HISTORIOGRAFIA DA ARTE COLONIAL EM A ARTE BRASILEIRA DE GONZAGA DUQUE

Paula Ferreira Vermeersch (Unicamp)

Resumo: Na primeira parte de seu livro de estreia, A Arte Brasileira, publicado em 1888, o crítico Luiz Gonzaga Duque Estrada (1863-1911) se debruça sobre a produção artística no Rio de Janeiro antes da chegada da família real portuguesa. Tomando como ponto de partida a leitura dos textos de Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879) sobre o tema, e o conhecimento direto das obras do patrimônio da cidade, Gonzaga Duque constrói um painel interessante sobre a produção artística brasileira do chamado período colonial.

Nomes como frei Ricardo do Pilar (c.1635-1700), mestre Valentim (c.1745-1813), e Manoel da Cunha (1737- 1809), responsáveis por telas e esculturas encontradas em templos e construções públicas cariocas, são os personagens destacados por Gonzaga Duque. Telas que até hoje se encontram em igrejas como a de São Francisco de Paula e as extensas galerias de retratos da Santa Casa de Misericórdia, e as encontradas em lugares que não mais existem, como a Igreja do morro do Castelo, nos trazem a cidade do momento em que o crítico escreveu seu livro, e as configurações do ambiente artístico nos Oitocentos.

Manuscritos, hoje divididos entre a Fundação Casa de Rui Barbosa e o CEDAE, na Unicamp, atestam que, no final de sua vida, Gonzaga Duque dedicou-se a rever seu primeiro livro, para publicá-lo novamente revisto e ampliado. O crítico preocupou-se em refazer a primeira parte de sua obra, revendo dados e suas posições sobre os artistas do chamado período colonial, consultando novamente os textos de Porto-Alegre e os arquivos do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Podemos aventar a hipótese que, nesse novo balanço historiográfico, o crítico daria um maior destaque ao passado das Artes brasileiras, e faria uma reavaliação de suas posições combativas, que, em 1888, se justificavam, mas por volta de 1910 já não correspondiam nem ao estado das Artes Plásticas brasileiras, nem aos seus ideais estéticos, e tampouco à visão que este possuía dos desenvolvimentos posteriores à publicação de A Arte Brasileira.

A presente comunicação pretende problematizar, de um lado, a visão apresentada por Gonzaga Duque da chamada arte colonial, na primeira edição de seu livro, e os estudos dos manuscritos inéditos, onde novas posições se delineiam. Também se busca apresentar, pela primeira vez, um esboço de um caderno de imagens para A Arte Brasileira, bem como outros subsídios estabelecidos para a leitura crítica da obra.

Palavras-chave: Luiz Gonzaga Duque Estrada (1863-1911); A Arte Brasileira; Arte Colonial.