Helios
Seelinger, um pintor “salteado”
Arthur Valle
VALLE, Arthur. Helios Seelinger, um
pintor “salteado”. 19&20, Rio de
Janeiro, v. I, n. 1, mai. 2006. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/artistas/artistas_hs.htm>.
*
* *
1.
Laços
estreitos ligaram o pintor brasileiro Helios
Aristides Seelinger (Rio de Janeiro, 1878 - idem, 1965) à Escola
Nacional de Belas Artes (ENBA). Poder-se-ia lembrar aqui, nesse sentido, dos
primórdios de sua formação artística como aluno dessa instituição, ainda na
década de 1890, onde teve como mestres os irmãos Rodolpho
e Henrique
Bernardelli; da sua presença assídua e destacada nas Exposições Gerais de
Belas Artes, sem dúvida o maior certame artístico brasileiro da primeira metade
do século passado; ou da sua nomeação, na década de 1930, como funcionário do
Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro (MNBA), na qualidade de “pintor
artístico”. O historiador de arte José Roberto Teixeira Leite, que conheceu
Seelinger quase no final da vida, teria sido testemunha da relação que este
último preservava com o Museu, ainda então filiado à ENBA:
2.
Ele assinava o ponto quase diariamente no Museu
Nacional de Belas Artes [...] Chegava todas as manhãs e,
invariavelmente, se deixava ficar sentado num dos bancos da portaria, o queixo
enterrado nas mãos e apoiado à inseparável bengala. [...] Em tempos de
salão, agitava-se brigava, conspirava; sentia-se uma espécie de sócio
proprietário, quer do museu, quer especialmente do Salão, no qual recebera o
Prêmio de Viagem ao Estrangeiro havia mais de 60 anos, e ao qual permaneceria
fiel até morrer, em 1965, após ter nele conquistado, um a um, todos os lauréis
e distinções a que um expositor pode aspirar no Brasil.[1]
3.
Todavia,
simultaneamente, Seelinger estava longe de ser simplesmente um aluno “típico”
da ENBA -se é que isso pode ser definido... Desde o momento em que começou a se
destacar na cena artística carioca, ainda nos primeiros anos do século XX, se
tornou patente que a sua obra - tanto temática, quanto formalmente - possuía um
caráter singular, que se afastava do que era então produzido por boa parte dos
seus companheiros de geração. “Quando perguntavam a Helios Seelinger a que
Escola ele pertencia, a resposta era em si uma definição, não da sua pintura,
mas da sua personalidade descompromissada com os múltiplos movimentos pelos
quais passou sem estacionar”, afirmava Pereira da Silva, no catálogo de uma
retrospectiva da obra do pintor, realizada no MNBA no final dos anos 1970: “Sou
salteado”, respondia Seelinger.[2]
4.
Para
se compreender o caráter “salteado” da produção de Seelinger, que se exprimia
também na diversidade de suas atividades profissionais e na sua vida algo
nômade, é importante lembrar que a complementação de sua formação artística
feita na Europa foi algo diversa do que era usual entre os mais conhecidos
artistas brasileiros surgidos na 1ª República, uma vez que ela se deu
sucessivamente em dois centros artísticos distintos - Munique e Paris -,
sendo que a experiência alemã, realizada ainda nos anos finais do século XIX,
foi decisiva para a configuração de seu estilo peculiar.
5.
Analisar
alguns aspectos dessa formação híbrida, bem como da sua relação com os campos
artísticos brasileiros das primeiras décadas do século passado, é o principal
objetivo que aqui me proponho. Simultaneamente, procurarei pontuar tal análise
com algumas anedotas da vida de Seelinger. Assim procedendo, me inspiro na
tradição de notícias biográficas a respeito dos artistas brasileiros da
passagem do século XIX para o XX, que possui alguns ilustres antecedentes em
publicações como os Arquivos da Escola de Belas Artes,[3]
para o qual esse trabalho foi primeiramente pensado.[3b]
6.
Helios
Aristides Seelinger nasceu em 4 de agosto de 1878 na Rua da Vala (hoje Rua
Uruguaiana), no antigo Distrito Federal. Pelo lado paterno, era descendente de
alemães que aqui teriam se estabelecido na década de 1860. Em uma entrevista
dada a Angyone Costa, publicada em 1927 no célebre A
Inquietação das Abelhas, o próprio Seelinger afirmava que seu avô,
jornalista de oposição na Alemanha, teria sido obrigado a se exilar por razões
políticas,[4] trazendo para o Brasil seus três filhos:
Elisa, Alfred e Herman. Este último aproveitou seus conhecimentos da profissão
de farmacêutico para estabelecer-se comercialmente, casando-se depois com a
brasileira descendente de franceses e gregos Carolina Caulliraux. Foi dessa
união que nasceram Helios e sua irmã Emma.
7.
Ainda
muito jovem, o futuro artista sofreu a perda consecutiva de seus pais, de seu
avô e de seu tio. Em consequência de tais fatos, ele e a irmã passaram à tutela
de sua tia Elisa que, segundo o próprio Seelinger, seria uma mulher de grande
erudição para os padrões da época, professora de um colégio inglês e que, de
imediato, tomou para si a responsabilidade pela formação das crianças. No
entanto, levar a bom termo a educação do pequeno Helios parece não ter sido uma
tarefa das mais facéis: os relatos de que disponho descrevem-no como
extremamente indisciplinado e irrequieto. Segundo as suas próprias palavras,
Seelinger manifestava mesmo na infância um interesse precoce pela vida da
boêmia carioca fin-de-siècle,[5] que ficaria mais tarde indissoluvelmente
associada à imagem pública construída pelo próprio pintor e pelas descrições a
seu respeito, presentes na obra de seus amigos literatos, em especial nas de
Luís Edmundo.[6]
8.
Também
os talentos artísticos de Seelinger teriam se revelado precocemente: ao menos é
o que afirma Jerônimo Emílio Seelinger Fleury, sobrinho do pintor, segundo o
qual uma das peraltices preferidas de Helios era rabiscar os muros da
vizinhança. Certa vez, ainda segundo Seelinger Fleury, um açougueiro português,
amigo da família, teria chamado sua tia Elisa para ver o “estrago” que o menino
havia feito na parede de seu estabelecimento comercial:
9.
“Minha senhora,
faça-me o favor; venha ver o que seu diabrado sobrinho me fez hoje!” Lá estava,
na brancura do cal do muro de sua casa comercial rabiscados à carvão inúmeras
garatujas desenhadas ainda com ingenuidade: era o diabo com seu tridente e
chifres, e um cortejo de figuras exóticas, enchendo toda a parede com criações
bizarras. [...] E virando-se para a tia Elisa, repetia grotesco o português: “o
rapaz é endiabrado, minha senhora, impossível de se aturar... mas tem jeito,
minha senhora, tem a veia da arte, tem a bossa... porque a senhora não o
matricula na Academia de Artes?”[7]
10.
Verdadeira
ou não a anedota - que recorda outras tantas contadas sobre pintores
estrangeiros ou brasileiros, de Giotto até Pedro Américo -, o fato é que a
erudição e as próprias relações da família de Seelinger favoreciam que tal
intento fosse levado a cabo. Alfred Seelinger, o referido tio de Helios, então
já falecido, teria cursado a Academia Imperial de Belas Artes (AIBA) e se
tornado um cartunista de nomeada nas décadas finais do século XIX. Durante sua
permanência na AIBA, Alfred teria também travado conhecimento com alguns dos
principais artistas do período e se tornado amigo dos irmãos Bernardelli. Foi a
estes que a tia Elisa encaminhou Helios para a sua iniciação formal nas artes
plásticas.
11.
Eram
os anos iniciais da década de 1890 e o ensino artístico carioca ainda sofria os
efeitos da crise que atravessara durante os anos finais do período monárquico e
que culminara com uma ampla reforma da instituição, renomeada em 1890 Escola
Nacional de Belas Artes.[8] No acervo do Museu Dom João VI da
EBA/UFRJ, existem alguns documentos que comprovam a passagem de Helios pela
ENBA, como um parecer da comissão julgadora dos concursos e provas do ano de
1891 - assinado por Henrique Bernardelli, Rodolpho Amoêdo
e Modesto
Brocos y Gómez -, no qual o nome de Seelinger - que teria então apenas 13
anos - aparece como o primeiro na lista de alunos matriculados, “dignos de
louvor”, da Aula de Desenho Figurado, o que é indicativo de um aproveitamento
destacado.[9] Uma outra notação, datada de 14 de março
de 1892, indica que Seelinger solicitou então a inscrição como aluno livre da
Escola.[10]
12.
Simultaneamente,
ele frequentava o ateliê que os irmãos Bernardelli mantinham à Rua da Relação,
no Rio de Janeiro. Estes teriam percebido, de imediato, o talento de Seelinger
e a sua facilidade para absorver os fundamentos acadêmicos do desenho e da
pintura. Teriam percebido, simultaneamente, o seu caráter dispersivo e a sua
pouca assiduidade aos estudos, bem como a atração que os círculos boêmios
cariocas sobre ele exerciam. Aos Bernardelli pareceu que uma temporada de
estudos na Europa ajudaria a incutir em Seelinger uma maior disciplina.
13.
Uma
oportunidade se apresentou quando o pintor José Fiúza Guimarães ganhou, em 1895, o Prêmio de Viagem à
Europa oferecido pela ENBA aos seus alunos regularmente inscritos, e foi
designado como pensionista para a cidade alemã de Munique, a fim de
complementar seus estudos. A ideia de que Seelinger o acompanhasse parecia
adequada, não só pela familiaridade desse último com a cultura teutônica, mas,
principalmente, porque em sua produção pictórica já se insinuavam os primeiros
indícios daquela veia mística e imaginativa que viria a caracterizar seus
trabalhos futuros e que, nos países de língua alemã, como bem sabiam os
Bernardelli, encontrava naquele final de século XIX um dos seus mais férteis
campos de expansão.
14.
Vale
a pena abrir aqui um parênteses e destacar esta ainda insuficientemente
estudada relação da ENBA com a arte dos países de língua alemã, verificável
especialmente na primeira década da 1ª República.[11]
Em meados da década de 1890, além de Fiúza Guimarães, um outro pensionista, Antonio de Souza Vianna,
-aparentemente muito talentoso e hoje quase esquecido, devido em parte à sua
morte precoce, foi designado expressamente para realizar sua temporada de
estudos em Munique.[11b] Antes deles, já Pedro
Weingärtner, um dos primeiros professores de Desenho Figurado da ENBA,
havia estagiado em várais cidades alemãs, e é provável que o interesse renovado
pela arte dos países de língua alemã tenha sido intermediado ainda pela
significativa atuação na Itália - outro pólo de atração para os brasileiros
durante a 1ª República - de artistas como o suíço Arnold Böcklin e os alemães
Anselm Feuerbach, Hans Thoma, entre outros.[12]
Em Munique, os brasileiros normalmente frequentavam ateliês livres, como escola
do esloveno Anton Ažbè, e a Akademie der Bildenden Künste (Academia de
Belas Artes) de Munique, instituição cujos métodos pedagógicos eram afins aos
da ENBA. A influência da arte dos países de língua alemã pode ser percebida,
por exemplo, no caráter peculiar de algumas obras realizadas por Fiúza
Guimarães em Munique, no desejo expresso por Souza Vianna de copiar o quadro de
Böcklin Das Wellen Spiel,[13] mas principalmente na obra de Seelinger,
como abaixo veremos.
15.
Subvencionado
por sua tia Elisa, Seelinger partiu para a Alemanha em 1896. A mudança de ares
parece ter realmente exercido um efeito positivo sobre seu temperamento e,
transplantado para o novo ambiente, seu entusiasmo pelas artes teria crescido.
Para isso foi decisivo o contato com a obra de um do principais professores da
acima citada Academia de Munique, o pintor, artista gráfico e escultor Franz
von Stuck, um dos fundadores, em 1892, da Sezession de Munique, e cujos
trabalhos, que possuem afinidades com os de Böcklin, possuíam clara afinidade
com as chamadas tendências simbolistas, muito em voga na Europa de então. A
influência de Stuck sobre Seelinger foi enorme. A respeito disso e da sua visão
da arte alemã de então, o pintor declarou a Angyone Costa:
16.
De Stuck recebi a influência pantheista que é fácil
descobrir nos meus trabalhos. O mysticismo, revelado nos meus estudos de
“atelier”, desenvolveu-se fortemente ao influxo do idealismo alemão. [...] A arte
alemã obriga á reflexão, á pesquisa, não philosophica, mas poetica, na procura
do lado ideal das coisas. Esta maneira empresta á arte germânica o caracter um
tanto nebuloso e confuso, de que a minha pintura tem sido accusada.[14]
17.
Seelinger
incorporou aspectos da estética de Stuck a sua própria e seus trabalhos logo
ganharam um cunho fortemente alegórico, povoando-se de figuras do folclore
alemão e da mitologia helênica - faunos, centauros, ondinas, bacantes. É
importante frisar, porém, que, nesses termos temáticos, Seelinger de forma
alguma se limitou a copiar o mestre. Logo ele fez figurar em seu trabalho toda
uma iconografia brasileira que se afinizava com o espírito panteísta que tinha
desenvolvido. Surgiram então os seus quadros abordando as lendas indígenas
brasileiras, certas manifestações culturais populares brasileiras, como o
carnaval e a “macumba”... temas que ele explorou até o final da vida, quase com
exclusividade entre nossos artistas.
18.
Algo
do caráter singular do trabalho de Seelinger, ao qual já me referi no começo do
artigo, pode ser percebido mesmo em suas academias, estudos de figura
humana nua, realizadas no período da estadia alemã. O Museu Dom João VI da
EBA/UFRJ guarda um conjunto desses desenhos.[15]
Comparando algumas dessas academias [Figura 1][16]
com os trabalhos análogos realizados pelos pensionistas brasileiros
estabelecidos em Paris à mesma época, parece possível generalizar certas
peculiaridades. Em primeiro lugar há o caráter patético da pose na primeira
delas, traço via de regra evitado nas academias francesas, que muito lembra
algumas figuras que o célebre pintor austríaco Gustav Klimt pintaria, alguns
anos depois, nas suas discutidas decorações para a Universidade de Viena.
Observa-se igualmente a predominância dos valores tonais escuros e uma
predileção pelos contrastes bruscos de claro-escuro o que muito contribui para
o aspecto “carregado” das obras. Por fim, se comparados aos trabalhos repletos
de sutilezas tonais que usualmente eram realizados pelos brasileiros nos
ateliês franceses, as academias de Seelinger possuem uma execução mais
franca e sintética.[17] Mais à frente, tentarei demonstrar que
tais diferenças parecem se fundamentar, ao menos em parte, em diferenças
existentes entre o ensino artístico dispensado em Munique e aquele que podia
ser encontrado na capital francesa.
19.
Em
1901, Helios estava de volta ao Brasil; no ano seguinte, ele estreou na Exposição
Geral de Belas Artes com seis trabalhos, obtendo uma Menção Honrosa. Ainda em
1902, realizou na sede da revista O Malho, localizada à Rua do Ouvidor,
a sua primeira exposição individual, na qual figurava uma boa parte da produção
realizada na Alemanha. Apesar do aspecto presumivelmente inusitado dos
trabalhos ali presentes, tal exposição parece ter sido bem aceita pelo público
em geral: “Com surpresa, agradasse ou não, vendi tudo,”[18]
o próprio artista afirmor, em retrospecto. Em uma crítica publicada no Jornal
do Commércio,[19] Carlos Américo do Santos apontava com precisão as fontes
das “coisas symbolicas” de Seelinger - “sente-se em seus trabalhos a influência
dos neo-idealistas alemães Bocklin, Hans Thoma, Klinger e mais talvez de Stuck”
- o que indicava o quanto o meio artístico carioca se encontrava a par da arte
alemã contemporânea. E, embora observasse que a arte de Seelinger talvez nunca
viesse a se tornar popular, por ser demasiado pessoal e subjetiva, Santos
aprovava com entusiasmo a “faculdade imaginativa” do pintor e até a “nota
sombria, talvez mesmo algo satânica” presente em alguns de seus trabalhos. Seus
únicos senões dirigiam-se aquele aspecto demasiado franco da fatura do pintor,
ao qual acima me referi: “os seus trabalhos impressionam mais como esboços para
ser pintados em grande, o que também enfraquece a atenção do circunstante na
apreciação do trabalho”.[20]
20.
Em
1903, Seelinger voltaria a se apresentar na Exposição Geral, dessa vez com dois
trabalhos, Remorso e Boemia [Figura 2].[21]
Este último apresenta, grosso modo, características semelhantes àquelas
que discuti com relação às suas academias do período de Munique, e mostra uma
reunião noturna, presidida pela figura alegórica da própria Boemia, na
qual figuram alguns dos mais destacados artistas e intelectuais cariocas do
início do século passado: Luiz Edmundo, Gonzaga
Duque, João do Rio, Lucílio de Albuquerque, entre outros.[22]
Com Boemia, Seelinger ganhou o importante Prêmio de Viagem à Europa, o
mais cobiçado do certame.
21.
Desta
vez, porém, teria sido aconselhado a ir para a França: “Bernardelli dissera-me,
naquelle momento, que, para o Brasil, a arte allemã era de difficil
comprehensão e, por isso, julgava mais útil que eu me transportasse a Paris”.[23]
Estudiosos como Quirino
Campofiorito e Gonçalves Neto[24] quiseram ver nesse conselho uma manobra
reacionária e algo ardilosa, visando manter o status quo da arte
brasileira através da neutralização do caráter desviante que se acusava na obra
de Seelinger. Creio, porém, que, muito provavelmente, as motivações por trás de
tal conselho tinham uma natureza mais pragmática, como à frente procurarei
demonstrar. Seja como for, Seelinger aceitou tal conselho e partiu logo em
seguida para a França, onde uma nova etapa de sua visa artística se iniciaria.
22.
Essa
segunda estadia de Seelinger na Europa foi algo diferente da primeira. Por um
lado, o próprio ambiente artístico da dita “Cidade-Luz” parecia ao pintor em
franco contraste com aquele que ele conhecera em Munique, onde a classe
artística e a burguesia se confundiam na rotina do dia a dia. Em Paris, em
bairros como Montparnasse, o convívio de Seelinger com o ruído, a agitação, e
os tipos estudadamente extravagantes dos artistas fizeram nele recrudescer a
inclinação boêmia, bem como lhe deram a sensação de se encontrar no “centro”
fervilhante da cultura ocidental. Tanto assim que, mesmo após o fim de sua
pensão de dois anos, pareceu-lhe que ali deveria permanecer: “fui, por muito
tempo, um itinerante em meu paiz, produzindo na França, vendendo no Rio, para
gastar em Paris”.[25] Seelinger manteria essa rotina de
peregrinações, com passagens por outras capitais europeias - Lisboa, Londres,
Bruxelas - e estadias mais ou menos prolongadas no Brasil, até às vésperas da
1ª Guerra Mundial, quando só então viria aqui se estabelecer definitivamente.
23.
Em
Paris, a orientação estética nos círculos de arte que Seelinger conheceu tinha
também muitas diferenças com relação à Munique. Inicialmente, ele frequentou as
aulas de Jean-Paul Laurens, pintor célebre por suas tentativas de renovação do
tradicional gênero da pintura histórica e responsável por importantes
decorações de prédios públicos franceses, como, por exemplo, o Panthéon
de Paris. Algumas declarações do próprio pintor brasileiro indicam como ele
concebia as mudanças que se processaram em sua obra e deixam transparecer,
simultaneamente, a sua concepção da arte francesa oficial:
24.
[Em Paris] Perdi muito da minha maneira,
apprendendo a fazer o bem acabado, o perfeito, que é tudo quanto em arte está
produzindo o gênio francez. Os artistas francezes atingiram a um afinamento tão
grande que, hoje, o único esforço realizado por elles visa, exclusivamente,
obter o máximo de correcção. Já não cream, melhoram, apenas, o que já crearam.[26]
25.
O
contraste que Seelinger percebia entre a formação que tivera em Munique e
aquela usual em Paris parece tomar contornos ainda mais nítidos quando se
analisa algumas passagens de seus manuscritos, no qual ele descreve a
experiência que teve, por volta de 1907, como assistente do então já célebre
pintor brasileiro Eliseu d’Angelo Visconti, que também se encontrava em Paris
às voltas com a execução do primeiro ciclo de pinturas decorativas para o
Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Apesar do respeito pelo mestre mais velho,
Seelinger não podia deixar de constatar as diferenças existentes entre o seu
modo de trabalhar e o de Visconti:
26.
Eu não me conformava como a meticulosidade do
Visconti. A quadrícula, as medições, compassos, prumos, etc. Na Alemanha,
aprendi a desenhar com a medida do olho. Treinava-se à mão livre. Visconti
aprendeu na Escola Francesa da medida da quadrícula. Para mostrar a minha habilidade,
desenhei a olho as grandes figuras do plafond central. Dança das Horas [Figura 3].“Espantoso”, disse ele. “É rápido, expressivo o
traço”.[27]
27.
E,
em outra passagem, Seelinger dá novo testemunho do caráter franco de sua
maneira de pintar, derivada da formação em Munique:
28.
Esbocei os grandes painéis, com pinceladas largas,
correndo a brocha, esfregando de um lado a outro, tinta, e muita, dando relevo
e forma em larga escala, como tinha aprendido em Munique, onde também ajudei
vários artistas.[28]
29.
As
palavras de Seelinger parecem apontar para uma diferença significativa entre o
seu próprio fazer pictórico e o de Visconti. Se generalizada, essa diferença
seria o sintoma de outra mais ampla, a existente entre duas estéticas nacionais
de caráter distinto - a alemã e a francesa - que se expressavam não só em
predileções temáticas particulares, mas, também, em processos contrastantes de
confecção das obras - um mais livre e intuitivo, outro mais calculado e
planejado. Se obviamente hoje não seria prudente tomar tal asserção de uma
maneira categórica, uma diferença de caráter entre as “escolas” alemã e
francesa parecia de fato se manifestar aos olhos dos contemporâneos de
Seelinger. Nesse sentido, o conselho partido de Bernardelli para que Seelinger
se dirigisse a Paris após a obtenção do Prêmio de Viagem, acima referido,
provavelmente visava fazer com que o pintor ampliasse o seu leque estético e se
tornasse capaz de uma adaptação mais versátil às exigências do campo artístico
carioca, com sua inclinação abertamente francófila. O contato de Seelinger com
Visconti parece ter corroborado ainda mais a necessidade de uma adaptação
estilística ao “gosto francês”: um exemplo pode ser notado na absorção que
Helios fez dos procedimentos divisionistas, que, a partir de então, podem ser
verificados em diversos de seus quadros e que implicam um método de execução
pictórica bem menos direto do que aquele que até então ele parece ter
usualmente empregado.
30.
Todavia,
fazer a experiência francesa não implicaria a neutralização dos aspectos
particulares da estética de Seelinger. Sua pintura concomitante à estadia em
Paris é uma prova disso, como dá testemunho a provavelmente mais famosa crítica
a respeito da obra do pintor, escrita por Gonzaga Duque em 1908, na ocasião de
uma exposição individual realizada no Museu Comercial.[29]
Nela, com seu verbalismo peculiar, o crítico amigo de Helios indica claramente
a permanência daquela orientação alegórica e fantástica da arte de Seelinger,
cujas raízes profundas encontram-se no seu aprendizado alemão. E, quando indica
os mestres de língua francesa que segundo sua opinião teriam afinidades com o
pintor brasileiro (Félicien Rops, Théophile-Alexandre Steinlen, Jean-Louis
Forain), Gonzaga Duque parece fazê-lo mais para frisar uma certa inclinação
gráfica presente desde sempre na obra de Seelinger, bem como a sua veia de caricaturista,
que iria, com o tempo, se afirmar mais e mais dentro da sua própria obra
pictórica.[30] A formação parisiense, portanto, não
anulou as inclinações anteriores de Seelinger, mas sim a elas se somou, gerando
aquele hibridismo que confere a sua obra seu caráter todo particular.
31.
Com
a manutenção de sua excentricidade, não é de se estranhar que Seelinger não
tenha obtido grande apoio das instâncias oficiais, no que se refere à sua
carreira profissional. Ele nunca se estabeleceu como professor da ENBA -
provavelmente, também por desejo próprio - e, ao contrário de seus
contemporâneos como Lucílio de Albuquerque, os irmãos Rodolfo
e Carlos
Chambelland ou os irmãos Arthur
e João
Thimóteo, recebeu poucas encomendas de pinturas decorativas por parte do
estado fluminense. No caso específico das pinturas decorativas, a obra de maior
vulto de Seelinger localizada no Rio de Janeiro parece mesmo ter sido aquela
realizada, entre 1910 e 1911, para o Salão Nobre do Clube Naval e que, apesar
de sua natureza pública, não deixa de apresentar as idiossincrasias estéticas
do pintor. Em termos iconográficos, tal ciclo de pinturas, que ainda permanece
obscuro em diversos aspectos, possui um caráter peculiar no qual história e
mitologia se justapõem, sem realmente se misturar. O conjunto é dividido em
três faixas distintas: a central [Figura 4a], composta de oito quadros, apresenta uma
espécie de evolução das embarcações luso-brasileiras, desde as caravelas até os
modernos encouraçados; à esta faixa central, mais prosaica, se opõem
tematicamente tanto a superior [Figura 4b], na qual figuram divindades celestes,
quanto a faixa inferior [Figura 4c], que ladeia as duas portas principais do
salão, e onde, com uma maneira mais jocosa, são representados no fundo de mar
os tritões e sereias tão comuns na obra de Seelinger. Uma outra característica
do ciclo, que parece bastante indicativa da personalidade do pintor, é a sua
própria execução em termos técnicos, o fato dele não ter sido realizado pelo
método do marouflage,[31] então quase uma regra entre os pintores
brasileiros quando se tratava de pinturas decorativas; Seelinger optou por
realizar as pinturas diretamente sobre as próprias paredes do salão, fazendo
eco àquela descrição de sua técnica franca, que mais acima transcrevemos.
32.
Uma
carreira um tanto às margens das instâncias oficiais parece ter impelido
Seelinger a tirar proveito das outras estratégias disponíveis no campo
artístico brasileiro de seu tempo, afim de se manter como pintor. Uma destas
estratégias foi um investimento intenso em exposições individuais: no já citado
documento redigido por seu sobrinho Jerônimo Emílio, encontram-se listadas,
entre o período de 1908 a 1917, nada menos do que onze exposições individuais
de Seelinger. Tal número, possivelmente incompleto, aponta para alguns fatos
interessantes. Em primeiro lugar, é um indicativo de que as exposições
individuais tiveram a frequência significativamente aumentada desde as suas
primeiras manifestações em nosso meio artístico ainda na década de 1880, e
tinham então se convertido numa alternativa viável aos salões coletivos
oficiais, como a Exposição Geral, que, por muito tempo, haviam sido a principal
maneira de um artista projetar seu nome de uma maneira mais ampla; em segundo
lugar, é significativo o fato de que mais da metade dessas exposições
individuais de Seelinger tenha se realizado em São Paulo e em Porto Alegre, o
que indica a consolidação de novos centros artísticos para além do Distrito
Federal, bem como a necessidade que os pintores cariocas tinham de cultivar
esses mercados potenciais, fato que as práticas semelhantes de outros
companheiros de geração de Helios, como Guttmann Bicho,
parece corroborar.
33.
Uma
outra estratégia de projeção profissional praticada por Seelinger foi a criação
de associações artísticas independentes: tais associações também visavam
ampliar o leque de ação dos artistas nacionais para além das instâncias oficiais
e não deixaram de ser significativas em um campo artístico que, ainda que
lentamente, caminhava para a descentralização. Nesse sentido, é um fato
notório, embora até hoje ainda não estudado com a atenção devida, o
envolvimento estreito que o pintor teve com os chamados Modernistas paulistas,
nos anos imediatamente anteriores à Semana de Arte Moderna de 1922. Segundo
Pereira da Silva, Menotti del Pichia teria adotado o pseudônimo Helios,
com o qual assinava suas críticas, justamente em homenagem ao artista carioca[32]
e Teixeira Leite chega mesmo a afirmar que Seelinger teria sido o verdadeiro
“descobridor” de Victor Brecheret.[33] Tudo isso parece indicar que, apesar de
não ter exposto na Semana, Seelinger teve um papel destacado na sua formatação.
No Rio de Janeiro, Seelinger foi ainda membro-fundador da Sociedade
Brasileira de Belas Artes e, já nos anos 1940, juntamente com o pintor Oswaldo Teixeira e o escritor
Carlos Maúl, entre outros, da Sociedade de Artistas Nacionais: essa
última, sediada nos porões do MNBA, curiosamente “era uma agremiação de
conotação tradicionalista, o que mostra que, em matéria de orientação estética,
o artista foi desconcertantemente eclético ou (como ele mesmo dizia), um
‘salteado’”.[34]
34.
Ainda
no sentido da ampliação das práticas usuais vigentes na pintura acadêmica
brasileira, algumas palavras podem ser ditas a respeito da dinâmica da produção
de Seelinger. Uma consideração pretensamente mais neutra da nossa arte nas
primeiras décadas do século XX tem sido realizada nos últimos anos, e hoje
começa a parecer mais clara a relativa lógica interna que regia a variedade
estilística característica da pintura desse período e que, por muito tempo, foi
qualificada comodamente como eclética. Nela era muito comum, por
exemplo, a associação entre um determinado gênero e uma determinada orientação
formal, procedimento firmemente estabelecido na tradição acadêmica europeia e
usualmente designado pelo termo modo. Na pintura brasileira da 1ª
República, parece possível detectar alguns desses modos: seria o caso,
por exemplo, da pintura de retratos, na qual as exigências documentais levavam
os artistas a privilegiarem um tratamento mais “realista”, no qual o
claro-escuro era o principal elemento formal responsável pela configuração
final da obra e que acarretava a consequente utilização de uma paleta cromática
reduzida e restrita sobretudo aos terras. Seria também o caso das pinturas
decorativas que ornamentavam prédios públicos e particulares, às quais mais
acima fizemos referência e onde era frequente o emprego da técnica divisionista
e de harmonias cromáticas em tons rebaixados, associadas ao caráter
histórico-alegórico das figurações. Um outro modo aparece relacionado à
pintura de paisagem que, no período em questão, foi estreitamente associada à
uma tendência à abstração e à explicitação do processo e da fatura pictórica.[35]
35.
Mais
uma vez, a prática de Seelinger diverge em certa medida da de boa parte de seus
contemporâneos. Em muitos momentos, ele preferia pintar em uma maneira própria,
executando séries, nas quais variava alguns motivos bastante pessoais,
como deixa entrever a seguinte declaração:
36.
Para a América do Norte, fiz por encommenda uma série
do “Fauno e o Pelicano”, variando pouco sobre o mesmo motivo, segundo
recommendação do comprador.
37.
Mais tarde, no Brasil, comecei a pintar caravellas [Figura 5].[36] Coalhei os mares
com esses velhos barcos portuguezes. Os meus estaleiros não paravam. Não houve
sala, de portuguez, inteligente e patriota, que não tivesse ao menos um desses
navios, pendurado na parede. Cansei de fazer caravellas e passei a pintar o
lago, a lua e o cypreste [Figura 6].[37] Estes tres
factores deram-me um motivo que explorei largamente, seguindo as variações de
sentimento, da nossa indole romantica. Enquanto foi possivel despertar
corações, pintei o cypreste.[38]
38.
Significativamente,
na arte europeia surgida a partir da segunda metade do século XIX, a
realizações de séries variando um determinado motivo fixo foi justamente
um dos principais meios através dos quais os artistas ligados às novas
tendências estéticas emergentes se impuseram em um campo artístico que sofria
uma transformação institucional profunda. Essa transformação - a passagem do
sistema acadêmico para um mercado livre de arte, onde as figuras do marchand
e do crítico vieram a ocupar um papel fundamental - foi analisada por
estudiosos como Harrison e Cynthia White em um livro datado dos anos 1960, mas
que se mantêm até hoje valioso para um melhor entendimento desse período
fundamental para a configuração o mundo artístico ocidental moderno.[39]
Nele, os White deram uma nova interpretação as séries, destacando o
papel que estas desempenhavam na criação da identidade estética de cada pintor
- um requisito fundamental em um campo artístico onde valores como
individualidade e originalidade passaram a ser indispensáveis para a afirmação
de uma carreira bem sucedida.
39.
No
Brasil, uma mudança institucional semelhante só viria a se processar em pleno
século XX. Tendo isso em mente - e evitando reduzi-las a condição de meras
“precursoras” - as séries pintadas por Seelinger não deixaram de
representar uma contribuição importante para uma prática que iria se afirmar
cada vez mais entre os pintores brasileiros, inclusive aqueles ligados a ENBA,
como Pedro
Bruno e Henrique Cavalleiro. Como consequência disso, o usual
procedimento dos modos, embora não tenha sido nunca completamente
abandonado, sofreu um progressivo desprestígio, uma vez que implicava um fazer
pictórico mais convencional e uma relativa anulação das singularidades
expressivas dos pintores, fatores que se encontravam em franco desacordo com os
valores do novo sistema institucional que surgia.
40.
Concluindo,
um momento favorável para a uma consideração mais detida da figura de Helios
Seelinger parece ter surgido, graças à já bem estabelecida relativização dos
preconceitos críticos modernistas e da sua tabula rasa tendenciosa, que
relegaram sua obra, bem como para a da maior parte de seus contemporâneos, ao
ostracismo. O esforço aqui apresentado no sentido dessa reavaliação é
certamente lacunar e provisório. Creio, todavia, que, se contribuir para chamar
a atenção de um público mais amplo para a obra excepcional de Seelinger terá
cumprido a sua função principal.
________________________
[1] LEITE, José Roberto Teixeira. Helios Seelinger
(1878-1965). Casa Vogue, Rio de Janeiro, n. 39-A, setembro de
1978, p.101.
[2] SILVA, H. Pereira da. O “Salteado” Seelinger. Hélios
Seelinger. (catálogo de exposição). Rio de Janeiro: MNBA, 1978, p.2.
[3] Cabe aqui lembrar dos textos
de Victor de Miranda Ribeiro (Rodolfo Chambelland (Esboço Biográfico). Arquivos
da ENBA. Rio de Janeiro: UFRJ / ENBA, ano VIII, 1962, p.131-146), de Alfredo Galvão (Centenário de Nascimento do Pintor
e Professor Rafael Frederico. Arquivos da ENBA. Rio
de Janeiro: UFRJ / ENBA, ano XI, 1965, p.59-74), de Pacheco da Rocha (Notícias
sobre Marques Junior. Arquivos da ENBA. Rio
de Janeiro: UFRJ / ENBA, ano XIII, 1967, p.41-46), entre outros.
[3b] Uma primeira versão do
presente artigo foi publicada em TERRA, Carlos G. (org.). Arquivos da Escola
de Belas Artes. Rio de Janeiro: EBA/UFRJ, 2006, p. 23-41.
[4] COSTA, Angyone. A
inquietação das abelhas (o que pensam e dizem os nossos pintores, esculptores e
gravadores, sobre as artes plásticas no Brasil). Rio de Janeiro: Pimenta de
Mello & cia., 1927, pp.158-159. A integra dessa entrevista se encontra
disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/artigos_imprensa/artigos_ac.htm>. Acesso 02
fev. 2014.
[5] Existe, por exemplo, uma entrevista dada por
Seelinger, já no final de sua vida, na qual ele fala sobre seus tempos de
boêmio e folião; ver KAZ, Regina. Os Últimos Boêmios. A cigarra, Rio de
Janeiro, março de 1960, p.7-11.
[6] Diversas passagens pitorescas da vida de Seelinger são
relatadas por Luís Edmundo em livros como O Rio de Janeiro de meu tempo.
Brasília: Edições do Senado Federal, 2003.
[7] FLEURY, Jerônimo Emilio Seelinger. Centenário de
Hélios Seelinger. Rio de Janeiro, 1978, mimeografado, p. 1-2. Post scriptum, jun. 2015: Ess anedota do
açougeiro é referida pelo próprio Seelinger em uma entrevista concedida nos
anos 1940. Cfr.: “A época é de ação, não comportando mais contemplações
abstratas”, diz-nos Helios Seelinger. A
Manhã, Rio de Janeiro, 14 abr. 1943, p. 3
[8] Os estatutos da Reforma de 1890 podem também ser aqui
acessados: <http://www.dezenovevinte.net/documentos/docs_primeira_republica.htm>. Acesso 02
fev. 2014. Post scriptum, fev. 2014: Para um resumo dos conturbados anos
finais da AIBA consultar no presente site o artigo de CAVALCANTI, Ana Maria
Tavares. Os embates no meio artístico carioca em 1890 - antecedentes da
Reforma da Academia das Belas Artes. 19&20, Rio de Janeiro, v. II,
n. 2, abr. 2007. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/criticas/embate_1890.htm>. Acesso 02
fev. 2014.
[9] Acervo arquivístico do Museu
Dom João VI EBA-UFRJ.
[10] Acervo arquivístico do Museu Dom João VI EBA-UFRJ,
Notação 189.
[11] Post scriptum, fev. 2014: Tive
oportunidade de desenvolver esse tema em outro trabalho: VALLE, Arthur . A
maneira especial que define a minha arte : Pensionistas da Escola Nacional de
Belas Artes e a cena artística de Munique em fins do Oitocentos. Revista de
História da Arte e Arqueologia, v. 13, p. 109-144, 2010. Disponível em:
<http://www.unicamp.br/chaa/rhaa/downloads/Revista%2013%20-%20artigo%207.pdf>. Acesso 02
fev. 2014.
[11b] Mais informações sobre o Prêmio de Viagem da ENBA nos
primeiros anos da República podem ser obtidas em: <http://www.dezenovevinte.net/artigos_imprensa/renascenca_pv.htm>. Acesso 02
fev. 2014.
[12] Sobre a presença dos artistas alemães na Itália, ver: I
“Deutsch-Römer”, Il mito dell`Italia negli artisti tedeschi, 1850-1900.
Milão: Mandadori Editora, 1988.
[13] Acervo arquivístico do Museu Dom João VI EBA-UFRJ,
Notação 5188. Trata-se muito provavelmente do quadro Im spiel der Wellen, de 1883, hoje na
Neue Pinakotheke de Munique. Apesar da Congregação da ENBA ter aprovado o
pedido, não existem indícios de que Souza Vianna tenha realmente realizado tal
cópia.
[14] COSTA, Angyone, op. cit.,
p.160. A grafia original dessa e de outras citações de época foi mantida.
[15] As academias do
período alemão de Seelinger constam no catálogo do Museu D. João VI sob os
números 488, 489, 490; ver Catálogo do acervo de artes visuais do Museu D. João
VI. Rio de Janeiro:
EBA/UFRJ/CNPq (publicação vinculada ao Projeto Integrado de Pesquisa 180 Anos
da Escola de Belas Artes/UFRJ: 1816-1996), p. 65-66.
[16] Nu Masculino de Perfil (academia), 1901. Carvão
sobre papel, 60,5 x 22,5 cm. Museu D. João VI, EBA / UFRJ ; Nu masculino de
costas (academia), 1900. Carvão e giz sobre papel, 60,8 x 26,0 cm. Museu D.
João VI, EBA / UFRJ.
[17] As academias pintadas de Fiúza Guimarães, realizadas nesse mesmo
período em Munique, mantêm bastante afinidade com as de Seelinger,
especialmente em termos formais; todavia, apenas estudos mais aprofundados
poderão dizer se as diferenças que acima listamos entre as academias realizados nos ateliês alemães
e nos franceses podem efetivamente ser generalizadas.
[18] COSTA, Angyone, op. cit., p.163.
[19] BARATA, Mário. Textos antigos
sobre H. Seelinger e H. Cavalleiro. Arquivos da ENBA. Rio de Janeiro: UFRJ / ENBA,
ano VIII, 1962, p.123-125.
[20] Idem, p.123.
[21] Bohemia, 1903. Óleo sobre tela, 103 x
199,5 cm. Museu Nacional de Belas Artes.
[22] Existe um croquis de Seelinger, hoje conservado
no MNBA, no qual se encontram identificadas todas as personagens da obra; ver
NETO, Américo Gonçalves. Seelinger, um pintor da nossa ‘Belle Epoque’. Boletim
do Museu Nacional de Belas Artes. Rio de Janeiro: MNBA, ano 7, 1988,
p.27-29.
[23] COSTA, Angyone, op. cit., p.161.
[24] Ver CAMPOFIORITO, Quirino.
Arte Plásticas. Helios Seelinger - II. O Globo, Rio de janeiro, 27 set. 1965; NETO, Américo Gonçalves,
op. cit., p.29.
[25] COSTA, Angyone, op. cit., p.161.
[26] Idem, p.161.
[27] Hélios Seelinger na Palavra de Seus Filhos. Correio
filatélico, Rio de Janeiro, n.18, agosto de 1978, p.16.
[28] Idem, p.16.
[29] DUQUE-ESTRADA, Luiz Gonzaga. Helios Seelinger. Kósmos,
Rio de Janeiro, ano 5, n. 3, março de 1908, p. 33-36. Essa crítica se encontra
disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/artigos_imprensa/gd_hs.htm>. Acesso 02
fev. 2014.
[30] Segundo Herman Lima, Seelinger atuou como
caricaturista em diversos periódicos importantes de sua época (D. Quixote,
Fon-Fon, Careta, etc.) mas, apesar da grande qualidade de seus
trabalhos, parece ter sido pouco assíduo nesse ofício; ver LIMA, Herman. História
da Caricatura no Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1963, v.3,
p.1137-1145.
[31] A marouflage consiste em montar uma pintura realizada em um suporte
flexível sobre um suporte mais rígido: no caso das pinturas decorativas
brasileiras, normalmente as telas, pintadas no atelier do artista, eram, depois
de terminadas, coladas no local definitivo que deviam ornamentar; um exemplo,
entre diversos outros, são os já citados painéis de Visconti para o Theatro
Municipal.
[32] SILVA, H. Pereira., op.
cit., p.2.
[33] LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário
crítico da pintura no Brasil. Rio
de janeiro: Art Livre, 1988, p.467.
[34] Idem, p.467.
[35] O conceito de modo foi
reproposto como instrumento analítico po Jan Białostocky, ainda
no início dos anos 1960. Procurando compreender a pluralidade estilística encontrada
na produção de certos aristas ou momentos históricos, Białostocky retomou então as
idéias do pintor francês seiscentista Nicolas Poussin que, em uma carta a um de
seus protetores, o Chevalier de Chantelou, fazia referência aos modos da
música grega (Dórico, Frígio, Lídio, etc.) e afirmava que
as pinturas deveriam ser compostas em modos diferentes, de
acordo com o caráter do seu tema e/ou a função a qual se destinavam. Ainda segundo Bialostocky,
um raciocínio análogo orientava, na arquitetura, a prática do chamado historicismo
tipológico, na qual os estilos do passado (Gótico, Renascentista,
Islâmico, etc.) haviam se convertido em precedentes modais, que
eram adequadamente invocados para objetivos específicos (cf. Carattere. Enciclopedia
Universale dell’Arte. Venezia-Roma: Instituto per la collaborazione
culturale, 1960, pp.114-119, v.III; e BIAŁOSTOCKY, Jan. Das Modusproblem in den bildenden
Kunsten: Zur Vorgeschichte und zum Nachleben des 'Modusbriefes' von Nicolas
Poussin. Zeitschrift für Kunstgeschichte, 24 Bd., H. 2,
1961, p.128-141).
[36] Nau Capitânea, 1946. óleo sobre madeira, 45
x 37 cm, ass. dat. e sit. Rio inf. Esq.; leiloado pela casa de leilões Evandro
Carneiro, em janeiro de 2004.
[37] Crescente, 1932. Óleo sobre tela colada
em madeira, 29 x 25 cm, ass. sit. Rio dat. inf. esq.; leiloado pela casa de
leilões Evandro Carneiro, em março de 2006.
[38] COSTA, Angyone, op. cit., p.163.
[39] Ver a tradução francesa: WHITE, H. & C. La
carrière des peintres au XIXe Siècle. Du système académique au marché des
impressionnistes. Paris: Flammarion, 1991.