A REPRESENTAÇÃO DE PORTOS NA PINTURA DE MARINHA DO BRASIL: O CASO DA OBRA “PAISAGEM HISTÓRICA DE UM DESEMBARQUE NO LARGO DO PAÇO” (1829) DE FÉLIX-ÉMILE TAUNAY [1]

Helder Oliveira (IFCH/UNICAM; PUC/Campinas)

Resumo: Esta comunicação tem como intuito apresentar algumas considerações sobre a obra Paisagem Histórica de um Desembarque no Largo do Paço (c. 1829)[2] de Félix-Émile Taunay (1795-1881), tendo como foco de análise a representação do ambiente portuário.

Local redesenhado pelo homem e limítrofe entre a terra e o mar, o porto é palco de intensa atividade. Das frotas que chegam e partem - seja pela atividade da guerra ou do comércio - à variedade das personagens que nele se movimentam - seja pelas atividades de trabalho ou de visitação e passeio -, o porto exerce grande fascinação aos seus freqüentadores e é um motivo recorrente na pintura de marinha. A representação de portos já pode ser em uma série de pinturas de Claude Lorrain, e em diversas obras de artistas holandeses que se dedicaram ao universo marítimo. No entanto, a série Portos da França encomendada pelo rei Luis XV ao pintor Claude-Joseph Vernet, e uma série de representações dos portos do reino de Nápoles, encomendadas ao pintor Jakob Philipp Hackert por Ferdinando IV, são os exemplos mais significativos para a nossa análise sobre a obra de Félix-Émile Taunay.

Félix-Émile Taunay foi uma figura de muita importância para os debates artísticos no Brasil e seu desempenho na direção da Academia Imperial de Belas Artes trouxe uma série de inovações, das quais destacamos a criação das Exposições Gerais de Belas Artes em 1840 e do Prêmio de Viagem à Itália em 1845. Mas é, de especial interesse para o presente texto, a sua atuação como pintor de paisagens e sua contribuição para a criação de uma “paisagem histórica capaz de superar os limites da ilustração científica e do panorama”[3].

Paisagem Histórica de um Desembarque no Largo do Paço de Félix-Émile Taunay faz parte do grupo de pinturas de paisagens que o artista realizou nos anos 1820 e, portanto, anterior as suas composições de 1840, “nas quais as características históricas, além de todo o caráter científico das obras, vão ganhar destaque”[4]. A intensa atividade dada pelo grande número de pessoas presentes no Largo do Paço, observando o desembarque de um grupo de nobres, e a presença do trabalho de negros vinculada ao ambiente portuário, evidenciam a representação do local com suas características reais. Deste modo, podemos aproximar a pintura de Félix-Émile Taunay com o modelo utilizado para a realização de sua obra que é a série de Joseph Vernet, pintor que tão bem retratou o caráter histórico dos portos franceses.

A importância de se estudar a obra de Félix-Émile Taunay reside no fato de Paisagem Histórica de um Desembarque no Largo do Paço apresentar a descrição de um ambiente portuário como elemento característico da pintura de marinha - e, neste caso, de uma pintura de marinha realizada no Brasil -, da qual podemos investigar a sua relação com os modelos europeus e a sua contribuição para a pintura de paisagem e de marinha no Brasil, assim como para a história da arte no país.

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[1] Esta proposta de comunicação é baseada em pesquisa de doutorado, cujo título é Por sobre as águas: um estudo sobre a pintura de marinha no Brasil.

[2] Óleo s/ tela, 76 x 117 cm, Museu Imperial, Petrópolis.

[3] MIGLIACCIO, Luciano. Mostra do Redescobrimento: Século XIX. Nelson Aguilar, organizador. Fundação Bienal São Paulo. São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000, p.76.

[4] DIAS, Elaine Cristina. Félix-Émile Taunay: Cidade e Natureza no Brasil. Campinas, SP: 2005, p. 403 [tese de doutorado - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas].