BELAS ARTES. O SALÃO DE 1922. O Jornal, Rio de Janeiro, 25 nov. 1922, p. 3.
De Egba
NOTAS E IMPRESSÕES
Continuando a registrar informes sobre o salão, diremos que Gaspar de Magalhães afastou-se este ano do assunto de sua predileção - os animais. Além de um retrato, a que já fizemos referência, enviou ele uma pequena marinha. É um trecho de mar largo em dia de ressaca. As ondas movimentam-se e sente-se a areia da praia [...] pela umidade.
A pequena paisagem de Frederico Brandon “Quietude” está envolvida num ambiente calmo. É uma colina agreste em que o olhar repousa com prazer.
Euclydes Fonseca reproduziu e interpretou com muita felicidade um aspecto do morro do Castelo, apresentando agradável efeito de sombra e luz. É uma nota conscienciosa e justa no contraste das duas tonalidades.
Não nos entusiasmou a contribuição de Marques Júnior ao salão deste ano. O seu divisionismo fatiga a vista, a maneira pontilhada estabelece uma espécie de cortina entre a obra de arte e o espectador.
De tudo quanto expõe Theodoro Braga devemos destacar a “Nostalgia”, uma cabeça de negro em que há vida, relevo e expressão.
A paisagem de Edgard Parreiras, apresentando um velho solar em ruínas tem excelentes qualidades de técnica. O assunto não nos empolgou, mas como obra de arte esse trabalho é bem justo na sua perspectiva e na sua quente tonalidade.
O pintor francês Gustave Brisgand que ora nos visita, levou ao salão um desenho de mulher nua, em tamanho natural. Não precisamos repetir as expressões com que acolhemos a exposição individual desse artista. Quanta delicadeza e quanta suavidade nas linhas dessa figura, que bela e admirável cabeça!
Também levou vários trabalhos ao certame anual dos nossos artistas o pintor húngaro Francisco Nemay, cujos trabalhos o nosso público apreciou ainda há pouco.
Digitalização de Mirian Nogueira Seraphim
Transcrição de Arthur Valle
BELAS ARTES. O SALÃO DE 1922. O Jornal, Rio de Janeiro, 25 nov. 1922, p. 3.