NATUREZAS MORTAS: O MUSEU NACIONAL E A CONSTRUÇÃO DA NAÇÃO NA ENCOMENDA DE D. PEDRO I PARA O ULTRAMAR

Sabrina Marques Parracho Sant’Anna (UFRRJ)

Resumo: Esta comunicação é um dos resultados parciais de pesquisa mais ampla sobre a transferência e circulação de ciência e tecnologia no Império Brasileiro e procura perceber as relações que se estabeleceram entre arte e ciência nos primeiros anos de formação da nação.

Se a História Natural, em meio aos fluxos de conhecimentos adquiridos e técnicas transferidas, parece ter sido fonte de importante repertório no discurso do Império, e por vezes mesmo do imperador, operando, na narrativa fundadora da nacionalidade, sistemas simbólicos capazes de instituir, para dentro e para fora, uma imagem da nação, este paper trata aqui de um episódio específico em que João da Silveira Caldeira, então diretor do Museu Nacional, foi incumbido de coligir objetos para confecção de um presente encomendado por D. Pedro I para ser remetido ao ultramar em meados de 1825. Em meio aos inúmeros documentos localizados ao longo da pesquisa, o caso parece ser revelador dos gestos de produção da nação que foram postos em movimento nos primeiros anos de constituição do Império e merece alguma consideração, sendo expressivo do momento em que se tornou possível, no início da independência, estabelecer vínculos entre discursos atribuídos à colônia e uma narrativa nacional, construindo relações entre um sentimento de pertença e uma imagética forjada pelo discurso da alteridade.

Buscando mostrar as riquezas que à nossa Pátria pertencem em objetos de História Natural, o presente confeccionado no Museu Nacional buscava apresentar os elementos classificados pela ciência em disposição essencialmente estética, produzindo conjuntos de imagens com efeito simbólico. Tomavam-se da natureza elementos que apresentavam, em metonímia, a nação concretizada. A coleção, ordenada por um sentido eminentemente visual e agrupando elementos com sentido imagético, fazia referência à história da arte que a precedia e remontava às origens dos objetos, apresentando o território como produtor da riqueza exótica do mundo tropical e como referência a permanecer operando invisível para os espectadores que a contemplavam. Proponho para esta comunicação uma análise da relação de objetos enviados por Dom Pedro ao exterior e do modo como arte e ciência se confundiram no século XIX para conformar um sentido de nação.

Palavras-chave: Museu Nacional; História Natural; Arte e ciência.