Relatórios Ministeriais sobre a Academia Imperial das Belas Artes - 1886

transcrição de Arthur Valle e Camila Dazzi

Relatórios Ministeriais sobre a Academia Imperial das Belas Artes. Transcrição de Arthur Valle e Camila Dazzi. Texto com grafia atualizada, disponível em: http://www.dezenovevinte.net/

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BRASIL, MINISTÉRIO DO IMPÉRIO

MINISTRO AMBRÓSIO LEITÃO DA CUNHA

RELATÓRIO DO ANO DE 1886 APRESENTADO À ASSEMBLÉIA GERAL LEGISLATIVA NA 2a SESSÃO DA 20a LEGISLATURA EM MAIO DE 1887.

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ACADEMIA DAS BELAS ARTES

Matricularam-se o ano passado em diversas aulas da Academia 48 alunos e foram nelas admitidos 33 ouvintes.

Dos 48 alunos inscreveram-se para exames teóricos 23, dos quais só 19 compareceram às provas.

O resultado dos exames foi o seguinte :

Aprovados com distinção em uma só aula............................................3

Aprovados plenamente em duas aulas..................................................3

Aprovados plenamente em uma e simplesmente em outra.....................2

Aprovados plenamente em só aula.......................................................3

Aprovados em duas aulas....................................................................3

Aprovados em uma só aula..................................................................3

Aprovados em uma, não comparecendo em outra................................1

Reprovado em uma, não comparecendo em outra ...............................1.....19

Distribuíram-se 22 prêmios a 18 alunos que mais distintos se mostraram, sendo um deles em três aulas e dois em duas.

Os prêmios foram:

Menções honrosas do 1o grau...................................................3

Grande medalha de ouro...........................................................1

Pequenas medalhas de ouro......................................................6

Medalhas de prata....................................................................6

Menções honrosas....................................................................6.....22

O prêmio - Imperatriz do Brazil - fundado e mantido pelo Conselheiro Leonardo Caetano de Araujo, foi conferido ao aluno de pintura historica Sebastião Vieira Fernandes.

A distribuição publica dos prêmio, tanto aos alunos da Academia como aos do Conservatório de Música, efetuou-se no dia 20 de dezembro, sendo honrada com a presença de Sua Majestade o Imperador.

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Na mesma ocasião foram distribuídos os prêmios relativos ao ano do 1885, que ainda não haviam sido entregues; e exibiram provas públicas do seu aproveitamento os alunos do Conservatório de Musica.

Continua na Europa, por haver sido prorogado, conforme pediu, o prazo do seu tirocínio, o pensionista Rodolpho Amoêdo, que deve ter exposto no Salão de Paris, aberto no dia 1. do corrente mês, o grande quadro que compôs, representando Jesus Cristo em Capharnaum.

Para os cursos de escultura de ornatos e de xilografia, cujas cadeiras ainda se acham vagas, não têm havido candidatos à matricula.

Afim de reger a cadeira de anatomia e fisiologia das paixões, vaga pelo falecimento do Conselheiro Luiz Carlos da Fonseca, foi nomeado por Decreto de 5 deste mês, na conformidade da última parte do art. 15 do Decreto n. 2424 de 25 de maio de 1859, o professor honorário da Academia Barão de Motta Maia.

Realizou-se em dezembro, na conformidade dos Estatutos, a exposição pública dos trabalhos executados pelos discípulos da Academia durante o ano, sobressaindo entre eles os dos alunos da aula de pintura historica.

Além desta, fizeram alguns alunos no edificio da Academia, por iniciativa própria, duas exposições públicas de trabalhos que executaram fora do estabelecimento: uma em meado do ano e outra no fim dele. Na primeira distinguiu-se, entre outros, o aluno da aula de pintura histórica Antonio Raphael Pinto Bandeira pelos seus estudos de paisagem.

Mais duas exposições particulares foram abertas ao público. A primeira, feita na galeria Vieitas, constou dos trabalhos do paisagista João Baptista Castagneto. A segunda, feita em uma das salas do edificio da Imprensa Nacional [cf. Catálogo], foi organizada com os quadros do artista Henrique Bernardelli, que estuda na Itália, e do paisagista Nicolau Facchineti.

Outros trabalhos que revelam o aproveitamento dos estudos de ex-alunos da Academia merecem ser mencionados.

Em príncipio do ano findo descobriu-se a pintura da cúpula e capela-mor da igreja paroquial de Nossa Senhora da Candelária desta Corte, trabalho do professor honorário João Zeferino da Costa.

O escultor Rodolpho Bernardelli, professor de estatuária, concluiu o modelo em barro, de grandeza natural, para o monumento que a adiantada província de S. Paulo vai erigir ao Patriarca da Independência.

Tendo a Academia representado sobre a conveniência de se adquirirem o painel do professor Victor Meirelles de Lima que representa o combate naval de Riachuelo e onze trabalhos do professor Pedro Américo de Figueiredo e Mello, por ele exibidos na Exposição geral de 1884, autorizei a aquisição do primeiro dos mencio-

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nados quadros pela quantia de 18:000$, paga em três exercícios e em prestações de 6:000$; bem assim a dos últimos, por 28:000$, pagos em quatro exercícios e prestações, a primeira e a última de 8:000$, e a segunda e a terceira de 6:000$000.

No contrato, que celebrou para aquela vendo, obrigou-se o professor Pedro Américo a compor gratuitamente para o Estado um quadro a óleo sobre assunto da historia pátria, com as dimensões que exigirem diversas figuras do tamanho natural em ação.

É de sentir que a escassez de meios não permita adquirir produções de outros artistas nacionais dignos de animação.

O professor de história das belas artes, estética e arqueologia, Dr. Pedro Américo de Figueiredo e Mello e o de pintura historica, Victor Meirelles de Lima, em virtude de licença que lhes foi concedida, acham-se na Europa, onde o último, com o artista Henrique Langerock, trata de executar um panorama da cidade do Rio de Janeiro, que pretende expôr nas principais cidades.

Este trabalho, que certamente honrará a arte nacional, terá a grande vantagem de tornar conhecida na Europa a capital do Império, com as suas excepcionais belezas.

Pelo artista Langerock foi oferecida à Academia uma belissima paisagem européia, em vista do que a Congregação dos professores o elegeu seu membro correspondente.

Os regulamentos em vigor prescrevem que anualmente se proceda na Academia a uma exposição geral de todos os trabalhos artísticos feitos na corte e nas províncias ; mas não se tem podido observar semelhante preceito ou por força de circunstâncias materais relativas ao estado do edificio, ou por escassez de novas produções artísticas. Por não occorrer agora nenhum destes embaraços, e acreditar que a exposição corresponderia aos intuitos que teve o Governo ao criar tais certamens, resolveu a Academia dar execução àquele preceito, providenciando para que o projetado concurso se efetuasse durante as próximas férias acadêmicas.

O Governo, porém, não pôde autorizar a exposição, por não dispor de meios para a despena, que se calcula em 2:000$000.

Por minha parte cumpro o dever de chamar a vossa esclarecida atenção para a conveniência de aproveitar o ensejo que as circunstâncias oferecem afim de tornar-se possível o cumprimento do preceito a que me tenho referido.

Se os poderes publicos não animarem os esforços dos nossos artistas, certo o seu zelo se irá entibiando e mais se empobrecerá a nossa civilização no tocante à cultura artística.