AMADOR, Bueno. BELAS-ARTES. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 13 set. 1912, p.5.
De Egba
O SALÃO DE 1912 - O Sr. Alvaro Teixeira apresenta, como trabalho de mais fôlego, a tela Desalento de Orfeu, onde a paisagem é bem cuidada, notando-se vigor do colorido e certeza de efeitos.
A figura mitológica do quadro, infelizmente, não se casa com a técnica do paisagista: é fraca, não só como desenho, mas também como colorido, como atitude e como expressão. Sente-se talvez que o autor tenha feito a figura de cor, dando antes a impressão de mancha acadêmica do que uma figura acabada.
A paisagem, sim, é apreciável e mostra a segurança do pintor e a proficiência do seu mestre que é especialista em tal assunto.
D. Angelina Agostini apresenta notáveis progressos; seus trabalhos expostos já possuem um cunho característico e dão à artista um lugar de destaque. Don Pablo é uma cabeça bem tocado, cheia de relevo e de vida, dando a entender que muito há a esperar da artística patrícia, quando a libertar da maneira de que ainda se ressentem seus trabalhos: os tons adaptados por um de seus mestres.
Discípulo de José Malhôa, o Sr. Julio Teixeira Bastos apresenta telas uniformes, representando os sentidos que, no seu entender, são cinco apenas. São trabalhos muito interessantes como observação dos tipos, executados com largueza e justamente apreciados pelos entendidos.
Sente-se a expressão e vida em todas as figuras e há um todo simpático na apresentação do conjunto.
O Sr. Pedro Bruno pertence a grupo dos novos e dos que vencem pelo esforço e pelo talento. A maneira original de pintar, embora não seja definitiva, caracteriza desde já um estilo de colorista, personalizando a palheta do jovem pintor.
Manhã azul e Herdeiro são dois trabalhos merecedores de elogiosas referências e que muito recomendam os méritos do artista.
Os irmãos Carlos [Carlos Chambelland] e Rodolpho Chambelland cultivam com proficiência o gênero ingrato e difícil do retrato.
Na exposição, cada um apresenta dois retratos e deles não se pode destacar um melhor que outro, todos são igualmente bons; Rodolpho é mais atirado às poses originais dos modelos, dando-lhes um cunho novo no gênero; Carlos é mais humano e possui o segredo de fazer viver os seus retratos com muita segurança. Elogios para ambos são desnecessários, ambos têm consciência do seu valor de artistas e para ambos o nosso meio já há muito deu um lugar de destaque.
Prosseguiremos.
Digitalização de Mirian Nogueira Seraphim
Transcrição de Andrea Garcia Dias da Cruz
AMADOR, Bueno. BELAS-ARTES. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 13 set. 1912, p.5.