Os primeiros espaços públicos de exposição no Brasil: Xavier das Conchas e Xavier dos Pássaros *

 Sandra Makowiecky

MAKOWIECKY, Sandra. Os primeiros espaços públicos de exposição no Brasil: Xavier das Conchas e Xavier dos Pássaros. 19&20, Rio de Janeiro, v. XII, n. 2, jul./dez. 2017. https://doi.org/10.52913/19e20.xii2.03

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Problemática e pontos para discussão

1.      Propomos a análise de algumas das questões envolvidas no processo de expansão do campo da história da arte, com explicitação de narrativas que tomem o Brasil como ponto de partida para a discussão das relações entre próprio e global, contribuindo para a revisão dos discursos tradicionais que enfatizam a centralidade da Europa nos processos de construção e estruturação de arte e da história da arte na América Latina. Nesta perspectiva, a pesquisa apresenta Francisco Xavier Cardoso Caldeira, conhecido por Xavier dos Pássaros, catarinense, e Francisco dos Santos Xavier, conhecido por Xavier das Conchas, que viveu 32 anos em Santa Catarina, onde aprendeu o ofício manual com conchas. Esses artistas trabalharam com Mestre Valentim na execução do Passeio Público no Rio de Janeiro e foram responsáveis pela ornamentação de dois pavilhões quadrangulares, cada qual ao seu estilo, que o progresso demoliu.

2.      Em 1988, o Ministério da Cultura, através da Secretaria do patrimônio Histórico-IPHAN e da Fundação Nacional-Pró-Memória, promoveu o Prêmio Xavier dos Pássaros,  abordando o tema Exposição: Linguagem Museológica, com o objetivo de divulgar a pesquisa, a reflexão e a produção de textos técnicos no setor museológico. O patrono do concurso, Xavier dos Pássaros e seu parceiro, Xavier das Conchas, podem ser considerados os primeiros museólogos brasileiros, pois foram responsáveis pelos primeiros espaços públicos de exposição no país: os dois pavilhões do Passeio Público, inaugurado em 1783, que abrigavam e expunham ao público o primeiro acervo museológico do Brasil, os painéis ovais de Leandro Joaquim (1738-1798). Xavier dos Pássaros desenvolveu um trabalho que remete a uma das funções primordiais dos museus: a preservação dos espécimes naturais ou culturais de uma nação. Por outro lado, ao utilizar criativamente penas e plumas na ambientação do pavilhão, indicou o caminho para a museologia brasileira na busca de uma linguagem própria, não submissa a padrões importados.[1] Discorrer sobre este tema pode contribuir para pensarmos sobre a circulação de objetos, práticas e ideias na criação do complexo mapa da arte e de sua história. A história dos “Xavier,” por sinal, é pouco conhecida entre os pesquisadores de história da arte no Brasil, o que igualmente justifica o conhecimento de sua inclusão e de suas utopias.

Sobre o Passeio Público  e Mestre Valentim: Uma obra e um personagem bem conhecidos iniciam este estudo

3.      A obra de Valentim da Fonseca e Silva, Mestre Valentim (1745-1813), é reconhecidamente considerada pelos estudiosos da cultura brasileira como uma das mais significativas produções artísticas do Rio de Janeiro do século XVIII, quando a cidade, elevada à condição de nova capital do Vice-Reino português, se torna o pólo de concentração de poder da colônia e seu grande foco receptador e difusor de padrões estéticos.

4.      A produção de Valentim - de caráter escultórico, arquitetônico e urbanístico - participou do processo de “civilidade” e de “esclarecimento” da sociedade carioca setecentista e destinou-se quase exclusivamente às instituições governamentais e laicas, dominantes no período. Valentim projetou e executou monumentais obras civis na cidade, tais como o Passeio Público e imponentes chafarizes, notadamente na gestão do Vice-Rei Dom Luís de Vasconcelos (1779-1790); projetou e executou, ainda, importantes obras de talha e imaginária em igrejas de poderosas congregações laicas, além de lampadários, alfaias e objetos sacros.[2]

5.      Segundo Anna Maria Fausto Monteiro de Carvalho,[3] a cidade do Rio de Janeiro, como principal porto do país e depois com o status de capital, viu-se acrescida, no século XVIII, de monumentos representativos de ordem urbana, como o Aqueduto da Carioca, chafarizes, as ruas da Vala e do Cano, largos, o Paço dos Governadores, a Casa de Recolhimento, a Casa do Trem (para fundição de materiais bélicos), hospícios, cemitérios, matadouros, entre outros. Mas foi somente no último quartel do século XVIII, durante a gestão de Dom Luis de Vasconcelos, que a cidade conheceu seu primeiro grande surto de racionalização urbana no período colonial. O Vice-Rei de ideias iluministas priorizou, em seu programa governamental, além do saneamento básico e do abastecimento de água, o lazer e o embelezamento urbano, numa tentativa de adequar a cidade ao moderno conceito de imagem das luzes das capitais europeias.

6.      O sítio eletrônico do Passeio Público[4] fornece informações variadas sobre a história do passeio, desde a sua construção e inauguração, passando pelas reformas que sofreu, chegando aos dias de hoje. O Passeio Público foi construído entre os anos de 1779 e 1783, sendo o primeiro jardim público (ou parque ajardinado) da cidade e do país. Logo nos primeiros anos após a sua construção, valorizou a região de entorno e se tornou um dos principais pontos de encontro da sociedade carioca que ali se reunia para ler poemas, ouvir música e praticar o footing.

7.      Naquele local existia a Lagoa do Boqueirão que, assim como diversas lagoas da cidade, era utilizada para despejo dos dejetos da população, tornando-a insalubre e foco de doenças. Após uma forte epidemia de gripe e febre que atingiu grande parte da população carioca em meados do século XVIII, D. Luís de Vasconcelos, ordenou o aterro da lagoa e sobre este mandou construir um jardim público. O aterramento da lagoa gerou uma área total de 20 hectares que foi ocupada não só pelo Passeio Público, mas também por residências, ruas de acesso ao parque e um cais, para proteger o jardim das ondas do mar. A tarefa de projetar e construir o Passeio Público foi atribuída ao “glorioso arquiteto nacional”[5] Valentim da Fonseca e Silva, conhecido como Mestre Valentim.

8.      O Passeio Público foi projetado por Valentim seguindo o estilo francês, pautado na linearidade, regularidade e geometrização, características assimiladas do modelo iluminista que despontava na Europa [Figura 1 e Figura 2]. Conforme afirma Denise Maria Deodato Silva, “a inserção do ideal de cidade iluminista, com seus aspectos racionais, salutares e estéticos”[6] vinha sendo intensificada desde 1763, quando a cidade foi elevada à condição de sede do Vice-Reino. O pensamento iluminista, baseado no racionalismo, propunha um nova relação do homem com a natureza, sendo que esta se apresentava como fonte de conhecimento e deleite [Figura 3, Figura 4, Figura 5, Figura 6, Figura 7, Figura 8 e Figura 9]. As Figura 10 e a Figura 11 mostram a situação espacial do Passeio nos tempos atuais. 

9.      Mestre Valentim desenhou um jardim totalmente plano, com planta em forma de trapézio, ruas em linhas retas e uma praça central [Figura 1 e Figura 2]. O jardim era cercado por um muro alto com grades de ferro. Na entrada, dois pilares de pedra firmavam um vistoso portão de ferro, concebido por Mestre Valentim, apresentando elementos típicos da obra do artista, como guirlandas, margaridas, plumas, folhagens estilizadas e rocalhas [Figura 12].  Em seu interior podia-se contemplar, além de variadas espécies da flora nacional e estrangeira, obras de arte confeccionadas por Mestre Valentim, como chafarizes, esculturas e obeliscos em forma de pirâmides.

10.    Das obras originais, existe atualmente no Passeio o portão principal [Figura 13], a chamada Fonte dos Amores (com estátuas de jacarés em bronze, também conhecido como Chafariz dos Jacarés) [Figura 14],  o chamado Chafariz do Menino (cuja escultura atual do menino não é a original, já desaparecida) [Figura 15] e os dois obeliscos [Figura 16 e Figura 17]. 

11.    No fundo do jardim, quatro escadas de pedra levavam a um terraço sobre a Baía de Guanabara. O terraço possuía cerca de 10 metros de largura, com piso de mármore policromado, e era cercado por uma balaustrada de bronze com lampiões à base de óleo de peixe. Junto ao parapeito, havia bancos de alvenaria revestidos com azulejos de inspiração mourisca [visíveis à direita, na Figura 8]. Para ornamentar o terraço do passeio, Mestre Valentim construiu dois pavilhões quadrangulares [Figura 18 e Figura 19], que eram constantemente atingidos pelas ressacas e foram demolidos completamente no ano de 1817, para a ampliação do espaço do terraço. Mais precisamente no ano de 1841, o Passeio sofreu uma reforma de manutenção e os antigos pavilhões quadrangulares, já destruídos em 1817, foram substituídos por torreões octogonais,[7] que foram definitivamente destruídos em 1922.

12.    Os pavilhões do terraço apresentavam uma composição arquitetônica e ornamental adequada às amenidades da elite social: convidava ao descanso, a conversação e à contemplação do panorama, como mostram a Figura 5 e a Figura 8. Os dois pavilhões erguiam-se nos dois extremos do terraço, descritos como “dois mirantes de figura quadrada com duas portas de cada lado, e todas com vidraça,” que tinham nos quatro ângulos dos beirais “pés de ananases com seus frutos (considerados reais, todos de metal sobrepintados que pareciam verdadeiros,” conforme descrição de Luís Gonçalves dos Santos.[8] que complementa que no pavilhão do lado direito, via-se, no alto, “a figura de Apolo tocando lira, e no esquerdo, a de Mercúrio com o caduceu.”  No seu aspecto exterior, os pavilhões lembravam singelas capelas coloniais, mas na parte interna,[9] tinham planta “barroca” movimentada em octógono e eram  ricamente decorados. Os mirantes eram considerados então a maior atração da cidade.[10] 

A ligação de Mestre Valentim com Xavier dos Pássaros e Xavier das Conchas

13.    Valentim da Fonseca e Silva, natural do Serro, no Vale do Jequitinhonha, foi escultor, entalhador, arquiteto e urbanista. Filho de um português contratador de diamantes e de uma negra, o mulato Valentim foi levado pelo pai a Portugal em 1748, com apenas três anos, onde ficou até os 25 anos. Em terras lusitanas, aprendeu o ofício de escultor e entalhador. Em 1770, retorna ao Brasil e se estabelece no Rio de Janeiro, com loja, oficina e residência, tendo trabalhado em obras públicas e religiosas. 

14.    Segundo o texto intitulado Mestre Valentim e a arte catarinense, escrito em 1918 por Henrique Boiteux e que consta nos arquivos do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina,[11] Valentim, Xavier dos Pássaros e Xavier das Conchas estabeleceram uma fértil associação. Francisco Xavier Cardoso Caldeira, conhecido como Xavier dos Pássaros era catarinense, nascido ilhéu, artista primoroso em trabalhos com penas e escamas, aprendidos com a família Silva Mafra. Francisco dos Santos Xavier, conhecido como Xavier das Conchas, era não menos afamado pela sua habilidade em trabalhos de conchas. Natural do Rio de Janeiro, nascido em 1739, Xavier das Conchas sentou praça em 1752, aos 13 anos, e foi destacado para a ilha de Santa Catarina, onde permaneceu por 32 anos.[12] Indo ao Rio de licença em 1787, foi nomeado pelo Vice-Rei Luiz de Vasconcellos e Souza para executar trabalhos na obra do Passeio Público, por portaria de 18 de outubro de 1787, em que foi ordenado que lhe pagassem os seus soldos enquanto ele se demorasse ocupado naquele serviço na cidade do Rio de Janeiro. Assim, foi encarregado de ornar o pavilhão de Apolo com painéis formados de conchas, trabalho em que era habilíssimo. Faleceu no Rio em 1814, aos 75 anos, no posto de tenente-coronel e ainda de Governador da Fortaleza da Conceição. Sabe-se que aprendeu a arte em Santa Catarina, onde casou e ficou viúvo, levando para o Rio de Janeiro os dois filhos dessa união.

15.    Xavier dos Pássaros e Xavier das Conchas saíram de Santa Catarina e foram ao Rio de Janeiro trabalhar com Mestre Valentim, como indica o seguinte trecho do texto de Henrique Boiteux: “Eis como a arte, outrora tão cultivada pelos catarinenses e que embora hoje, um tanto desprezada, contribuiu para realce e encanto da obra de Valentim da Fonseca e Silva.[13]  Essa informação é novamente confirmada no livro Santa Catarina nas Belas Artes, também escrito por Boiteux, no capítulo onde trata sobre a “Propensão artística catarinense”. Nele, o autor apresenta, entre outras, citações de Ladislau Neto, antigo diretor do Museu Nacional:

16.                                  A propensão artística do catarinense de muito que se manifesta. A sua natureza foi e é sua mestra e bem poucas a igualam em predicados. Assim, pode-se dizer que nele é inata. [...] Comecemos por Francisco Xavier Cardoso Caldeira, exímio taxidermista, de quem disse o ilustrado dr. Ladislau Neto: “deixou na metrópole também, a fama que deixa na terra, uma inteligência produtiva e uma honestidade imaculada.[...] Nessa obra colaborou também um outro, Francisco dos Santos Xavier, que havia se tornado exímio em Santa Catarina, em trabalhos artísticos com conchas.”[14] 

17.    Essas duas fontes forneceram relevantes informações sobre os dois artistas, apesar de causarem leve confusão sobre suas origens. Em primeira leitura, nos fez pensar serem ambos catarinenses.  Noutro trecho de Boiteux, consta a ligação com as famílias Silva Mafra e Silveira de Souza, com tradição na arte e cultura catarinense:

18.                                  Não se cingiu somente em Francisco Xavier Caldeira, que foi o expoente, aquele gosto artístico que tanto atraiu o seu homônimo, que, durante mais de 30 anos, desde jovem, conviveu entre os catarinenses, despertando- lhe a inclinação para a arte que entre estes havia implantado a família Silva Mafra, sempre lembrada, e de que outra também não esquecida, a de Silveira de Souza, foi afamada cultora.[15]  

19.    Por fim, consta em outro documento que o Vice-Rei D. Luiz de Vasconcellos e Sousa, criador do primeiro museu de história natural do Brasil - a “Casa dos Pássaros,” a qual retornaremos mais adiante - entregou a planície aterrada ao Mestre Valentim e seus ajudantes.  

20.                                  Ajudaram-no Francisco dos Santos Xavier - o Xavier das Conchas, artista que então compunha, com os restos dos molluscos, ornatos de toda especie, e Francisco Xavier Cardoso Caldeira - o Xavier dos Passaros - naturalista amador, encarregado de zelar pelo museu do Vice-Rei. O mesmo artista que entreteceu de papos de tucano o manto imperial, para o que José Bonifacio, em um documento que existe no Archivo do Museu Nacional, mandou em: 1821 fossem entregues todos os tucanos menos dous, escolhendo-se os, que tivessem o papo bem amarello. No terraço do Passeio Publico construíram-se dous pavilhões: o de Appollo - decorações de Xavier das Conchas e o Mourisco, entregue à habilidade de Xavier dos Pássaros. Os pavilhões não duraram muito.[16]  

21.                                  Para realizar o benfazejo pensamento do vice-rei, foram chamados os dois nomes mais engenhosos da época: o Mestre Valentim e o célebre Xavier das Conchas, assim alcunhado pelos famosos trabalhos que fazia [...] [17] 

Sobre os pavilhões quadrangulares e seus interiores

22.    Os referidos pavilhões quadrangulares funcionavam como mirantes e tinham em seu interior dezesseis painéis elípticos pintados pelo então destacado artista Leandro Joaquim,  retratando cenas marítimas, cotidianas e produtos regionais. Do total das obras, apenas seis chegaram aos dias atuais. Fazem parte do acervo do Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro.[17b] São elas: Igreja da Glória [Figura 20], Vista da Lagoa do Boqueirão e do Aqueduto de Santa Teresa [Figura 21]; Pesca à Baleia na Baia de Guanabara [Figura 22]; Cena Marítima [Figura 23], Desfile Militar no Largo do Paço do Rio de Janeiro [Figura 24] e Procissão ou Romaria marítima ao hospital dos Lázaros [Figura 25]. Todas essas telas, datadas de cerca de 1790, faziam parte do pavilhão decorado por Xavier das Conchas, bem como duas delas desaparecidas que tem seus títulos conhecidos: Entrada da Barra e Incêndio de uma grande nau holandesa.  As obras de Leandro Joaquim que estavam no pavilhão decorado por Xavier dos Pássaros e que representavam produtos da terra foram todas perdidas.

23.    Xavier dos Pássaros e Xavier das Conchas foram responsáveis pela ornamentação dos pavilhões, cada qual ao seu estilo. Os dois pavilhões quadrangulares que se levantavam nas extremidades do terraço fronteiro ao mar eram semelhantes no exterior, porém diferiam nos ornamentos do interior Nas partes externas, eram decorados com vasos de mármore de onde saíam abacaxis de metal, fundidos por Mestre Valentim nas fornalhas da Casa do Trem. Os pavilhões possuíam quatro janelas envidraçadas e duas portas de dobrar.

24.    O pavilhão da direita, chamado de Apolo, era coroado com uma estátua desse deus tocando lira, em mármore português, e foi ornamentado por Xavier dos Pássaros. Nesta construção, desenhos de árvores adornavam o interior, cujas telas - maiores que as do outro pavilhão - traziam imagens de produtos da terra.[18] O teto dividia-se em cinco grandes quadros enfeitados de arabescos, palmas e flores formados por penas de diversas cores, sobre fundo branco, “tudo tão perfeitamente acabado que produzia uma suave ilusão;”[19] esse teto era decorado com trabalhos de conchas e ornamentado nas cornijas por desenhos de pássaros e penas de aves de diferentes cores, “fingindo flores” ou mostrando aspectos da cidade. As sobreportas eram decoradas também com penas e possuíam quadros elípticos nas paredes feitos a pincel, representando diferentes fábricas e ofícios do país. As paredes desse pavilhão exibiam oito painéis elípticos pintados por Leandro Joaquim, todos perdidos, que representavam produtos da terra: minas de ouro e diamantes; plantações de cana-de-açúcar e seu respectivo engenho; cultura e preparação do anil; plantação do cactos opuntia com a maneira de extrair a conchonilha; mandioca e seus derivados; pés de cânhamo; manufatura de cordoalha.

25.    Já o pavilhão da esquerda, conhecido como Mercúrio, por ser coroado por uma estátua desse deus em mármore português, ficou a cargo de Xavier das Conchas. Nesse pavilhão, itens marítimos eram lembrados e os quadros retratavam o cotidiano carioca e cenas do mar, como a caça às baleias.[20] Os cinco quadros do teto eram ornados com conchas, sobre fundo azul. As sobreportas eram ornamentadas com espécies de peixes dos mares brasileiros, feitos com peles e escamas. As paredes desse pavilhão exibiam oito painéis elípticos pintados por Leandro Joaquim que representavam cenas marítimas e cotidianas do Rio de Janeiro, dos quais sobram ainda seis, acima mencionados. O fundo, em vez de branco, tomava a cor azul. Ainda, “todos estes encantos da arte gozavam-se também de noite, ao clarão de oito lampiões, trabalhados com esmero e colocados na extensão do terraço.”[21] No lado de fora, vasos com abacaxis de metal complementavam o visual. Para Joaquim Manoel de Macedo,[22] os trabalhos executados pelos dois Xavier, “encantavam pela sua delicadeza e perfeição, chegando os baixos-relevos a parecer antes obras da natureza do que de arte.”[23]  John Barrow, relatando a sua viagem à Conchinchina em 1792, nos dá uma detalhada descrição dos pavilhões:

26.                                  Em cada extremidade do terraço existe um pavilhão quadrangular cujas paredes internas estão cobertas por pinturas. Como especimen de arte, não merecem notícias, porém os assuntos pintados longe estão de serem desprezados. As vistas, num destes pavilhões são todas dedicadas a cenas do porto; o teto é coberto com trabalho de conchas; e ao redor da cornija estão representados peixes peculiares à região executados com pequenas conchas. O teto do outro edifício tem a mesma decoração, porém trabalhado com penas, e desenhos de pássaros nativos ornamentam a cornija, cada um com suas respectivas plumagens. Neste, oito pinturas descreviam o que eram, então, consideradas as oito produções mais importantes do Brasil.[24]

27.    Encontramos outras descrições: 

28.                                  Outro viajante inglês, George Staunton, aportado no Rio também em 1792, acrescentou outros dados à descrição dos pavilhões do Passeio feita por Barrow. Segundo Staunton, as telas do pavilhão das penas eram mal-executadas e maiores que a do pavilhão dos peixes. [...] Segundo a descrição de John Luccock, de 1808, os pavilhões possuíam quatro janelas envidraçadas e duas portas de dobrar. O teto era em forma de pirâmide octogonal e nas paredes ficavam os painéis. Luccock descreveu todas as telas com cenas do Rio, inclusive as duas hoje desaparecidas: o incêndio de uma grande nau holandesa e a entrada da barra.[25]   

29.    A figura 3 [ fig.3]  retrata o terraço à beira-mar e um dos torreões octogonais, os segundos pavilhões. É possível observar também outros elementos arquitetônicos do espaço que foram mencionados anteriormente, como os bancos de alvenaria decorados com azulejos, as luminárias, o piso decorado e o jardim do passeio ao fundo. Conforme consta no site oficial do Passeio Público,[26] durante o período colonial, diversos viajantes estrangeiros aportaram no Rio de Janeiro e descreveram os pavilhões como uma grande atração da cidade, chegando a chamá-los de summer houses.  

Sobre Leandro Joaquim

30.    Leandro Joaquim (1738-1798) - destaca-se, entre os artistas da segunda metade do século XVIII que trabalham de maneira inovadora a tradição artística portuguesa. Trabalhou com Mestre Valentim em desenhos e projetos urbanos. Suas pinturas em painéis impressionam pelo colorido e estão entre as primeiras paisagens, marinhas e vistas de cidade realizadas no país por brasileiros. Nessas telas, Leandro Joaquim mostra diversos aspectos da vida cotidiana no Rio de Janeiro e fixa com cuidado os personagens e tipos humanos e os detalhes das construções: balcões, alpendres, torres e campanários, rodas d’água, fortalezas e fábricas. Para Luciano Migliaccio, os painéis correspondem ao programa de urbanização da cidade do Rio de Janeiro promovido pelo Vice-Rei para dotar a nova capital de estruturas adequadas. Colocados em lugar de divertimento público, tinham a finalidade didática de exaltar os produtos e a paisagem nacionais.[27] Ainda para Migliaccio, os temas das pinturas dos painéis são afinados com a exaltação dos recursos naturais e das riquezas da colônia brasileira que se encontram nos documentos da Academia de Ciências do Rio de Janeiro, fundada pelo marquês do Lavradio. Nas imagens, como nos escritos dos literatos e dos cientistas, fica evidente a percepção de novas relações com Portugal e do novo papel do Brasil e de sua população. 

Sobre Francisco Xavier Cardoso Caldeira (Xavier dos Pássaros) 

31.    Francisco Xavier Cardoso Caldeira (Florianópolis, ? -1810), o Xavier dos Pássaros [Figura 26], era um artista primoroso em trabalhos de penas e escamas de peixes, ensinamentos recebidos da família Silva Mafra.

32.    Claudia Beatriz Heynemann, no livro As culturas do Brasil,[28] analisa, à luz das ideias predominantes na Europa, o processo racional que se instalou na Corte Portuguesa pontuado pelas viagens científicas que tinham a intenção de explorar os recursos naturais de forma extensiva e objetiva, quando a colônia brasileira tornou-se um laboratório a céu aberto. A exuberante natureza até então motivo de contemplação e admiração foi analisada, classificada, dissecada, preservada  e tratada como ciência, abrindo dessa forma um novo campo do saber - o da História Natural. A pesquisadora destaca esta relação de troca de material e conhecimento científico, que Portugal usava para se situar no mundo europeu projetando-se e afirmando-se com os recursos naturais de sua própria colônia, integrando brasileiros e portugueses num sentimento comum. 

33.    Diz Heynemann que nas colônias organizavam-se as remessas que deveriam abastecer os gabinetes, museus e jardins botânicos das metrópoles. Para que esses objetos pudessem ser vistos, complementarmente ao olhar da ciência, expunham-se os métodos, “antigos e modernos,”, de preparação das coleções. No Rio de Janeiro, o desenvolvimento dessas técnicas e a divulgação do conhecimento mereceram a criação, pelo Vice-Rei Luís de Vasconcelos, de um gabinete de história natural que ficou conhecido como “Casa dos Pássaros,” com o intuito de preparar animais exóticos brasileiros, através da taxidermia, para que fossem enviados aos museus europeus, onde seriam pesquisados.[29]

34.    Após a finalização dos trabalhos no Passeio Público, Xavier dos Pássaros foi indicado por Vasconcelos para criar e dirigir o Museu de História Natural no Rio de Janeiro. Junto à obra da edificação do Museu, Caldeira improvisou um depósito de produtos zoológicos do Brasil, destinado a enriquecer as coleções brasileiras do futuro museu. Para tanto, encomendou aos governadores das capitanias a remessa de espécies raras; o dito depósito passou a se chamar oficialmente de Casa de História Natural e ficou conhecido da população como “Casa dos Pássaros.” Ele recebeu o título de inspetor e foi responsável pela direção do incipiente museu. Entre suas funções, incluía-se o ensino da história natural, e no caso do museu, das práticas aplicadas às coleções. Seu trabalho durou mais de uma década e, em 1797 determinava-se que recebesse pensão vitalícia de 400$000, a obrigação de continuar nos trabalhos de recolher, preparar e remeter as produções naturais do país e de continuar a formar alunos.[30] Como cientista, realizou diversos estudos taxidérmicos e ornitológicos. O museu tornou-se o mais completo relicário ornitológico brasileiro. Segundo Ladislau Neto, antigo diretor do Museu Nacional, Xavier dos Pássaros “pode ser apontado como o primeiro representante de Santa Catarina na confecção de objetos artísticos, de conchas, de penas e de escamas, que adornaram as composições industriais do Rio de Janeiro.”[31] Ele dirigiu a Casa de História Natural por 20 anos, acumulando milhares de exemplares de pássaros e de muitos outros animais. Após seu falecimento, em 1810, a “Casa de Pássaros” foi extinta e as coleções organizadas e classificadas por Xavier foram encaixotadas e conduzidas ao Arsenal do Exército, lá conservadas por algum tempo e depois destruídas. Deixou como discípulo João de Deus Mattos, a quem ensinou lições de taxidermia e mais tarde ocupou o cargo de diretor interino do Museu.

35.    Foi reconhecido por Luís de Vasconcelos que, em correspondência com Martinho de Melo e Castro, justifica a solicitação de apoio financeiro a Caldeira:  

36.                                  A preparação dos pássaros, quadrúpedes, insetos e peixes é feita por Francisco Xavier Cardoso, que sendo natural da Ilha de Santa Catarina, e não tendo nunca saído desta capitania, por habilidade raríssima, e natural propensão, tem chegado a fazer as mesmas preparações com tanta delicadeza e perfeição. A sua habilidade se estende a muito mais e o seu trabalho não é de jornaleiro, ao mesmo tempo que ele não tem bens, ou estabelecimento algum, e vive só da sua habilidade. Ele mesmo ora trabalha com igual pressa que perfeição, ora vai pelos matos apanhar insetos e em breves dias traz mais e melhores do que em um ano todas as muitas pessoas a quem tenho encarregado esta diligência.[32]

37.    Prossegue Heynemann dizendo que as atividades de Xavier dos Pássaros como professor de história natural atraíram alunos de outras capitanias e que ele relutou em divulgar seu conhecimento antes de ser legitimado pelas autoridades, ainda na ilha de Santa Catarina, como se observa na correspondência que antecede a criação do Gabinete, pois ele havia sido o responsável pela coleção de pássaros que encantara os naturalistas do gabinete de História Natural da Ajuda. A trajetória dos Xavier dos Pássaros, dos matos da ilha de Santa Catarina ao Largo da Lampadosa (atual Praça Tiradentes), participa do movimento de naturalistas e dos demais envolvidos com a história natural, incumbidos de ver cientificamente, por meio da taxinomia, da organização e do estabelecimento de relações, fazendo existir o que estava disperso e oculto na paisagem. Heynemann diz, ainda, que em 1783, um ano antes da criação da “Casa dos Pássaros” (para muitos, o embrião do Museu Real e, posteriormente Museu Nacional), ordenava-se a instalação de viveiros no quintal da casa de Francisco Xavier, “por se achar incumbido da diligência e cuidado dos mesmos pássaros”, que a mesma portaria classificava de “preciosíssimos.”[33]

38.    Para o Instituto Brasileiro de Museus,[34] o primeiro museu implantado no Brasil data do século XVII, quando, durante a ocupação holandesa em Pernambuco, foi criada uma instituição que englobava jardim botânico, jardim zoológico e observatório astronômico dentro das instalações do parque do Palácio de Friburgo, ou Vrijburg. Em 1784, foi aberta a Casa de História Natural que ficou conhecida como “Casa dos Pássaros” no Rio de Janeiro, que preparava exemplares da flora e da fauna brasileiras e artefatos indígenas para serem enviados para Portugal, permanecendo em funcionamento até o início do século XIX. Esta tinha por finalidade servir como sucursal do museu de História Natural de Lisboa, para onde enviava exemplares recolhidos dos reinos da natureza, bem como artefatos produzidos pelas gentes do Brasil, integrando o quadro de modernização das instituições lusas, iniciada com a administração do Marquês de Pombal em Portugal.[35] Com o título de inspetor, Francisco Xavier Cardoso Caldeira, foi encarregado de sua direção e trabalhos de taxidermia, contando com o auxílio de dois ajudantes, três serventes e dois caçadores. Com a mudança administrativa e a chegada do Conde de Resende como Vice- Rei (1790-1801), o projeto foi abandonado, resultando na extinção da “Casa dos Pássaros,” sendo seu acervo encaixotado e enviado para guarda no Arsenal de Guerra, onde permaneceu até a criação do Museu Real, em 1818. Com a chegada da Família Real portuguesa, em 1808, a “Casa dos Pássaros” foi demolida para a construção do prédio do Erário. Seu acervo serviu de base para a criação do Museu Real, no ano de 1818, por meio de decreto do então príncipe regente de Portugal, D. João. O Museu Real, hoje Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, é a instituição museológica mais antiga do Brasil ainda aberta ao público e também a que concentra o maior número de bens culturais no acervo. Em 1826, quatro anos depois da Proclamação da Independência, inaugurou-se o primeiro salão da Academia Imperial de Belas Artes, que pode ser considerado um dos antecedentes do atual Museu Nacional de Belas Artes. A partir da segunda metade do século XIX, seguindo a ideia da criação de museus como parte do processo de modernização da nação que surgia, são inaugurados o Museu do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838), o Museu do Exército (1864), a Sociedade Filomática (1866) - que daria origem ao Museu Paraense Emílio Goeldi - o Museu Paranaense (1876) e o Museu Paulista (1895). [Esse parágrafo repete informações adiantadas nos anteriores. Solicitaria uma revisão para evitar redundâncias]

Sobre Francisco dos Santos Xavier (Xavier das Conchas)

39.    Francisco dos Santos Xavier,  o Xavier das Conchas (1739-1814), possuía grande habilidade em trabalhos com conchas. O Museu do Oratório, em Ouro Preto (MG), possui em seu acervo quatro peças com provável autoria de Xavier da Conchas [Figura 27, Figura 28, Figura 29 e Figura 30]. São pequenos oratórios adornados com guirlandas, buquês e volutas, usando principalmente conchas na sua composição, conforme a seguinte descrição: “a estrutura das peças é elaborada em uma série de aramados bem finos e cobertos por tecido e linha. Depois, são recobertos por ornamentos em folhagens, madeira, tecido e conchas,”[36] com colagens, douramento e policromia. O Museu do Oratório classifica essas peças como de estilo rococó, inspirado na decoração de fontes e grutas por conchas que compõem grandes guirlandas de flores que ornamentam o camarim. De fatura erudita, os oratórios apresentam traços delicados e bem elaborados. planejados em movimentos suaves, com torções leves. O período de produção seria entre o final do século XVIII e inicio do século XIX. Outra obra de Xavier das Conchas encontra-se na Igreja de Nossa Senhora do Outeiro da Glória do Rio de Janeiro: trata-se  de um oratório com imagem de São Joao Batista [Figura 31].[37]  

40.    Sobre o oratório da Figura 32, reproduzida no livro de. Santa Catarina nas Belas Artes (1940), de Henrique Boiteux, é dito:  

41.                                  Exemplar de arte catarinense - Imagem de Nossa Senhora da Conceição, assente em peanha de cedro da época de D. Maria I. A esquerda do pedestal, vê-se, em jaspe colorido, a “arvore do bem e do mal”, e o anjo com espada e escudo afastando Adão e Eva do paraíso. O dossel, as guirlandas pendentes e as flores dos ramos laterais são feitos de pequenos pedaços de conchas. As flores são feitas de penas verdes. Esses trabalhos vinham no tempo antigo de Santa Catarina, principalmente, e não raro, também se viam pequenos caramujos e folhas feitas de escamas. 

42.    Teresinha Sueli Franz, em Victor Meirelles: Biografia e legado artístico,[38] fornece dados que são interessantes para reforçar a tradição açoriana do trabalho com conchas, na ilha de Santa Catarina. A autora menciona os relatos dos viajantes estrangeiros que pela ilha passaram, dizendo que estes divergem em alguns aspectos, mas, em outros, são quase unânimes. É o caso dos que se referem às belezas naturais do lugar, assim como às vantagens de nela parar para abastecer as embarcações de víveres e para o descanso dos viajantes. Franz menciona um destes relatos, que fala de sua impressão sobre as pessoas da ilha, dizendo que são de hábitos simples e de maneiras corteses: 

43.                                  As mulheres do Desterro são celebradas pela sua habilidade na manufatura de flores de penas, as de caravelhos, escamas de peixe e conchas do mar; e a chegada de estrangeiros no lugar é a causa de aglomerações de negros e negras, nas portas, vestíbulos e salas de hotel, querendo mostrar suas bandejas e caixas desses artigos para a venda. Vários deles são de muito bom gosto e muito ornamentais; especialmente aqueles formados de asas polidas e escaravelhos. Colares, braceletes, corôas e buquês de flores são muito graciosos; e não fosse o material conhecido pareceriam autênticas preciosidades.[39] 

44.    O autor desse relato conta ainda que vira semelhante adorno em Montevidéu, sendo usado por uma noiva, e o seu efeito à luz de velas era o de um artefato de pérolas. Comenta que um tipo de renda de fibra, simples, mais útil, também viu ser feito em Desterro. Em outra passagem, Franz comenta a despedida de D. Mariano Moreno (professor de desenho de Victor Meirelles), [40] que, de volta à Argentina, conversa com o tio sobre sua vivência na ilha naqueles dias de despedida de seu longo exílio. Conta que já não havia imigrante algum em Desterro que não tivesse vindo cumprimentá-lo em demonstração de respeito pela memória de seu pai. Relata estar a casa de sua família sempre cheia de gente que vinha despedir-se com uma demonstração de afeto jamais vista assim dedicada a outros imigrados. Escreve que, uma vez que a bagagem já se encontrava a bordo do navio que os levaria de volta pra seu país, o único objetivo que ainda estava na sala era um presente de sua filha (e feito por ela): “É uma paisagem em baixo relevo, feito com conchas e escamas. Os que viram o classificam de ‘primoroso’!”[41]

45.    Podemos deduzir pelo dito acima, que D. Mariano Moreno e sua família (lembrando que sua mãe e sua esposa estavam com ele) incentivavam a educação estética dos filhos. No entanto, há outra questão embutida nestas suas palavras que muito interessa a esta pesquisa. Havia uma tradição em Desterro de se fazerem objetos com conchas, escamas, penas, flores, tecelagem, rendas e, principalmente, olaria. Essa tradição vinha da Vila de Nossa Senhora do Desterro colonial. Ao que vemos, D. Mariano e sua família estavam atentos a estas tradições locais. Enquanto o pai ensinava o que ele entendia como arte, a filha aprendeu a fazer o que na vila se entendia como tal.[42]

46.    Assim, mesmo em contexto tão singular e distante, se partilhavam conhecimentos e educação estética. Os dois “Xavier” que da ilha saíram levaram consigo estes ensinamentos para atuação no Rio de Janeiro.

Os primeiros museólogos brasileiros, o Passeio Público, Mestre Valentim e Leandro Joaquim

47.    A partir da indicação do Prêmio Xavier dos Pássaros, em 1988, pelo Ministério da Cultura, lançado para promover o patrono do concurso, Xavier dos Pássaros e seu parceiro, Xavier das Conchas, pois estes podem ser considerados os primeiros museólogos brasileiros, vamos tecer algumas considerações sobre o projeto do Passeio Público, valorizando algumas questões já conhecidas, porém nem tão divulgadas.

48.    Sabemos que o carinho dos cariocas pelo Passeio Público nunca diminuiu. Basta ver a rica literatura e pesquisas sobre ele. Lenice da Silva Lira em A Paisagem carioca: tempo e espaço dos painéis de Leandro Joaquim,[43] aponta algumas sínteses a partir de Anna Maria Monteiro de Carvalho, que reconhece quatro elementos que definem o passeio publico, os quais propomos aqui expandir:

49.    (a) O conceito iluminista de saúde pública, presente na escolha do local, que possuía como qualidade a liberação de ar puro e luz à população. O projeto de Valentim reporta-se às ideias iluministas de bem-estar, civilidade, higienização, progresso, que deveriam transformar a capital brasileira numa cidade moderna. Tal projeto simboliza também uma natureza dominada pela razão e ação do homem. 

50.    (b) A ciência, que é evidenciada no preparo e proteção da área e pelo desenvolvimento tecnológico, visto que essa foi a maior obra de engenharia realizada no Vice-Reinado. Ali nasceu, nas lições de Frei Leandro do Sacramento, o ensino público da história natural continuado por Xavier dos Pássaros: “Lembraremos, então, ao nossos patrieiros que o tempo de progredir sem ella ( a ciência) - já passou. Hoje, muito mais do que num passado os povos fortes são os povos que sabem.”[44]

51.    (c) As raízes árabe e medieval de Portugal, ainda presentes na composição formal do Passeio Público, cujos traços são percebidos na oposição da ideia de fusão do espaço da natureza ao urbano (espaço barroco) à ideia da natureza “revelada” por detrás de um muro e de um portão;

52.    (d) A composição formal barroca é suporte de uma decoração barroca de tendência classicizante: o sentimento nativista de Valentim se estrutura na poética da obra, caracterizado pela preocupação em mostrar a flora local; essa preocupação também é o resultado do espírito da investigação científica da natureza, próprio do iluminismo. No conjunto, diversas vertentes artísticas estão presentes, como o barroco, na estrutura dinâmica e cenográfica do jardim e nos elementos escultóricos do portal; o rococó, nas curvas e contracurvas e estilizações florais do portão em ferro fundido  e nas esculturas em metal. Amplamente reconhecido em sua época, Mestre Valentim ocupa na história da arte brasileira lugar de transição, no qual artista e técnico-artesão, passado e futuro, arte religiosa e laica, barroco e rococó, espírito clássico e nativista convivem em harmonia em sua obra. Em seu conjunto, a obra representa o início de uma tradição de escultura pública não-religiosa e da urbanização como forma de embelezar a cidade. 

53.    Expandindo estes elementos, apontamos outros que estão a eles interligados:

54.    (a) No contexto do Passeio Público e do projeto iluminista, inserem-se as obras de Leandro Joaquim que foram produzidas para ornamentar os pavilhões do jardim, decorados por Xavier dos Pássaros e Xavier das Conchas.  Contudo, para além da ornamentação, a obra do pintor fluminense se afirma como uma das protagonistas de um capítulo da história do Brasil e da invenção da paisagem brasileira, e, especificamente, da paisagem carioca. A afirmação da paisagem brasileira representa o desejo de formação de uma identidade territorial e cultural. Essa proposta está presente tanto no projeto de construção do jardim, como no desenvolvimento do gênero pintura de paisagens introduzido pelos pincéis de Leandro Joaquim. A pintura e o jardim são expressões artísticas que permitem transgredir o já estabelecido e, assim, anunciar o nascimento de uma nação que não pretende mais ser imitação de outros povos. Mas se auto-afirmar como origem. O olhar do nativo buscava o reconhecimento de seu caráter artificial, de sua capacidade criativa, de sua liberdade; forjando, desse modo, uma civilização.[45]

55.    (b) Os painéis de Leandro Joaquim, segundo  Joaquim Amandio dos Santos, apresentam uma atitude distinta na qual se acentua a tendência na superação da bidimensionalidade física da representação das imagens oriundas das estampas. As figuras e o cenário, em que se desenvolve a narrativa, exploram e superam a limitação do suporte. O processo é acompanhado por um movimento de dimensão psicológica, executado por uma gama de impressões. Desta maneira, o artista buscou uma expressão de acordo com sua própria realidade.[46]

56.    (c) O crescente interesse pelas Ciências Naturais promovido pelo Iluminismo levaria Dom Luís de Vasconcellos e Sousa a tomar várias medidas destinadas tanto à urbanização do Rio de Janeiro quanto a um melhor conhecimento dos produtos naturais da Colônia. Foi criador do Passeio Público e da “Casa dos Pássaros,” respectivamente a primeira exposição pública zoológica e o primeiro museu de história natural do Novo Mundo. Dom Luís de Vasconcellos e Sousa e seu sucessor, José Luís de Castro, receberiam a incumbência de enviar regularmente espécimes da fauna brasileira para as “Quintas Reais” e para o Museu da Ajuda, em Lisboa. No caso particular de Santa Catarina, foi elaborada, em 1791, uma “instrução,” provavelmente por iniciativa de Francisco Xavier Cardoso Caldeira para sistematizar e orientar o processo de coleta, listando os animais e produtos de origem animal com valor comercial desejados, fornecendo também interessantes detalhes sobre técnicas de preservação, acondicionamento para transporte e o preço pago pelos espécimes. Apesar de bastante conciso, esse documento é um valioso testemunho sobre a História Natural no Brasil no século XVIII.[47]

57.    (d) Leandro Joaquim e Mestre Valentim eram mulatos e brasileiros e foram escolhidos pelo Vice-Rei para imprimir em suas obras singularidades e traços pessoais; impondo aos seus trabalhos suas presenças e com elas evidenciam que uma nação está em vias de se formar. Leandro Joaquim, retratista de Luís de Vasconcelos e Sousa, executaria as primeiras vistas históricas do país. “Não deixa de despertar ao menos curiosidade o fato de que, para executar tais obras, o vice-rei não tenha chamado algum artista experiente da Europa, mas as encomende a dois artistas nativos de origem africana. É bem possível que a preferência pelos artistas locais traduzisse uma determinação política dirigida a destacar os progressos realizados pelos súditos da colônia.”[48]

58.    (e) O patrono do concurso já mencionado, Xavier dos Pássaros e seu parceiro, Xavier das Conchas, podem ser considerados os primeiros museólogos brasileiros, pois foram responsáveis pelos primeiros espaços públicos de exposição no país: os dois pavilhões quadrangulares do Passeio Público, inaugurado em 1783 que abrigaram e expuseram ao o primeiro acervo museológico do Brasil, os painéis ovais de Leandro Joaquim.

59.    (f) Xavier dos Pássaros desenvolveu um trabalho que remete a uma das funções primordiais dos museus: a preservação dos espécimes naturais ou culturais de uma nação. Por outro lado, ao utilizar criativamente penas e plumas na ambientação do pavilhão, indicou o caminho para a museologia brasileira na busca de uma linguagem própria, não submissa a padrões importados. De igual forma, Xavier das Conchas, ao utilizar conchas em seus trabalhos, reelabora uma tradição açoriana muito cara à Santa Catarina e ao Brasil. Vemos novamente nos dois artistas, o espírito iluminista de catalogação e ordenação da natureza no paisagismo e nas representações naturalistas de animais e uso de materiais oriundos diretamente da natureza.

Concluindo

60.    Acreditamos que este tema e todos os personagens envolvidos, contribuem para a revisão dos discursos tradicionais que enfatizam a centralidade da Europa nos processos de construção e estruturação de arte e da história da arte na América Latina. O Passeio Publico do Rio de Janeiro configurou-se em belo e completo projeto, em que ideias ainda hoje ousadas e atuais puderam ser executadas e vivenciadas em que percebemos algumas saídas na arte latino-americana do século XVIII, entre as quais uma nova invenção de iconografias que correspondeu a preocupações ideológicas regionais, já afeitas ao crescente poder da sociedade civil sobre o campo religioso e ao processo de laicização urbana, ainda que em sua maioria, pelas mãos do Estado.

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______________________________

* Este artigo, em versão bem reduzida, foi publicado em anais. In: MAKOWIECKY, Sandra. Xavier das Conchas e Xavier dos Pássaros: Passeio Público do Rio de Janeiro e os primeiros espaços públicos de exposição no Brasil. Anais do XXXV Colóquio do Comitê Brasileiro de História da Arte Novos Mundos: fronteiras, inclusão, utopias. Rio de Janeiro: Comitê Brasileiro de História da Arte, 2015, p. 129-144. Sobre os dois “Xavier” ver também: MAKOWIECKY, Sandra; DIDONÉ, Fabiana. M. Passeio Público do Rio de Janeiro e uma história que pode ser revista: os catarinenses Xavier das Conchas e Xavier dos Pássaros. In: CAVALCANTI, Ana;  MALTA, Marize; PEREIRA, Sonia Gomes( orgs.)  Coleções de arte: Formação, exibição e ensino. Rio de Janeiro: Rio  Books, 2015, p. 69-80. Na realidade, na continuação da pesquisa constatou-se que apenas Xavier dos Pássaros é catarinense. Todavia, Xavier das Conchas morou por 32 anos em Santa Catarina, onde aprendeu oficio do trabalho com conchas, pelo qual se tornou conhecido

[1] Boletim do SPHAN, n. 44, nov.-dez. 1988, p. 21. Disponível em <http://docvirt.no-ip.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=bol_sphan&pagfis=1215>. Acesso em 24 mar. 2015.

[2] CARVALHO, Anna Maria Fausto Monteiro de. Mestre Valentim. São Paulo, Cosac& Naif Edições, 2003, p. 7.

[3] Ibidem, p. 9-10.

[4] Site Passeio Público do Rio de Janeiro. Disponível em <http://www.passeiopublico.com/>. Acesso em 22 jun. 2014.

[5] BOITEUX, H. Mestre Valentim e a arte catarinense. Revista trimestral do IHGSC, 1918, primeiro  trimestre, v. VII, p. 98.

[6] SILVA, Denise Maria Deodato. Em busca de uma cidade ideal: Representações de poder no Rio de Janeiro do Vice-Reinado. História, imagem e narrativas, n. 2, ano 1, abril/2006, p.. 32.

[7] VILLAS-BOAS, Naylor Barbosa. A Reconstrução Virtual do Antigo Passeio Público de Mestre Valentim: Metodologia de Pesquisa. Disponivel em <http://cumincades.scix.net/data/works/att/e142.content.pdf>.Acesso em 22 jun.2014.

[8] SANTOS, Luís Goncalves dos. Memória para servir à história do vice- reino do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Valverde, v. I, 1943, p. 30.

[9] CARVALHO, op. cit., p. 29.

[10] Informação disponível em: <http://historiasemonumentos.blogspot.com.br/2014/04/passeio-publico-do-rio-de-janeiro1779.html>. Acesso em 20 jul. 2014.

[11] BOITEUX, op. cit., p. 98-104

[12] Almanaque da cidade do Rio de Janeiro para os anos de 1792 e 1794. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, 1937, v. LIX, p. 201.

[13] BOITEUX, op. cit. p. 104

[14] BOITEUX, H. Santa Catarina nas Belas Artes. Rio de Janeiro: Editora Zelio Valverde, 1940

[15] Ibidem, p. 13.

[16] Diário Oficial da União, 20 jul. 1929. Transcrição disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/diarios/2044711/pg-50-secao-1-diario-oficial-da-uniao-dou-de-20-07-1929>. Acesso em 21 jul. 2015. Ver .pdf

[17] Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, Terceira séreie, Tomo XIX, 1856, p. 373.

[17b] A respeito da localização atual dos paineis, ver: OLIVA, Menezes de. Os falsos painéis de Leandro Joaquim. Anais do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro, v. I, 1940, p. 31-42. Disponível em <http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=mhn&pagfis=9342> Acesso em 31 jan.2018; CASTRO, Adler H. M.. Resgate de uma dívida. Anais do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro, v. 34, 2002, p. 22. Disponível em: <http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=mhn&pagfis=17328>. Acesso em 31 jan.2018

[18] Informação disponível em: <http://postoseis.com.br/default.aspx?pagegrid=pages&pagecode=172>.Acesso em 07 ago. 2014.

[19] Ladislau Neto apud BOITEUX, op. cit.,  p.12

[20]  Informação disponível em: <http://postoseis.com.br/default.aspx?pagegrid=pages&pagecode=172>.Acesso em 07 ago. 2014.

[21] Ladislau Neto apud BOITEUX, op. cit., p. 13

[22] MACEDO, Joaquim Manuel de. Um Passeio pela cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Garnier, 1991.

[23] J. Manoel de Macedo apud BOITEUX, op. cit., p.13.

[24] Gilberto Ferrez apud MIGLIACCIO, Luciano. Perspectivas no estudo da cultura visual brasileira do século XIX. In: VALLE, Arthur; DAZZI, Camila (org). Oitocentos - Arte Brasileira do Império à República - Tomo 2. Rio de Janeiro: EDUR-UFRR; DezenoveVinte, 2010, p. 318. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/800/tomo2/files/800_t2_a27.pdf>. Acesso em 15 jun. 2014.

[25] PAPAVERO, Nelson; TEIXEIRA, Dante Martins.  Remessa de animais de Santa Catarina (1791) para a “Casa dos Pássaros” no Rio de Janeiro e para o real Museu da Ajuda (Portugal). Arquivos de Zoologia, volume 44 (4), p. 185209, 2013.

[26] Disponível em <http://www.passeiopublico.com/htm/pavilhoes.asp>. Acesso em 22.jun. 2014

[27] MIGLIACCIO, op. cit., p.315-336.

[28] HEYNEMANN, Claudia B. As culturas do Brasil. São Paulo: Hucitec, 2010.

[29] LOPES, Maria Margareth. A Formação de museus nacionais na América Latina Independente. Anais do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro, v. 30, p. 121-133, 1998.

[30] HEYNEMANN, Op. cit. p. 88.

[31] Ladislau Neto apud BOITEUX, p. cit., p. 11.

[32] VASCONCELOS apud HEYNEMANN, op. cit., p. 88-90.

[33] Ibidem, p. 89. Cfr. Cf. Arquivo Nacional. Vice-Reinado, portarias. Códice 73, vol. 15, fl. 180, 1783.

[34] Museus em números. Instituto Brasileiro de Museus- IBRAM, Brasília, 2012, p. 61.

[35] SILY, Paulo Rogério Marques. Casa de ciência, casa de educação: ações educativas do Museu Nacional (1818-1935) / Tese (Doutorado) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Educação. 2012.

[36] Site do Museu do Oratório (MG), disponível em <http://museudooratorio.org.br/>. Acesso em 15 jun.2014.

[37] PIRES, Fernando Tasso Fragoso. A Imperial Irmandade - Nossa Senhora da Glória do Outeiro. Rio de Janeiro: Gráfica Sol, 2013.

[38] FRANZ, Teresinha Sueli. Victor Meirelles: Biografia e legado artístico. Florianópolis: Caminho de Dentro, 2014.

[39] Ibidem, p.59.

[40] D. Mariano Moreno (filho) chegou à ilha de Santa Catarina em 1843, como exilado político no Governo de Juan Manuel de Rosa, ditador que dominou a política argentina de 1829 a 1852. Fundou uma escola de desenho em Desterro por volta de 1845, onde teve entre seus alunos o pintor Victor Meirelles. É de sua autoria a planta da primeira ampliação do Imperial Hospital de Caridade, cuja pedra fundamental foi lançada em 1845. Foi professor no “Collégio das Bellas Letras” em Desterro, criado em 1849, nos primórdios da história do ensino secundário da Província de Santa Catarina. Retornou ao seu país em maio de 1852, depois da queda de Rosas. Ver: FRANZ, Teresinha Sueli. Mariano Moreno e a primeira formação artística de Victor Meirelles. 19&20, Rio de Janeiro, v. VI, n. 1, jan./mar. 2011. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/artistas/vm_mmoreno.htm>. Acesso em 22 jul. 2015.

[41] FRANZ, op. cit., p. 120.

[42] Ibidem, p. 121.

[43] LIRA, Lenice da Silva. A Paisagem carioca: tempo e espaço dos painéis de Leandro Joaquim. Disponível em: <http://observatoriogeograficoamericalatina.org.mx/egal12/Teoriaymetodo/Pensamientogeografico/24.pdf>. Acesso em 27 jul. 2015. 

[44] Citado em: <http://www.jusbrasil.com.br/diarios/2044711/pg-50-secao-1-diario-oficial-da-uniao-dou-de-20-07-1929>. Acesso em 21 jul. 2015

[45] LIRA, op.cit.

[46] SANTOS, Amandio Miguel dos. Os painéis elípticos de Leandro Joaquim na pintura do Rio de Janeiro setecentista. Gávea, Rio de Janeiro, vol. 1, n. 1, abr. 1994, p. 133.

[47] PAPAVERO, TEIXEIRA, op. cit., p. 197-198.

[48] MIGLIACCIO, op. cit., p.319.