"SUTIS DIMENSÕES DE UM ATELIÊ PAULISTANO:" AS NARRATIVAS E REPRESENTAÇÕES DE CHRISTIANO STOCKLER DAS NEVES SOBRE O TRABALHO DE UM ARQUITETO

Fernando Atique (Universidade Federal de São Paulo)

Resumo: Christiano Stockler das Neves (1889-1982) é um importante ator social para a compreensão do campo arquitetônico em São Paulo. Nascido no final do século XIX, rumou, ainda jovem, para os Estados Unidos, afim de obter formação em Arquitetura. Matriculado num curso "Especial" de Arquitetura, que fornecia diplomação rápida, em apenas dois anos, mantido pela University of Pennsylvania - Penn -, Christiano das Neves regressou ao Brasil, em princípio da década de 1910, para trabalhar ao lado de seu pai, Samuel Augusto das Neves (1863-1937), no célebre escritório que este mantinha na capital paulista, desde o século XIX. Especializados em obras de concreto armado, que se difundiam no país, naquela época, lograram sucesso em diversas frentes, incluindo obras ferroviárias, sanitárias e de arquitetura. Em 1917, Christiano das Neves ainda alcançou maior notoriedade ao tornar-se o fundador e primeiro diretor do Curso de Arquitetura do Mackenzie College, caldeado, segundo suas próprias palavras, nos métodos de ensino recebidos na Pennsylvania. Este artigo procura mostrar, então, duas dimensões a partir de escritos do próprio Christiano das Neves, em especial por meio de cartas inéditas enviadas por ele ao antigo Diretor da Escola de Arquitetura da Penn, Warren Powers Laird nos anos 1920. Nessas cartas, Neves relata, então, uma das dimensões que interessa debater:  o ambiente profissional paulista, que legava aos engenheiros obras de arquitetura, e, aos arquitetos, obras de engenharia. A outra dimensão, mais cara ao escopo geral do evento, diz respeito às narrativas de Christiano das Neves sobre o arranjo do escritório e do ensino que professava, caldeado num misto de prática em ateliê e de negócios de um businessman. Dessa forma, é possível compreender uma série de sutis elementos que fizeram parte do ambiente arquitetônico paulista e que enriquecem a discussão sobre como se ensinava, se praticava e se vivia de arquitetura. Com este artigo, procura-se mostrar, então, como o local de trabalho assumiu importância para a prática de uma profissão que tentava se firmar numa sociedade nitidamente em urbanização.