GLÓRIA A JOSÉ DE ALENCAR: PINTURA DECORATIVA E MAIS-VALIA SIMBÓLICA

Carla Manuela da Silva Vieira (PUC/SP)

Resumo: A ornamentação de um espaço, assim como seus demais elementos arquitetônicos, carrega-o de impressões visuais que são fruídas pelos usuários desse. Nesse ato, sociabiliza-se a ação estética que se desenvolve partindo de uma relação entre aquele que cria, aquele que frui a obra artística e o lugar onde a ação constrói-se. Isso posto, a pintura configura-se num importante elemento de decoração quando, inserida em um Lugar (entendido como uma configuração de posições apenas), tende a carregá-lo de simbologias (culturais, sociais etc.), contribuindo para que esse se transforme em um Espaço (um “lugar praticado”). No Brasil, a pintura decorativa acompanhou os processos de modernização e reformulação urbana por que passaram os grandes centros urbanos em fins do Século XIX e início do XX, período em que se observaram profundas transformações nas mais diversas ordens sociais (política, econômica, cultural), todas voltadas a sentidos específicos: a “modernização” e “civilização” da sociedade brasileira. Em Fortaleza, capital do Estado do Ceará, isso é evidenciado também em ocasião da construção e ornamentação de seu mais importante teatro, o Theatro José de Alencar (1908 a 1910), no qual se insere o objeto desta análise: um painel de grandes medidas intitulado Gloria a José de Alencar, de autoria do pintor Rodolfo Amoedo, que, pousado sobre a boca de cena do referido teatro, propiciou não apenas ao espaço em questão um elemento de decoração, mas um elemento fomentador de mais-valia simbólica para a sociedade que o recebeu, sociedade esta que também se pretendia e empreendia esforços para fazer-se moderna e civilizada.

Palavras-chave: Pintura Decorativa; Sociabilidade; Mais-valia simbólica.