OCTAVIO FILHO, Rodrigo. O “Salão” de 1918. Revista do Brasil, São Paulo, ano III, nov. 1918, n. 35, p.305-310.
De Egba
Estou a crer que o sucesso alcançado pelo “salão” deste ano não atingirá as raias da celebridade que paira sobre os “salons” parisienses de 1836 e 1837, onde foram expostas algumas telas encomendadas por Luiz Felipe, Rei de França, para a Galeria das Batalhas do Museu de Versalhes. E isto é natural. Não estamos nos princípios do século XIX, não temos o Museu de Versalhes, nem batalhas a comemorar; quanto a este último ponto devemos curvar a nossa admiração em homenagem ao destino...
Inaugurada a 12 de agosto do corrente ano a XXV Exposição Geral de Belas Artes, permaneceu a mesma aberta durante mês e meio, despertando interesse relativamente pequeno.
É isto uma injustiça oriunda da nenhuma educação artística do nosso povo...
Adepto da lei do menor esforço o público empanturrava o recinto da exposição dos mármores florentinos, instalada a dois passos do Salão, entusiasmado pelos perfis das heroínas e santas amoldadas em fábricas engenhosas.
Ir ao Salão era um trabalhão: primeiro porque era preciso despender uma pratinha de mil réis; segundo porque estando o Salão instalado no primeiro andar Escola Nacional de Bellas Artes, havia uma longa escada a subir... Uma massada...
A não ser nos dias de vernissage e da inauguração quando comparecem na sisudez obrigatória de sempre o mundo oficial e a garrulice sem senso da gente da moda o Salão era visitado apenas por alguns curiosos.
Aliás uma estátua ou um quadro, pedem mais atenção e cultura a quem os observa, do que outras manifestações artísticas, como o teatro dramático ou a música, que forçam o espectador, mesmo de mediana inteligência e que nada perceba do que se executa ou representa, a ouvi-lo silenciosamente ou considerá-lo como um simples divertimento...
A Lição de Anatomia de Rembrant pode passar despercebida a um cidadão qualquer que passeia o seu olhar de touriste pela Casa de Maurício de Nassau em Haia; mas se este mesmo cidadão se encontrar entalado numa poltrona de teatro, ante uma orquestra que execute uma das sinfonias de Beethoven, forçosamente (mesmo que os seus nervos não se emocionem) se manterá numa atitude de silêncio respeitoso... Em caso contrário, pode ter a certeza de que seu espírito atingiu o grau máximo de cretinice humana...
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Imagens
BAPTISTA DA COSTA: Primavera
CARLOS OSWALDO: Retrato de Henrique Oswald
LEOPOLDO GOTUZZO: Plazuela Del Soccorro - Espanha
GEORGINA ALBUQUERQUE: Carnet de baile
H. SEELINGER: Caravela
MODESTINO KANTO: On ne passe pas
PINTO DO COUTO: Busto do Barão Homem de Mello
CORRÊA LIMA: Busto de Raul Pederneiras
Digitalização de Arthur Valle
Transcrição de Beatriz Freitas Blancsak
OCTAVIO FILHO, Rodrigo. O “Salão” de 1918. Revista do Brasil, São Paulo, ano III, nov. 1918, n. 35, p.305-310.