EXPOSIÇÃO GERAL DE BELAS ARTES. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, 13 out. 1894, p.2.
De Egba
Oscar Pereira da Silva é entre os expositores um dos que tem mais amor ao trabalho. As suas sete telas, de proporções não indiferentes, revelam o que ele tem feito no seu atelier, estudando sobre diversos modelos, e o cuidado que nesses estudos tem tido.
Le Mendiant dans la cour n. 137, apesar da indicação do catálogo, não é um quadro de composição; é simplesmente um estudo limitado à cabeça, o resto do corpo está ali para indicar a intenção verdadeira do artista, é descuidado e, embora com pretensões de realismo, muito pouco elegante e sem graça.
O mesmo caráter revela Le Raccomodeur de faiances. A preocupação do artista é sempre a cabeça, que está muito bem modelada; e o corpo da mesma forma descuidado e mal desenhado; basta citar a perna direita, que de maneira alguma se liga com o corpo.
O assunto não tem valor de invenção, pois aquele tipo podia ser um sapateiro, um carpinteiro, um oficial de qualquer ofício.
Vê-se bem que o título e o assunto vieram depois de acabado o quadro. A escrava não tem nenhuma característica que justifique o título, mas é mais do que os dos seus companheiros n. 137 e 143, um trabalho de maior fôlego, um estudo do nu, de tamanho natural, uma prova de grande boa vontade e de trabalho longo e cuidadoso.
Nada de quadro e muito menos de escravidão; é um estudo.
Ainda assim é digno de louvor o artista que enfrenta dificuldades não pequenas.
Mas a tão louvável ousadia não corresponde um louvável resultado. O desenho deixa muito a desejar, e o conjunto, aquele que dá caráter até a um simples traço de lápis, não tem simpatia, não tem aquele cunho de vitalidade que se revela nas manchas mais insignificantes de Visconte [sic].
A pintura de Oscar Pereira da Silva tem boas qualidades, mas que são mais inerentes ao trabalho material do que a uma feliz concepção e expressão artística.
Falta o gênio, infelizmente, falta a primeira condição de quem se dedica à cultura da arte. Falta a ingenuidade dos efeitos e a procura das tintas.
Mais feliz é o monge n.139, e ainda mais os estudos Leitora n. 138 e o Tronco e Cabeça de mulher ns. 140 e 141.
Não deixam de ser fruto do mesmo sistema, porém mostram como em telas de proporções mais limitadas o estudo do pintor alcança resultados melhores.
Em todo o caso este artista merece o aplauso dos que avaliam não só o que é fruto do gênio, mas também o que é trabalho e o que é estudo.
Na arte, como na vida, há sempre uma escala, em que todos os valores e todas as gradações estão representados: não seriam possíveis os últimos graus sem os primeiros e os médios.
No grande edifício coletivo da arte, cada valor tem seu lugar e sua importância. O ponto está em saber colocá-lo.
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Continuam as compras na exposição.
Um felizardo, o Sr. Carlos G. Rheingantz adquiriu ontem O Aqueducto, de Brocos.
A concorrência de visitantes, ontem, foi extraordinária.
Digitalização de Mirian Nogueira Seraphim
Transcrição de Bárbara Kushidonti
EXPOSIÇÃO GERAL DE BELAS ARTES. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, 13 out. 1894, p.2.