PORTUGAL NA ÁFRICA VIA BRASIL? A ARQUITETURA AFRO-BRASILEIRA NO GOLFO DA GUINÉ E AS ARTES DA EXPANSÃO PORTUGUESA

Roberto Conduru (Art/UERJ)

Resumo: No golfo da Guiné, na região compreendida pelos atuais Togo, Benim e Nigéria, mercadores de escravos brasileiros radicados em África e africanos que foram escravos no Brasil e retornaram à África, bem como seus descendentes e agregados, conhecidos como agudás, produziram, desde o início do século XIX até as primeiras décadas do século XX, uma arquitetura que é denominada usualmente como afro-brasileira. Além de princípios e formas arquitetônicas vivenciadas no Brasil, os agudás difundiram naquela região da África técnicas de construção e fabricação de elementos arquitetônicos, de mobiliário, jardinagem e sanitarismo, difundindo um singular modo de viver que os diferenciou, ambiguamente, dos demais agentes sociais. Nos complexos processos de constituição das identidades culturais na diáspora africana, estes espaços e objetos construídos por mercadores de escravos e ex-escravos foram configurados como signos de modernidade. Dimensão modernizante que não é usualmente associada à arquitetura geradora desta cultura material e social, a arquitetura constituinte da economia do açúcar no Brasil, particularmente no recôncavo baiano, mas faz pensar como, mesmo em um momento quando os agentes de Portugal parecem estar ausentes, se podem perceber desdobramentos do processo de modernização vivido no hemisfério Sul a partir da expansão portuguesa iniciada no século XV. Com efeito, embora a referência aos lusos não seja agregada a esta cultura material por seus construtores e usuários, nem pela maioria dos autores que dela tratam, ela está conectada às artes da expansão portuguesa. Para entender esta arquitetura como um momento especial na longa duração de vigência do sistema artístico deflagrado a partir da presença dos portugueses em certas regiões africanas e asiáticas e na porção da América por eles cunhada como Brasil, é preciso conectar estudos da forma (morfológicos e estruturais) a análises históricas, sociológicas e antropológicas de espaços, coisas e sujeitos.