Leituras de José Marianno Filho sobre a arte, a arquitetura e a cidade do século XIX no Brasil

Wilson Ricardo Mingorance

MINGORANCE, Wilson Ricardo. Leituras de José Marianno Filho sobre a arte, a arquitetura e a cidade do século XIX no Brasil. 19&20, Rio de Janeiro, v. VIII, n. 1, jan./jun. 2013. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/criticas/la_jmarianno.htm>.

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1. Introdução

Este artigo tem como objetivo o estudo das obras textuais e das publicações seriadas de autoria de José Marianno Carneiro da Cunha Filho, entre 1911 e 1945. Procura-se compreender a sua importância como crítico das artes, da arquitetura e do urbanismo do Rio de Janeiro no século XIX e início do século XX. A leitura de suas obras elucidou um diálogo com os demais autores da época, que abordaram essas temáticas, a fim de verificar o vocabulário técnico-político de José Marianno e elencar sua relevância dentro da Historiografia da Arquitetura Brasileira.

Mediante as obras reunidas foi possível elaborar uma cronologia com as produções seriadas e textuais do autor, a fim de melhor analisar a sua apreciação crítica sobre a arte, a arquitetura e a cidade no Rio de Janeiro no século XIX e início do século XX e como José Marianno observou a referência de Portugal na construção da arte e arquitetura no Rio de Janeiro.

A análise de suas obras permitiu entender que a contribuição de José Marianno Filho foi maior do que a que costumeiramente se atribui dentro da historiografia. Considerado “apenas” um diletante das artes e um dos pioneiros do movimento neocolonial, sua ação como articulista de jornais, escritor e palestrante permanece pouco explorada. Contudo, esta pesquisa procurou entender quais foram as “teses” lançadas por José Marianno e que, de certa forma, ajudaram a criar uma certa ideia das artes, da cidade e da arquitetura, sobretudo do Rio de Janeiro, nos séculos citados. Dessa forma, o debate proposto pelo próprio autor o coloca como um importante ícone para o estudo do campo da Historiografia Brasileira, estabelecendo um debate com demais autores do período em que viveu.

Sua trajetória possui um ponto de inflexão bem delineado: quando se inseriu no campo da Arquitetura, defendendo e propagando uma arquitetura “tradicional”, muitos o admiraram; porém, quando o Modernismo começou a atrair atenção e adeptos, José Marianno passou a ser hostilizado, pois, publicamente, sobretudo por meio de jornais, iniciou um debate acalorado apontando uma tese de que o Modernismo feria a estética urbana, sobretudo a carioca. Assim, começou uma guerra de palavras por meio dos jornais da época. De um lado, José Marianno, defensor do “estilo de arquitetura tradicional” e, do outro lado, adeptos dos ideais da arquitetura moderna, tal como Lucio Costa.

O debate iniciado em meados da década de 1920 perdurou até a metade da década de 1940, época do falecimento de José Marianno Filho. Portanto, durante quase 20 anos houve um debate que teve repercussões para a Arquitetura Brasileira, o qual se procurou levantar neste artigo.

2. Apresentando José Marianno Carneiro da Cunha Filho

José Marianno Carneiro da Cunha Filho nasceu em 13 de Abril de 1881, em Pernambuco, em uma espécie de fazenda denominada Solar Monjope, próxima à cidade de Recife, e faleceu em 5 de junho de 1946, na cidade do Rio de Janeiro. Formou-se em Medicina no início do século XX, na atual Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ), mas nunca clinicou; antes, passou a estudar as ciências naturais e, sobretudo o que dizia respeito às abelhas do Brasil. Apenas posteriormente enveredou a estudar a arte, a arquitetura e o urbanismo, o que fez até o fim de sua vida, recebendo condecorações diversas por conta dessa atividade. Seus trabalhos no estudo da arte, da arquitetura e da cidade foram de suma importância para a História da Arquitetura Brasileira; seus escritos, tanto em publicações textuais quanto seriadas, nos levam a um período de transição da produção de arquitetura no qual José Marianno se envolveu com demais estudiosos e acadêmicos do período, estabelecendo uma discussão basilar para o entendimento das manifestações urbanas e artísticas dos séculos XIX e XX.

Algo que julgamos muito importante para a compreensão das atividades de José Marianno Filho, e que, ao mesmo tempo se mostrou uma relevante estratégia de entendimento de sua trajetória, foi a confecção de uma cronologia. A seguir, apresentamo-la:

2.1. Cronologia de José Marianno Carneiro da Cunha Filho

13/04/1881 - Nascimento de José Marianno Filho, em Pernambuco, no Solar de Monjope, próximo à cidade de Recife.

1893 - Chegada ao Rio de Janeiro, junto com o irmão Olegário Marianno e com a mãe Olegária, fixando residência no Bairro do Cosme Velho.

09/07/1908 - Se casa com Violeta Siciliano no Rio de Janeiro, após conhecê-la em uma viagem de navio, regressando da Europa, poucos meses antes.

1911 - Assistente dos Trabalhos de Physiologia Vegetal do Jardim Botânico no Rio de Janeiro. No mesmo ano publica o livro Ensaio sobre as Melipondas do Brasil (Typ. Besnard Frêres).

Início dos anos de 1920 - José Marianno aparece como um dos membros fundadores do Rotary Club do Rio de Janeiro e, também, na mesma década, como sócio fundador do Instituto Central de Arquitetos, na mesma cidade.

1921 - Sócio Fundador da Sociedade Brasileira de Belas Artes, com sede no Rio de Janeiro.

1923 - Encontro de José Marianno com Lucio Costa. José Marianno se apresenta a Lucio Costa mediante um bilhete, expressando o desejo de conhecê-lo melhor[1].

1924 - Diretor da Sociedade Central de Arquitetos e do Instituto Central de Arquitetos, ano em que essas sociedades também sofreram uma fusão a pedido de José Marianno. Nesse mesmo ano é decidida a construção do Solar de Monjope.

1926 - Publicação do artigo “A balburdia architectonica do Rio de Janeiro” (A Noite, Rio de Janeiro). No mesmo ano, publica os artigos: “O debate aberto em torno do nosso padrão architectural” (A Noite, Rio de Janeiro) e “Reflexões sobre architectura” (O Jornal, Rio de Janeiro).

1926 e 1927 - Toma posse como Diretor da Escola Nacional de Belas Artes.

1928 - Conclusão da construção do Solar de Monjope. No mesmo ano, publica os artigos “Impressões do Salão” (Diário de Notícias, Rio de Janeiro), “A glorificação de um falso heroe” (O Jornal, Rio de Janeiro),“Do verbo projectar em architectura” (O Jornal, Rio de Janeiro), “Contra o arranha-céu” (O Jornal, Rio de Janeiro), “Sobre o patrimônio artístico da nação” (O Jornal, Rio de Janeiro),“Da architectura como fator de nacionalização” (O Jornal, Rio de Janeiro), “O patrimônio artístico de Minas Geraes” (O Jornal, Rio de Janeiro), “O novo edifício da Escola Normal” (O Jornal, Rio de Janeiro) e “A defesa esthetica da cidade” (O Jornal, Rio de Janeiro).

1929 - Publicação dos artigos “Mestre Aleijadinho e seus algozes” (O Jornal, Rio de Janeiro), “Precisa-se de um architecto” (O Jornal, Rio de Janeiro), “A excomunhão gloriosa da architectura brasileira” (O Jornal, Rio de Janeiro), “Uma invencionice architectonica” (O Jornal, Rio de Janeiro), “Brasilidade imaginária” (O Jornal, Rio de Janeiro), “A velha do piolho” (O Jornal, Rio de Janeiro), “Decálogo do architecto brasileiro” (O Jornal, Rio de Janeiro) e “38 à sombra” (O Jornal, Rio de Janeiro). Publica a sequência de artigos denominados “Urbanite Aguda” (O Jornal, Rio de Janeiro) [“Urbanite Aguda” II a VII (O Jornal, Rio de Janeiro), mais o epílogo “Da urbanite aguda e seu tratamento racional” (O Jornal, Rio de Janeiro)]. No mesmo ano publica, ainda, “Architectura scenographica” (O Jornal, Rio de Janeiro), “Salsichas de Viena” (O Jornal, Rio de Janeiro), “O melhor, no gênero máo” (O Jornal, Rio de Janeiro), “A architectura brasileira não é colonial” (O Jornal, Rio de Janeiro), “Architectura acanalhada” (O Jornal, Rio de Janeiro) e “Historia mal contada” (O Jornal, Rio de Janeiro).

1930 - Publicação da reportagem “Pela regulamentação do diploma de arquiteto: um toque de clarim” (O Globo). Publicação dos artigos “A profissão de mãe Joana” (O Jornal, Rio de Janeiro), “Proezas de Blakaman” (O Jornal, Rio de Janeiro), “Congresso Pan-Americano de Architectos” (Diário da Noite, São Paulo), “Architectura e engenharia são coisas opostas” (O Jornal, Rio de Janeiro), “Les affaires sont lês affaires” (O Jornal, Rio de Janeiro), “Os grandes congressos de 1930” (Jornal do Brasil).

1931 - Publicação do artigo “O contágio dos máos exemplos” (O Jornal, Rio de Janeiro).

1932 - Publicação dos artigos “Uma cidade sem jardins” (Diário de Notícias, Rio de Janeiro), “O problema florestal de Petrópolis” (O Jornal, Rio de Janeiro), “Uma grande blague” (O Jornal, Rio de Janeiro), “Symbiose da maldade com a ignorância” (O Jornal, Rio de Janeiro).

1933 - Publicação do livro O Problema Florestal de Petrópolis (Rio, O Cruzeiro).

1934 - Membro do Conselho Technico Florestal da Prefeitura do Rio de Janeiro e Membro da Comissão do Código do Conselho Florestal. No mesmo ano: Publicação do livro Aspectos do Problema Florestal brasileiro (Editora Elba).

1935 - Publicação dos artigos “Revoltante mystificação” (Diário de Notícias, Rio de Janeiro), “A Cidade Universitária e o Plano Agache” (Diário de Notícias, Rio de Janeiro), “Viva o ministro!” (Diário de Notícias do Rio de Janeiro), “Autophagia” (Diário de Notícias, Rio de Janeiro), “Anarquia Urbanística” (Diário de Notícias, Rio de Janeiro), “Erro fundamental” (Diário de Pernambuco), Urbanismo 'on paper'” (Diário de Notícias, Rio de Janeiro), “Guerra a paisagem” (Diário de Notícias, Rio de Janeiro), “Acudam as árvores da cidade!” (Diário de Notícias, Rio de Janeiro), “Erro fundamental” (O Jornal, Rio de Janeiro), “A creação de um Museu Nacional de Arte” (Diário da Noite, Rio de Janeiro), “A architectura escolar” (Diário de Notícias, Rio de Janeiro), “A miséria estylizada” (Jornal do Comércio, Pernambuco), “Metabolismo Urbano” (Diário de Notícias, Rio de Janeiro), “A tosquia das árvores” (Diário de Notícias, Rio de Janeiro).

1936 - Publicação dos artigos “As maravilhas da architectura comunista” (Diário de Notícias, Rio de Janeiro), “Escondendo o sol com a peneira” (Diário de Notícias, Rio de Janeiro), “Insensíveis a lição” (Diário de Notícias, Rio de Janeiro), “O problema architectonico nacional” (Diário de Notícias, Rio de Janeiro), “Um calamitoso erro de urbanismo”(Diário de Notícias, Rio de Janeiro), “A Cidade Universitária” (Diário de Notícias, Rio de Janeiro), “A volúpia de errar” (Diário de Notícias, Rio de Janeiro), “Pequena lição de urbanismo” (Diário de Notícias, Rio de Janeiro), “Rasguem-se tunneis nas montanhas!” (O Globo), “A formação das cidades brasileiras” (Diário de Notícias, Rio de Janeiro), “O prestígio das palavras” (Diário de Notícias, Rio de Janeiro), “As tendências modernas da architectura” (Gazeta, São Paulo), “O anjo Gabriel” (Diário de Notícias, Rio de Janeiro), “Confusionismo” (Diário de Notícias, Rio de Janeiro), “As árvores do passeio público” (Diário de Notícias, Rio de Janeiro).

1938 - Publicação da reportagem “Um impulso ao bom senso”

1942 - Publicação dos livros Acerca dos Copiares do Nordeste Brasileiro e Estudos de Arte Brasileira (Editora Artes Gráficas).

1943 - Publicação dos livros Influências Muçulmanas na Arquitetura Tradicional Brasileira (Editora A Noite) e Debates sobre Estética e Urbanismo (Est. de Artes Gráficas).

1945 - Publicação dos livros A Arborização das Estradas de Rodagem e Urbanite Aguda (Editora Artes Gráficas).

05/06/1946 - Falecimento de José Marianno Carneiro da Cunha Filho no Rio de Janeiro, vitimado pelo câncer.

09/1946 - Publicação do livro A Estatuária do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos de Congonhas do Campo.[2]

3. Fontes de Pesquisa

A pesquisa histórica desenvolvida buscou mobilizar a produção textual de José Marianno. Embora estimássemos um volume grande, não tínhamos ideia do volume a ser encontrado. Esse levantamento constitui-se, de fato, numa sistematização de grande parte da produção de José Marianno, e tornou-se, por assim dizer, numa sistematização das próprias fontes de pesquisa deste artigo. Desta forma, convém tecer algumas considerações sobre o encontrado.

A primeira publicação de José Marianno, de que possuímos confirmação, provavelmente data de 1911[3]: Ensaios sobre as Melipondas do Brasil, época em que ainda José Marianno era assistente de trabalhos de Fisiologia Vegetal do Jardim Botânico no Rio de Janeiro. Porém, entre os anos de 1911 e 1920, nota-se um silêncio de quase dez anos, que se findará no início da década de 1920, quando, como já visto, José Marianno se tornou um dos membros da fundação do Rotary Club e, posteriormente, sócio fundador do Instituto Central de Arquitetos (1921), Diretor da Sociedade Central de Arquitetos (1924) e Diretor da Escola Nacional de Belas Artes (1926-1927). É, portanto, a partir desse momento que José Marianno se envereda pela empreitada de crítico da arte, da arquitetura e da cidade, atividade que desenvolverá por mais de duas décadas, e que permite afirmar sua relevância no debate intelectual brasileiro das décadas de 1920, 1930 e 1940.

4. A História e José Marianno Filho: diálogos bibliográficos e historiográficos

Respondendo a um dos objetivos iniciais deste artigo, procuramos entender quais “esquemas historiográficos” foram mobilizados por José Marianno Filho. De fato, convém explicar que mais do que realizar um estudo de Teoria da História, o que fizemos foi entender os diálogos de José Marianno, ou seja, por meio de suas citações, compreender quem ele lia e o que reproduzia em seus escritos.

Assim, a partir da reunião das publicações, pôde-se elucidar a contribuição que seus trabalhos ofereceram à Historiografia da Arquitetura Brasileira, pois suas publicações não só alavancaram um debate acalorado contra o Modernismo e em defesa de uma arquitetura “tradicional” no Brasil com os estudiosos do campo de sua época, mas também delinearam bases para um estudo historiográfico sobre a arquitetura e a arte do século XIX, que até então pouco tinham sido estudadas, e, que José Marianno recupera, valendo-se da produção bibliográfica de autores como John Luccock, Adolf Varnhagem e de Oliveira Vianna.

Torna-se importante, todavia, pontuar no tempo e no espaço, o deflagrador do movimento que veio a projetar José Marianno Filho como crítico: o neocolonial. Para tanto, apresentaremos considerações sobre aquele que deu bases para o discurso de José Marianno sobre o século XIX: Ricardo Severo.

4.1. Ricardo Severo e o Neocolonial

Ricardo Severo da Fonseca e Silva nasceu em 1869, em Lisboa, mas foi criado na cidade do Porto, onde se formou Engenheiro Civil de Obras Públicas e de Minas, na Academia Politécnica, em 1890-91. Estudado no Brasil por Joana Mello, no livro Ricardo Severo: da arqueologia portuguesa à arquitetura brasileira, seu estudo foi de fundamental importância para este artigo, uma vez que a historiografia atribui a ele a deflagração da arquitetura Neocolonial no Brasil. A divulgação tida como oficial, desse movimento, se deu por meio de uma conferência proferida na Sociedade de Cultura Artística de São Paulo, em 20 de julho de 1914, de nome A Arte Tradicional no Brasil: a Casa e o Templo. Nesta conferência, Ricardo Severo expôs a necessidade de que o Brasil recuperasse sua trajetória arquitetônica “interrompida no século XIX”. Afirmava que a ação a ser tomada era a de reinterpretar e de revalorizar a arquitetura de origem portuguesa, realizada por lusitanos, no país, durante o período colonial. Como pontuou Ricardo Marques de Azevedo, em resumo, o que Ricardo Severo afirmava era que a cultura autóctone que existia em terras brasileiras, por sua insipiência e primitivismo, não tinha a força suficiente para fundamentar uma arte de caráter nacional” (AZEVEDO, 1994, p. 249).

O livro de Mello, por nós estudado, está dividido em três capítulos. O primeiro aborda a crise portuguesa na segunda metade do século XIX, desencadeada, sobretudo, com a transferência da Corte para o Rio de Janeiro, a perda da Colônia e, consolidada na segunda metade do século XIX com o advento da indústria, embora Portugal tenha se mantido “atrasado” em relação a outros países, pois, segundo Joana Melo “a instabilidade econômica e financeira que abalava o país tinha raízes não só na crise colonial, mas também na introdução do capitalismo em vastas áreas do meio rural português.” (MELLO, 2007, p.26 ).

É nesse cenário português que se encontra Ricardo Severo e, que, iniciará sua atuação artística no IX Congresso de Antropologia e Arqueologia Pré-Histórica, realizado em Lisboa em 1880. Nesse mesmo ano houve uma redução na população portuguesa, em virtude da imigração para o Brasil, e também ocorreram manifestações da população contra o poder monárquico exercido em Portugal (MELLO, 2007, p. 28).

Na segunda parte do primeiro capítulo, Melo realiza uma análise do teor acadêmico e profissional de Ricardo Severo e sua transição de Portugal ao Brasil elencando todo o processo da construção de sua importância como, segundo a autora, “precursor do Neocolonial”.

Ricardo Severo foi exilado, em 1898, por fazer parte dos revoltosos portugueses, e sua estadia no Brasil lhe rendeu uma sociedade com Ramos de Azevedo, até mesmo em virtude de ambos se casarem com duas irmãs, que advinham da família de Santos Dumont.

O seu renome enquanto mestre da arquitetura tradicional no Brasil, além do mais, somaria-se à atuação profissional destacada ao lado de Francisco de Paula Ramos de Azevedo (1851-1928) no âmbito de seu requisitado Escritório Técnico, da Companhia Iniciadora Predial e do Liceu de Artes e ofício de São Paulo. Na contramão especializada, se Ramos de Azevedo é retratado como companheiro da causa tradicionalista, Severo a ele podia ser igualado na transformação da fisionomia arquitetônica da antiga vila de Piratininga. Renovação eclética do cenário urbano e campanha em prol das artes tradicionais surgindo como atividades simultâneas em sua obra arquitetônica. (MELLO, Joana, 2007, p. 17)

Severo se dedicou aos estudos da Arquitetura no Brasil, sendo o pioneiro da Arquitetura Neocolonial. Mais tarde, José Marianno se tornou propugnador desse estilo de arquitetura, porém, em algumas publicações de José Marianno o nome “Neocolonial” será substituído por “Arquitetura Tradicional Brasileira”, nomenclatura que definia melhor o estilo defendido por José Marianno.

Certo paralelismo entre Severo e José Marianno Filho pode ser observado se nos ativermos ao fato de que, além da discussão do Neocolonial, Severo e Marianno Filho se voltaram, ambos, aos estudos de Ciências Naturais, o primeiro na Revista de Ciências Naturais e Sociais, que pertencia à Sociedade Carlos Ribeiro. Nessa Revista, Ricardo Severo escreveu 16 artigos e também atuava como editor, diretor e proprietário. José Marianno, ao final da primeira década do século XX, publicou seu primeiro livro, o Ensaio sobre as Melipondas do Brasil, em 1911.

Fernando Atique, em texto apresentado no Colóquio Sonho e Razão, em 2010, de nome Formas que (Não) Unem: a arquitetura neocolonial e o estilo missões nas visões de José Marianno Filho e Ricardo Severo, argumentou que

Existe, na historiografia que trata do neocolonial na arquitetura, certa condescendência com a exegese do discurso de Severo. Quase nunca se fala que a arquitetura por ele pretendida era estrangeira ou exógena, apesar das manifestações explícitas e implícitas de que o fundo repertorial para a feição da arquitetura da antiga colônia portuguesa era o Porto, e não Ouro Preto. Há, também, um gap entre o marco julgado como inicial - a conferência de 1914 - e a efetiva difusão do movimento, a qual, sem dúvida, se deu no Rio de Janeiro, com José Marianno Filho e com os arquitetos que em torno de si gravitaram. (ATIQUE, 2010, p.4).

Aproveitando tal argumentação, convém mostrar, contudo, que Severo foi influenciador do discurso e da atividade de José Marianno, servindo, então, como certo referencial discursivo, embora, ao longo da década de 1920 e, sobretudo na de 1930, os discursos se distanciassem, como aponta, mais uma vez, Atique:

A não-incorporação de Severo ao rol dos estrangeiros que produziam discursos e “arquiteturas exóticas” deve ser compreendida pela “maturação” de seu discurso, entre 1914 e 1922. Durante esses anos Severo foi explicitando, com mais apuro, a ideia de que a raça brasileira era tributária direta do mundo português, e que o recuperar das ligações artísticas com Portugal não era um demonstrativo de uma atitude de dominação ou a assinatura de um atestado de dependência, mas, sim, o retirar da arquitetura brasileira “de um período de decadência” cujo despertar se mostrava tardio. (ATIQUE, 2010, p.5).

4.2. John Luccock

John Luccock nasceu em abril de 1834 e faleceu em maio de 1913 na Inglaterra. Veio ao Brasil em 1808, onde permaneceu por dez anos, exercendo o comércio e, também, observando a terra, tendo a prática, como os diversos viajantes da época, de anotar todas as suas observações em diários. Suas anotações resultaram em livros, sendo utilizados por historiadores e autores de outras áreas que estudaram o século XIX. Dentre os leitores de Luccock está José Marianno Filho que se valeu de seus escritos para compor suas publicações.

Dentre as obras em que José Marianno se valeu de Luccock para melhor compreensão dos aspectos do Rio de Janeiro colonial vemos: Estudos de Arte Brasileira, 1942; Os três Chafarizes de Mestre Valentim, 1943; e, Influências Muçulmanas na Arquitetura Tradicional Brasileira, 1943.

4.3. Francisco Adolf Varnhagen

Francisco Adolf Varnhagen, o Visconde de Porto Seguro, foi um importante historiador brasileiro, nascido em 17 de fevereiro de 1816 na cidade de São João de Ipanema, próximo a Sorocaba, e falecido no dia 26 de junho de 1878 na cidade de Viena, no Chile. Seu primeiro trabalho dentro da História do Brasil foi Notícia do Brasil. Suas obras possuíam grande teor descritivo, o que muito contribuiu para a historiografia, ou seja, os escritos de Varnhagen surgiram como importante fonte para os historiadores posteriores a ele, pois os dados apontados em suas obras servem de referência para obras e publicações de vários autores do século XX, inclusive de José Marianno. Varnhagen foi um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) em 1838 e exerceu o cargo de primeiro-secretário e recebeu o título de Historiador com a obra História Geral do Brasil, publicada em dois volumes, em 1838.

José Marianno faz menção de Varnhagen na obra Os Três Chafarizes de Mestre Valentim, 1943.

4.4. Oliveira Vianna

Outro autor de suma importância, que muito caracteriza as obras de José Marianno é Oliveira Vianna. Francisco José de Oliveira Vianna, nasceu em Saquarema no dia 20 de junho de 1883 e faleceu em Niterói, no dia 28 de março de 1951. Vianna formou-se em Direito em 1906, no Rio de Janeiro, e foi membro da Academia Brasileira de Letras e, também, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB).Sua produção foi marcada por grande inclinação social, às vezes sociológica,e está contida nas obras de José Marianno. Além desses escritores, José Marianno se valeu de pintores viajantes que percorreram o Brasil no século XIX e contribuíram com suas pinturas para uma leitura do Brasil do século XIX. Embora, levantando polêmica acerca da veracidade e da semelhança das representações gráficas desses viajantes com o que existia no período, no território do Brasil, José Marianno se valeu de suas aquarelas, desenhos e anotações visuais para tecer histórias e argumentações diversas em seus escritos.

Apresentados os principais autores com os quais José Marianno Filho dialogou, passaremos, então, a uma sistematização dos artigos e livros de José Marianno Filho.

5. José Marianno Filho e a Arte, a Arquitetura e a Cidade no século XIX

5.1. Arte

Em 1921, José Marianno se torna sócio fundador da Sociedade de Belas Artes, promove vários concursos e investe em viagens a fim de que seus alunos pudessem estudar a arquitetura e a arte presente nas cidades de Minas Gerais, sobretudo em São João Del Rey e em Ouro Preto. Lucio Costa também realizou uma viagem de tal teor, financiada por José Marianno, mas com destino à Diamantina.

Nos anos de 1926 e 1927, José Marianno foi diretor da Escola Nacional de Belas Artes e, portanto, a década de 1920 é a década em que José Marianno se consolida como um crítico da arte, pois ao se inserir nos principais ambientes de discussão, promove debates acalorados em diversas publicações seriadas e textuais.

Aleijadinho e Mestre Valentim foram considerados importantes nas obras de José Marianno e, embora com distinções, foram ambos caracterizados como ornamentistas e toreutas, bem como tiveram suas obras criticadas por José Marianno. Em algumas publicações textuais, ele fará menção somente a Aleijadinho ou ao Mestre Valentim, analisando suas obras, tanto em quantidade como em qualidade, e a preponderância dessas obras no fim do século XVIII e começo do século XIX. Porém, em seus escritos, José Marianno também tratou da chamada Missão Artística Francesa.

Na obra A estatuária do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos de Congonhas do Campo (1946), José Marianno se debruçará apenas sobre a vida e obra de Aleijadinho, sobretudo nas obras executadas em Congonhas do Campo e, que, melhor discorreremos ao longo desse tópico.

Na obra Os três chafarizes de Mestre Valentim (1943), Marianno se remeterá somente a Valentim da Fonseca e Silva, explorando a importância que os chafarizes construídos no fim do Setecentos possuíram durante um século.

Uma das obras mais importantes e completas no sentido de análise da arte brasileira de José Marianno é o livro Estudos de Arte Brasileira, de 1942. Nessa obra, José Marianno não só se debruça sobre Aleijadinho e Mestre Valentim, mas também, sobre as manifestações artísticas dos séculos XVII, XVIII e XIX, apontando o papel dos viajantes europeus que vieram para o Brasil no século XIX; o mobiliário existente nesses séculos citados; os parques e jardins do Rio de Janeiro nos séculos XVIII e XIX; a Escola de Arte de Vila Rica, as influências no Brasil de uma arquitetura trazida de outros países no século XIX; a arquitetura “tradicional” no Brasil.

Não tendo uma educação formal nos estudos da arte brasileira, José Marianno Filho foi sempre crítico com relação aos estudiosos do tema. Na obra Estudos de Arte Brasileira, relata como os estudiosos se referiam à Antonio Francisco Lisboa. Além de mostrar que alguns estudiosos estavam equivocados no relato da figura do Aleijadinho, expôs a sua opinião sobre a face do artista em suas referências:

Aqueles apoiados na leviana referência de Rodrigo Brêtas, reforçada pelo abono posterior de Diogo Vasconcelos, atribuem a Antonio Francisco Lisboa a autoria e a execução do projeto arquitetônico do templo de São Francisco de Ouro Preto, e implicitamente a de outros templos mineiros contemporâneos daqueles que deveriam compreender que por arquiteto se entende o artista que possuí a capacidade manual de projetar, isto é, de expressar por meio de gráficos convencionais a ideia arquitetônica, e igualmente a de realizar a obra ideada... Ora, até a época em que subitamente apareceu o nome do ornamentista sacro Antonio Francisco Lisboa, como contratante das obras gerais (arquitetura e ornamentação) do templo de São Francisco de Assis de Ouro Preto, não se lhe conhece gênero de atividade nos domínios da arquitetura. (MARIANNO FILHO, 1942b, p. 35)

Considerando a arquitetura sacra mineira e a atribuição à participação de Antonio Francisco Lisboa em projetos arquitetônicos, José Marianno também será enfático em afirmar que Aleijadinho participou artisticamente dos frontispícios dos templos, negando que essa participação seja arquitetônica e, sim, de caráter ornamental. Pois, para José Marianno, um arquiteto se caracterizava por uma série de fatores na qual Aleijadinho não estava inserido, isto é, “ao arquiteto cabe ainda estudar e calcular a resistência dos materiais a empregar, a disposição da luz, e resolver o sistema de cobertura.” (MARIANNO FILHO, 1942b, p. 38)

Cabe-nos, porém, notar que José Marianno não se valeu de outras fontes que pudessem negar a versão corrente sobre Aleijadinho e que ele refutava.

O fato de José Marianno não ser arquiteto de formação não o impediu de explorar seus conhecimentos e de opinar, ensinar e debater sobre a arte.

No que diz respeito à arquitetura como arte, José Marianno, ao defender o “estilo de arquitetura tradicional”, se mostra enfático em alegar que as arquiteturas desse caráter embelezam a cidade, sendo a maioria delas construídas no século XVIII e XIX.

José Marianno se voltou para artistas importantes do século XIX: Jean-Baptiste Debret, Thomas Ender e Grandjean de Montigny são citados por José Marianno em algumas de suas publicações, para o estudo da arquitetura “tradicional”. A preocupação de José Marianno era em se estimular a produção de arquitetura como arte era sólida, pois fomentou a abertura de mais cursos de arquitetura nos estados brasileiros, sempre enfatizando, porém, o necessário conhecimento em artes para exercer a arquitetura.

Ao observar os escritos de José Marianno, nota-se que ele se mostrou empenhado em estudar também a arte do século XVII e XVIII. A narrativa de José Marianno que perpassa por esses séculos é observada em duas de suas obras e, também, insere o olhar do autor para o século XIX, no que tange à arte. São essas: Estudos de Arte Brasileira, de 1942, e A estatuária do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos de Congonhas do Campo, de 1946.

A obra Os três chafarizes de Mestre Valentim enfoca, justamente, os chafarizes de Valentim executados no fim do século XVIII, porém esses chafarizes estão justapostos em duas análises, segundo a vertente de José Marianno: a primeira é a arte, que veremos nesse tópico, e a segunda é a representatividade que esses chafarizes possuíram para a cidade do Rio de Janeiro no século XVIII e XIX, que será elucidada melhor no tópico 5.3 Cidade.

Ao tratar do aspecto artístico das fontes de Valentim, José Marianno o criticará alegando que os ornamentos utilizados por Valentim possuíam características que não estavam condicionadas pelo cabedal de uma arte “tradicional”. Alguns dos chafarizes analisados por Marianno eram “chafarizes ‘à moda das fontes rústicas italianas’ por caráter exclusivamente econômico” (MARIANNO FILHO, 1943c, p. 10). Mas, além desse caráter à moda italiana, José Marianno mostrará que Valentim desenhava aos moldes da “raça portuguesa”, pois muitos elementos portugueses estão implícitos em seus ornamentos. Esse fato se explica, aos olhos de José Marianno, pelo fato de Valentim ter estudado em Portugal, o que lhe permitiu incorporar referências projetuais e estilísticas da Europa.

Porém, mesmo criticando Valentim, apontará dois pontos em defesa do artista: o primeiro é que “nas fontes de Valentim, há pelo menos o aspecto artístico de que as demais fontes modernas não participam”; o segundo é a importância que esses chafarizes representaram para a cidade do Rio de Janeiro nos séculos XVIII e XIX, no que tange ao abastecimento da cidade, pois, segundo Marianno, o ornamento traçado por Valentim era funcional, isto é, a funcionalidade do chafariz estava no ornamento.

O século XIX contou com vários viajantes europeus, que vieram da Europa chefiados por Joachin Lebreton, a fim de instituir o ensino oficial de artes na corte artística do Brasil. Essa equipe tinha nomes como: Grandjean de Montigny, Levavasseur, Meunier, Taunay, Debret.

Debret permaneceu no Rio de Janeiro entre 1816 e 1831 e, nesse período, realizou um dos maiores documentários em aquarela sobre o Brasil. Suas imagens se baseavam em cenas do cotidiano do período em que ficou no Rio de Janeiro, como: “negros esquálidos do Valongo à espera de compradores; os vendedores ambulantes com os seus trajes grotescos; as procissões; as cenas de interior, a arquitetura e a paisagem.” (MARIANNO FILHO, 1942b, p. 169)

Foram inúmeras as obras de Debret e muitos historiadores citam suas aquarelas como fontes em seus escritos. Por diversas vezes, José Marianno também se vale das aquarelas de Debret para o estudo do século XIX; porém, em seu livro Estudos de Arte Brasileira, Marianno levanta uma problemática sobre tais obras:.

[...] Debret nos dá na sua obra famosa uma espécie de retrato do Brasil palpitante de imprevisto e pitoresco. Mas será esse retrato verdadeiro? Corresponde êle de fato, ao que o artista desapaixonadamente viu e observou? Poderá êle servir de elemento sério de observação sociológica para a reconstituição histórica do ambiente retratado? Eu creio que - sem prejuízo do mérito do artista - sua obra, verdadeira em muitos pontos, não corresponde a veracidade dos fatos. (MARIANNO FILHO, 1942b, p. 169)

O fato de as obras de Debret não traduzirem a veracidade histórica acerca do ambiente construído, em sua plenitude, não desmerece o artista, segundo José Marianno Filho, que consegue apontar o que havia de relevante e, aos seus olhos, fidedigno. Como exemplo, cita os detalhes mouriscos existentes na arquitetura do Rio de Janeiro:

Durante o tempo em que aqui trabalhou, Debret poude observar que a arquitetura tradicional se deixara impregnar pelas influências mouriscas trazidas da Península. Aliás, o documentário de arquitetura colhido pelo artista informa que a despeito da ofensiva desfechada contra as rotulas pelo intendente Paulo Vianna em 1809, a impregnação muçulmana se mantinha ostensiva e arrogante. (MARIANNO FILHO, 1942b, p. 170).

Em aquarelas de Debret[4] como as da Figura 1 e Figura 2, pode-se analisar que as casas possuem rótulas, detalhes de influências mouriscas, conforme analisou José Marianno. Além dos detalhes da estrutura das portas, em arco abatido, tanto na detalhes de influências muçulmanas e, que, não haviam acatado a ordem do intendente Paulo Viana, em retirar as rótulas das casas, como será visto no tópico 5.2 Arquitetura.

Ao questionar a veracidade das obras e pinturas dos artistas “viajantes”, José Marianno o faz dizendo que seus escritos muitas vezes se perdiam nas viagens de volta a Europa e, quando, se colocavam a executar as suas obras, acabavam remontado os escritos perdidos ou manchados: isso acarretava em uma leitura à ótica do autor, o que transmitia uma visão errônea do lugar ou da situação que estava sendo retratada.

No caso das pinturas de Debret, José Marianno não as desmerece e mostra que elas possuem valor histórico por transmitir muitos pontos relevantes, como o caso das rótulas visto acima. Porém, ao analisar a arte do século XIX, José Marianno mostra que muito da arte existente no Brasil nesse século é de influência europeia: o fato de Mestre Valentim ter estudado em Portugal o caracteriza como tendo referências europeias, o fato dos viajantes serem da Europa e perderem seus escritos e retratarem suas pinturas à suas maneiras, podem muitas vezes fazer com que a composição dessas obras tenha caracteres europeus. A arquitetura feita no século XIX, na análise de José Marianno Filho, também possuía referências de outros países. A seguir discorreremos sobre ela.

5.2. Arquitetura

Na década de 1920, surge uma instituição de suma importância para o Rio de Janeiro: o Instituto Central de Arquitetos, que teve como sócio fundador José Marianno Filho. Em 1924, ele se tornou diretor da Sociedade Central de Arquitetos e do Instituto Central de Arquitetos. Nesse mesmo ano, essas sociedades sofrem uma fusão, a pedido de José Marianno, que se torna presidente a nova instituição unificada. É nesse período que Marianno inicia sua série de publicações textuais e seriadas, em defesa de um “estilo de arquitetura tradicional” e, também, promove concursos que visam a criação de projetos cujas características são de teor colonial. As publicações de Mariano que seguem durante as décadas de 1920, 1930 e 1940 englobam, também, estudos, análises e críticas da arquitetura e projetos. Paralelamente, José Marianno direcionou suas atenções aos estudos da arquitetura do século XIX, apontando as nuanças existentes nesse século e o que a arquitetura representou no período oitocentista. Para o autor, o século XIX foi repleto de arquitetos eruditos europeus[5], sobretudo franceses, o que acarretou no arrefecimento da arquitetura “tradicional” brasileira, panorama que Marianno tenta recuperar em sua discussão nas décadas acima mencionadas.

O século XIX e início do século XX, sob o olhar de José Marianno, foram palco das transformações da arquitetura no Brasil, que nesse período sofreu influências abrangentes, sobretudo a partir de 1808, com a vinda da família Real[6]. Para tornarmos compreensíveis as críticas que José Mariano tece sobre a arquitetura do século XIX, devemos nos deter, primeiramente, na leitura que o autor faz sobre a arquitetura do período colonial.

Segundo José Marianno, nos período que antecede ao século XIX, as casas eram construídas tendo como referencial os estilos arquitetônicos de Portugal, porém, com adaptações, pois era necessário utilizar os materiais existentes para construções e, também, se adaptar ao clima, que era muito distinto ao do europeu[7]. Nos séculos XVII e XVIII, as adaptações da arquitetura portuguesa aos materiais para construção existentes no Brasil fizeram com que os referenciais para as construções na colonia não somente fossem portugueses, mas, principalmente, dos próprios nativos brasileiros, como apontado em diversos artigos de publicados no Jornal do Comércio. Essas referências se davam em virtude de, no momento da construção, os portugueses possuírem “poucos recursos” para a construção na América Portuguesa.

Na obra Acerca dos copiares do Nordeste Brasileiro, José Mariano trata dos “copiares”, uma espécie de arquitetura que vai perdurar desde as “ocas indígenas”, até o século XIX. Assim ele define o que são os “copiares”:

O vocábulo ‘copiar’ - ‘copiara’, evidentemente de origem tupi, foi inicialmente usado pelos selvicolas, para nomear as cortinas de proteção ou quebra-sol, postas de encontro às fachadas dianteiras das habitações rudimentares que eles construíram fora do sistema coletivo de aldeamento. O uso desse detalhe construtivo deve ter sido constante no Nordeste, em virtude das condições climáticas locais, rareando nas regiões menos quentes ou mais frias... copiar é um simples detalhe construtivo - como os “puxados” posteriores - acrescidos à planta inicial das habitações. Sua função é resguardar a habitação dos rigores do sol e da chuva, oferecer abrigo temporário fora da habitação. (MARIANO FILHO, 1942a, p. 5)

O próprio Solar Monjope, residência de José Mariano, foi construído na década de 1920 aos moldes das características do estilo Neocolonial e enfatizava o gosto eclético de José Mariano. Uma construção em “planta angular”, “galerias alpendradas”, “telhados em capa e bica apoiado sobre colunas toscanas”, “um chafariz colonial autentico, recolhido das antigas construções pernambucanas”, “uma torre lateral com um vão guarnecido por um muxarabi” (BITTAR, 1996, p. 18-19) e, também, três copiares.

Além das referências indígenas perceptíveis na arquitetura brasileira, houve igualmente referências árabes, herdadas de Portugal que, por sua vez, possuía algumas características árabes na sua arquitetura, fruto da época da presença árabe na Península Ibérica. Um detalhe mourisco que imperava na arquitetura brasileira eram as rótulas, que José Mariano definiu, como sendo, “simples detalhes das composições de madeira, expressadas de forma de balcão corrido, outros de cunhal. Estas rótulas eram colocadas nas portas ou janelas, como protetoras contra os fortes raios do sol e do calor, mas também protegiam os moradores das casas dos olhares dos transeuntes, impedindo-os de visualizar o interior das casas, ao passo que a visão dos que estavam na casa não era limitada a contemplar as ruas.

Porém, essa arquitetura teria sido abolida com chegada da família Real, conforme descreve José Marianno.

Um mês depois de nomeado, a 11 de Junho de 1809, fez o Alcaide Paulo Fernandes Vianna, por inspiração provável do Príncipe, e à revelia do sonolento Senado da Câmara, afixar nos quatro cantos da cidade um escandaloso edital, onde depois de vários circunlóquios complicados, se fazia constar à população, que tendo sido o Rio de Janeiro elevado à alta dignidade de Corte, pelo Augusto Príncipe Regente, não mais eram compatíveis com a dignidade da terra ‘góticos costumes’, que muito a aviltavam os olhos do Príncipe, e mais dos fidalgos vadios vindos do Reino. E atendendo a essas imperativas circunstâncias, deliberava ‘que devem abolir as rótulas das janelas e sobrados’, determinando mais, que sua retirada se fizesse a toque de caixa, dentro do ‘termo de oito dias’. (MARIANO FILHO, 1943a, p. 16-17).

Essa mudança ocorreu, segundo José Mariano, porque as rótulas, à visão do Príncipe regente, feriam a estética. No entanto, com um prazo tão curto para se abolir as rótulas, se torna visível nas casas os buracos existentes, que “desfiguraram por completo a fisionomia primitiva, ou seja, “as rótulas velaram o interior das moradias, mediaram sua intimidade, mas foram condenadas nos oitocentos e paulatinamente banidas de nossas cidades. (MARINS, 2002 p. 136)

As rótulas de matriz muçulmana haviam sumido, dando origem a necessidade de remodelar as fachadas “desfiguradas”. Na remodelação dessas casas, foram utilizadas as tendências mais em moda na Metrópole. “Em lugar dos primitivos balcões robustos de madeira... compuseram-se sacadas de ferro batido, ou de madeira com balaustres...” (MARIANO FILHO, 1943b, p. 32)

José Marianno, assim nos parece, se ateve a explicar a arquitetura existente nos séculos XVII e XVIII para responder ao que aconteceu com a arquitetura no século XIX. Segundo o autor, a arquitetura, logo no início do século XIX, teria atingido “uma expressão mais nobre, quando aparecem nas cidades os sobrados avantajados, com os detalhes interiores tratados com certo apuro.” (MARIANNO FILHO, 1942b, p. 116) Segundo ele, os sobrados possuem tanto referências jesuíticas, quanto holandesas, esta última devido à ocupação em Pernambuco no século XVII.

A proporção, porem, que se modificavam as condições da vida social, a architectura foi cambiando de expressão, afim de bem servir ao homem. Transformações de plantar, modificações de detalhes, mais ou menos profundas, se processaram, no decurso de três séculos de vida nacional, durante os quaes a architectura brasileira soffrendo directa influencia da raça e do meio, fixou as suas características definitivas. (MARIANNO FILHO, 1931a, p. 10 e 11)

As novas referências perceptíveis na arquiteturas que surgem no século XIX agradam a população por ser algo novo, e o novo se tornou bem visto, segundo José Marianno. Sendo assim, a aplicação de uma nova arquitetura que se revestisse do estrangeiro mesclado com o nacional fez com que a arquitetura “tradicional” fosse se reduzindo em nosso cenário, ao passo que novas referências iam surgindo e a população se afeiçoando a elas.

Em 1860, um engenheiro inglês fez no Rio algumas casinhas em estilo gótico. Dessa época em diante, o povo passou a achar as janelas góticas as mais lindas do mundo. O mau veso de adotar os estilos estranhos à tradição nacional é coisa inveterada na alma do povo. (MARIANNO FILHO, 1942b, p. 119)

José Marianno era a favor de uma arquitetura que se revestisse do nacional, do confortável, do lógico, isto é, que pudesse condizer com as condições climáticas e sociais do país. Ainda que parecesse um tanto quanto grotesco em muitas de suas publicações, quando se posicionava contra as falas e ideias de alguns arquitetos, sua visão era acatada por muitos estudiosos da arquitetura e da arte do período, pois sua preocupação parecia transcender o belo. Uma das características na fala de José Marianno era que a arquitetura não era somente arte, mas também “lógica”. Em todas as suas publicações existe a defesa de uma arquitetura coerente, que visasse o ambiente, a segurança. Como médico, se preocupava com questões sociais, não estando a sua visão atrelada somente ao centro do Rio de Janeiro, mas também atingindo os horizontes das favelas, o que veremos no tópico 5.3 Cidade.

O Brasil, paiz immenso, possuidor de variadas nuanças climáticas não podia impor ao seu território um único typo de architectura, como teria por certo desejo o colonizador luso, por isso que, os systemas constructivos, que formam a base das architecturas de raça dependem, antes de tudo, da ocorrência ou predominância dos elementos naturaes de cada região particular. (MARIANNO FILHO, 1931, p. 11-12)

Nosso personagem em questão em muito se distinguia dos arquitetos “modernos”, que estavam surgindo em meados da década de 1920. José Marianno buscava enfatizar uma arquitetura revestida do nacional, ao passo que a maioria dos arquitetos “modernos” estudaram fora do país e voltaram com referências europeias ou americanas.

No entanto, no que se refere a luta contra a ação dos engenheiros e mestres de obras, arquitetos defensores de diferentes tendências estavam unidos.

A arquitetura tradicional - vulgar ou erudita - que poderia servir de inspiração ao verdadeiro padrão arquitetônico nacional foi propositalmente afastada pelos engenheiros e mestres de obras que monopolizaram (na ausência de arquitetos capazes) a construção de novos edifícios. (MARIANNO FILHO, 1943c, p. 9)

Mesmo sendo um adepto incontestável do “estilo de arquitetura tradicional”, José Marianno parecia ter bom senso no que dizia respeito às construções arquitetônicas, pois ainda que a arte fosse importante, existia algo por trás de simplesmente construir o que é belo. Quando José Marianno dizia que “a arquitetura é a arte de construir”, sua preocupação também estava voltada para construções convenientes e lógicas, como vimos anteriormente.

A arquitetura é apenas uma das faces do problema geral do urbanismo, que mal conseguimos abordar. Pouco vale cuidar de corrigir uma fachada, sem poder indagar se essa fachada pode ou deve estar subordinada as condições de ‘emplacement’. É a natureza local a sua perspectiva, o seu pitoresco, a sua relação com os edifícios vizinhos que devem impor, ou melhor, sugerir ao arquiteto a forma arquitetônica mais conveniente. (MARIANNO FILHO, 1943a, p. 10)

A crítica de José Marianno aos arquitetos “modernos” era justamente no fazer arquitetônico, pois esses arquitetos pareciam interessados em que suas construções pudessem ser admiradas, mas não havia nenhuma preocupação com o espaço na qual estas construções estavam sendo inseridas, ou seja, com a paisagem urbana. Para José Marianno essas construções não só feriam a estética da cidade por se parecerem “caixas d’água”, termo utilizado diversas vezes por ele, ou não estarem revestidas do “nacional”, mas também pelos problemas que estas construções poderiam trazer para a cidade no futuro, já que elas não estavam pautadas em nenhum projeto urbanístico para serem feitas.

A criação de uma “comissão de planejamento urbanístico” para as cidades era uma das maiores petições de José Marianno em diversos artigos, tais como: Urbanite Aguda, 1929; Les affaires sont les affaires, 1930; O contágio dos maus exemplos, 1931; Anarquia Urbanística, 1935; Erro fundamental, 1935; Pequena Lição de Urbanismo, 1936; Idea Perigosa; As árvores do Passeio Público, 1936.

É no apogeu do Modernismo que José Marianno, antes tão admirado, se torna hostilizado em virtude de sua posição tradicionalista. Também contribuiu para tal depreciação a sua defesa colérica do “estilo de arquitetura tradicional”, os seus ataques e a sua explícita aversão ao Modernismo. Nesse ínterim, todos os envolvidos em concursos promovidos por José Marianno, colegas e sócios da Sociedade Central de Arquitetos, alunos e colegas da Escola Nacional de Belas Artes pareciam se esquecer de seus feitos, títulos e contribuições, tentando apagar os laços que um dia os ligaram. Aqueles que o tiveram como “O ilustre critico de arte... o grande batalhador em prol da boa architectura” (REVISTA ARCHITECTURA NO BRASIL,1921, p. 38) acabaram por se afastar dele, em grande parte para suas próprias sobrevivências no mercado da construção civil carioca, que, conforme pudemos descobrir, por meio de artigos, era vigiado por Marianno, que, publicamente, expunha aqueles que “cambiavam de conduta”.

Não nos cabe discutir ou atribuir o certo ou o errado no enredo desta história, mas sim apontar, nos meandros desse debate, o diálogo estabelecido entre José Marianno e os diversos personagens vinculados a ele. Em 1921, José Marianno promoveu o Prêmio Heitor de Mello, publicado pela Revista Architectura no Brasil e aprovado pelo Presidente do Instituto Brasileiro de Arquitetos, Gastão Bahiana, através de uma carta que José Marianno utilizou para justificar a importância do Concurso.

O ilustre critico de arte Dr. José Marianno Filho, o grande batalhador em prol da boa architectura, e um apreciador extraordinário da bellezas escondidas do nosso estylo colonial, no intuito louvável de incrementar os estudos preliminares tendentes á creação de um typo de architectura nacional, inspirado diretamente naquele estylo tradicional, resolveu instituir um premio annual a que denominou de Heitor de Mello, conferindo em concurso publico julgado pelo Instituto Brasileiro de Arquitectos, aos três concurrentes que melhores projectos apresentarem dentro do estylo indicado, e de accôrdo com o programma estabelecido. Para esse fim enviou o Sr. José Marianno Filho ao presidente do Instituto de Architectos a seguinte carta:

Ilmo. Snr. Prof. Gastão Bahiana.

No intuito de incrementar os necessários estudos preliminares para a creação de um typo de architectura nacional inspirada directamente no estylo tradicional atravez das construções architectonicas sacras e civis praticadas no Brasil durante o período colonial, sob a direção artística dos missionários Jesuitas, resolvi instituir três prêmios, um de um conto e quinhentos, um de um conto de réis, e outro de quinhentos mil réis, para os projectos classificados respectivamente em 1º, 2º e 3º lugares pelo Instituto Brasileiro de Architectos em concurso publico numa das salas da Escola Nacional de Bellas Artes, por ocasião do Salão annual do ano corrente.

Tratando-se essencialmente da reconstituição de uma estylo architectonico com a representação de todos os característicos tradicionaes, desejo que os concurrentes ao referido certamen estejam estrictamente de accordo com as seguintes indicações:

Projecto de habitação domestica para arrabalde, constando de rez do chão e um pavimento superior, em terreno de 20 metros de frente por 50 de fundo. Orçamento: cem contos de réis.

a) - Todos os motivos architectonicos, quer decorativos, quer construtivos, deverão ser inspirados exclusivamente em modelos preexistentes no Brasil, atravez da architectura característica da epocha colonial.

b) - Todos esses motivos terão igualmente um tratamento architectonico tradicional (columnas galbadas, arco abatido das arcadas, açoutamento dos telhados, largura dos vãos, etc);

c) - Uso exclusivo da ordem toscana nas composições.

d) - Mão de obra (apparelho) igualmente de accordo com as praxes, tradicionais (enxilharia de granito, estuque, chãos, etc).

e) - Adaptação perfeita ás condições da vida moderna de accordo com as exigências das posturas municipaes.

f) - Os projetos approvados ficarão pertencendo á Sociedade Brasileira de Bellas Artes, que os venderá em leilão publico, nesta cidade trinta dias depois do encerramento do respectivo Salão, applicando como melhor lhe parecer a soma que tiverem alcançado, em favor do patrimônio da mesma Sociedade.

Deixando ao alvitre de V. S. a organisação e abertura da concurrencia, e bem assim o julgamento dos respectivos projectos executados de accordo com as indicações acima mencionadas, confio plenamente no êxito desse modesto certamen, do qual poderá resultar o favor publico por um assumpto de grande relevância para a arte brasileira.

Queira V. S. acceitar os protestos de alta consideração

doAmdr. Attº e Obgº

José Marianno Filho. (Revista de Architectura no Brasil, 1921, p. 38-39)

Os concursos promovidos por José Marianno e patrocinados pelo Instituto Brasileiro de Arquitetos foram importantes para o desenvolvimento da arquitetura carioca por engajar no campo arquitetônico novos nomes, que, mais tarde, se tornaram referências para a história da arquitetura brasileira, como Lucio Costa.

A década de 1920 foi caracterizada por esses concursos, que tinham como referência a arquitetura colonial. As diretrizes contidas na abertura dos concursos eram de que os candidatos devessem seguir parâmetros da arquitetura colonial, divulgados por José Marianno e, até aquele momento, acatados pelo Instituto Brasileiro de Arquitetos, como se vê a seguir no trecho publicado na Revista de Architectura no Brasil:

Como prova da sua efficiência tem o Instituto patrocinado cinco concursos de projetos de architectura entre os seus sócios, respectivamente, para o restaurante envidraçado do Passeio Público, duas portas monumentais para a Exposição Internacional, fonte monumental e, ultimamente um edifício em estylo colonial, aberto pelo Dr. José Marianno Filho. (Revista de Architectura no Brasil,1921, p. 38-39).

No Concurso de 1921 do Prêmio Heitor de Mello, os premiados foram: 1º Prêmio, F. Nerêo de Sampaio e Gabriel Fernandes; 2º Prêmio, Angelo Brunhs e J. Camargo; 3º Prêmio, Augusto de Vasconcellos. Os ônus pelos projetos premiados foram pagos por José Marianno Filho.

O Instituto Brasileiro de Arquitetos reconhecia a importância de José Marianno e a contribuição que vinha oferecendo na difusão da arquitetura carioca, tanto que a Revista de Architectura do Brasil proporcionou um almoço de agradecimento a José Marianno pela elaboração do Prêmio Heitor de Mello.

Realizou-se a 15 do corrente o almoço que o Instituto Brasileiro de Architectos offereceu ao Dr. José Marianno Filho, o benemérito instituidor do Premio Heitor de Mello. O patriótico esforço e o efficaz interesse que revelou o Sr. Dr. José Marianno Filho pela arte nacional, justifica realmente a homenagem que significa esse almoço organizado pela útil sociedade de architectura. (REVISTA DE ARCHITECTURA NO BRASIL, 1921, p. 44)

Durante o almoço, José Marianno foi homenageado pelos membros do Instituto Brasileiro de Arquitetos e, também, homenageado pelos dizeres discursados pelo 1º Secretário do Instituto, Sr. Henrique Vasconcelos, que exprimiu sua gratidão a José Marianno pela criação do Prêmio Heitor de Mello.

No texto “romântico” de Henrique Vasconcelos é transparente a consideração que o Instituto de Arquitetos Brasileiro exprime por José Marianno e como seus reflexões fizeram ressoar um novo cenário de análise, crítica e consolidação das artes e da arquitetura brasileira, o qualificando como sendo “Portador de um nome ilustre com uma bagagem vultuosa de relevantes serviços á Pátria. (REVISTA DE ARCHITECTURA NO BRASIL, 1921, p. 45).

Após o discurso de Henrique Vasconcelos, foi a vez de José Marianno discursar. Do seu discurso, nos ateremos a um trecho em que este último tece agradecimentos, pois expressa o pensamento de nosso personagem sobre o Neocolonial:

O neocolonial deve, e pode exprimir novas formas dentro do espírito que elle representa. Eu tenho para mim que uma grande parte do desfavor publico acerca do estylo colonial provem de grosseiros preconceitos fáceis de remover. Apresentar o neocolonial com a roupagem do século XX seria um anachronismo inexplicável. A língua vernácula do século XVII não é a mesma que se falava ou escrevia no começo do século XVII. (REVISTA DE ARCHITECTURA NO BRASIL, 1921, p. 45).

Marianno Filho, mesmo sendo um tradicionalista, tinha consciência de que o neocolonial não seria no século XX o que ele havia sido no século XVII, afinal, tinha uma clara percepção da diferença entre estes séculos: as necessidades eram outras, as diversas estruturas que meneavam o século XVII não eram as mesmas que agora se faziam necessárias ao século XX. Sendo assim, a sua proposta ao defender a arquitetura Neocolonial[8] era adaptar as referências coloniais para o século XX, delimitando, porém, aspectos que preservassem uma arquitetura “nacional, patriota”.

5.3. Cidade

José Marianno não se ateve apenas à discussão da arte e da arquitetura, mas também se debruçou sobre o estudo da cidade. Esta aproximação talvez seja fruto de sua formação em Medicina, já que, como autores como Françoise Choay colocam, a medicina foi um dos tripés para o nascimento do urbanismo (CHOAY, 2000). Assim, em seus escritos, se nota a sua preocupação com o urbanismo, com as estruturas de saneamento, com a saúde e a higienização e, também, com a arborização. Com certa ênfase, José Marianno discute a construção do Passeio Público e dos chafarizes de Mestre Valentim no Rio, explorando suas dimensões artísticas, mas, também, o que representaram para a cidade.

5.3.1. O Passeio Público

Ao analisar os escritos de José Marianno no que diz respeito à cidade do século XIX, observa-se um descontentamento que advém de um motivo: a interferência na estética da cidade, em virtude de referências formais a outros países.

José Marianno elencou uma série de construções que ocorreram no Rio de Janeiro, desde o início do século XIX, que desfiguraram as construções realizadas no século XVII e XVIII, antes revestidas do “nacional” e, agora, tomadas pelas referências francesas, norte-americanas ou nórdicas. Dentre elas, o Passeio Público, parque mandado construir por Dom Luis de Vasconcellos e Souza, no final do século XVIII, com composição do Mestre Valentim, mereceu atenção de José Marianno por ter sofrido interferências de referências estrangeiras.

O parque havia sido reformado em 1841, segundo José Marianno, mas, em 1862 houve uma nova reforma, delegada ao Tabelião Francisco José Fialho, pelo Imperador Dom Pedro II. Francisco José Fialho, que, por sua vez incumbiu o arquiteto francês Auguste Glaziou, em janeiro de 1861, de reformar o Passeio Público. O arquiteto francês já havia realizado, anteriormente, duas obras na cidade, sendo “contratado em Paris especialmente para delinear e arborizar os dois mais belos jardins da cidade: o do Campo de Sant’Ana, e o da Quinta da Bôa Vista.” (MARIANNO FILHO, 1942b, p.89)

Marianno aponta que a reforma que se finda em 1862 foi desastrosa, alterando completamente “o primitivo traçado geométrico imposto por Mestre Valentim”. (MARIANNO FILHO, 1942b, p.90) Para ele, essa alteração reduziu as referências nacionais para dar espaço a referências estrangeiras, alocando, no Parque do Passeio Público, ornamentos que vinham do além-mar e que descaracterizavam o estilo nacional.

De Paris vieram para embelesar o parque três estatuas alegóricas de ferro, fundidas por Barbezat, afora um pontilhão também de ferro, imitando galhos de arvores. Para maior conforto público, levantou-se ao lado esquerdo do parque amplo pavilhão de estrutura metálica, por traz do qual funcionava uma espécie de Buffet e cosinha... Mais para o lado direito quase no ângulo da Lapa, surgiu vistoso chalet com escadaria à vista destinado à habitação dos empregados do jardim. (MARIANNO FILHO, 1942b, p. 90-91)

José Marianno criticou a postura existente no século XIX de se abrir as portas às referências de ornamentos, sejam objetos ou árvores, plantas, palmeiras, ou construções, que vinham de outros países e se instalavam no Brasil. Os chalés, citados por José Marianno, construídos no Brasil, eram, aos seus olhos, uma referência suíça que dominaria o Brasil já no século XIX e adentraria, também, o século XX.

A respeito dos “ferros que imitavam galhos de árvores”, que compuseram o Passeio Público, foi observado por José Marianno que não só o Passeio Público fora revestido desses ornamentos; também diversos pontos e jardins da cidade foram ornamentados com elementos que imitavam pedras e árvores. Esse gênero foi criticado por José Marianno, pois além de não trazer uma leitura nacional, e sim, estrangeira, também desfigurava as características, de estilo nacional.

Listamos abaixo algumas explicações “mariannas” para essa “miscigenação” de culturas:

- Primeiro, a abertura dos portos em 1808 impôs mudanças na estrutura arquitetônica, em virtude da vinda da Família Real e da consequente alteração das janelas das casas, ou seja, um problema de “forma”.

- Segundo, também atrelado à abertura dos portos, o fato de o Brasil não estabelecer mais relações oficiais somente com Portugal, o que acarretou a entrada de franceses, ingleses, holandeses, italianos, espanhóis e alemães, que durante o século XIX e início do XX, ao se estabelecerem no Brasil, também trouxeram suas referências artístico-espaciais.

- Terceiro, a “febre de se copiar” o que era de fora.

- Quarto, a ida de muitos brasileiros para a Europa, com a finalidade de estudar, os fizeram voltar com referências europeias.

Esses fatores fizeram do século XIX, segundo José Marianno, um século de demolições das construções do século XVII e XVIII, para substituí-las por construções que tinham aspectos estrangeiros. Além disso, determinaram modificações em parques e jardins, através de construções de “cascatas artificiais", que imitavam pedras e árvores. Destarte, José Marianno denominará o século XIX como o século da arte de “fingir”, pois tudo era imitação, fingia representar algo. Para ele, essa postura não era nacional, mas estrangeira.

Os cascateiros franceses exímios fabricantes de cascatas artificiais (Campo de Santana) criaram o gênero de imitar árvores e pedras. Aliás, durante todo o século XIX a arte de fingir foi muito do agrado do povo. Havia fingidores de madeira, de mármore e sobretudo de pedra. Os oficiais fingidores, ao quais não se póde negar uma grande habilidade, imitavam a pedra sobre a própria pedra. Esse hábito foi ainda praticado no Rio de Janeiro no começo do século atual (MARIANNO FILHO, 1942b, p. 91)

José Marianno será enfático ao pontuar que o projeto realizado no Passeio Público pelas mãos de Glaziou teve caráter ornamental, de acordo com os moldes franceses, mas não era funcional, ao passo que o projeto inicial do parque, realizado por Mestre Valentim visava à comodidade do público. Entretanto, ele pondera que o que passou a importar no século XIX era a “mania brasileira de modernização”, que fez com que “o parque de Valentim, o primeiro que se construiu na América do Sul, perdesse suas características essenciais, em favor de novas concepções, não condicionadas aos fatores mesológicos da nação.” (MARIANNO FILHO, 1942b, p. 93).

Não foi o parque do Passeio Público o único projeto do Mestre Valentim a ser extirpado: outros realizados no século XVIII também foram arrasados, sobretudo os chafarizes públicos, que foram objeto de análise de José Marianno.

5.3.2. Os Chafarizes do Mestre Valentim

A defesa de José Marianno ao Mestre Valentim estava pautada na funcionalidade de seus projetos, que dizia respeito ao atendimento das necessidades da população. Dessa maneira, José Marianno afirma que os três chafarizes construídos por Valentim, no Rio de Janeiro, possuíam qualidades cívico-espaciais, posicionamento que pode ser observado na obra Os três chafarizes de Mestre Valentim, de 1943.

Nessa obra, Marianno remete aos três chafarizes públicos construídos no Rio de Janeiro, entre 1783 e 1789, pelo Vice Rei Dom Luis de Vasconcellos e Souza. Essas obras, segundo José Marianno, fizeram despontar o talento de Valentim da Fonseca e Silva como toreuta, mas, também foram cruciais e necessários para o abastecimento da cidade do Rio de Janeiro. Junto dessa função urbana, o autor analisa, ainda, os ornamentos dessas obras; não deixa de mencionar, porém, o descaso com relação a elas, no decorrer dos anos, e informa o destino dos chafarizes, bem como o caminho que tomou cada um de seus ornamentos.

O Chafariz das Marrecas, por exemplo, construído em 1785, foi funcional para a cidade carioca a fim de sanar problemas de abastecimento de água dos habitantes, pois, segundo Marianno, com a “formação dos núcleos primários de urbanização ao longo da costa”, o Vice Rei Dom Luis enfrentava dois problemas urbanísticos: primeiro, a “extensão da rede de abastecimento de água até a orla marítima”; segundo, “o aterro infecto do Boqueirão da Ajuda”.(MARIANNO FILHO, 1943c, p. 8) Esses problemas geravam a falta de água e também a falta de higiene na cidade, o que ocasionava muitos casos de doenças:

O povo temia as emanações deletárias dos pântanos, era corrente, entretida pela geral ignorância do povo, que as febres se originavam das emanações dos pântanos, ou das imundícias, não estavam os brasileiros muito longe daquilo que os italianos chamavam mal’aria. (MARIANNO FILHO, 1943c, p. 8)

A construção do chafariz nesse local foi salutar para atender a população das imediações e sanar esses problemas. O autor John Luccok, muito citado por José Marianno, abordou em seus estudos o Chafariz das Marrecas, supondo que a sua utilização era, sobretudo, para lavagem de roupa. O chafariz serviu à população por mais de um século, mas, a partir do momento em que surge a rede de água e esgoto no século XIX, ele perde sua funcionalidade e não há uma proposta de preservá-lo. Em 1896, o chafariz foi demolido, restando somente os ornamentos que o compunham, os quais acabaram por ser espalhados pela cidade.

As estátuas de Echo e Narciso levadas para o recinto do Jardim Botânico pelo diretor daquele Instituto, o botânico Barbosa Rodrigues. Dos patos que substituíram em 1888 as primitivas marrecas modeladas por Valentim, dois foram recolhidos ao Archivo Municipal do Rio de Janeiro. (MARIANNO FILHO, 1943c, p. 13)

O Chafariz da Praça do Carmo, por sua vez, construído em 1789, segundo José Marianno, era “ornamentado e exótico”, mas inadequado para servir à população, tanto que quebrou. O Chafariz das Saracuras, por fim, construído em 1795, era um projeto engenhoso, mas também foi demolido.

Destarte, José Marianno contempla o século XIX como sendo o século em que as obras realizadas no século XVII e XVIII foram extirpadas e deram lugar a algo novo, que surgia em virtude de uma série de fatores. Sendo assim, a “arte de fingir” e de “copiar o estrangeiro” atravessa o século XIX e invade o século XX. Similarmente, no século XX as “casas arejadas” de estilo “tradicional” que Marianno pregava, eram substituídas, precocemente, por novas construções. Essas novas construções, os arranha-céus, de acordo com Marianno, não eram funcionais e feriam a estética da cidade.

A cidade carioca aumentava consideravelmente e a construção de “arranha-ceos” (como grafava José Marianno) fazia com que uma gama de pessoas pudesse residir em uma “caixa d’água” (termo muito utilizado por José Marianno para descrever os prédios com aspectos quadrados ou retangulares, que surgiram no século XX), utilizando poucos metros quadrados de construção, fazendo aumentar a população da cidade, o tráfego nas ruas, o crescimento também considerável dos bairros pobres, sem que houvesse um projeto urbanístico que pudesse controlar esse crescimento:

A estética da cidade continuou a mercê da incapacidade jactanciosa dos falsos arquitetos. Ao atravessar as novas avenidas da cidade, o arquiteto francês Bouvard exclamou desolado: ‘Cést bien dommage, Mais vous n’avez pas d’architects’... A proporção que a cidade aumenta em todas as direções, medidas deveriam ser tomadas, no sentido de fixar a orientação das ruas, a sua largura, e bem assim a extensão dos lotes, para que se não repitam os inconvenientes observados nos bairros pobres que nasceram ao léo dos interesses particulares. A arquitetura dos bairros pobres é frágil, realizada com materiais improvisados, sendo por isso de duração efêmera. (MARIANNO FILHO, 1943c, p. 11)

Devido a esse crescimento desenfreado, surgiram problemas sérios, que José Marianno classificou como os três flagelos da cidade: “Três graves questões (uma das quais poderia ser resolvida num ano) possui a cidade no terreno no urbanismo; as inundações, a reflorestação dos morros, e o aproveitamento industrial do lixo.” (MARIANNO FILHO, 1943c, p.11). José Marianno faz um levantamento sobre os problemas das favelas no Rio de Janeiro e propôs soluções de substituição e transferência de famílias dessas casas para outras melhores, propondo que fossem semelhantes às casas sulistas, em virtude dos baixos recursos dessa massa. O autor deixa claro sua preocupação com a estética do Rio, mas, como médico por formação, também acentua a sua preocupação social, no que tange as doenças que habitações como as das favelas podiam causar.

6. Considerações Finais

A análise das obras de José Marianno Filho permitiu entender que a contribuição do autor foi maior do que a que costumeiramente se atribui, dentro da historiografia. Considerado “apenas” um diletante das artes e um dos pioneiros do movimento Neocolonial, sua ação como articulista de jornais, escritor e palestrante que teve “algumas” obras publicadas permanece vigente no meio acadêmico. Este artigo procurou elucidar quais foram as teses lançadas por José Marianno que ajudaram a criar uma certa ideia das artes, da cidade e da arquitetura, sobretudo do Rio de Janeiro, nos séculos estudados. Dessa forma, o debate proposto pelo próprio autor o coloca como uma importante referência para o campo da historiografia da arquitetura brasileira, estabelecendo um debate com os demais autores do período em que viveu.

Através das publicações de José Marianno, foi possível entender o debate proposto no período em questão e, também, a sua apreciação sobre o século XIX, pois os fatores que estavam amalgamados nesse século, que provocaram as modificações na arquitetura “tradicional”, em virtude dos vieses estrangeiros, foram também basilares para que a arquitetura caminhasse para o Modernismo, rechaçado por José Marianno.

Assim sendo, o levantamento das obras de José Marianno nos ofereceu um cabedal de materiais necessários para explorar melhor a sua importância no cerne da arte, da arquitetura e da cidade e a relação das referências europeias, sobretudo as referências de Portugal na arte e arquitetura do Brasil. Em suma, nos proporcionou um conhecimento mais amplo de José Marianno Carneiro da Cunha Filho como ator social no campo da arte, da arquitetura e da cidade. Nos permitiu, ainda, abarcar outras questões basilares para compreender a relevância do debate proposto por José Marianno nessa tríade, pois pode-se observar que o personagem em questão também foi lido e estudado por outros autores. Assim sendo, cremos que a junção de suas obras, como feita neste artigo, permite que os escritos de José Marianno se tornem fontes para uma melhor compreensão do Neocolonial, abrindo um novo campo de discussão: como se deu a recepção de suas publicações, isto é, quem leu suas obras e quem citou suas obras?

Esse novo campo de discussão, mais profundo, norteará a melhor compreensão do que o nome José Marianno Filho representou para a história da arquitetura brasileira e será objeto de nossos estudos futuros.

7. Referências Bibliográficas

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[1] Disponível em: <http://www.jobim.org/lucio/handle/2010.3/1689?show=full>. Acessado em 1 abr. 2011.

[2] José Marianno Filho se debruçou sobre o estudo das obras do toreuta Antonio Francisco Lisboa (Aleijadinho). A concepção do livro A Estatuária do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos de Congonhas do Campo se deu entre os anos de 1942-1945, porém ele foi publicado somente em setembro de 1946, posteriormente à sua morte. Nessa obras, José Marianno Filho elencou uma série de estudiosos do início do século XX que também se debruçaram nas análises das estátuas executadas pelo Aleijadinho e apontou algumas falhas em suas observações.

[3] Foi citado no artigo a possibilidade de existir uma publicação em 1910, porém durante a pesquisa não foi encontrada essa publicação; sendo assim, a primeira publicação que se tem confirmação data de 1911.

[4] A autora Maria Lúcia Bressan Pinheiro, em seu artigo A História da Arquitetura Brasileira e a Preservação do Patrimônio Cultural, elucida a interpretação de José Marianno acerca da representação do Brasil nas obras de Debret e menciona a percepção de uma arquitetura de “fundo essencialmente romano”, presente nas aquarelas de Debret, isto é, o fato de que a arquitetura brasileira possuía referências da “arquitetura rústica italiana”.

[5] O artigo Urdiduras Continentais no debate acerca do Mission Style. Notas sobre o Pan-Americanismo na Arquitetura Neocolonial de Fernando Atique, professor da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), aborda essa questão presente no século XIX, e mostra como José Marianno interpretou que a formação da Academia Imperial de Belas Artes, nos Oitocentos, foi a responsável pela introdução e disseminação de referências de uma arquitetura europeia, reduzindo a abrangência de uma ‘arquitetura tradicional brasileira” na paisagem local.

[6] Retratado por José Marianno Filho (MARIANO FILHO, 1943, p. 16-17) e por Paulo F. Santos (SANTOS, 1981, p.39-40). A influência da vinda da Família Real nos estilos arquitetônicos foi de grande e será melhor abordada mais a frente nesse artigo.

[7] José Marianno aponta como, no século XVI, sem possibilidade de se fazer construções no Brasil exatamente como as europeias, os portugueses se viram na necessidade de adota alternativas de adaptação: “Não podendo o povo em virtude das condições precárias de sua existência aventurosa, recorrer à experiência ancestral portuguesa, conformou-se desde o primeiro momento com a realidade brasileira, adotando sem hesitação a experiência ameríndia para a solução do problema arquitetônico de emergência... o sentimento luso, no que respeita à arquitetura, ficou longo tempo radicado aos núcleos primários de urbanização da costa. É através desses núcleos que se processa depois de modo lento, a transformação morfológica da 'tejupaba', ameríndia de esqueleto vegetal entejucado, para habitação doméstica, expressado por técnica lithica ou de barro socado”. (MARIANO FILHO, 1943b, p. 12)

[8] José Marianno não era favorável a nomenclatura “Neocolonial”, mas sim um defensor de “estilo de arquitetura tradicional”. A esse respeito, ver ATIQUE, op. cit., 2010.