FRANCISCO SOUCASAUX

(Barcelos, Portugal, 1856 - idem, 1904)

por Ricardo Giannetti

Um realizador pioneiro. Fotógrafo, industrial, construtor e empresário, o português Francisco Soucasaux teve seu nome ligado à capital mineira desde a primeiríssima hora, antes mesmo que fossem ao chão as velhas casas e cafuas do antigo Curral d'El Rei, antes mesmo que os desenhos riscados nas pranchetas dos projetistas da Comissão Construtora da Nova Capital viessem dar contorno definitivo às idéias mestres do engenheiro Aarão Reis. Deixando o Rio de Janeiro, onde já se encontrava há um certo tempo trabalhando como construtor, chegou ao arraial de Belo Horizonte em março de 1894, atraído pela oportuna proposta de se erguer uma nova cidade, moderna e planejada, no centro de Minas. Ao lado do arquiteto e jornalista português Alfredo Camarate e a participação de um sócio belo-horizontino, o comerciante Eduardo Edwards, criou a firma Edwards, Camarate & Soucasaux, empreiteira que tomaria a responsabilidade da construção de alguns prédios da cidade. A obra mais representativa desta atuação, por sua beleza e completa dessemelhança, terá sido a edificação da estação ferroviária de General Carneiro, no entroncamento de Sabará, raro projeto em forma triangular de autoria do arquiteto José de Magalhães.

Utilizando-se da fotografia, passou a registrar, com sensibilidade, as transformações que se verificavam no ambiente rústico do antigo arraial, compondo uma documentação de enorme relevância para a história da cidade. Outra iniciativa particular muito louvável de Francisco Soucasaux - já a Capital funcionando em seus primeiros anos - foi a abertura do Theatro Soucasaux, casa de espetáculos que passou a abrigar variadas manifestações artísticas. Edificação modesta, de madeira, possuía, no entanto, por meio de modernas instalações elétricas, iluminação de palco a mais avançada da época. Aproveitando a estrutura do prédio, contava erigir, no futuro, um teatro definitivo, o que não alcançou realizar.

Em 1902, editou uma série de fotografias em formato de cartão postal, representando aspectos de Belo Horizonte. Estes cartões, muito estimados pelo público, transformaram-se logo em sucesso de vendas. Esteve em Juiz de Fora em 1903, com intenção de colecionar alguns registros para a publicação Álbum de Minas, que então começava a idealizar. Estas fotografias também foram transformadas em cartões postais, comercializados já na época. Ainda neste ano, realizou no Theatro Soucasaux uma atrativa exibição do acervo destinado ao Álbum, tendo sido mostradas as imagens fotográficas por meio de lanterna de projeção.

Para a Exposição Universal de Saint Louis nos Estados Unidos, em 1904, Francisco Soucasaux, lançando mão do material documental acumulado, preparou oito quadros de grandes dimensões, todos emoldurados, mostrando, em seqüência datada, a curta mas intensa história da construção da Capital. A perfeição do trabalho valeu-lhe a Medalha de Ouro. Expôs também outra série de fotografias onde estudou e explorou efeitos da luz e cenas de paisagem, uma abordagem técnica.

Neste mesmo ano de 1904 Francisco Soucasaux faleceu em Portugal, onde se encontrava em viagem. Postumamente, em 1906, seria finalmente publicado o primeiro fascículo do Álbum de Minas, com imagens de Belo Horizonte e de outras cidades, em edição cuidada por seu irmão Augusto Soucasaux. O volume, de 56 páginas, teve composição estética do artista Alberto Delpino e contou com os textos de Augusto Soucasaux, Josaphat Bello, Joaquim Cândido da Costa Senna e Augusto de Lima. Contudo, não se deu prosseguimento à edição integral do Álbum, conforme merecia o notável projeto original do fotógrafo.

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