EXPOSIÇÃO de Arte Retrospectiva e Contemporânea. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 14 nov. 1922, p.4.
De Egba
SUA INAUGURAÇÃO ONTEM
Realizou-se ontem, às 14 horas, na Escola de Belas Artes, a inauguração da exposição de arte retrospectiva e contemporânea, organizada sob a direção dos senhores Baptista da Costa, Raul Pederneiras e Flexa Ribeiro.
À solenidade, que se revestiu de grande brilhantismo, compareceram os Srs. Major Cunha Pitta, representando o Sr. Presidente da República; Dr. Carlos Sampaio, Prefeito do Distrito Federal; Dr. Ferreira Ramos, Delegado Geral da Exposição; Conde Van der Bruch, Comissário Geral da Bélgica; figuras de maior destaque no nosso mundo artístico, senhoras, Dr. Victor Marks, Delegado de Polícia da Exposição; Dr. Vergueiro Steidel, Delegado do Governo Paulista; representantes da imprensa e outras pessoas gradas.
O Professor Baptista da Costa, Diretor da Escola de Belas Artes, proferiu o seguinte discurso, que a assistência muito aplaudiu: “Exmo. Sr. Presidente da República. Sejam as minhas primeiras palavras de agradecimento sincero a S. Ex. e ao seu digno governo pelo interesse sempre demonstrado por esta casa e pelos benefícios de grande relevância; começamos hoje a colher os resultados eficazes de tão excelentes benefícios, a Escola dotada dos melhoramentos de que tanto necessitava e que de há muito se faziam sentir, por indispensáveis conforme as reiteradas solicitações por mim feitas, desde que assumi a direção deste Instituto, função esta, que nunca fez parte das minhas cogitações na vida artística e que venho exercendo sem que solicitasse tão honroso cargo.
A Escola Nacional de Belas Artes, [...] da direção de ensino artístico, tem o encargo de guardar o nosso um único Museu de arte, não podia deixar de participar destacadamente na Comemoração do Primeiro Centenário da Nossa Independência Política.
Iludem-se os que pensam que, aqui dentro, vivemos unicamente no cumprimento das exigências burocráticas: aqui sempre palpitou a grande preocupação pelo desenvolvimento das artes plásticas em nosso país, trabalho feito sem alardes mais com perseverança, com [...] de quem coopera realmente para engrandecimento do nosso querido Brasil.
S. Ex. o Sr. Presidente da República, no primeiro ano de Governo, depois de inaugurar a Exposição Geral de Belas Artes, perguntou-me, ao retirar-se, se a escola de algo necessitava; respondi a S. Ex. que a Escola precisava de muitos melhoramentos, e os artistas pareciam de estímulo. S. Ex. houve por bem pedir pormenores informativos, e, em audiência, dias depois marcada, tive ensejo de expor detalhadamente a situação da Escola e as medidas, ao meu ver, necessárias.
Neste mesmo ano, tive a dita de ver atendida uma parte da minha solicitação, pois era votado no Congresso, a dotação de 30 contos, para aquisição de obras de artistas nacionais, visando à apresentação de trabalhos que dessem mais realce às exposições anuais, estimulando os artistas em prol de um cunho mais elevado na arte que abraçaram.
Lamento que a marcha dos trabalhos encetados, não tenha tido a presteza, necessária, de modo a poder inaugurar esse certame comemorativo do nosso centenário com as obras terminadas, para completo esplendor, que imaginara nesta solenidade.
Mas a obra encetada caminha a bom termo, graças ao carinho com que S. Ex. atendeu ao apelo que fiz em nome dos artistas.
Seja me permitido, também, mencionar as atenções valiosamente dispensadas pelo grande patriota Sr. Dr. Alfredo Pinto, quando Ministro do Interior, pelo Dr. Carlos Maximiliano, sempre interessado pela Escola, pelo Dr. Urbano dos Santos, Exmo. Ministro Ferreira Chaves, pelo prestígio que me tem dispensado na administração desta casa.
Hoje, a Escola possui seus ateliês de pintura, estatuária, escultura de ornamentos e arquitetura, perfeitamente instalados; suas galerias estão definitivamente organizadas, livres da perturbação prejudicial que as ameaçava por escassez de espaço, sofrendo o desastre das armações de sarrafo e aniagem, para realização das exposições anuais, até então realizadas, com grande risco para as riquezas da nossa pinacoteca.
Deve-se a S. Ex. esse grande passo, que aponta melhores e mais rasgados horizontes, para a arte e os artistas no Brasil.
Em poucos momentos poderia ser examinada a exposição permanente, de obras antigas, independente das galerias da exposição temporária. A iluminação diurna e noturna está tanto quanto possível resolvida; algumas correções, naturalmente, há a fazer, o que se não fez agora, por carência de tempo, devido à demora da entrega da sala, para mais apurado estudo das determinadas condições de luz.
Outro benefício decorrente é a interdependência das galerias de exposição e das demais salas da Escola, evitando-se assim, a perturbação dos trabalhos escolares, agora completamente separadas das salas franqueadas ao público.
Ao certame de arte que se vai inaugurar, acresce o valioso concurso de artistas estrangeiros, principalmente belgas, que, assim, por um requinte de gentileza, colaboram na grande comemoração em honra à grande data nacional.
A Escola Nacional de Belas Artes, como prova de reconhecimento dos serviços prestados por S. Ex.à instituição, por unânime e significativa vontade expressa em sessão plena da Congregação, resolveu colocar em lugar distinto desta casa, o busto em bronze Sua [sic] seus laureados artistas como sincera homenagem no dia de hoje; e sente-se feliz em tornar público seus agradecimentos, com os votos de prosperidade e felicidade a quem tão bem compreendeu, animou e também realizou, em proveito das belas artes em nosso amado Brasil.”
A convite do Sr. Batista da Costa, o Sr. Dr. Carlos Sampaio retirou a bandeira que cobria um busto de bronze do Sr. Dr. Epitácio Pessoa, ouvindo-se então o hino nacional.
Em seguida a numerosa assistência percorreu os vastos salões da Escola, onde se encontram verdadeiros primores de arte.
Como já ficou dito a exposição compreende trabalhos artísticos coordenado a 1916 [sic] a 1915 (arte retrospectiva) e de 1915 a esta parte (arte contemporânea).
Na exposição de arte retrospectiva, figuram trabalhos da antiga missão artística francesa, tais como quadro de Debret, Taunay e outros a maquete da batalha de Riachuelo [cf. imagem], de Victor Meirelles; os bronzes “Santo Estevão” e “A Faceira”, de Rodolpho Bernardelli; um curiosa lavago [sic] monumental, dos tempos coloniais; um bronze simbólico de Almeida Reis “O Rio Paraíba”; vários bustos do Professor Corrêa Lima; a coleção de medalhas de chefes de Estado da Brasil desde Pedro I; a maquete do monumento a Pedro I, de Rocher [sic]; várias as vistas panorâmicas do Rio, de Victor Meirelles; a maquete da batalha dos Guararapes [cf. imagem]; quadros de Amoêdo, Visconti, Baptista da Costa, Chambelland, e de tantos outros; mármores de Corrêa Lima.
Digitalização de Mirian Nogueira Seraphim
Transcrição de Arthur Valle