A REPETIÇÃO NA OBRA DE PEDRO WEINGÄRTNER

Alfredo Nicolaiewsky (UFRGS)

Resumo: Pedro Weingärtner (Porto Alegre, RS, 1853-1929) foi um importante artista brasileiro, que fez sua formação e parte de sua carreira na Europa, principalmente na Itália, usufruindo de grande sucesso e respeito em sua época, sofrendo, entretanto, nos seus últimos anos de vida e postumamente, um processo de quase esquecimento. A primeira publicação importante sobre este artista surgirá em 1956, obra de Angelo Guido (Pedro Weingärtner) e, posteriormente, em 1971, na obra de Athos Damasceno Ferreira (Artes plásticas no Rio Grande do Sul). Somente nos 2000 ele voltará a ter estudos mais aprofundados sobre sua obra, através das mostras e dos seus respectivos catálogos “A obra gravada de Pedro Weingärtner”, “Pedro Weingärtner: obra gráfica” (ambas em Porto Alegre) e “Pedro Weingärtner - Um artista entre o Velho e o Novo Mundo” (Pinacoteca do Estado de São Paulo), além de diversos outros ensaios apresentados em eventos e publicados em anais e revistas acadêmicas. Estas três exposições sucessivas permitiram um abrangente mapeamento da sua produção, enfocando a gravura, o desenho e a pintura. Não sendo ainda o levantamento completo de sua obra, já é possível ter-se uma boa visão do conjunto. A partir deste material podemos começar a estudar questões internas à obra, aspectos que somente agora se tornaram visíveis. Este texto é uma reflexão sobre um destes aspectos: a repetição dentro da obra de Pedro Weingärtner. Etienne Souriau define o termo repetição, como a ação de refazer muitas vezes a mesma coisa ou a coisa ela mesma, quando ela é revista. Quando se refere às artes o termo possui, segundo este autor, diversos sentidos, dos quais salientarei dois: a repetição como estrutura, na qual um mesmo elemento ou motivo são retomados diversas vezes e a repetição na obra de um autor, onde há o retorno dos mesmos elementos ou das mesmas preocupações de uma obra a outra. No caso de Weingärtner são comuns as repetições de temas, a repetição de uma mesma imagem (paisagem) na pintura e gravura e, finalmente, a repetição de personagens, com as mesmas posturas em diversas telas. Centraremos a discussão em um caso emblemático e exemplar: a repetição de uma paisagem que ora é o tema principal ora é cenário para diversos personagens - a paisagem do Tempora mutantur. Esta paisagem aparece em pelo menos sete obras já localizadas - seis pinturas e uma gravura: Cena de guerra, 1894; A derrubada, 1894; Tempora mutantur, 1898 (Roma); Paisagem derrubada, 1898 (Roma); Gaúchos chimarreando, 1911; A morte do lenhador, 1924 e a gravura Paisagem de Tempora mutantur, sem data. Através da análise destas sete obras, procuraremos entender como Weingärtner trabalha uma mesma imagem, utilizando enquadramentos variados. Procuraremos, principalmente, compreender como ele estabelece as diferentes relações da paisagem com os personagens que surgem em primeiro plano, acreditando que, através deste artigo, estaremos iluminando mais um aspecto da pouco estudada obra deste grande artista..

Palavras-Chave: Pedro Weingärtner; Repetição; Paisagens.