A EXPOSIÇÃO PORTUGUESA NO RIO DE JANEIRO EM 1879: ECOS DE UM DIÁLOGO ENTRE ARTE E INDÚSTRIA

Maria João Neto (IHA - Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa)

Resumo: Em agosto de 1879 abria ao público no magnífico e recém-inaugurado edifício da Tipografia Nacional, à rua da Guarda Velha (atual Av. 13 de maio), a Exposição Portuguesa, promovida pela Companhia Fomentadora das Indústrias e Agricultura de Portugal e suas Colónias, que contou com o impulso decisivo de Luciano Cordeiro e de Marcelino Ribeiro Barbosa.

Portugal procurava novos mercados para os seus produtos agrícolas, mas também para uma renovada produção de artes e ofícios. Influências do movimento Arts & Crafts tomavam conta da discussão nacional em torno da recuperação das artes decorativas tradicionais. Procurava-se dignificar a profissão do artesão, ao mesmo tempo que as obras de criação oficinal podiam servir de modelo e inspiração, num novo quadro de produção industrial. Debatiam-se ideias em torno da relação entre Arte e Indústria, afastando-se cada vez mais uma posição de incompatibilidade para se admitir uma harmonia entre conceção estética e produção mecânica.

As exposições constituíam um meio por excelência para estimular este tipo de produção, com naturais e importantes proveitos económicos. Portugal vê na exposição do Rio de Janeiro uma oportunidade de concorrer, no mercado brasileiro, com idênticos produtos e obras de outras proveniências europeias.

O lugar escolhido para a exposição no Rio não podia ser melhor. A arquitetura do edifício da Tipografia Nacional, da responsabilidade do Engenheiro Paula Freitas, inaugurado no ano anterior, refletia um sabor neo-manuelino, de influência da arte portuguesa do tempo dos Descobrimentos. As suas salas albergaram o que de melhor se fazia em Portugal ao tempo, na ourivesaria, na cerâmica artística, nos vidros, no mobiliário, na tapeçaria, na gravura e litografia e até já na fotografia. O desenho, a pintura e a escultura também se fizeram representar, embora não com as obras mais significativas, mas, ainda assim, de forma bastante expressiva, com trabalhos de Metrass, Tomás da Anunciação (falecido nesse ano), José Malhoa, Columbano, Alfredo Keil, Lupi, Tomasini, e dos escultores Alberto Nunes, José Moreira Rato e Victor Bastos, entre outros.

A exposição teve grande sucesso, com quase 50 mil visitantes nos cerca de 100 dias que esteve aberta. Foi possível constatar a excelente relação qualidade-preço dos produtos portugueses. Mas o mais importante foi o estímulo que esta mostra proporcionou no meio artístico carioca. Com uma localização privilegiada, ao lado do edifício da Tipografia Nacional, professores e alunos do Imperial Liceu das Artes e Ofícios tiveram entradas gratuitas na exposição. A imprensa local não deixou de sublinhar este aspeto, noticiando as várias visitas realizadas por “esse grande viveiro de futuros artistas mantidos pela benemérita Sociedade Propagadora das Belas-Artes”.