EXPOSIÇÃO GERAL DE BELAS ARTES. NICOLAO FACCHINETTI. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, 4 nov. 1894, p.2.
De Egba
É um tipo dos mais interessantes que a Itália tem mandado para o Rio de Janeiro
Há quarenta e tantos anos que chegou aqui. Estava envolvido nos movimentos políticos de 1848, estava ameaçado na vida e na liberdade, e a polícia austríaca, feroz naqueles dias como nunca, não o deixava descansar um momento.
Emigrou. Não possuía uma completa educação artística; apenas três anos de estudo tinham-no iniciado na arte do desenho, e os mistérios da arte não sorriam na sua fantasia, como na dos que, possuindo no próprio cérebro todo um mundo de sonhos divinos de glória e de grandeza, vão procurando ambientes mais apropriados e ares mais exagerados oxigenados, para expansão do seu espírito.
Fugia da polícia, e chegava a uma terra que estava bem longe de oferecer-lhe os meios para completar a sua cultura artística, mas que, mais benigna do que a mãe pátria, garantia-lhe a maior liberdade.
O problema da vida impunha-se, as necessidades materiais se apresentavam para substituir os ideais da pátria [...], e aqueles poucos princípios de estudo de desenho parecendo-lhe o único meio de subtrair-se ao terrível predomínio da miséria. E não se enganou. Eis o princípio da carreira artística de Facchinetti. Começou a pintar quando ainda devia começar os estudos mais sérios da sua arte, e pôs-se ao trabalho para não fazer de mártir político.
De outra parte, o ambiente artístico do Rio de Janeiro naquela época era, além de extremamente acadêmico, quase nulo (e basta ver os desenhos daquele tempo na escola de Belas Artes para julgar o que valia) e a falta de recursos impedia qualquer ocupação não retribuída.
O que foi a vida de Facchinetti errante nas matas e nas alturas da Serra dos Órgãos, apaixonado por esses horizontes imensos, por esses grandes oceanos de luz, que divinizam nas montanhas a natureza brasileira, o que foi a vida desse homem modesto e felizardo, que subiu até aos favores dos magnatas da corte e dos príncipes, o que foi, enfim, o trabalho desse artista improvisado, formaria o assunto de um dos mais interessantes romances modernos.
Os quadros que ele mandou a esta exposição pertencem ao período melhor dos seus estudos de paisagem; são quase todos de propriedade privada, o que demonstra que agradaram, como agradou certamente o que foi vendido em Chicago, na última exposição.
São bastante conhecidos, e por isso não precisamos analisá-los; e depois pertencem à arte de outros tempos, arte de tecnicismo e ideias diversos dos do tempo moderno; arte de grande paciência sem dúvida, mas que não se dá com o nervosismo e com o gosto contemporâneo.
- A Exma. Sra. D. Maria Agnello, discípula de Facchinetti, mostra claramente ter muito amor e muita devoção à arte do mestre, e pode ficar satisfeita com o prêmio que o júri lhe conferiu.
Digitalização de Mirian Nogueira Seraphim
Transcrição de Bárbara Kushidonti
EXPOSIÇÃO GERAL DE BELAS ARTES. NICOLAO FACCHINETTI. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, 4 nov. 1894, p.2.