HISTÓRIAS ILUSTRADAS - ÂNGELO AGOSTINI E A CRIAÇÃO DOS QUADRINHOS DE AVENTURA

Bernardo Domingos de Almeida (UERJ)

Resumo: Ângelo Agostini (1843 - 1910), por seu trabalho isolado, teve seu pioneirismo semi-esquecido no que diz respeito aos quadrinhos, chegando aos nossos dias mais a sua fama de abolicionista e anarquista, que fez por merecer por suas charges de crítica e humor refinados, estampadas em diferentes jornais e revistas de sua época. Num desenvolvimento visível do que chamava de histórias ilustradas, antecipara várias das características das histórias em quadrinhos tal como os norte-americanos as instituiriam.

Digo isolado, pois por mais que ele tenha sido um dos maiores pioneiros dos quadrinhos, não se pode afirmar que suas pesquisas influenciaram o desenvolvimento das Histórias em Quadrinhos como um todo, já que não chegou de maneira ampla ao conhecimento de seus contemporâneos nos Estados Unidos e Europa.

As Aventuras de Nhô Quim” (1869/1870), publicada em nove capítulos consecutivos (algo tido como inédito nos quadrinhos até Wash Tubbs, já em 1924), nas páginas do jornal “A vida Fluminense”, é o primeiro esboço de Agostini rumo a uma linguagem de quadrinhos. Revela a preocupação do artista em observar e retratar sua sociedade, ao passo em que desenvolve as potencialidades da mídia.

As Aventuras de Zé Caipora” (1883 - 1906), com 23 episódios publicados até 1886, na “Revista Illustrada” (sic), ganhou reedição especial, dividida em fascículos de seis episódios cada, antecipando as publicações de álbuns com coletânea das tiras americanas. Foram publicadas, ainda, nas páginas de “Don Quixote” (1901) e “O Malho” (1905), onde o último episódio é publicado em 1906, deixando a entender que o autor previa continuação. Ao longo destes 23 anos, Agostini desenvolveu um gênero novo.

Para Brian Kane, não existiam quadrinhos de aventura com temas e traço verossímeis, nos EUA, antes da publicação de “Tarzan”, em 1929. Ora, Agostini já trazia o gênero para as HQs com Zé Caipora, que se embrenhou na mata atlântica, fez amizade com um casal de índios e com eles, enfrentou tribos inteiras, onças e outras “feras”, além de se inserir na vida pseudo-aristocrática do Rio de Janeiro Imperial, casando-se com a filha de um Barão decadente, para quem ofereceu a riqueza burguesa em troca do título cortesão, numa negociata típica da época vestida em roupagens românticas, já que José Corimba (nome verdadeiro de nosso herói) amava, de fato, a jovem Memé (Amélia), filha do Barão.

Com base em tudo isto, podemos afirmar seguramente que “As aventuras de Zé Caipora” foi o primeiro folhetim ilustrado, a primeira novela gráfica, a primeira história em quadrinhos com traços realistas e a primeira história de aventuras, trazendo a ideia de herói dos quadrinhos e mais, a ideia de anti-herói dos quadrinhos. Não encontra similares nem nos EUA nem na Europa de seu tempo, sendo muitas destas características desenvolvidas apenas por Hal Foster (1892 - 1982) e Roy Crane (1901 - 1977), com “Tarzan” e “Príncipe Valente”, do primeiro; e “Tubinho” e “Capitão César” do segundo. Todos estes personagens, já na segunda década do século XX.

Atualmente, Agostini é patrono dos direitos humanos no Brasil e dá nome ao maior prêmio dos quadrinhos no país.

Palavras-chave: Ângelo Agostini; Quadrinhos; Litografia.