáculo das artes, mas também - e por vezes de maneira mais importante - observar a si próprio, tendo plena consciência de seu auto-escrutínio.

3.      Gostaria de iniciar a discussão desse fenômeno fazendo referência a uma imagem de época, pertencente a um álbum de fotografias, datadas entre 1896 e 1914, organizado pelo artista brasileiro Helios Aristides Seelinger, que registra os laços de sociabilidade por ele estabelecidos em cidades como Munique, Rio de Janeiro e Paris, nos anos iniciais de sua formação e carreira artísticas. No verso de uma página do álbum que traz a indicação “Rio - 1903”, em meio a registros diversos, como retratos dos caricaturistas Kalixto Cordeiro e Raul Pederneiras, amigos de Helios, e de uma foto do próprio pintor no exercício de seu ofício, existem duas fotografias referentes às Exposições Gerais de Belas Artes. Uma delas me parece particularmente digna de nota [Figura 1].

4.      Pode-se nela ver uma mulher de pé, em frente a uma parede com vários quadros, instalados da maneira que era usual nas Exposições Gerais nos primeiros anos do século XX. Atrás da mulher, em primeiro plano na foto, se encontra um homem sentado, de pernas cruzadas, e acima se encontra grafado um nome - “Evencio Nunes”[3]. Aqui, o que me interessa não é a identidade do homem ou a da mulher, mas, sim, o caráter sugestivo da foto: ambos os personagens encontram-se de costas para nós que observamos, o que impede que tenhamos acesso a seus semblantes, olhares e/ou expressões. O enquadramento deliberado confere uma incontornável ambiguidade ao registro fotográfico, e, pelo menos para mim, sugere que o homem, ironicamente, não olha para o que julgar-se-ia os objetos de contemplação privilegiados pela exposição - os quadros na parede -, mas sim para a mulher, que a eles se antepõe.

5.      Esse suposto deslocamento do olhar me recorda, por sua vez, uma resenha bem conhecida que o escritor Gonzaga Duque dedicou a outra Exposição Geral, a de 1905, especialmente as passagens nas quais se refere a uma “esvelta” senhora, em costume-tailleur cor de musgo, que então visitava a mostra. Gonzaga Duque encontra a mulher pela primeira vez no átrio do prédio da Escola Nacional de Belas Artes, onde realizava-se a Exposição Geral. Encantado e interpretando o encontro fortuito como um bom augúrio, o escritor compra a entrada e o catálogo e entra para ver a mostra. Uma passagem, no início da resenha, descreve uma troca de olhares entre o escritor e a senhora, já dentro do espaço expositivo, que explicitamente negligencia as obras de arte:

6.                                   E tenho o olhar fascinado por ela. Envolvo-a, encasulo-a no meu deslumbramento. Ela então, lentamente, volta para mim as noites claras das suas pupilas profundas. Percebo-lhe no semblante o reflexo dum desdém, mas que não ofende nem repele, porque apenas tem um vago de indiferença no indeciso duma surpresa. É o instante de todas as mulheres bonitas diante do estranho que as contempla. Olha-me e afasta-se.[4]

7.      Tendo vivido “um segundo na luz negra das [...] pupilas profundas” da mulher, Gonzaga Duque dá-se por satisfeito e somente então, segundo ele próprio afirma, a exposição começa a lhe interessar. Durante a sua deambulação pela mostra de 1905, o escritor reencontra por vezes a senhora em costume-tailleur cor de musgo; por fim, da mesma maneira como o interesse pela exposição teria nascido após o encontro com a senhora, ele se encerra quando esta se retira do espaço expositivo: “Ah!... percebo que se me foi o bom humor depois que aquela formosa dama de lindos olhos partiu”, lamenta Gonzaga Duque ao final de sua recensão. A identidade dessa dama, assim como daquela na foto do álbum de Seelinger, restaria desconhecida.

8.      A recepção das Exposições Gerais de Belas Artes está repleta de registros imagéticos e/ou escritos como esses dois que citei, nos quais são os visitantes da mostra - e não as obras de arte -, que se encontram na mira dos cronistas. No presente texto, eu gostaria de comentar alguns aspectos recorrentes desse tipo de inversão do olhar, que transfigura o público em espetáculo. Talvez seja de alguma valia, em tempos de reality shows e redes sociais de todo gênero, se interrogar sobre a genealogia de uma tendência que atrai imensa atenção na atual “sociedade de espetáculo”. Contudo, como procurarei evidenciar, analisar esse fenômeno se liga, em última análise, ao meu desejo de melhor compreender alguns aspectos do campo artístico carioca do início do período republicano. Existe, inclusive, uma hipótese por trás do meu interesse por esse tipo de inversão: a de que aquilo que a motiva é usualmente uma subversão - mais ou menos consciente, frequentemente irônica -, do regime escópico que as Exposições Gerais buscavam implantar.

9.      No contexto difuso do que se poderia designar Modernidade ocidental, uma intensificação da tendência à espetacularização do público parece-me vinculada ao entrelaçamento de uma série de fatores, como os “avanços” políticos no sentido da democracia e do igualitarismo, o crescimento e adensamento urbanos, a redefinição dos espaços citadinos, entre outros. Trata-se de um tema amplo, que eu não teria condições de aqui esgotar. Todavia, para melhor enquadrar o meu objeto, gostaria de recordar ao menos três “testemunhos” anteriores ao período no qual aqui me deterei. O primeiro se encontra em um texto de Jean-Jacques Rousseu, a chamada “Carta sobre os espetáculos”, destinada ao enciclopedista Jean D'Alembert e publicada originalmente em 1758. Nela, o autor Do Contrato Social, rompendo com o pensamento Iluminista e promovendo “modos des-teatralizados de contemplação”[5], evocava a instituição de um tipo de festa que considerava como o único espetáculo capaz de beneficiar um regime político republicano:

10.                                 Mas quais serão os temas desses espetáculos? O que mostrar-se-á neles? Nada, se quisermos. [...] Plantai no meio de uma praça um mastro coroado de flores, reuni ali o povo, e tereis uma festa. Fazei melhor: convertei os espectadores em espetáculo; fazei com que eles mesmos sejam os atores; e que cada um deles se veja e ame os demais, a fim de que todos fiquem assim melhor unidos.[6]

11.    A proposição de Rousseau permaneceria utópica enquanto o autor viveu e nas décadas seguintes, mas, na França de meados do século XIX, a espetacularização do cidadão comum parecia se encontrar já muito avançada. Em seu livro de 1867, Les Plaisirs de Paris, uma espécie de guia turístico que recenseava “as coisas folgazãs que constituíam a grande atração da capital do universo”, o jornalista e escritor Alfred Delvau constatava, nos seguintes termos, a então disseminada “mania” de autoexibição dos parisienses:

12.                                 Viver em casa, pensar em casa, […] amar em casa, [...] consideramos isso tedioso e incômodo. Necessitamos de publicidade, da luz do dia, da rua, do cabaré, do café, do restaurante. […] nós amamos posar, fazer de nós mesmos um espetáculo, ter um público, uma galeria, testemunhas de nossas vidas.[7]

13.    Diversas imagens oitocentistas dão testemunho desse impulso exibicionista. Em uma bem conhecida, No camarote (1878) [Figura 2], da estadunidense Mary Stevenson Cassatt, o ato de olhar o público é figurado de maneira explícita. Na obra, vemos, em primeiro plano, uma elegante mulher (possivelmente a irmã de Cassatt, Lydia), em um camarote na Opera de Paris - “o” espaço social central para ver e ser visto, na cidade pós-haussmanniana. Segurando um binóculo, a mulher espreita através da sala de espetáculos (talvez outro membro da plateia); por sua vez, em um camarote em lado oposto da sala, um homem olha para ela enfaticamente, através de outro instrumento ótico [Figura 2, detalhe]. “Presa” entre os olhares desse homem e os nossos, como espectadores da tela, a mulher responde, algo ironicamente, a tal demonstração de poder escópico: seu corpo feminino, debaixo do vestido preto, não se oferece ao espectador, como acontece em algumas telas contemporâneas de pintores masculinos[8], e, ao invés de exibir seu leque com graciosidade, a mulher o segura com firmeza, quase como se de um punhal se tratasse.

14.    Essa seleção idiossincrática de exemplos franceses e a aproximação algo arbitrária com o caso das Exposições Gerais cariocas tem com intenção sobretudo indicar a relativa antiguidade do tema da espetacularização do público e a diversidade de maneiras como ele foi proposto e/ou se manifestou. No caso carioca, creio que é possível discernir ao menos duas grandes modalidades de “testemunhos”: (1) as representações verbais ou visuais do público, e (2) aqueles documentos nos quais é conferida uma “voz” ao público. Ainda que rapidamente, eu gostaria de discutir exemplos dessas modalidades.

15.    Nas Exposições Gerais cariocas, se distinguem claramente alguns momentos privilegiados para a exibição do público, como o vernissage e, sobretudo, a inauguração oficial. Espécie de pré-estreias da exposição, nos vernissages cariocas ainda se praticava o tipo de atividade que dera origem ao nome do evento, ou seja, o envernizamento, a aplicação de uma pátina final de verniz nos quadros a óleo, protegendo-os e uniformizando o brilho de suas superfícies. Todavia, como demonstra uma foto do “Salão” de 1924 [Figura 3a], publicada n’O Jornal[9], e na qual se pode ver o pintor Orlando Teruz envernizando o seu quadro Últimos Retoques [Figura 3b], ladeado por diversas pessoas, o vernissage era então, como hoje, essencialmente um evento social.

16.    Em uma nota referente à Exposição Geral de 1905, publicada no Jornal do Commercio, o periodicista anônimo, ainda que lamentando a concorrência apenas “regular” ao vernissage daquele ano, descrevia bem o caráter esperado do evento:

17.                                 Essa cerimônia não se tornou ainda aqui a reunião da moda, como o vernissage dos Salões parisienses, ou o “private view day” da “Royal Academy” em Londres, em que o escol das sociedades parisiense e londrina comparece todo como a um rendez-vous obrigatório, onde a gente que se tem na conta de fina e educada, que tem posição saliente na sociedade por uma ou outra razão gosta de ser vista.[10]

18.    Vale a pena frisar que o vernissage era algo seleto, reservado, sobretudo, aos “representantes das artes e das letras, e [ao] escol da melhor sociedade”[11], que normalmente eram convidados, de maneira expressa, para o evento. Ou, como precisou o periodicista anônimo d'O Paiz em 1918: “como se sabe, o vernissage é uma abertura de exposição de caráter mais íntimo, destinado quase que exclusivamente aos artistas e aos seus convidados, onde se trocam ideias, se retocam telas, se corrigem erros de coloração, perspectivas de luz, etc.”[11b].

19.    Bem mais franqueada era a inauguração oficial da Exposição Geral, que acontecia sempre no dia seguinte ao do vernissage, e a qual o público comparecia em número bem mais significativo. O aspecto concorrido dessas inaugurações é constantemente referido nas notas estampadas nos periódicos cariocas e, especialmente a partir da década de 1900, quando a publicação de fotografias das Exposições Gerais se tornou mais rotineira, podemos encontrar registros visuais da frequentação das cerimônias [Figura 4a, Figura 4b e Figura 4c][12]. Diferenças de idade e de gênero são bem perceptíveis em tais fotos, mas é de se notar, simultaneamente, a quase total ausência de marcadores evidentes de distinções étnicas ou de nível econômico, o que parece relativizar a ideia da natureza “democrática” das inaugurações, propagada em notícias de época, segundo as quais podia-se nelas encontrar “representantes de todas as classes sociais”[13].

20.    Ainda assim, tais registros e, sobretudo, a maneira como os cronistas tratam a visitação das Exposições Gerais, evidenciam que, assim como sugeriu Nathalie Heinich a respeito da morfologia dos públicos de arte contemporâneos[14], o mais adequado seria raciocinar não em termos “do” público em geral, mas, sim, de públicos diferenciados, estratificados segundo os meios sociais. Em 1905, por exemplo, o periodicista V. V. ilustrava essa diversidade, ao enumerar os “Leadings, beauties, altas notabilidades da política, artistas, amadores, entes de letras e finanças, diplomatas [que] cruzavam pelo salão”[15]. Atualmente, as evidências que eu tenho em mãos permitem apenas fazer aproximações no sentido da caracterização dos diferentes perfis de idade, gênero, origem geográfica, meio social etc., que estruturavam o público das Exposições Gerais. É possível, não obstante, detectar alguns de seus componentes que reiteradamente chamavam a atenção dos cronistas.

21.    Em primeiro lugar, havia as personalidades públicas de destaque que frequentavam as Exposições Gerais, entre as quais a mais aguardada era a do Presidente da República, cuja presença usualmente abria, de maneira oficial, o evento. Já em 1895 e 1896, Prudente de Morais teria comparecido às inaugurações da mostra, e, a partir de então, as visitas presidenciais ocorreriam com relativa frequência. Fotografias publicadas desde finais dos anos 1900 comprovam a presença no “Salão” de quase todos os então presidentes brasileiros, como: Nilo Peçanha, na edição de 1909 [Figura 5a][16]; Hermes da Fonseca, na de 1911 [Figura 5b][17]; Epitácio Pessoa, na de 1920 [Figura 5c][18]; Artur Bernardes, na de 1923 [Figura 5d][19]; ou, ainda, Washington Luís, na de 1929 [Figura 5e][20]. Acompanhado de um séquito composto de Ministros de Estado, Militares, Embaixadores e outras autoridades, o Presidente usualmente chegava ao prédio da Escola no inicio da tarde, sendo recebido pela diretoria da instituição e por membros da comissão organizadora e dos júris da exposição, que o acompanhavam em um périplo - usualmente rápido - pelas diversas seções da mostra.

22.    Uma segunda parcela do público, muito privilegiada pelos comentadores das Exposições Gerais, era as mulheres [Figura 6]. Referências às “senhoras” que visitavam a mostras são muito frequentes e, não raras vezes, é possível encontrar descrições bastante precisas, como a do “um bando de senhoras, sôfregas de arte, que alegravam o ambiente com suas claras toilettes[21], no vernissage de 1903, ou das “duas senhoras, com os seus grandes chapéus rendados, as luvas envolvendo as suas finas mãos, um sutil aroma de flores fidalgas evolando-se em volta como uma exaltação de vergéis”[22], que o periodicista d’A Noticia conheceu na mostra de 1904.

23.    Por vezes, o apelo visual das “senhoras” que frequentavam o “Salão” era tal que, para alguns comentaristas, elas ameaçavam sobrepujar as obras de arte expostas, como comenta o periodicista do Jornal do Commercio, sobre a Exposição de 1905, quando “as senhoras [...] rivalizar[am] pelos seus traços naturais e por lindas toilettes, com as produções dos artistas no apelo à atenção e ao apreço dos homens”[23]. Em 1908, foi a vez do periodicista d’O Paiz se referir às mulheres como “um elemento perturbador da contemplação de uma arte como a pintura”, ao falar do “elegante grupo de senhoras que concorreram à festa inaugural da exposição, impondo-se pela beleza natural e concorrendo para desviar a atenção do observador”[24]. Ainda em 1905, V. V. sintetizou o extremo a que podia chegar o apelo visual do público, em particular das mulheres, dentro da Exposição Geral:

24.                                  [...] os próprios visitantes organizarão, involuntariamente, outras exposições de igual encanto. Haverá estonteante exposição de toilettes lindas e novas e da sempre maldita e sempre triunfante arte da coqueterie [sic], que é, sem dúvida, a mais empolgante de todas![25]

25.    Essa última passagem me parece sintetizar, de maneira exemplar, aquela ideia de uma subversão de regime escópico que mencionei no início do texto: ela deixa bem claro o quanto o papel do público nas Exposições Gerais não se limitava ao de mero receptor da arte. Com frequência, os comentaristas reconheciam a agência dos espectadores, o que é particularmente evidente naquela segunda modalidade de “testemunhos” a qual me referi mais acima, nos quais é conferida uma “voz” ao público. Estes me parecem interessantes por, pelo menos, duas razões.

26.    A primeira é que eles nos deixam perceber a pluralidade de usos sociais da arte que caracterizava a cultura carioca da 1ª. República, e que era um corolário daquela pluralidade de públicos a qual acima me referi. Com efeito, no repertório da época, a estética era apenas uma das modalidades possíveis de qualificação das obras ou dos artistas, concorrentemente ao erotismo, à moral, à racionalidade econômica etc., como procurarei ilustrar com os exemplos que seguem.

27.    Voltemos ao caso das mulheres nas Exposições Gerais. Se o papel destas como espetáculo era comum no período, a sua crescente participação na cultura de consumo acabaria por desafiar as noções de sua suposta passividade e de seu confinamento à esfera do exclusivamente privado[26]. Nesse sentido, Cláudia Oliveira, em um estudo sobre as representações da mulher nas revistas Fon-Fon! e Para todos, apontou o surgimento de uma nova imagem de feminilidade urbana no Rio de Janeiro de inícios do século XX [Figura 7]: a mulher livre, que emerge com a modernidade, e que “abandona os cuidados masculinos e a preservação da casa, para se lançar, emancipada, nas ruas, onde se expõe ao olhar coletivo e se deixa registrar pelas penas ou pelas lentes objetivas daqueles que militavam nas revistas literárias e mundanas de então”[27].

28.    Em conformidade com essa nova imagem, as mulheres flagradas nos espaços das Exposições Gerais muitas vezes não são representadas como meros objetos de contemplação. É esse o caso da “esvelta senhora” no “Salão” de 1905, referida por Gonzaga Duque, que possui agência própria e que, com sua coquetterie, instiga, apenas para depois frustrar, o desejo do escritor. Um outro exemplo, dessa vez figurado, pode ser encontrado em uma caricatura publicada na Gazeta de Noticias, referente à Exposição Geral de 1894 [Figura 8][28]. Nela vemos, em primeiro plano, duas jovens elegantemente trajadas, que dialogam enquanto observam um grupo de três artistas, um pouco mais recuado no espaço - são eles Rodolpho Bernardelli, Modesto Brocos e Henrique Bernardelli. Assim comentam as moças:

29.                                  - Diz-me  cá; de quem gostas  tu mais, dos pintores antigos ou dos modernos?

30.                                  - Eu te digo; os modernos sempre tem uma vantagem: ainda são de carne e osso.

31.    Para intuirmos a conotação que conta aqui, cumpre reparar na figura mais próxima das moças: a de Henrique Bernadelli, que tem o seu grande nariz realçado e que usa, enfiado no graúdo dedo polegar, um anel, que lhe fora dado por uma “princesa Asteca, que se tomou de amores por ele”, segundo uma outra nota de época, que acompanha uma caricatura de Henrique feita por Belmiro de Almeida [Figura 9][29]. A preferência da jovem parece, assim, ser determinada não pela distinção estética entre antigos e modernos, corrente no campo artístico carioca do começo da República, mas “pela aparência viril [de Henrique] e, igualmente, por sua fama de artista ‘irrequieto e intempestivo’”[30], construída e propagada no Rio desde a estadia do artista na Itália, ainda nos anos 1880.

32.    A segunda razão que, ao meu ver, torna interessantes os momentos da recepção das Exposições Gerais nos quais é conferida uma “voz” ao público é que eles, em tese, podem nos ajudar a estimar como era o comportamento daqueles visitantes que se afastavam do observador normativo usualmente presumido quando se fala dos efeitos das exposições de arte. É o caso, por exemplo, dos visitantes que não estavam propriamente instruídos para decodificar as convenções artísticas e os modos de sociabilidade vigentes nos “Salões”.

33.    Um exemplo pode ser encontrado em outra caricatura sobre a Exposição Geral de 1894, publicada na Gazeta de Notícias [Figura 10][31]. Nela, um grupo de três visitantes se encontra diante de um grande quadro, no qual se vê uma figura feminina nua. Um deles - provavelmente a mulher ou a homem de cartola - comenta: “- Pobre moça! Para pagar o retrato, teve de vender até a camisa do corpo...” Ironizar esse tipo de recepção inadequada era, na verdade, uma tópica dos resenhadores dos Salões de arte, como evidencia uma prancha da série Le Public Du Salon, de Honoré Daumier [Figura 11]. Diante da escultura de um nu, da qual se vê apenas a parte inferior, uma esposa partilha sua estupefação com o marido, exclamando: “uma pessoa deve ter ideias loucas para se fazer retratar assim!...”

34.    Nas duas caricaturas, o espectador que comenta (mulher ou homem) trata a figura representada como o retrato de uma pessoa individualizada, ao invés de apreendê-la com as convenções que o quadro ou a escultura exigem. Ao ignorar as categorias que separam arte e vida, ao embaralhar aquela distinção entre nude e naked, proposta por autores de língua inglesa[32], o tipo de espectador evocado nessas caricaturas não poderia circular pelo “Salão” de uma maneira julgada adequada pelos “entendidos”, como então eram usualmente designados, no Rio de Janeiro, os conhecedores de arte. O conjunto de convenções subjacente a um espaço social como o das Exposições Gerais cariocas servia, assim, como um pano de fundo contra o qual se evidenciava a competência estética do público. Na pena dos críticos, como lembra Martha Ward[33], não possuir tal competência usualmente era uma questão de gênero e/ou de classe social - o que fica bem explícito na gravura de Daumier, mostrada na Figura 11.

35.    Um outro exemplo carioca análogo pode ser encontrado na já referida resenha de Gonzaga Duque sobre a mostra de 1905[34]. Em frente a uma tela de Auguste Petit, pintor francês radicado no Rio, o escritor encontra um homem pasmado, “baixote e atarracado, rebarbativo”, que “para não perder a minudências, montou as lunetas na batata escarlada do nariz”. A tela figurava uma “rapariga nua, [que] exib[ia] seu dorso ao publico”: se tratava, quase certamente, da obra intitulada Faceira, n. 180 do catálogo [Figura 12][35]. Depois de um longo diálogo, o escritor descobre que o homem está ansioso para comprar a tela, não por seu eventual valor enquanto objeto estético ou erótico, e, sim, por uma razão mais pragmática: deseja-lhe por “umas letras” e transformá-la no anúncio de sua loja de “fressuras e mais miudezas”, chamada Ao balão do Ferramenta. Surpreso com tal intenção, só resta a Gonzaga Duque findar o diálogo com o comerciante, qualificando-o como um “extraordinário simbolista”.

36.    Creio que é necessário, todavia, ir além da presunção de que o público efetivamente “fala” em tais resenhas e questionar em que medida a voz que o escritor/caricaturista lhe empresta é, na verdade, uma voz ficcionalizada, que expressa sobretudo as suas próprias opiniões sobre os critérios estéticos que se procurava legitimar nos “Salões” de arte. Porém, menos do que denunciar uma impostura dos críticos de arte, me parece que adotar tal ponto de vista sublinha a posição eminentemente ambígua que eles ocupam no campo artístico, pois, sendo simultaneamente receptores e mediadores das obras de arte, os críticos também faziam parte do público.

37.    Com isso em mente, gostaria de retornar a caricatura da Gazeta de Noticias de 1894, reproduzida na Figura 10. Sabemos que o quadro nela evocado é A Escrava, de Oscar Pereira da Silva, que figura sob números diferentes (142 e 150) em dois catálogos da Exposição Geral de 1894 e do qual se conhece uma segunda versão [Figura 13], que vou usar como referência para minha discussão. A figura feminina, recostada e de “olhar cansado [enquanto] sua postura transmite um sentimento de descaso, como se estivesse acostumada com esse tipo de exposição”[36] ao qual se encontra submetida, está cercada de adereços que deslocam sua identidade no espaço e no tempo: a placa escrita em latim pendurada no peito, o cinto, os tecidos que cobrem uma mínima parte de seu corpo, a ânfora aos seus pés... Entretanto, se considerarmos os anseios por uma arte “nacional” e/ou a ascensão que as tendências “realistas” e gêneros pictóricos como a paisagem conheceram no campo artístico carioca, a partir dos anos 1880, julgo que é lícito, ao menos em parte, ver na referida caricatura de 1894 uma crítica: nesse sentido, a leitura do nu exótico como um retrato questionaria a pertinência das convenções estéticas assumidas n’A escrava, e, simultaneamente, evidenciaria as comodificações sexistas na política das Exposições Gerais.

38.    Um dado que reforça tal hipótese é que tal tipo de “má interpretação” deliberada constituía, na verdade, uma outra tópica da literatura artística ocidental, que remonta ao menos ao século XIX. Um exemplo conhecido se encontra em uma passagem do romance Villette (1853), da escritora inglesa Charlotte Brontë, na qual a protagonista Lucy comenta uma pintura orientalista[37], provavelmente a tela Une Almé, que Edouard de Biefve expôs no Salon de Bruxelas de 1842 [Figura 14][38]. Como bem sintetizou Renate Brosch[39], ao interpretar o tema exótico como a representação de uma casa mal administrada por uma mulher indolente - ou seja, ao tratar a tela orientalista com as categorias da pintura de gênero europeia -, Brontë deliberadamente ridicularizava o gosto corrente da época, que gratificava o voyeurismo masculino e explorava sentimentos imperiais de superioridade. Eu proporia, portanto, uma leitura da caricatura da Figura 10 alinhada, ao menos em certa medida, com críticas como essa de Brontë ao quadro de Biefve.

39.    Em outros casos, o tom da voz que o comentarista empresta ao público deixa bem menos margem às dúvidas quanto a sua intencionalidade crítica. É o caso do último exemplo que gostaria de aqui citar: uma série de resenhas publicadas n'O Paiz, a respeito da Exposição Geral de 1913, estrategicamente escritas em francês e estruturadas na forma de diálogos - presumivelmente fantasiosos - entre o periodicista, que assina com o pseudônimo Bolognese, e sua amiga Gladys. Estrangeira, Gladys afeta tudo desconhecer da arte brasileira e dos cerimoniais em torno da Exposição Geral. Em certa passagem, se espanta diante do ar de “nécropole” da mostra e se questiona sobre a autenticidade dos “tapetes do Oriente” que a decorariam e cuja procedência, segundo Bolognese, teria sido confirmada por um representante do Bazar de l’Hotel de Ville[40]. O alvo dos comentários parece ser, em trechos como esse, a manutenção, no meio artístico carioca, de práticas de instalação como a ornamentação e as paredes em tons escuros, cuja adequação foi severamente questionada em países como a França, ao menos desde finais dos anos 1860[41]. Muitos outros aspectos da exposição de 1913 são abertamente ironizados nas resenhas de Bolognese, sobretudo nos comentários da “desavisada” Gladys.

40.    À guisa de conclusão, acredito que estudos do tipo que procurei aqui empreender podem ser uteis na medida em que, matizando a concepção tradicional que compreende a arte e a sociedade como pólos estanques, nos ajudem a pensar “a arte como sociedade, interessando-se pelo funcionamento do meio em que se dá a arte, seus atores, suas interações, sua estruturação interna”[42]. Sem negligenciar a importância das obras de arte em si, mas antes alargando o estudo de sua recepção, creio que tal abordagem possibilita a melhor compreensão de uma gama ampla de processos de que estas mesmas obras de arte são a ocasião, a causa ou o resultado.

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[1] Este artigo deriva da comunicação “O público como espetáculo nas Exposições Gerais de Belas Artes”, apresentada no II Colóquio Internacional de História da Arte e da Cultura - O artista e a sociedade, realizado na Universidade Federal de Juiz de Fora, em setembro de 2012.

[2] KROMM, Jane. Part Three. Gaze and Spetacle. Introduction. In: KROMM, Jane; BAKEWELL, Susan B. A History of Visual Culture. Western Civilization from the 18th to the 21th Century. Oxford, New York: Berg, 2010, p.132 (livre tradução).

[3] Não necessariamente a inscrição se refere ao homem sentado, muito embora o sergipano Evencio Nunes, que foi pintor e professor do Liceu da Artes e Ofícios carioca, tenha efetivamente participado da Exposição Geral de 1903, expondo quatro obras na Seção de Pintura. (LEVY, Carlos Roberto Maciel. Exposições Gerais da Academia Imperial e da Escola Nacional de Belas Artes. Período Republicano Catálogo de artistas e obras entre 1890 e 1933. Rio de Janeiro: Publicação ArteData, 2003, p.176.)

[4] DUQUE, Gonzaga. O Salão de 1905. Kósmos. Revista Artistica, Scientifica e Literaria, Rio de Janeiro, Ano II, n. IX, set. 1905, n/p (grifo em itálico no original). [cf. link]. A grafia desta e de todas as outras citações de época foi atualizada.

[5] FRIED, Michael. Absorption and Theatricaly: Painting and Beholder in the Age of Diderot. Berkeley, Los Angeles, London: University of California Press, p. 221, nota 143.

[6] J.-J. ROUSSEAU, [...] À MR. D'ALEMBERT, […] sur son article GENÈVE, Dans le VIIeme Volume de 'ENCYCLOPÉDIE, ET PARTICULIÈREMENT, Sur le projet d'établir un THÉÂTRE DE COMÉDIE en cette ville. Amsterdam: M. M. Rey, 1758, p. 240 (tradução livre).

[7] DELVAU, Alfred. Les Plaisirs de Paris. Guide Pratique et Illustré. Paris: Achille Faure, Libraire-Éditeur, 1867, p. 64-65 (tradução livre).

[8] Como, por exemplo, a conhecida tela La Loge (1874), de Pierre-Auguste Renoir, que figurou na primeira exposição “impressionista” e hoje se encontra no Courtauld Institute of Art, em Londres [cf. link].

[9] Belas Artes. O ‘vernissage’ do salão de 1924 - Diversas notas. O Jornal, Rio de Janeiro, 12 ago. 1924, p.3. [cf. link].

[10] NOTAS DE ARTE. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 1 set. 1905, p. 3. [cf. link]. Uma percepção do vernissage como um evento essencialmente mundano é também encontrada na pena de escritores que se dirigiam ao público de outras cidades brasileiras. É o caso de João Afonso de Nascimento, que, escrevendo sob o pseudônimo Joafnas, para o periódico O Para, em 1902, assim definia o vernissage dos Salons parisienses: “essa solenidade genuinamente parisiense, que se chama o vernissage, isto é a inauguração, que nada mais é do que um pretexto para a gente chic exibir toilettes ricas, contemplar celebridades artísticas, saturar-se de poeira e falar da vida alheia, não lhe restando, por isso, tempo para dar atenção às obras expostas”. (cf. SOUZA, Viviane Viana de. A atuação de Abigail de Andrade e Julieta de França no Rio de Janeiro de entreséculos XIX-XX. Dissertação (Mestrado em Programa de Pós Graduação em Artes Visuais) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2013, p.141).

[11] NOTAS SOBRE ARTE. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 1 set. 1898, p.4. [cf. Link].

[11b] ARTES E ARTISTAS - BELAS ARTES. O Paiz, Rio de Janeiro, 12 ago. 1918, p.5. [cf. link].

[12] G. de O. O SALÃO DE 1912 - Inaugurou-se, ontem, solenemente O Salão deste ano de Belas Artes. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 2 set. 1912, p.3 [cf. link]; ESCOLA Nacional de Belas-Artes. Careta, Rio de Janeiro, n. 275, 6 set. 1913, n/p. [cf. link]; O SALÃO DA ESCOLA NACIONAL DE BELAS ARTES. A inauguração oficial de domingo. O Jornal, Rio de Janeiro, 14 ago. 1928, p. 5. [cf. link].

[13] A composição do publico é referido nesses exatos termos (ou em similares) em diversas notas, como, por exemplo: A. V. “SALÃO DE 1903. A VÉSPERA”. A Noticia, Rio de Janeiro, 31 ago.-1 set. 1903, p. 3 [cf. link]; NOTAS DE ARTE. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 2 ago. 1915, p.7 [cf. link].

[14] Cf. HEINICH, Nathalie. A Sociologia da Arte. Bauru, SP: Edusc, 2008, p.72-75.

[15] V. V. O SALÃO. O Paiz, Rio de Janeiro, 9 set. 1905, p.2. [cf. link].

[16] O “SALON” DE 1909. Fon-Fon!, Rio de Janeiro, n. 37, 11 set. 1909, p.21-22 [cf. link].

[17] O Paiz, Rio de Janeiro, 6 set. 1911, p.7 [cf. link].

[18] A INAUGURAÇÃO OFICIAL DO ‘SALÃO’ DE 1920. O Imparcial, Rio de Janeiro, 13 ago. 1920, p.7 [cf. link].

[19] BELAS ARTES. A INAUGURAÇÃO OFICIAL DO SALÃO DESTE ANO. O Jornal, Rio de Janeiro, 14 ago. 1923, p.3 [cf. link].

[20] A XXXVI EXPOSIÇÃO GERAL DE BELAS ARTES. O Jornal, Rio de Janeiro, 13 ago. 1929, p.5 [cf. link].

[21] SALÃO de 1903. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, 1 set. 1903, p.1 [cf. link].

[22] GUIDO RENI. IMPRESSÕES DO ‘SALÃO’. A Noticia, Rio de Janeiro, 11-12 out. 1904, p. 2 [cf. link].

[23] NOTAS DE ARTE. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 1 set. 1905, p. 3 [cf. link].

[24] ARTES E ARTISTAS. O Paiz, Rio de Janeiro, 2 set. 1908, p.21 [cf. link].

[25] V. V. O SALÃO. O Paiz, Rio de Janeiro, 9 set. 1905, p.2 [cf. link].

[26] Um exemplo de estudo que foca as condições do olhar nas quais homens e mulheres participam simultaneamente com objetos e sujeitos no campo visual é: BALDUCCI, Temma. Gaze, Body, and Sexuality: Modern Rituals of  Looking and Being Looked At. In: KROMM, Jane; BAKEWELL, Susan B. A History of Visual Culture. Western Civilization from the 18th to the 21th Century. Oxford, New York: Berg, 2010, p.136-146.

[27] OLIVEIRA, Claudia. As pérfidas Salomés: a representação do pathos do amor em Fon-Fon! e Para Todos... - 1907-1930. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 2008. A síntese é de Liliane Machado e pode ser lida aqui nesse mesmo sítio: MACHADO, Liliane. As esfíngicas Salomés: representações da figura feminina nas narrativas curtas de Gonzaga Duque. 19&20, Rio de Janeiro, v. VII, n. 2, abr./jun. 2012. Disponível em: http://www.dezenovevinte.net/obras/gd_salomes.htm Acesso em 1 fev. 2013.

[28] Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, 12 out. 1894, p.1 [cf. link].

[29] Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, 6 out. 1894, p.1 [cf. link].

[30] DAZZI, Camila. O moderno no Brasil ao final do século 19. Revista de História da Arte e Arqueologia, Campinas, v. 11, 2012, p.98. Disponível em: http://www.unicamp.br/chaa/rhaa/downloads/Revista%2017%20-%20artigo%206.pdf Acesso em 1 fev. 2013.

[31] Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, 3 out. 1894, p.1 [cf. link].

[32] Cf., por exemplo, CLARK, Kenneth. The Nude: A Study in Ideal Form. New York: Pantheon Books, 1956.

[33] Cf. WARD, Martha. What’s Important About the History of Modern Art Exhibitions? In: GREENBERG, Reesa; FERGUSON, Bruce W.; NAIRNE, Sandy. Thinking about exhibitions. London, New York: Routledge, 1996, p.461-462.

[34] DUQUE, op. cit., n/p.

[35] DÉCIMA SEGUNDA EXPOSIÇÃO GERAL DE BELAS-ARTES. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, 10 set. 1905, p.1 [cf. link].

[36] FORMICO, Marcela Regina. Olhares inocentes à jogos de sedução - a composição do feminino na arte de Oscar Pereira da Silva. In: VI EHA - ENCONTRO DE HISTÓRIA DA ARTE - UNICAMP (Anais eletrônicos). Disponível em: http://www.unicamp.br/chaa/eha/atas/2010/marcela_regina_formico.pdf Acesso 1 dez. 2012.

[37] BELL, Currel (pseudônimo de Chalotte Brontë). Villette. Londres: Smith, Elder & Co., 1853, VOL II, p.72.

[38] MATUS, Jill L.. Unstable Bodies: Victorian Representations of Sexuality and Maternity. Manchester University, 1995, p.135-136.

[39] BROSCH, Renate. Looking at Women Looking: Female Portraits in the Gender Crisis. Gender Forum, issue 13, 2006, p.3. Disponível em: http://www.genderforum.org/issues/imagendering-ii/looking-at-women-looking/> Acesso em 1. dez 2012. A passagem do livro de Brontë destacada por Brosch é a seguinte: “She was indeed, extremely well fed: very much butcher's meat - to say nothing of bread, vegetables and liquids - must she have consumed to attain that [...] wealth of muscle, that affluence of flesh. She lay half-reclined on a couch: why, it would be difficult to say; broad daylight blazed round her; she appeared in hearty health, strong enough to do the work of two plain cooks; she could not plead a weak spine; she ought to have been standing, or at least sitting bolt upright. She had no business to lounge away the noon on a sofa. She ought likewise to have worn decent garments [...] out of the abundance of material - seven-and-twenty yards, I should say, of drapery - she managed to make insufficient raiment.”

[40] BOLOGNESE. XX Exposição de Belas Artes. O Paiz, Rio de Janeiro, 4 set. 1913, p.5 [cf. link]. O Bazar de l’Hotel de Ville é uma grande loja de departamentos que foi fundada em Paris em meados do século XIX, que ainda hoje se encontra em funcionamento.

[41] Discuti as práticas de instalação nas Exposições Gerais em: VALLE, Arthur. Instalação nas Exposições Gerais de Belas Artes durante a 1a. República. 19&20, Rio de Janeiro, v. VI, n. 1, jan./mar. 2011. Disponível em: http://www.dezenovevinte.net/arte decorativa/egba_instalacao.htm Acesso 1 dez. 2012.

[42] HEINICH, op. cit., p.61.