OS ATELIÊS NA CRÍTICA E NA LITERATURA DE GONZAGA DUQUE

Paula Ferreira Vermeersch (FCT/Unesp)

Resumo: O crítico e literato carioca Luiz Gonzaga Duque Estrada (1863-1911), autor polígrafo, nos deixou um imenso apanhado de impressões sobre os artistas de seu tempo. A partir de seus escritos, desvenda-se aspectos das relações entre estes agentes, suas aproximações e divergências, a gama de significados existentes nestas relações e as possibilidades de interpretação, para nós, destas.

Pensando em contribuir para as discussões do presente Colóquio, a autora desta comunicação buscou, em A Arte Brasileira (livro de estreia do crítico, publicado em 1888) e no romance Mocidade Morta (de 1899), as figurações dos ateliês dos artistas. Locais de estudo, reflexão, boemia, intimidade compartilhada e ao mesmo tempo do jogo cênico de personagens e narrativas, os ateliês tornam-se espaços narrativos privilegiados para nós, hoje. A partir das palavras de Gonzaga Duque, pode-se reconstruir debates políticos, culturais e artísticos

Em A Arte Brasileira, Gonzaga Duque aponta, para o leitor, a existência dos ateliês de alguns artistas. No caso do pintor Pedro Américo de Figueiredo e Mello (1843-1905), o crítico chega a afirmar que, para se conhecer de fato o autor da Batalha do Avaí, era necessário conversar no ateliê- fora, Pedro Américo se transformava num outro, o artista “oficial”, não o agradável interlocutor de horas e horas de reminiscências dos anos de estudo na Europa.

Já em Mocidade Morta, o ateliê- apartamento de Agrário de Miranda comporta as “predisposições inaproveitadas” de seus companheiros, notamente do melancólico Camilo Prado, e as aspirações de ascensão social do jovem artista. Enquanto Agrário expande sua carreira e o próprio ateliê é a primeira confirmação física desse sucesso, Camilo se esconde na casa da mãe enferma, nos subúrbios de Botafogo.

Lugar de ascensão, de diálogo, de trabalho: para Gonzaga Duque, o ateliê do artista congrega as forças, os sonhos e projetos dos artistas do nosso fin-de-siècle.