José Augusto Avancini (UFRGS; CNPq; CBHA)
Resumo: A pintura de paisagem no Rio Grande do Sul não escapou a determinações comuns a prática da pintura de paisagem em todo o Ocidente e em particular nas regiões periféricas, como a America Latina e a Europa Oriental, contudo suas obras apresentam boas qualidades estético-formais e algumas ousadias como a assimilação dos ensinamentos impressionistas, por exemplo. O tema predominante será a paisagem rural, a vida simples e idealizada do campo, o tema urbano só ocasionalmente se faz presente. A partir dos anos trinta as imagens urbanas se tornam mais freqüentes com a presença de pontos tradicionais de Porto Alegre ou pela modernização da cidade, na verticalização dos prédios e pela abertura de novas e largas vias no centro da cidade e em seus arredores.
O elemento de distinção dessa produção foi o de ter contribuído de maneira incisiva para a formação e a consolidação de uma imagética própria à cidade e ao Rio Grande do Sul, muito de acordo com a tendência vigente de encontrar o nacional pelo mergulho na especificidade regional. A pintura de paisagem colaborou firmemente para essa consolidação de um repertório básico de imagens do que seriam as paisagens gaúchas. O pampa, as planícies, as serras próximas a Porto Alegre, o lago Guaíba e pontos distintivos da cidade, como a tradicional Ponte de Pedra, foram os temas prediletos dos pintores da primeira geração, tratados neste texto.
Outro e decisivo elemento inovador e intrínseco à prática da pintura foi o domínio técnico dos materiais e dos procedimentos pictóricos, fundamentais na ocasião para consolidar o campo artístico entre nós. Uma cidade que então se afirmava e adquiria feições de pequena metrópole, começava a ter refinamentos culturais para satisfazer as necessidades intelectuais de suas elites econômicas e políticas e de suas emergentes classes médias, que tinham nas práticas culturais um forte elemento de afirmação social. A música e as artes plásticas gozaram, juntamente com as práticas esportivas, de especial atenção de um grupo de profissionais e líderes políticos e empresariais que se organizaram em torno da criação e implementação do Instituto Livre de Belas Artes, em 1908. Institucionalização e domínio técnico das práticas artísticas foram fundamentais para a afirmação e consolidação dessas atividades entre nós. Sinal e sintoma de desenvolvimento e maturidade sócio-econômica. Condição básica da passagem do estatuto de província rural para centro dinâmico de uma nova sociedade urbana que se consolidava, em sintonia com os grandes centros nacionais e internacionais. Modernos e civilizados estes foram os atributos mais importantes a serem adquiridos pelos porto-alegrenses e gaúchos do início do século XX.