A CULTURA ARTÍSTICA DOS IMPERADORES DO BRASIL: CONTEXTOS PARA A VALORIZAÇÃO, SALVAGUARDA E DIFUSÃO DO PATRIMÓNIO PORTUGUÊS

Clara Moura Soares e Rute Massano Rodrigues (IHA - Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa)

Resumo: Encontramo-nos a desenvolver um projeto de investigação, que tem como principal finalidade estudar o papel que a Biblioteca Pública portuguesa teve na organização e proteção de um gigantesco conjunto de obras de arte oriundas dos conventos, extintos na sequência do Decreto de 30 de Maio de 1834. D. Pedro IV de Portugal, o mesmo que havia fundado o Império do Brasil, em 1822, foi o responsável pela criação de uma estrutura organizativa destinada a cumprir essa delicada e árdua tarefa.

Com a nossa investigação, temos constatado outras iniciativas deste monarca em prol do património histórico-artístico português, como a criação do Museu Portuense (1833), o primeiro museu público nacional, ou a valorização histórica e artística de alguns conjuntos monásticos, de que são exemplo o simbólico Mosteiro dos Jerónimos e o Convento de Nossa Senhora da Pena, em Sintra, cuja conservação, restauro e inventariação incentivou.

D. Pedro IV foi, assim, muito mais do que um Rei-Soldado, como ficou conhecido, tendo idealizado outros projetos no âmbito da salvaguarda do património, da proteção das artes e também da educação que, em consequência da sua morte prematura, coube à Rainha D. Maria II, sua filha e sucessora no trono de Portugal, concretizar.

No Brasil, D. Pedro encetou também algumas medidas importantes de âmbito cultural. A mais assinalável talvez seja a criação da Imperial Escola de Belas Artes, em 1826, em substituição da antiga Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, fundada por seu pai, D. João VI, proporcionado um incremento da educação artística.

Coube, porém, ao seu filho, o imperador D. Pedro II, um papel mais ativo como patrono das artes. Detentor de uma cultura singular, reconhecida pelas mais notáveis individualidades internacionais, incrementou, a formação de novos artistas, o gosto pela fotografia, o hábito das viagens culturais.

Dessas viagens, ficaram as memórias da passagem da corte brasileira por Portugal, em 1872, altura em que visitaram algumas importantes cidades portuguesas, entre elas, o Porto e Lisboa. O périplo foi assinalado através de registos fotográficos, de relatos, das notícias ecoadas pela imprensa e ainda pela construção de espetaculares arquiteturas efémeras, testemunhos a que o meio cultural e artístico brasileiro não terá ficado indiferente. Importa perceber os ecos que esta viagem deteve no Brasil e os contributos que daí advieram para a divulgação e valorização bilateral do património histórico-artístico.