COSTA E SILVA E GRANDJEAN DE MONTIGNY: DOIS ARQUITECTOS NEOCLÁSSICOS NOS TRÓPICOS

Eduardo Manuel Alves Duarte (Universidade de Lisboa)

Resumo: Seria pouco provável que José da Costa e Silva (1747-1819) e Auguste Grandjean de Montigny (1776-1850), dois arquitectos neoclássicos, estivessem no Brasil na primeira parte do século XIX.

Os dois representam, sublinhe-se, duas atitudes neoclássicas distintas, mas profundamente complementares e eruditas: uma de clara raiz italiana, no caso de Costa e Silva, e outra francesa, na figura de Grandjean de Montigny.

Costa e Silva, o mais importante arquitecto português do período neoclássico, projectou o Real Erário (1789), o Teatro de S. Carlos (1792), ambos em Lisboa, o Asilo Militar de Runa (1792) e o Palácio Real da Ajuda (1802), também em Lisboa, entre outros edifícios. Teve uma formação italiana, durante dez anos, desenvolvendo, ao longo da sua vida, como atesta a sua biblioteca e colecção particulares, uma arquitectura dentro do mais rigoroso classicismo, de Vitrúvio, a Serlio, passando por Vignola e por Palladio, que ele, como era normal na sua época, seguia. No Brasil, desde 1812, chamado pelo Príncipe Regente, pautou-se por poucos trabalhos.

Grandjean de Montigny, arquitecto com uma formação académica francesa e experiência feita, como não podia deixar de ser, em Itália, apresenta uma arquitectura de clara raiz gaulesa, mas com uma componente que o pode aproximar da célebre “arquitectura utópica” da época da Revolução. Mas se ambos os arquitectos apresentam percursos diferentes, partilham, todavia, um facto muito importante: a sua experiência italiana e uma cultura arqueológica, arquitectónica e artística que levaram para os trópicos, mais concretamente para o Brasil. Com essa experiência, cada um deles transportou, igualmente, formas e visões novas para as aplicar.

Costa e Silva morre em 1819 e a sua possível herança neoclássica portuguesa e italiana parece ter-se esfumado. Restava o neoclassicismo francês de Montigny e alguns, poucos, edifícios que foram construídos, nos quais é possível detectar alguns méritos, inúmeras dificuldades e curiosas adaptações à geografia e ao clima.