. NOTAS SOBRE ARTE. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 16 set. 1897, p. 4. - Egba

NOTAS SOBRE ARTE. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 16 set. 1897, p. 4.

De Egba

Temos ainda que voltar à Exposição de Belas-Artes para tratar de quatro quadros do Sr. Belmiro de Almeida, os quais enriqueceram a exposição recentemente.

Como se sabe, o Sr. Belmiro chegou há pouco da Europa, onde tem residido nestes últimos 12 ou 15 meses, e os quadros expostos foram pintados lá.

São quatro pequenos trabalhos, mas que chamam imediatamente a atenção. A sua fatura, neste ano e tanto, sofreu modificações visíveis. A execução é mais ampla, mais leve, mais segura, de quem tem a mão mais firme sem preocupação de errar na técnica, de quem está prático no savoir-faire; uma execução fina e sólida, que não deixa ver nenhum esforço, nenhuma meticulosidade de técnica; não há a monotonia de amaneirado.

As tintas são vivas e agradáveis, e a maneira como distribui a luz faz com que a atenção se prenda naturalmente no ponto principal da tela, não se distraindo por nenhuma meticulosidade de acessório. Pelo contrário, em geral, deixa ele os elementos secundários numa incerteza de tratamento que dá mais relevo ao tema principal.

Dos trabalhos expostos chama logo a atenção o denominado Pronta para a feira, uma camponesa portuguesa, nova e bonita, garridamente vestida com uma saia e avental encarnado, cheio de bordados, com enormes argolas de ouro do Porto nas orelhas, e o característico lenço na cabeça. É uma faceira, cônscia da sua formosura, que ali se expõe à admiração dos rapazes, com um [...] sorriso nos olhos semicerrados, como quem sabe bem qual a impressão que produz. E não há dúvida que esta impressão é irresistível e empolgadora, e que bem duro será o coração do que não se render diante das suas graças garridas.

Uma parisiense é uma linda figurinha de uma dessas bonecas parisienses, cujos olhos azuis cintilam de coquetterie. É um primor de modelação e de fina execução.

A Cabeça, uma figura de mulher em perfil, é bem desenhada e iluminada, e tem expressão.

Não gostamos tanto da execução do esboço do quadro intitulado Dor, embora o motivo não seja mau. Pareceu-nos que o braço direito é demasiado longo, e que a posição do corpo era algo forçada e sem o devido desenvolvimento. A cabeça, entretanto, tem sentimento, e alguns dos acessórios, bem pintados. É provável que, no quadro grande, estes señoes, que talvez sejam devidos ao croquis tirado de fotografia, desapareçam e que o Sr. Belmiro faça aí justiça dos foros de bom desenhista, de que justamente goza.

Este nosso distinto artista chegou a um ponto de desenvolvimento técnico em que pode com justiça confiar no seu savoir faire, e agora falta-lhe só pintar um quadro cujo assunto revele a elevação das suas faculdades criadoras, para ficar consagrado artista completo.

E, pelo que sabemos do seu espírito trabalhador e ambicioso de salientar-se na sua arte, podemos desde já assegurar que esse quadro não se não fará esperar muito.

O Sr. Belmiro de Almeida está atualmente em Minas Gerais, seu estado natal, e aí poderá colher inspirações, pois que não faltam motivos para isso, para algum trabalho notável, que engrandeça e perpetue o seu nome, bem como o do seu torrão natal.

-

Não seria de justiça deixar de dizer duas linhas sobre os dois retratos expostos pelo Sr. Delfim da Camara, um velho pintor modesto, porém, que na sua maneira despretensiosa procura conscienciosamente fazer, a par de retratos parecidos, obra artística.


Digitalização de Arthur Valle

Transcrição Natalia Mano Goulart Saraiva

NOTAS SOBRE ARTE. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 16 set. 1897, p. 4.

Ferramentas pessoais
sites relacionados