. FLAMINIS. CRÔNICA. A Noticia, Rio de Janeiro, 8-9 set. 1897, p. 2. - Egba

FLAMINIS. CRÔNICA. A Noticia, Rio de Janeiro, 8-9 set. 1897, p. 2.

De Egba

Tratemos agora da exposição de Belas Artes, em linhas rápidas, embora. Poucos artigos tem aparecido sobre ela: poucos? nenhum! – apenas duas ou três notícias curtas e banais, todas registrando principalmente isto: a sua pobreza.

Poucos quadros, realmente. Mas quem quiser atribuir isso à preguiça dos pintores que temos, cometerá uma grave injustiça, dessas que bradam aos céus. A Arte é uma rara flor, melindrosa e fina, que só vive bem, quando tudo em torno dela está equilibrado, seguro, próspero, ou quando, mesmo no meio da agitação política, do temor de um krack, ou da convulsão de uma guerra, há homens que compreendam que nem só a política, o dinheiro e o barulho das armas devem absorver a vida. Nenhuma época mais agitada do que aquela em que viveu o grande Leonardo da Vinci: mas, entre o estrupido das guerras, as aclamações das vitórias, as tristezas das derrotas, Francisco I, o guerreiro de Marignan, acolheu, nos seus braços de amigo incondicional, o pintor da Gioconda.

Aqui, nesta época indecisa, o comércio se desespera, a indústria entisica, a lavoura morre: e só a Arte deveria prosperar e brilhar? Que apoio merece ela dos nossos políticos, dos nossos financeiros, dos nossos guerreiros? Basta dizer que há dez anos vive a Escola de Belas Artes a pedir que lhe deem uma casa que não seja uma toca infecta, e esse pedido só tem achado indiferença e má vontade.

O catálogo da exposição de 1897 só tem 102 números. Acham pouco? [sic] permitam-me que ache muito: fazer aquilo, nos abafados tempos de agora, já me parece um assombro de esforço, uma grande arremetida de heroísmo.

Flaminis.


Digitalização de Fundação Biblioteca Nacional Acessível em: http://memoria.bn.br/

Transcrição de Karina Perrú Santos Ferreira Simões

FLAMINIS. CRÔNICA. A Noticia, Rio de Janeiro, 8-9 set. 1897, p. 2.

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